As gerações que nos anos 50 e começo dos anos 60 eram crianças, tinham parcas opções de lazer. A televisão no Brasil, estava começando e iria demorar até meados dos anos 60 para começar a se banalizar. Tínhamos o cinema e os quadrinhos. O cinema ficava mais com o público adolescente e adulto; as crianças tinham mesmo somente os quadrinhos. Neste período, porém, surgiu um complicador: as revistas de histórias em quadrinhos foram diabolizadas nos EUA e as reverberações de todo o processo foram logo sentidas.
O processo de popularização dos quadrinhos se inverteu a partir de 1954 com a instauração da “caça às bruxas” dos senadores americanos, no período conhecido como “macartismo”; com a publicação do livro “Seduction of the innocent”, do Dr. Frederic Wertham, no qual ele acusa (com “provas”) os quadrinhos de serem prejudiciais ao caráter em formação dos jovens americanos e, finalmente, com a criação do Comics Code que “engessou” a imaginação dos artistas por muitos e muitos anos.
A Era de Ouro dos quadrinhos, que teve seu auge na década de 40, já havia acabado, mas os golpes desferidos em 1954 acabaram sendo fatais. 20 anos depois, os pontos de vista mais radicais foram revistos, graças a influência da elite intelectual européia, que sempre soube reverenciar os “comics” americanos como forma de arte.
Cronologia das revistas em quadrinhos americanas dos anos trinta aos anos noventa
Os quadrinhos existiam nos EUA desde o final do século passado, publicados em jornais, revistas e mesmo em formato de livros, porém foi somente em 1933 que se criou a primeira revista apenas com quadrinhos. No formato 8″ x 11″, impresso a cores, o “comic book” tornou-se um clássico. A revista, chamada Funnies On Parade, foi projetada por Max C. Gaines para distribuição gratuita entre pessoas que enviavam cupons recortados das embalagens dos produtos alimentícios Procter & Gambler. As primeiras dez mil revistas se esgotaram rapidamente, e um futuro promissor começava a despontar no horizonte.
Gaines encontrou outros patrocinadores (Milk-O-Malt, Canada Dry, Wheatena e Kinney Shoes), e produziu a segunda revista do novo gênero, Famous Funnies: A Carnival Of Comics, com uma tiragem inicial de cem mil cópias.
Os “comics” já eram um sucesso consagrado, mas ainda eram patrocinados e distribuídos como brindes. Para testar seu potencial comercial, Gaines colou um selo nas capas de algumas centenas de exemplares de Famous Funnies: A Carnival Of Comics e distribuiu-os em algumas lojas, estabelecendo o preço unitário de dez centavos. Em menos de uma semana todos os exemplares tinham sido vendidos. Novas empresas, estimuladas pelo sucesso das revistas, procuraram Gaines que produziu seu terceiro “comic book” chamado Century Of Comics, com cem páginas. No final do ano, cerca de cem a duzentos e cinquenta mil cópias de A Carnival Of Comics e de Century Of Comics tinham sido distribuídas. E isso era apenas o começo.
Em 1934, Gaines e o creme dental Philips lançam Skippy’s Own Book of Comics, que, anunciado num popular programa de rádio, esgota a sua tiragem de meio milhão de exemplares. Esta revista também foi a primeira a apresentar um personagem central em suas páginas, ao invés de uma colagem de várias criações.
Nesta mesma época, a empresa que imprimia as revistas de Gaines, a Eastern Color, querendo uma participação maior nos lucros, fez um acordo com uma editora, a Dell Publishing Co., para publicação de uma nova revista, Famous Funnies, com 68 páginas e preço ao consumidor de dez centavos. O formato, número de páginas e preço foram, durante muito tempo, padrão no mercado americano. Depois de vender 35 mil exemplares de Famous Funnies, a Dell tentou achar anunciantes para futuros números da revista, mas teve uma reação negativa por parte deles, que alegaram que o tipo de papel de impressão era de qualidade muito baixa em relação aos outros tipos de revistas em que costumavam anunciar e que por serem quadrinhos reeditados (parte da revista era feita com a reimpressão de “comics” publicados nos suplementos dominicais dos jornais), as pessoas não se interessariam em comprá-las para ler. Desanimada ante a reação dos anunciantes, a Dell desistiu da sua parceria com a Eastern Color.
Inspirada num anúncio de uma página que atribuía o sucesso das vendas do Daily News de New York ao sucesso dos quadrinhos publicados nos suplementos dominicais, a Eastern Color procurou outra editora, a American News que encomendou 250 mil cópias de uma revista tipo “comic book”. Estava nascendo a primeira revista do gênero, com periodicidade, Famous Funnies: Series 2, mensal.
O ano seguinte começou com a Dell voltando ao mercado com Popular Comics em fevereiro. A McKay Company da Filadélfia firmou um acordo com o grupo Hearst e passou a republicar em formato de revista, em abril de 36, alguns dos quadrinhos mais populares que a Hearst editava em tiras nos jornais, através do sindicato King Features. Foi assim que heróis como Flash Gordon de Alex Raymond e Popeye de E. C. Segar, chegaram aos “comic books”, na revista King Comics. Para não ficar atrás, outro grande sindicato, United Features, passou a editar uma revista em quadrinhos, também em abril, chamada Tip Top Comics, com seus personagens Tarzan, de Hal Foster e Li’l Abner de Al Capp, que eram editados originalmente em tiras nos suplementos dominicais dos jornais.
Em maio de 36, outra editora entrava no mercado dos “comics”, a Comic Magazine Company, Inc. cuja proposta era revolucionária: editar revistas exclusivamente com quadrinhos inéditos. Entre os jovens cartunistas que apareceram na época, estavam Jerry Siegel e Joe Shuster, que foram trabalhar para a Comic Magazine Company, recriando o personagem Dr. Occult que vinham fazendo para as revistas New Fun Comics e More Fun Comics. O personagem, rebatizado de Dr. Mystic, foi o primeiro a ter superpoderes, que mais tarde seriam utilizados na criação de Superman. No final deste ano, surgiu um novo filão para os “comics”: as histórias policiais que enfocavam detetives. O “boom” estava começando.
1937 começou com o aparecimento de uma editora que seria da maior importância no mercado dos quadrinhos americanos, a Detective Comics Inc., mais tarde conhecida por National Periodicals e que depois ficaria muito famosa como DC Comics – a empresa que primeiro publicou Superman, Batman e outros super-heróis. O primeiro número da revista Detective Comics foi publicado em março de 1937. Posteriormente, a revista se tornou a de maior duração no mercado americano e deu suporte para a DC Comics. No mesmo ano, a Comics Magazine Company, Inc. deu início à publicação de dois novos títulos, Detective Picture Stories e Western Picture Stories. A McKay, estimulada pelas vendas de King Magazine, lançou outro título, Ace Comics, com os clássicos Jungle Jim (Jim das Selvas), de Alex Raymond, Krazy Kat e The Phantom (O Fantasma), de Lee Falk, e também a série Feature Book, que durou doze anos e, em cada edição focalizava um personagem diferente (Popeye, Dick Tracy, etc).
