Os fantásticos mundos de Robert E. Howard – V

As trilhas da aventura

Estudo do Prof. Robert Yaple sobre a vida na época de Conan, baseado na obra de Robert E. Howard.

As maiores nações comerciais da era hiboriana foram Zíngara, Argos, Koth e Shem. No início, as duas primeiras desenvolveram o lucrativo mas perigoso comércio marítimo, enquanto shemitas e kothianos se valeram de seu clima e geografia privilegiados para desenvolver as rotas terrestres, mais seguras e abrangentes.

Os rios também tinham importância capital, como é o caso do Rio Khoratus, que ligava duas importantes regiões do império aquiloniano – Tarantia e Pointain -, e o Rio Styx, que daria origem a toda uma civilização.

De camelos a Kothianos

Em Shem, as trilhas de longas caravanas de camelos formavam um verdadeiro ziguezague de zuagires, fazendo ganhar importância inúmeros pontos ignorados pelos mapas hiborianos, como Shushan, Atahu, o oásis Aphaka e a passagem de Shamla, todos a noroeste de Kutchemes.

De qualquer forma, os mercadores da região ocidental de Shem eram extremamente vulneráveis aos ataques dos saqueadores zuagires e de algumas tribos montanhesas de Koth.

Nestas circunstâncias, principados como Khauran e Khorajá acabavam adquirindo papel preponderante, graças à segurança que ofereciam, em troca de volumosos sacos de moeda de ouro. Esse monopólio de rotas propiciou a que essas duas nações, protegidas por um paredão de mais de mil quilômetros que chegava até Zamora, prosperassem rapidamente e se tornassem focos independentes do restante do mundo hiboriano.

Outra ramificação importante no comércio da época era a que se estendia por Koth, Ophir e Nemédia e levava aos cobiçados mercados da poderosa Aquilônia. Ali, e em especial na fronteira entre terras nemédias e aquilonianas, as frequentes lutas fronteiriças ou mesmo guerras declaradas faziam da função de mercador um dos mais arriscados ofícios de então.

Rumo a Turan

A leste do mapa, ao longo do Mar Vilayet, ergue-se o próspero reino de Turan, cujas cidades mais importantes se situavam entre o Rio Ilbar e a margem, como as lendárias Agrapur e Shahpur, entre outras. Apesar das atividades dos piratas da irmandade vermelha, o comércio interno de Turan era predominantemente marítimo. Apenas para os pequenos vilarejos do interior eram utilizadas caravanas de mulas.

Ao sul do Vilayet, um imenso tráfego de caravanas ligava o ocidente ao Iranistão, Vendhia e Khitai. Havia ainda uma via meridional que atravessava o posto de pedágio turaniano de Vezek, partindo dali em direção a Khauran, via oásis Akrel.

Stygia, filha do Styx

Embora grande parte do tráfego estígio escoasse pelo Rio Styx, inúmeras rotas ligavam o interior da Stygia a Shem. Como Turan, a Stygia produzia sedas em enorme quantidade e exportava grande parte desta produção, principalmente para Ophir.

Mais ao sul, tortuosas trilhas levavam da costa de Kush até Sukhmet, apesar dos constantes ataques de kushitas semicivilizados e de canibais darfarianos. Uma outra via secundária seguia para o sul, cruzando as terras kushitas e o amaldiçoado deserto de Ghamatas até atingir Keshan. A constante presença de poderosos mercadores na região acaba trazendo grande instabilidade política à convulsionada Stygia.

O comércio com os reinos negros mostrava-se extremamente lucrativo. Marfim, cobre, pérolas, plumas de avestruz, peles e escravos eram trocados por produtos manufaturados do norte, como armas, armaduras e bugigangas – embora os artigos mais volumosos se restringissem ao tráfego litorâneo e às feiras nas regiões próximas ao alto Styx.

Ainda assim, não foram poucos os mercadores que se aproximaram das áreas negras pelo leste, usando guias zimbaboanos. Foi esse intercâmbio que possibilitou a Zimbabo experimentar o progresso que o transformou num dos reinos mais importantes do sul hiboriano, apesar de suas características híbridas – dois deuses, dois reis e dois povos, um de origem shemita e outro predominantemente negro.

Tudo passa

Esta era, em resumo, a configuração geral do comércio internacional da época de Conan, a última fase do período feudal hiboriano. Tanto no mar quanto em terra existia uma espécie de equilíbrio entre produtores e predadores.

Contudo, anos depois das aventuras do cimério, quando as monarquias primitivas e os reinos decadentes foram substituídos pela idade imperial, muitas das antigas ordens vigentes se romperam.

Se a Aquilônia tivesse sido menos ambiciosa, direcionando seus planos de conquista exclusivamente à Zíngara, Argos e às porções ocidentais de Ophir e Shem, a história hiboriana talvez tivesse seguido rumos diferentes que culminariam com grandes expansões transoceânicas.

Mas não era para ser assim. Em grande parte devido à cobiça aquiloniana, quinhentos anos após a existência de Conan, o mundo hiboriano desapareceu para sempre.


Robert Yaple

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  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

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