B1. I – História e Evolução do Computador

“Inventor é um homem que olha para o mundo em torno de si e não fica satisfeito com as coisas como elas são. Ele quer melhorar tudo o que vê e aperfeiçoar o mundo. É perseguido por uma idéia, possuído pelo espírito da invenção e não descansa enquanto não materializa seus projetos.”

Alexandre Graham Bell
Inventor

A PRÉ-HISTÓRIA

O computador é um equipamento capaz de aceitar elementos relativos a um problema, submetê-los a operações pré-determinadas e chegar ao resultado desejado. Ou seja, o computador é uma máquina cujo sistema permite realizar uma série de tarefas de maneira ordenada, objetivando a solução de um problema. Essas tarefas ordenadas, visando a obtenção de resultados específicos, constituem o Processamento de Dados.

Observe-se que Dados são os elementos inseridos no computador relativos ao problema que se deseja solucionar. Informação é o resultado obtido após o processamento destes dados.

Os computadores na forma como hoje os conhecemos são frutos de uma longa evolução, evolução esta que não necessariamente se deu de modo linear. Ora, se o computador é um instrumento utilizado para o processamento de dados, seu desenvolvimento histórico deve, pois, estar ligado diretamente à capacidade do ser humano processar dados no decorrer de sua evolução.

Isto posto, vamos a um pouco de história.

Já os antigos pastores gregos e egípcios utilizavam “pedrinhas” para controlar a quantidade de reses de seus rebanhos. Nesse primitivo método cada rês era representada por uma pedra, de modo que o pastor deveria ter tantas pedras quanto animais para um efetivo controle. As pedras utilizadas eram, em sua maioria, de calcário, denominadas “calculi”, dando assim origem à palavra cálculo.

A origem mais remota relacionada aos computadores pode ser associada à criação de um instrumento denominado Ábaco. O primeiro ábaco que se tem notícia surgiu no vale entre o rio Tigre e o Eufrates por volta do ano 3500 AC e foi um dos primeiros instrumentos criados para auxiliar o homem em seus cálculos, sendo ainda hoje utilizado em muitos países, inclusive no Brasil (o ábaco também é conhecido como Suan-Pan na China e como Soroban no Japão).

Basicamente tratava-se de uma placa de barro ou madeira com várias hastes com pequenas contas que podiam ser movimentadas fácil e rapidamente, tornando o cálculo semi-automático. O ábaco conhecido nos dias de hoje é, de modo geral, uma armação que contém contas que deslizam, semelhante ao modelo ancestral, de modo a representar os números em unidades, dezenas, centenas e milhares (parecidas com àquelas que vemos em lousas infantis).

Outro instrumento que vale ser citado é o Calculador de Movimento dos Astros da pequena ilha grega chamada Antikhera, construído provavelmente há cerca de 2000 anos.

Apesar de estranho, o ábaco, bem como a simples contagem utilizando os dez dedos, foram suficientes por um longo tempo ao ser humano, de modo que somente no século XVII as necessidades de cálculo se tornaram mais complexas, quando se deu um grande desenvolvimento da Matemática.

Certamente após o aparecimento do ábaco, as máquinas de calcular foram sendo aperfeiçoadas, no entanto pouco pode-se afirmar sobre o período que vai desde a Idade Antiga até o final da Idade Média. Marcado por guerras que encarregavam-se da destruição de antigas bibliotecas e pela monopolização do conhecimento pela Igreja, o “Obscurantismo Medieval” reservou aos historiadores de hoje muita dificuldade em encontrar material de pesquisa referente àquela época.

Por volta de 1600, novas soluções mecânicas foram surgindo para o antigo problema de calcular. John Napier (1550-1617), inventor dos logaritmos naturais, criou a Tabela de Multiplicação e Wilhelm Schickard (1592-1635) a Máquina de Calcular, capaz de desenvolver as quatro operações básicas (somar, subtrair, multiplicar e dividir).

Blaise Pascal (1623-1662), filósofo e cientista francês, criou em 1642 uma máquina baseada em engrenagens que servia somente para somar e subtrair números de até oito algarismos. Com apenas 19 anos à época, sua intenção ao inventar tal engenhoca era a de auxiliar o pai a calcular seus impostos. Essa máquina foi chamada de Pascaline (em homenagem à sua modéstia…).

Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), matemático alemão, com base na máquina projetada por Pascal desenvolveu alguns anos depois (1694) uma máquina que, além da soma e subtração, também possibilitava multiplicar e dividir – foi esta a predecessora das máquinas de calcular mecânicas.

Thomas Colmar, mais tarde, aperfeiçoou a idéia de Leibniz, dando origem em 1820 a um instrumento chamado Aritmômetro.

No entanto todas essas “máquinas de calcular” diferem de um computador no sentido de programabilidade. Apesar de receberem dados e fornecerem informações, seu campo de atuação limitava-se a operações matemáticas simples. Um computador deve ser capaz de executar uma sequência completa de instruções fornecidos anteriormente, de modo a haver um real processamento dos dados que lhe foram transmitidos.