O mercado dos “comics” nos EUA dobrou em 1937, em relação ao ano anterior, e no ano seguinte, os “comics” começavam a entrar na Era de Ouro. O marco foi a publicação de uma nova revista, Action Comics, pela Detective Comics, Inc., em junho de 38, com o Superman na capa. O personagem, de Jerry Siegel e Joe Shuster, pareceu espalhafatoso e ridículo aos olhos de Harry Donenfeld, dono da editora, que ordenou ao seu editor, Vincent Sullivan, que o tirasse da capa dos futuros números da Action Comics, o que foi feito, embora o herói continuasse tendo grande destaque no miolo da revista. A Action Comics teve um sucesso modesto nos seus três primeiros números, mas a partir da 4a. edição, suas vendas começaram a disparar, vendendo meio milhão de exemplares por número, mais do dobro de outras publicações de sucesso do gênero. Donenfeld não sabia o porquê sua revista vendia tão mais que as outras e encomendou uma pesquisa, e ficou muito surpreso ao saber que a Action Comics era mais procurados pelos garotos, justamente por causa do Superman, o herói que ele havia expulsado das capas da revista. É claro que o Superman voltou para a capa e todo o apelo da revista passou a ser feito em cima dele. Seu sucesso não demorou para gerar um sem número de imitações – os heróis fantasiados e donos de superpoderes foram se multiplicando, começando com Arrow, na Funny Pages e Crimson Avenger, na Detective Comics. 1938 marcou também a primeira publicação de um trabalho de Walt Disney sob forma de “comic book”, Donald Duck, numa edição avulsa, reedição das tiras feitas para os jornais entre 1936 e 1937.
O impacto do Superman na indústria dos quadrinhos seria sentido com maior ímpeto já em 1939 – no número de junho de Detective Magazine, apareceria Batman de Bill Finger e Bob Kane, um super detetive, que se tornou o segundo maior personagem dos quadrinhos em popularidade. Agora eram dois os heróis a gerar imitações. A National criou um título para seu herói principal, Superman Comics. Neste mesmo ano foi dado o passo inicial para o fim das republicações das tiras de jornal e criação de material inédito para atender a demanda. Outro fato importante, foi a criação da Marvel Comics em novembro, de Martin Goodman, com um grupo de desenhistas muito jovens (alguns com dezesseis anos de idade), chefiados por Lloyd Jacquet e Bill Everett, que criaram imediatamente um punhado de novos heróis com superpoderes, entre eles Human Torch e Sub-Mariner e no decorrer dos anos, criariam para a Marvel uma galeria inteira de novos heróis e personagens, vários deles de grande aceitação e sucesso.
A Era de Ouro que se insinuava desde 1938, teve seu começo de fato em 1940. Esse foi o ano em que as editoras se expandiram, incorporando novos estilos e gêneros, enriquecendo os quadrinhos tremendamente; foi quando a ficção científica e as histórias de guerra se introduziram. A Detective Comics, já com o nome abreviado para DC Comics, consolidou sua posição como líder do mercado com a introdução em janeiro de 40, dos heróis Flash, estreando em revista própria Flash Magazine, e Hawkman. Também foi o ano em que Batman estreou em revista própria Batman e apresentando uma novidade que seria muito imitada, a figura do companheiro, no seu caso o garoto-prodígio, Robin. A DC introduziria em 1940, outros dois super-heróis que se tornaram famosos, Green Lantern e Atom, numa nova revista, All American, em outubro. Com tantos super-heróis criados, a DC passou a organizá-los em ligas, a Justice Society of America foi o primeiro dos inúmeros agrupamentos de super-heróis que surgiram desde então. E a DC tornou-se a Meca dos super-heróis.
1940 foi também o ano em que entraria no mercado a Fawcett Publications, que se tornou a nova editora que melhor se posicionou no mercado dos “comics”, representando séria competição com a DC. Já a primeira publicação da Fawcett em fevereiro de 1940, Whiz Comics, se tornou um hit, com a introdução do mais charmoso e simpático super-herói de todos, o genial Capitão Marvel, criado por C. C. Beck (arte) e Bill Parker (texto). A história do bravo Capitão Marvel dava um chega pra lá na “correção científica” que os outros heróis (e super-heróis) se respaldavam, para mergulhar na mágica. Tudo que o Billy Batson, o alter-ego do Capitão precisava para se tornar o “Mais Poderoso Mortal do Mundo”, era pronunciar uma simples palavra mágica, “Shazam“. As histórias tinham um humor que os outros heróis nem sequer insinuavam e além disso, inaugurou a onda das “dinastias” nos quadrinhos, com a criação da Família Marvel e a introdução de vilões extraordinariamente simpáticos.
Somente em 1940, a Marvel apresentou mais de uma dúzia de personagens dotados de superpoderes, mas seu maior sucesso, veio de um herói que tinha sido criado um ano antes, Human Torch, que ganhou revista própria. Os super-heróis novos da Marvel eram publicados em três revistas diferentes, Daring Mystery, Mystic e Red Raven. Outras editoras, no mesmo ano, surgiram com títulos novos e vários super-heróis recém-criados: Better Publications com Thrilling Comics, Exciting Comics e Startling Comics (com os heróis Doc Strange, Black Terror, Pyroman, Miss Masque e outros); a Prize Publications com Prize Comics (e as aventuras de Black Owl, Green Lama); a Columbia Comics Group com Big Shot Comics e Heroic Comics (apresentando história de Skyman, Face, Hydroman e Purple Zombie). A Centaur Publications reciclou vários de seus heróis, criando para eles revistas próprias: Fantoman, Masked Marvel e The Arrow. A Quality Comics, com os novos heróis Black Condor, Uncle Sam e o primeiro (único?) super-herói travesti, Madame Fatal. A Street & Smith, editora de novelas, entrou nos quadrinhos com a quadrinização de aventuras de dois heróis do rádio, The Shadow, e Doc Savage. Outros heróis já conhecidos, vindos do rádio, chegaram aos quadrinhos em 1940, Green Hornet pela Harvey Comics e Tom Mix numa publicação independente, patrocinada pela Ralston-Purina Co., que a distribuía gratuitamente, entre os ouvintes do programa de rádio de Tom Mix.
O ano também marcou a estréia das primeiras revistas de HQ dedicadas ao western, Tom Mix Comics e Red Ryder Comics, aos esportes, Sport Comics e, sinal dos tempos, à guerra, War Comics. Foi quando surgiu a primeira revista somente com as histórias cômicas com animais, Walt Disney’s Comics and Stories. E foi o ano do debut de um verdadeiro clássico: The Spirit, de Will Eisner em junho. As vendas neste ano se encerraram acima da marca dos vinte milhões de dólares.
Em 1941, enquanto as vendas continuaram a subir, os editores continuaram aumentado a quantidade de super-heróis e de títulos de revistas. Os heróis de maior sucesso passaram a ter dois e às vezes três títulos, que publicavam suas aventuras. A guerra na Europa, envolveu os EUA e com isso, os heróis se envolveram no conflito mundial combatendo o Eixo e o Terceiro Reich.
