Achei o artigo a seguir bastante interessante. É certo que o mundo – aliás, a vida como um todo – não se divide necessariamente em preto e branco: existem diversas nuances de cinza nessa composição. Ainda assim, temos aqueles que enxergam tudo cor-de-rosa…
Em que crê quem não lê?
Obras de auto-ajuda administrativa usam mecanismos de conquista das religiões
Por Luís Adonis Valente Correia
Publicado na Revista Língua Portuguesa nº 5, de março de 2006
Muitos apontam a falta de leitura como a grande culpada pelo nível dos informativos e comunicados nas empresas. Igualmente culpada é a própria leitura: o nível de publicação de lixo em administração é bem alto. A leitura, convenhamos, faz falta, mas seria melhor não ler as toneladas de bobagens, auto-ajuda e falsas teorias de gestão que grassam no mundo corporativo.
Admito que o vazio dessas publicações é apaziguador. Não há quem vá empreender esforços de análise nem de reflexão devido a essas publicações. Os profissionais se sentem bem achando que a vida nas empresas vai melhorar com aquelas palavras de ordem, frases destituídas de sentido, truísmos e aqueles “ensinamentos” ao alcance de todos. Acredite: eles acreditam.
A ausência de significado, de embasamento, de vínculo com o real, na maioria das publicações de administração, permite que cada um crie sua versão e adote uma interpretação qualquer, até a da mídia de venda. Isso ocorre ainda que não se compreenda o livro. Aliás, ocorre ainda que não se leia, o que sublinha a mudança de tratamento das editoras: referem-se ao cliente e não ao leitor – leitor é quem lê; cliente é quem compra.
Não me surpreendem as pessoas que compram e não lêem. Além dos impulsos consumistas, a pergunta é: preciso ler um livro de abordagem inútil, irrelevante? Não, decerto. Também não precisaria tê-lo comprado. Precisar, não precisa. Ter o livro, entretanto, cria o sentimento de pertencer ao grupo que está mais antenado com o que se passa nas organizações. Na perspectiva de quem? Das pessoas desse próprio grupo. Perdoai-os, Senhor: eles não sabem o que fazem. São crentes. Crentes que descobriram a verdade.
Os autores dessas bobagens não se aprofundam nas questões da realização do trabalho. Seus empenhos se concentram na busca de uma metáfora, de uma figura de linguagem que seja aceita, que soe próxima, para que seja usada e abusada. É um abuso. Mas vende bem. Cada cliente (leitor?) usa a “metáfora” da maneira que mais lhe aprouver, sem que as interpretações distintas causem qualquer polêmica. Onde houver discórdia, que a auto-ajuda leve a união.
O conteúdo infundado, vazio de significação, respalda esse comportamento e acaba por afetar e afastar outras leituras de negócios com material de discussão interessante.
O bombardeamento da mídia com auto-ajuda em administração empobrece e emburrece o ambiente organizacional. No entanto, vivemos no mundo das aparências, e comentários sobre o que está em voga fazem com que o profissional pareça atualizado. Ele está na moda, mas o resultado é fútil. É fashion.
Adauto, o pessoal agora anda questionando a coisa da auto-ajuda. Não existe fórmula mágica, e sim esforço. Não adianta o cara ter em mãos a melhor teoria mas não fazer nada dela.
Não sei se você se incomoda. No meu blog tenho um post que fala disso: http://blogdeautoajuda.blogspot.com/2007/10/auto-ajuda-funciona.html
Sds,
Jr.