A DC apresentou seus novos heróis, Starman, Sandman e Hourman e a grande nova sensação da editora, Wonder Woman. A Marvel apresentou seu herói de maior sucesso dos anos 40, Capitão América, um herói inventado para aproveitar o surto de patriotismo que a guerra trouxe. O Capitão era um herói tão forte como personagem, que depois de combater alemães e japoneses, voltou para casa e foi reaparecer com grande sucesso no final dos anos 60. Esse personagem foi o responsável pela revelação de dois grandes criadores de quadrinhos, Joe Simon (texto) e Jack Kirby (arte).
A Fawcett, motivada pelo enorme sucesso do Capitão Marvel, na sua revista Whiz Comics, deu-lhe uma revista própria, Captain Marvel Adventures, cuja primeria edição apareceu em janeiro de 41, na revista Whiz Comics, ou seja, quatro anos antes de surgir o Superboy. As histórias do Capitão Marvel Jr. eram feitas esmeradamente, por C. C. Beck, um discípulo de Alex Raymond, apresentando uma qualidade artística excepcional.
A Quality Comics criou três títulos significativos em 1941, Doll Man, a revista de um herói que vinha sendo apresentado nos dois últimos anos como coadjuvante na revista Feature Comics, Police Comics e Military Comics. Na Police Comics nr. 1, deu-se a apresentação de um herói cujas histórias estão entre as mais inteligentes, divertidas e criativas do universo dos “comics”, The Plastic Man de Jack Cole.
As alternativas aos super-heróis que as editoras procuraram durante o ano foram, Looney Tunes, com os personagens da Warner Bros., editada pela Dell; Animal Comics, também pela Dell, com personagens semelhantes aos criados por Walt Disney e que incluía a primeira aparição de Pogo, de Walt Kelly; quadrinhos educacionais como True Comics, Real Heroes, Real Life Comics, Classic Comics e Calling All Girls, com histórias tiradas da vida real, adaptações da literatura, biografias de pessoas ilustres, histórias dos grandes inventos, feitos heróicos e descobertas científicas.
No início de 1942 registrava-se nos EUA 143 revistas de quadrinhos que eram publicadas periodicamente e que eram lidas por mais de 50 milhões de pessoas mensalmente. Até os que achavam que os “comics” seriam uma moda passageira admitiam que eles tinham chegado para ficar e se integrado à cultura americana, assim como o beisebol e a torta de maçãs.
Nessa época houve uma grande “subida” da popularidade da Wonder Woman, personagem criada para a DC por Charles Moulton e planejada para simbolicamente expressar os valores da cruzada feminista, relativa ao movimento de liberação da mulher, dos anos 40. Charles Moulton era o codinome de um renomado psicólogo, Dr. William Marston, que criou Wonder Woman com o auxílio do artista Harry Peter e quer a sua doutrina estivesse certa ou não, o fato é que funcionou. Wonder Woman era especialmente popular entre o público infanto-juvenil feminino. Além de ter sua revista própria, Wonder Woman era publicada simultaneamente em mais duas revistas: Sensation Comics e Comics Cavalcade, nesta última ao lado dos best-sellers Flash e Green Lantern.
Um novo gênero de HQ foi criado pela DC em 1942 (e imediatamente imitado pelas outras editoras), os “comics” de gangs juvenis de heróis, com Boy Commandos de Jack Kirby e Joe Simon. O sucesso dessa revista gerou Tough Kid Squad pela Marvel, que insistia na publicação de revistas de humor, lançando neste ano quatro novos títulos: Comedy, Joker, Krazy e Terry-Tons.
A Fawcett se empenhava em ampliar o sucesso de seu grande hit A Família Marvel. Mary Marvel estreou em dezembro, como coadjuvante da revista Captain Marvel, enquanto que o Capitão Marvel Jr. ganhava revista própria um mês antes. Captain Midnight também surgiu no final do ano, enquanto que na Funny Animals, a Fawcett lançava um coelho com superpoderes, com o uniforme do Capitão Marvel, Hoppy, the Marvel Bunny. Este personagem ficou conhecido no Brasil como “Joca Marvel”. Esta não foi a primeira paródia de super-herói feita com animais falantes e engraçados. A honra coube a Super Mouse, que fez seu debut, com a história de sua origem na revista Coo Coo Comics de Better Publications, dois meses antes da Fawcett publicar Hoppy Marvel pela primeira vez em dezembro de 42.
A Comic House Inc. de Lev Gleason, editou uma novidade que se tornou um modismo, os “comics” de crimes. Boy Comics em abril e principalmente Crime Does Not Pay em junho de 42, quadrinizavam casos policiais reais ou imaginários, mas sempre com grande realismo e muita ação e se tornaram um sucesso tão grande, que gerou uma indústria de quadrinhos dedicada ao gênero, lidos por quatro milhões de pessoas mensalmente.
Muitos títulos de “comics” dirigidos especialmente aos teenagers foram lançados, depois que a MLJ editou Archie Comics, cujos heróis eram protótipos da juventude americana, confiando que essa larga fatia do mercado iria adotá-la por se identificar com os tipos ali apresentados, o que de fato aconteceu. Até o começo dos anos 50, muitas foram as revistas que tentaram imitar a Archie Comics, que permaneceu como a mais popular de seu gênero.
Walt Lantz, criador de inúmeros personagens dos “cartoons”, emprestou seus personagens para serem quadrinizados pela Dell, que também editou o primeiro número de Donald Duck com arte de Carl Barks, em agosto de 1942. Já em setembro, a Dell lançava Our Gang Comics, com a participação de Walt Kelly.
O crescimento das vendas das revistas de humor da Dell em 43, com bichos como personagens, Walt Disney’s Comics, Stories e New Funnies chamou a atenção de outras editoras que aumentaram o número de revista do gênero disponíveis, Real Funnies, Goofy Comics e Happy Comics editadas pela Better; Super Rabbit, All Surprise Comics e Powerhouse Pepper, pela Fawcett; Giggle Comics e Ha Ha Comics, pela American Comics Group, até a revista Archie Comics da MLJ, apareceu com um personagem do gênero, Super Duck.
Os super-heróis continuavam firmes e fortes, o Plastic Man, ganhou sua própria revista no verão de 43. Mas continuou sendo a atração principal de Police Comics. Outros heróis bizarros criados na época foram Micro-Face, Nightmare e Zippo em Clue Comics da Hillman Publishing. A Fawcett lançava um super-herói com poderes mágicos, Ibis The Unvencible que migrou da Whiz Comics. Outros dois personagens da Fawcett que ganharam suas próprias revistas foram Don Winslow e Hopalong Cassidy, ambos em fevereiro de 43.
A indústria dos “comics” e a indústria gráfica em geral enfrentaram um grave problema nesta época, provocado pela guerra: a falta e o consequente racionamento de papel para impressão. Por outro lado, a guerra ajudou a indústria dos “comics” por eles terem se tornado o entretenimento favorito das tropas militares. A Fawcett fechou o ano registrando o número astronômico de 47 milhões de revistas em quadrinhos vendidas durante 1943.
Os números liberados pela Fawcett continuaram impressionantes: no ano seguinte, 1945, seu carro-chefe Captain Marvel Adventures, sozinho, vendeu 14 milhões de exemplares, quase três milhões a mais que no ano anterior que tinha sido um ano excepcional.
A Marvel seguiu buscando seu equivalente ao sucesso Archie Comics, com as novas revistas Junior Miss, Tessie The Typist e Miss America, visando o público adolescente. A DC continuou explorando o humor dos “cartoons” animados com Funny Stuff e Buzzy.
Em dezembro de 1944, o respeitado Journal of Educational Sociology, depois de examinar os quadrinhos pesquisar entre seus leitores, concluiu, num extenso artigo, que os “comics” cumpriam um excelente papel em suprir as necessidades das crianças com leituras para sua fantasia e imaginação.
A quantidade de títulos disponíveis decresceu para 130 títulos, a mais baixa desde o começo da década de 40, embora a circulação e as vendas tivessem permanecido estáveis. A crise não era de criatividade ou de leitores, apenas havia pouco papel para impressão e as editoras, naturalmente, resolveram se concentrar nos títulos mais comerciais, ou que já estavam estabelecidos.
Com o fim da guerra, uma nova era de prosperidade começou e os quadrinhos foram imediatamente beneficiados. Crianças de todas as idades passaram a ler revistas em quadrinhos regularmente, numa proporção de nove entre dez crianças entre as idades de oito a quinze anos. Por causa dessa popularidade, os educadores começaram a debater seus pontos de vista contra e a favor dos quadrinhos, o que não impediu que a indústria dos “comics” prosperasse. Já em 1946, 40 milhões de revistas em quadrinhos era publicadas mensalmente nos EUA, divididos em 157 títulos. Dez editoras, entre elas DC, Fawcett, Dell, Famous e Quality, eram responsáveis por 60% das vendas. Os “cartoons” animados continuavam em alta, assim foram criados novos títulos Animal Antics pela DC, Animal Fables pela AC e Animal Fair pela Fawcett, todos em 46, mais o cult de Walt Kelly, que finalmente ganhou revista própria em abril: Pogo Comics, tornou-se a “casa” de Pogo Possum, Albert The Alligator e todos os demais habitantes do pântano de Okefenokee.
A indústria dos quadrinhos até então apoiada principalmente nos super-heróis tinha chegado ao seu limite. Agora era hora de encontrar novos rumos, pois todos os títulos liderados por personagens de super-heróis decresciam em vendas, mostrando claros sinais de esgotamento. Mesmo o campeão Captain Marvel Adventures diminuiu em um milhão de exemplares a sua circulação anual em 1947, em números relativos a 46 e dois milhões e meio relativos a 45. Uma das saídas encontradas (por curiosidade), por dois principais criadores de super-heróis, Jack Kirby e Joe Simon, foram os quadrinhos de histórias de amor. Young Romance, editada em setembro de 47, foi a primeira de centenas de revistas do seu gênero. Enquanto os heróis com superpoderes iam decaindo e desaparecendo, entravam em alta as histórias com cowboys e índios, criminosos e policiais e jovens enamorados.
A Fawcett saiu na frente no filão “cowboy” por acaso: um dos seus títulos, estabelecido há poucos anos, com vendas anuais por volta de quatro milhões de exemplares, era o western Hopalong Cassidy, que saltou de repente sua circulação para mais de oito milhões. Imediatamente a DC reconheceu que aí existia uma nova mania e criou dois novos títulos, Western Comics em janeiro e Dale Evans Comics em setembro de 48, além de transformar All American Comics, uma revista de super-heróis em uma revista de western, retitulando-a como All American Western. Cowboys do cinema passaram em peso para os quadrinhos, Tim Holt Comics e Tom Mix Western saíram simultaneamente por editoras diferentes. Já a Marvel preferiu criar seus cowboys originais, Two Gun Kid em março e Kid Colt Outlaw em agosto de 48. Os quadrinhos que tinham o crime como tema, tiveram uma surpreendente ascensão. Os dois títulos mais antigos do gênero, Crime Does Not Pay e Crime and Punishment, deram um pico em vendas em 48, saltando para mais de um milhão e meio de cópias vendidas todos os meses. Como resposta, surgiram de uma vez 38 novas revistas imitando-as, entre elas, All-True Crime Cases (Marvel), Crimes By Women (Fox), Crime Detective Cases (Hillman) e Crime Must Pay The Penalty (Ace). Até a Dell aproveitou a onda para lançar mão de um velho personagem e editar regularmente Dick Tracy Comics.
Provavelmente foi a onda de revista de quadrinhos sobre crimes que despertou a ira da mídia e dos educadores contra os “comics”. Já em 1948, a revista Time fazia uma reportagem alertando sobre os crimes cometidos por garotos que supostamente copiaram o que haviam lido naquelas revistas. Os “comics” também foram responsabilizados por influenciarem jovens em crimes de roubo, estrangulamento e assassinato por envenenamento. Quando a rede de rádio ABC entrou na guerra com uma série de programas intitulada “O Que Está Errado Com os Quadrinhos?”, deu-se o início a caça às bruxas. O Dr. Frederic Wertham, psiquiatra do New York Department of Hospitals, presidiu um simpósio chamado “A Psicopatologia Das Revistas em Quadrinhos”, concluindo que aquele tipo de revista em questão glorificava o crime e a violência, definindo-as como “anormalmente sexualmente agressivas”. Em resposta, os editores procuraram se fortalecer, formando uma associação com os distribuidores, a Association of Comics Magazine Publishers (ACMP) em julho de 48.
A ACMP estabeleceu um código de padrões pela decência nos quadrinhos. Todas as revistas que alcançassem aquela meta, receberiam um selo de aprovação. A idéia geral era que os próprios editores estabelecessem uma auto-regulamentação. Esta primeira tentativa de estabelecer um código de ética fracassou porque não recebeu o apoio total da indústria – as editoras principais boicotaram a ACMP, enquanto que as menores editoras, que precisavam lançar mão de todas as armas e recursos para vender suas publicações, simplesmente não estavam interessadas numa auto-regulamentação.
Na área das revistas de amor em quadrinhos, editou-se em 48 My Romance (Marvel), My Life (Fox) e Sweethearts (Fawcett). Então, somando-se à pioneira Young Romance, eram quatro as principais revistas do gênero.
Nunca houve tantos títulos publicados num só ano – foram 239 em 48, ou 30% mais que os títulos publicados no ano anterior e 50% mais que em 46.
No ano seguinte, houve um crescimento enorme das revistas de amor. Às quatro revistas já existentes, somaram-se nada menos que 21 novos títulos divididos entre nove editoras, até junho. No fim do ano elas chegaram a 99 títulos diferentes editados por 22 editoras. Somente a Marvel tinha mais de 30 títulos com a sua marca.
O único super-herói que continuava resistindo às reviravoltas do mercado e novos modismos era o Super-Homem. Em março de 49, Superboy ganhava sua própria revista. E apesar da indústria no seu todo continuar em expansão, com um crescimento de 25% em 49, em relação ao ano anterior, o futuro previa dificuldades pois cresciam as críticas desfavoráveis aos quadrinhos vindas dos mais diversos setores. A Parents Magazine publicou uma matéria sobre um comitê de avaliação das HQ ocorrido em Cincinnati, que determinou que 70% de todos os quadrinhos publicados, continham material condenável. Isto, como resultado, deu em 32 emendas nas leis de 16 estados, que afetaram diretamente a venda das HQ às crianças.
O ano de 1950 começou com o aparecimento de uma nova editora, EC Comics, que lançou um novo modismo, HQ de terror, com seus três primeiros títulos, Vault Of Horror, Crypt Of Terror e Haunt Of Fear. A EC Comics também entrou num gênero pouco explorado pelos quadrinhos, a ficção científica, com dois títulos, Weird Fantasy e Weird Science que ficaram célebres pelo alto nível de arte e do texto que publicavam. Eram também da EC os considerados melhores “comics” do gênero “crime”, com Crime Suspenstories e de guerra com Two Fisted Tales. Durante quatro anos a EC foi a melhor entre as melhores editoras de quadrinhos americanos.
Títulos novos de HQ foram editados naquele começo de década, com ênfase no terror, no crime e na ficção científica, ao mesmo tempo em que o Senado formou um comitê para fazer uma pesquisa profunda e detalhada, sobre a relação entre os quadrinhos e os seus leitores, para saber se haveriam de tomar medidas contra a indústria dos “comics”. A pesquisa revelou dados muito curiosos, como por exemplo:
a) cada aficcionado dos “comics”, lia cerca de 15 revistas por mês;
b) cada revista vendida era lida em média por três pessoas;
c) ao contrário do que se imaginava, 50% dos leitores de quadrinhos nos EUA eram adultos com mais de 20 anos de idade;
d) o público feminino dos quadrinhos, naquela época, também era proporcionalmente maior do que se pensava, abrangendo 48% do total, em todas as faixas de idade.
O horror nos quadrinhos, inaugurado pela EC em 1950, decolou como mania em 1951, e toda uma galeria de vampiros, zumbis e lobisomens tomou conta das novas publicações: Forbiden Worlds (ACG), Strange Tales (Marvel), Witches Tales e Chamber Of Chills (ambas pela Harvey). O novo filão parecia tão bom que uma empresa canadense, a editora Superior Comics começou a exportar para os EUA dois títulos de terror, Strange Mysteries e Adventure Into Fear. Duas revistas de horror editadas por pequenas companhias fizeram sucesso, Mysterious Adventures (Story Comics) e Mr. Mistery (Aragon). Sem chegar a ser uma mania, a ficção científica ganhou títulos novos, como Mystery In Space pela DC e Earthman On Venus e Space Detective pela Avon.
Como sinal dos tempos difíceis que os quadrinhos iriam enfrentar, o editor Victor Fox, que havia editado um número enorme de HQ de crimes e de romances, se retirou do mercado no fim de 1951.
A guerra da Coréia em 1952, provocou uma enxurrada de títulos dedicados ao gênero “guerra” no mercado editorial dos quadrinhos. A Marvel principalmente, deu grande impulso ao gênero editando War Adventures e War Action, ambas com muito sucesso. A DC reviveu as histórias de guerra ambientadas durante a II Guerra Mundial, sem se esquecer da guerra da Coréia em Star Spangled War Stories e Our Army At War. O gênero “crime” decaiu bastante e as editoras reciclaram seus títulos de “crime” para terror. O grande acontecimento nos quadrinhos no ano de 52, possivelmente foi a edição do primeiro número da Mad, revista de humor e sátira também aos próprios quadrinhos, que foi tremendamente influente, gerando dúzias de imitações.
Os “comics” desde seu início mostraram-se competentemente inovativos, quase todo ano um novo gênero ou tendência era introduzido. Em 53, a procura por novidades tomou outro rumo, quando Joe Kubert e Norman Mauer que vinham trabalhando com HQ há anos, tiveram a idéia de tridimensionar os “comics”, com uma técnica que fazia os desenhos “saltarem” das páginas quando vistos através de óculos com “lentes” de celofane azul e vermelho. Kubert e Mauer levaram a idéia à editora St. John que assim, teve a distinção de ter sido a primeira a editar quadrinhos em 3-D, com a revista Three Dimensional Comics em setembro de 53, com aventuras de Might Mouse. A revista vendeu 1.250.000 cópias rapidamente e uma segunda impressão foi feita em outubro. Em dezembro, a St. John publicou mais sete revistas em 3-D e outras dezesseis editoras também em dezembro, publicaram outras 30 revistas com a novidade tridimensional. Embora o impacto tenha sido grande e despertado grande curiosidade, o público dos quadrinhos logo se cansou dessas revistas, tanto que um ano depois a febre da HQ em três dimensões tinha desaparecido completamente.
O ano de 53 fechou com mais de 500 títulos de “comics” publicados com regularidade, com uma circulação que se aproximava de 70 milhões de exemplares, isto é, em dez anos, tinha dobrado quatro vezes.
Em 1954, começariam os problemas dos “comics” em enfrentamentos com o Senado e o poder público, pressionados por influentes parcelas conservadoras da sociedade e por associações de psicoterapeutas e psiquiatras que viam os “comics” como elemento desagregador da infância e da juventude. Os “comics” iriam pegar até rebarbas das raivosas cruzadas anticomunistas contra pessoas dos meios de comunicação e das artes, suspeitas de atividades anti-americanas. Acuadas, as editoras decidiram estabelecer um sistema autocontrolador, chamado Comics Code Authority, impondo uma série de restrições e regulamentos, tolhendo a própria criatividade. O efeito do livro Seduction Of The Innocent de Frederic Wertham foi devastador nos meios educacionais que passaram a ver os “comics” como o principal inimigo para ser combatido e se possível, eliminado. As primeiras vítimas do Comics Code foram os quadrinhos de terror e crime, que praticamente desapareceram assim que o código foi legalizado e entrou em vigor. Houve um abrandamento imediato nas histórias de western e de amor; todos os traços que mesmo vagamente sugeriam desvio de comportamento, mesmo nas revistas de “cartoons” animados foram apagados. Até outubro de 54, quando o Comics Code passou a valer, havia cerca de 600 títulos de HQ em circulação, nada menos que 150 milhões de revistas eram impressas mensalmente, gerando um negócio de mais de 90 milhões de dólares sobre um produto que custava meros dez cents por unidade. Os danos causados pela “histeria ultraconservadora americana” foram fatais. As revistas que não ostentassem na capa o “selo de qualidade” do Comics Code não eram distribuídas. O resultado disso tudo foi o fechamento da EC Comics, a mais criativa editora deste período, e a debandada de artistas rumo à publicidade e TV.
Somente as grandes editoras tinham fôlego para continuar editando novos títulos, embora em menor número. Em outubro de 56, a DC parecia ter achado o caminho para reviver os tempos de glória dos quadrinhos ao retomar um antigo super-herói, Flash, dos anos 40 e reciclá-lo, pelos talentos de Gardner Fox e Carmine Infantino. A revisão e a recuperação dos heróis, tornou-se uma prática que a indústria editorial dos quadrinhos continua praticando com sucesso até hoje.
Até o final dos anos 50, os “comics” viveram de reciclagens e da criação de curtos modismos, como os cowboys juvenis da Marvel em 57, a edição de revistas próprias para personagens secundários como a DC fez em Lois Lane. Em 59 os super-heróis dos anos 40 como Green Lantern e Captain America reapareceram, com o reforço de novos (super-) heróis, Adam Strange e Space Ranger, mais na linha ficção científica, inaugurando uma nova fase para velhos heróis que assim, eram dignamente apresentados às novas gerações, culminando com a criação da Justice League of America, um time de super-heróis reunidos numa única revista da DC. Justice League of America, a revista, editada em outubro de 1960 tornou-se extraordinariamente popular. O ano marcou também o aparecimento de Captain Atom pela Charlton, criado e desenhado por Steve Dikto. Um ano e meio depois, Dikto se transferiu para a Marvel, reunindo-se a Jack Kirby com quem havia anteriormente desenhado histórias de monstros pré-históricos.
Outra revista importante criada em 1960, foi Richie Rich Comics em novembro pela Harvey. O personagem se tornaria o principal best-seller da editora, se desdobrando em mais de 40 títulos de revistas diferentes, por mais de 25 anos. Na linha dos redescobrimentos e revival dos anos 40, um grande herói, Hawkman, criado por um extraordinário artista, Joe Kubert, ressurgiu em 1961 pela mesma DC. Julius Schwartz, o editor da DC teve o cuidado de contratar Kubert, para a retomada das aventuras de Hawkman em Brave And Bold. Schwartz também tratou de recuperar Atom, outro velho herói dos anos 40, que reapareceu na revista Showcase Comics.
Em meados de 61, a Marvel acrescentava aos seus títulos regulares, Amazing Adventures, na linha ficção científica, retitulada poucos meses depois para Amazing Adult Fantasy, com histórias criadas e desenhadas exclusivamente por Stan Lee e Steve Dikto. Martin Goodman, editor da Marvel, inspirado no sucesso de Justice League of America, um título da concorrente DC, pediu ao autor Stan Lee que criasse um grupo de super-heróis originais. Lee, com o auxílio de Jack Kirby que era o principal artista da editora na época, apresentou um grupo de personagens com um cientista que conseguia se esticar feito o Homem de Borracha, uma garota que ficava invisível, um adolescente que era um clone do Tocha Humana e um brutamontes feioso com uma força descomunal: The Fantastic Four. Este time de heróis estreou diretamente em sua própria revista em novembro de 61. A novidade é que os heróis do Fantastic Four não eram perfeitos ou infalíveis. Muito ao contrário, tinham muitas das fraquezas humanas e sofriam de problemas que tinham muito mais a ver com pessoas comuns do que com heróis, ou no caso deles, super-heróis.
1961 também foi o ano da criação de uma espécie de “Oscar” dos quadrinhos, através da Academy of Comic Book Arts and Sciences, que premiava os melhores do ano. Estes prêmios, chamados de “Alleys” em homenagem ao personagem Alley Oop foram dados em seu primeiro ano de criação a Justice League of America, melhor história; Green Lantern, melhor herói e Flash Comics nr. 123, foi considerada a melhor revista em quadrinhos publicada no ano.
O ano de 1962 foi marcado pelo início da ascensão da Marvel Comics que juntamente com a DC foram as responsáveis por trazer de volta a onda dos super-heróis. A resposta dos leitores às revistas surpreendeu as próprias editoras. Novas gerações interessadas nos “comics” não apenas os liam, como mostravam seu interesse escrevendo para as editoras e discutindo detalhes e fazendo sugestões e pedidos. Uma nova atração começou a se incorporar às revistas de HQ: as colunas de leitores.
Jack Kirby e Stan Lee criaram para a Marvel outro super-herói, o Incredible Hulk, um inusitado monstro verde gigante que surgia da transformação de um cientista, exposto a raios gama, numa recriação da história de “Dr. Jeckyll & Mr. Hyde”, ou “o médico e o monstro”. Pesquisando no passado, Kirby e Stan Lee trouxeram de volta Sub-Mariner, ou Namor, o Príncipe Submarino, transplantando-o para as histórias do Fantastic Four. O herói foi reciclado como um super vilão, romanticamente atraído por Sue Storm, a garota do Fantastic Four. Foi também da Marvel o personagem mais importante dos quadrinhos surgido em 62, Spider Man, em Amazing Fantasy de agosto de 62, genial criação de Steve Dikto, que se tornou o herói dos “comics” mais popular dos anos 60. Lee e Kirby ainda apresentaram em 62, o herói Thor, baseado na mitologia nórdica e Ant-Man. Fantastic Four ganhou o prêmio da academia como “a melhor história” enquanto que a DC, que deu a Atom, uma revista própria, levou todos os outros prêmios.
No ano seguinte as grandes equipes de super-heróis se fizeram presente – a DC trouxe do passado o primeiro grupo de super-heróis que tinha surgido originalmente nos anos 40, a Justice Society of America, além de criar a Doom Patrol. A Marvel inventou os Avengers, com Thor, Hulk, Ant-Man e Iron Man em setembro de 63 e no mesmo mês, os X-Men, de Stan Lee e Jack Kirby, uma equipe de heróicos adolescentes mutantes e ainda outra equipe que era uma estranha mistura de dois gêneros fundamentais na história da HQ: guerra e super-heróis, em Sgt. Fury and His Howling Commandos. Iron Man e Dr. Strange iniciaram suas aventuras pela Marvel nas revistas Tales Of Suspense e Strange Tales, respectivamente.
Tudo estava pronto para o retorno do mais patriota dos heróis, Captain America, o que se deu em 64, desenhado pelo mesmo Jack Kirby de 20 anos atrás. O Capitão havia estado desde a guerra, em animação suspensa e encontrou uma América muito diferente da que ele conheceu. Deslocado num mundo que não é o seu e angustiado pela morte do companheiro Bucky, o Capitão se tornou num dos mais torturados heróis que se tem notícia. Em 64, pela primeira vez o poderoso Código de Ética (Comics Code) desde que foi criado em 54, foi contestado pelo editor James Warren, ao Publicar a HQ de terror Creepy em preto-e-branco, com histórias desenhadas pelos antigos artistas da EC, Frank Frazetta, Reed Crandall, George Evans e Wally Wood.
Em 1965, as editoras deram ênfase à recuperação de velhos heróis. Black Canary, Dr. Fate, Hourman, Spectre, Wonder Woman e vários outros. Das grandes editoras, somente a Marvel apostava em novos heróis, como os New Avengers, com Hawkeye, Quicksilver e Scarlet Witch. O mais significativo novo herói apresentado pela Marvel em 65, foi Silver Surfer (Surfista Prateado), um herói intergaláctico, aprisionado no espaço da Terra, criado com imaginação e poesia, que singrava os ares sobre uma prancha cósmica. Silver Surfer fez sua primeira aparição no número de novembro de Fantastic Four e depois reapareceu em inúmeras aventuras de outros heróis, além das suas próprias histórias e de ter ganho revista própria.
Em 66 um acontecimento fora do universo editorial iria ter grande impacto sobre os quadrinhos, com a série camp de Batman feita para a TV. Logo após a premiére que se deu em janeiro, começou o fenômeno da “batmania” que expandiu extraordinariamente as vendas das revistas em quadrinhos. Logo, Batman que andava meio esquecido, passou a figurar em todas as capas de “comic books” editadas pela DC. E na nova onda dos super-heróis, a DC trouxe de volta Plastic Man, a primeira das várias tentativas feitas para reviver este herói cult, cuja mágica parece ter mesmo ficado nos anos 40, com o talento de Jack Cole.
A King Features voltou ao mercado dos quadrinhos trazendo de volta heróis como Flash Gordon, Mandrake e Beetle Bailey. Isto é, o mascarado de Gotham City não ajudou apenas os outros super-heróis, com sua súbita popularidade, mas todos os personagens de HQ foram beneficiados, incluindo Tarzan e a turma da Disneylândia.
Em 67 as revistas começaram a cair nas vendas e na circulação. De todas as editoras de peso, apenas a Marvel conseguiu manter suas vendas nos mesmos patamares do ano anterior, se bem que seu título de maior vendagem, Spider-Man, fosse apenas a décima-quarta no ranking das mais vendidas. No fim do ano, existiam cerca de cem títulos de revistas disponíveis, num mercado que em tempos passados chegou a ter mais de 600. Fora do mercado regular, apareceu a primeira revista em quadrinhos underground realmente popular, que foi a Zap Comix de Robert Crumb. Nos anos seguintes, esse mercado subterrâneo de quadrinhos se expandiu bastante, refletindo a transformação social que acontecia na América – os “comix” era uma mistura pesada de assuntos que nem de longe o mercado mainstream americano dos quadrinhos imaginou explorar: drogas e perversões sexuais de todo tipo. O impacto do sucesso desse tipo de HQ foi mínimo no mercado, porém o trabalho daqueles artistas, Crumb, Gilbert Shelton, Rick Grifin e outros, ajudaram a dar um sopro de liberdade e criatividade numa arte que em vários sentidos estava estagnada.
A Marvel Comics em 68, com uma distribuição mais agressiva, passou a dominar o mercado, com vários títulos de sucesso, Captain America, Incredible Hulk, Iron Man, Sub-Mariner, Dr. Strange e Silver Surfer. E acrescentaram um novo herói, Captain Marvel, com sua própria revista, que além do nome, nada tinha a ver com o adorável herói da Fawcett dos anos 40 e 50. Clássicos de outras épocas foram reeditados pela Gold Key. A série Batman da TV, foi levada ao ar pela última vez em 14 de março, fechando a chamada Era de Prata dos quadrinhos, iniciada em 1956.
Os anos das trevas dos quadrinhos americanos começaram em 69 e foram até 77. Num período dominado pela DC e pela Marvel, uma grande revelação foi o gênero “feitiçaria e espada” com a adaptação de Conan The Barbarian, por Roy Thomas e Barry Smith, que foi o grande sucesso comercial da Marvel dos anos 70 e que gerou durante seis anos, mais que uma dúzia de imitações; houve também a recriação do universo dos super-heróis feito por Jack Kirby para a DC, com uma grande quantidade de novos heróis e concepções revolucionárias. O Código apesar de ultrapassado, continuava rígido, tanto que uma das revistas do Spider-Man de 1971 teve que ser distribuída sem o “selo de garantia” do Comics Code, pois abordava os entorpecentes como tema, embora tivesse uma mensagem claramente de prevenção e de oposição ao uso deles. Em relação ao tema terror, o Comics Code deu sinal de algum avanço, dando aprovação ao uso do horror como tema.
Assim, de repente, com o aval do Comics Code, o mercado foi invadido nos anos 70 por HQ de terror, com mortos-vivos, vampiros, lobisomens e outras aberrações. Isto rendeu para a Marvel pelo menos um herói novo e original, Ghost Rider, um esqueleto flamejante, vestindo couro e dirigindo uma possante motocicleta, e de quebra reciclou algumas histórias de terror dos anos 50, em Chamber Of Chills e Supernatural Thrillers em 72. A DC também criou seu clássico de terror com Swamp Thing de Len Wein e Berni Wrightson, criticamente aclamado.
No fim de 72, a Marvel dava os primeiros sinais de estar se tornando líder no mercado, tomando o lugar da DC.
O velho Capitão Marvel, depois de 19 anos de ausência, foi retomado pela DC Comics e relançado em 73 sob o título Shazam! com arte de C. C. Beck, o melhor dos desenhistas do herói da antiga fase, mesmo assim a glória do passado não foi possível de ser recapturada.
O ano de 1973 também fica na história por um fato lamentável: a Dell Comics, depois de ter sido durante anos a líder no mercado, publicando sucessos como Donald Duck, Bugs Bunny, Lone Ranger, Tarzan e outros, fechou as portas. Alguns de seus principais personagens tiveram seus direitos vendidos para a Gold Key.
Savage Sword Of Conan iniciada em 74, foi a série em preto-e-branco de maior sucesso da Marvel, uma versão mais adulta do “comic book” Conan The Barbarian que começou a ser editado alguns anos antes. Outro hit da editora foi o relançamento de X-Men renovado, com novos personagens, outros adolescentes mutantes, misturados àqueles que já eram conhecidos desde 75, vindo a se tornar a HQ de maior sucesso da editora em todos os tempos. 1975 também foi o ano marcado pela primeira colaboração entre as duas principais editoras americanas, DC e Marvel, numa adaptação de O Mágico de Oz. Mas a disputa entre as duas editoras continuou feroz, com uma tentando sobrepujar a outra, lançando a maior quantidade de títulos possível – nos próximos três anos a DC e a Marvel iriam editar cerca de cem novas revistas, a maior parte, devido à baixa qualidade e má aceitação do público, foi cancelada em menos de um ano.
Um dos grandes sucessos entre as novidades foi Howard The Duck, da Marvel, criado por Steve Gerber e Frank Brunner, que começou a ser publicado em janeiro de 76, ganhando rápida aceitação, principalmente nos meios estudantis. Howard The Duck, era uma mistura de paródia de “cartoon animado” e sátira social e chegou até mesmo a inspirar um filme em meados dos anos 80. Já o título mais significante da DC em 76 foi Warlord, uma aventura em série, de espada-e-magia, que durou 12 anos.
O ano de 77 foi marcado pelo começo da revolução nos quadrinhos americanos. O marco desse início foi a edição de Heavy Metal pela National Lampoon trazendo coletâneas de trabalhos dos melhores artistas europeus modernos dos quadrinhos. A Heavy Metal exerceu a maior influência nos quadrinhos americanos, desde os quadrinhos underground dos anos 60.
Em 78, o esforço das duas grandes editoras DC e Marvel despendido nos três anos anteriores, para uma superar a outra, teve um resultado dramático, com vertiginosa queda nas vendas e o cancelamento da maior parte dos títulos. A DC foi particularmente afetada, a empresa praticamente implodiu, encalhando na distribuição e sendo obrigada a reduzir os 50 novos títulos que havia colocado no mercado nos últimos três anos para apenas seis. Não aconteceram novidades significativas no mercado editorial americano em 78, exceto pelo aparecimento da revista avant-garde Raw, onde foi introduzido o “comics” Maus de Art Speigelman.
A reação da DC, depois do desastre em 78, foi lançar um novo conceito em edição de quadrinhos, a mini-série, que consistia em publicar uma história completa dividida em três ou quatro revistas. A primeira mini-série, World of Kripton, surgiu em julho de 79 e logo provou ser uma excelente idéia, pois estimulava o público a colecionar, isto é comprar todas as edições. Além das mini-séries, fez sucesso a adaptação de brinquedos como personagens de HQ e a versão de Frank Miller para Daredevil, um personagem criado pela Marvel nos anos 60. A visão moderna de Miller, fez avivar o interesse dos novos fãs dos “comics” nos heróis dos anos 60.
A década de 80 começou com o interesse do público por heróis adolescentes, provavelmente estimulado pelo sucesso de X-Men. Foi o motivo para a DC ressuscitar a antiga Legion of Super Heroes e renovar os Teen Titans dos anos 60, incorporando alguns novos heróis e rebatizá-los como New Teen Titans.
Também no começo da década aconteceu um fenômeno interessante: lojas especializadas em quadrinhos se espalharam por todo o país, ajudando bastante na distribuição e nas vendas. Anteriormente às lojas desse tipo, os quadrinhos americanos eram oferecidos somente em estantes, colocados em mercados e drugstores. A Marvel resolveu testar o potencial das comic book shops e distribuiu um novo título, Dazzler, exclusivamente nessa rede de lojas especializadas e descobriu que elas venderam 400 mil cópias da revista, quase o dobro da média das outras revistas distribuídas pelo método tradicional. Foi uma saída, um respiradouro para um mercado que estava encolhendo. Uma companhia independente de quadrinhos, a Pacific Comics, resolveu distribuir seus produtos exclusivamente nesse novo mercado de lojas especializadas e colecionadores, começando com Captain Victory And The Galactic Ranger, de Jack Kirby. O sucesso da Pacific, levou muitas outras novas editoras independentes a produzir da mesma forma para esse novo segmento de mercado, mudando substancialmente todo o negócio. A DC, de olho no promissor mercado colecionador, que já havia tornado sucesso suas mini-séries, passou a editar maxi-séries, ou seja edições limitadas de histórias longas, divididas em 12 números. Camelot 3000 foi a primeira das maxi-séries, em dezembro de 82. A Marvel foi a próxima grande editora a visar o público colecionador, com uma mini-série enfocando o personagem mais popular dos X-Men, Wolverine.
Novas empresas independentes entraram no mercado, todas apoiadas no segmento das revistas de HQ para colecionadores, distribuídas nas comic book shops, entre elas Americomics, Capital, Eclipse, Comico e a First Comics que causou sensação com seus novos títulos com quadrinhos adultos. Um clássico dos anos 40, Spirit voltou ao mercado através da Kitchen Sink Press em 83. Neste mesmo ano, a DC publicou Ronin, uma série limitada, desenhada por Frank Miller, que refletia a influência dos mangás (quadrinhos japoneses) e dos modernos quadrinhos europeus sobre os “comics” americanos.
A Pacific Comics, a primeira editora a acreditar no mercado para colecionadores, cresceu rapidamente e já no final de 84 tinha 25 títulos circulando exclusivamente nas lojas especializadas.
A Marvel lançou em 84 uma novidade, o crossover, revistas com aparições dos mais diversos heróis da editora, de épocas diferentes, numa mesma aventura. Secret Wars em maio foi um sucesso tremendo, tendo sido destinada apenas (outra vez) ao mercado colecionador.
Os dois anos seguintes foram marcados pelo aniversário de 50 anos da DC em 85 e pelo aniversário de 25 anos da Marvel em 86. Em comemoração, a DC editou Crisis On Infinite Earths, reorganizando e revitalizando todo o seu universo de heróis. A tentativa da Marvel em criar uma nova safra de heróis com uma temática diferente, intitulada New Universe, não despertou o interesse dos leitores e seus títulos foram, sucessivamente, cancelados.
A DC fez uma revisão dos seus dois principais personagens, Superman e Batman. Superman foi renovado numa mini-série, The Man of Steel em junho de 86, enquanto que Batman foi transformado num vigilante sombrio na mini-série The Dark Knight Returns, em março de 86, na visão de Frank Miller. No mesmo ano surgiu uma nova série que causou grande impacto, Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, que dá uma interessante idéia do que os super-heróis seriam, vivendo no mundo real.
O mercado colecionador mostrou suas mazelas: mais e mais novas editoras independentes surgiam editando grandes quantidades de novos títulos, que vendiam para colecionadores, especuladores e donos de comic book stores, que estocavam essas revistas, indiferentes à qualidade que elas tinham, para um suposto “mercado futuro”, esperando que essas revistas tivessem uma super valorização, trazendo grandes lucros aos seus donos. Essa distorção fez despencar a qualidade e acabou provocando um gigantesco encalhe na medida em que as pessoas foram percebendo que não existiria mercado no futuro, para revistas de tão baixo nível e impressas em tão grande número de exemplares. As lojas abruptamente cortaram as compras, provocando grande crise no mercado independente. As medidas drásticas tomadas para sanear o mercado provocaram o fechamento de muitas editoras, algumas delas até bastante promissoras. Entre as boas editoras independentes que sobreviveram, destaca-se a First Publishing, que obteve os direitos de edição para os EUA de Lone Wolf And Cub (Lobo Solitário), uma série japonesa muito popular, em maio de 87. Daí vieram outras histórias traduzidas dos mangás, como Mai the Psychic Girl, da Eclipse.
Os anos seguintes viram uma nova “batmania” com a série cinematográfica do Cavaleiro das Trevas e várias séries e novelas gráficas com o personagem, o restabelecimento do mercado independente, depois do desastre de alguns anos antes. O Superman, completa 50 anos, morre, revive e finalmente se casa com Lois Lane. Spider-Man se firma como o herói mais popular dos quadrinhos, vendendo acima de 2.700.000 cópias em seis edições simultâneas em 1990. A Dark Horse Comics se torna a terceira maior editora de HQ dos EUA (atrás da Marvel e da DC). Quadrinistas ingleses, Alan Moore, Neil Gaiman, Alan Grant e outros, ganham espaço com Sandman, Doom Patrol e outros títulos.
Com uma nova proposta de total liberdade criativa para os autores e direitos sobre os personagens, surgem em 1993 a Image Comics, de propriedade de ex-artistas de Marvel. Utilizando muitos recursos de computação gráfica e abusando da violência em suas páginas, as revistas da Image causaram um verdadeiro estouro de vendas e em um ano ela já era a terceira maior editora do mercado americano.
Finalmente, em 1996, a Marvel compra uma pequena distribuidora. Sendo ela a líder do mercado de colecionadores, isto causou uma grande desestabilidade na área dos “comics shops” e deu início a uma nova crise que dura até hoje e que culminou na concordata da Marvel.
Não é esta a primeira vez que os “comics” passam por uma crise; tampouco será a última. Resta-nos acreditar no apelo mágico dos heróis de papel e na capacidade de recuperação das grandes editoras para que o futuro volte a ser brilhante e, como no passado, novos rumos seja apontados e novas fórmulas sejam criadas. Afinal, como já dizia o sábio, Shazam!