Joseph Marie Jacquard (1752-1834) construiu em 1801 um tear automático baseado na inserção de cartões de madeira com entalhes (perfurados) para separar fios, o que permitia controlar a confecção dos tecidos e seus desenhos. Esta pode ser considerada a primeira máquina mecânica programada efetivamente construída.

Porém o primeiro projeto desenvolvido necessariamente com essa nova preocupação, e capaz de realizar qualquer operação matemática, foi idealizada pelo matemático e engenheiro eletrônico, Charles Babbage (1792-1871) em 1833. Chamava-se Máquina Analítica e utilizava um sistema de cartões perfurados que davam instruções à máquina, também de uma maneira completamente mecânica. Esses cartões são considerados os primeiros Programas de Computador e foram escritos na sua maioria por Augusta Ada Byron (filha do poeta inglês Lord Byron; veio a tornar-se a Condessa de Lovelace após o casamento), que criou toda a lógica de programação que necessitava. Em homenagem à primeira programadora da história, deu-se o nome de ADA a uma linguagem de programação para uso científico e comercial, desenvolvida nos anos 80 pelo Departamento de Defesa americano.

Apesar de genial, a Máquina Analítica não passou de um projeto, não chegou a ser construída por não corresponder às necessidades da época, ou seja, não havia utilidade prática que justificasse o alto investimento necessário. O próprio governo inglês, por intermédio do primeiro-ministro Robert Peel, rejeitou as pesquisas de Babbage com a seguinte pergunta: “Que tal botar essa máquina para calcular quando ela mesma terá alguma utilidade?”

Entretanto a lógica criada por Babbage em seu projeto foi adotada nos modernos computadores eletrônicos, quer sejam: o dispositivo de entrada, um local de armazenamento de dados, um processador, uma unidade de controle para direcionamento de tarefas e um dispositivo de saída. Com base nessa herança é que Babbage é tido como Pai da Computação.

Necessário se faz citar, também, a contribuição de George Boole (1815-1864), matemático inglês, que em 1854 desenvolveu a Teoria da Álgebra de Boole, que permitiu a seus sucessores a representação de circuitos de comutação e o desenvolvimento da chamada Teoria dos Circuitos Lógicos (a Álgebra Booleana consiste em um sistema de regras que visam definir, simplificar ou manipular funções lógicas com base em afirmações que são verdadeiras ou falsas – AND, NOT, OR).

O mesmo princípio dos cartões perfurados empregado por Jacquard e Babbage foi também utilizado por Hermann Hollerith (1860-1929), imigrante alemão, funcionário do U.S. Census Bureaux, por volta de 1880 na construção de um sistema para o processamento de dados do censo populacional norte-americano (encomendado pelo próprio governo). O resultado demorou 7 anos para ser obtido – muito menos do que o normal – graças à Máquina de Recenseamento ou Tabuladora de Hollerith. Em 1890 Hollerith inovou o sistema, diminuindo o tempo de processamento para 2 anos.

Graças a esses esforços, Hollerith fundou em 1896 uma empresa para comercializar tais máquinas: a Tabulating Machines Company (TMC).

Entretanto Hollerith era, na realidade, melhor inventor que administrador, e acabou por vender sua empresa, em 1914, à Computing-Tabulating-Recording (CTR).

A CTR, por sua vez, era uma espécie de conglomerado organizado a partir de 1911, dirigido por Charles Flint (“The Trust King”), que abrangia três tipos de negócios: o que fabricava balanças, moedores de café e cortadores de queijo; o que fabricava relógios de ponto; e, como sua última aquisição, o que fabricava separadores mecânicos (uma espécie de máquina de tear e calculadoras).

Tom Watson foi contratado em 1914 como gerente-geral na CTR. Mais tarde, na época da Depressão, conseguiu comprar ações suficientes da empresa para dirigi-la. Em 1924 Watson mudou o nome da empresa para International Business Machine Corporation (IBM).

Começa assim a escalada ao sucesso da “Big Blues” (referência ao logotipo da IBM), que atingiria seu apogeu em meados da década de 60 e 70 e encontraria seu nêmesis na figura do microcomputador, imcompatível com a filosofia interna de mainframes (grandes computadores) da empresa. Mas estou me adiantando…

Historicamente temos, também, a presença de William Burroughs, que em 1892 inventou uma máquina que daria origem à indústria de calculadoras de escritório.


(próximo)

0 thoughts on “B1. I – História e Evolução do Computador

  1. Como não, Gustavo? A referência ao ábaco está logo no começo do texto (até porque não há muito que se falar sobre ele) e a continuação desse capítulo conta a história do “primeiro computador” (que pode ser encontrada aqui).

    O que você tem que lembrar é que o computador não surgiu simplesmente do dia para a noite. Foi todo um processo evolutivo, onde várias invenções do ser humano contribuíram para que ele chegasse no atual estado da técnica. Em última análise o mais moderno computador que possa existir, mesmo em se falando de inteligência artificial, muito provavelmente ainda assim se baseará num sistema binário, o que nos leva a todo o rastro histórico e o transforma numa mera máquina de calcular… Potente, aparentemente inteligente, veloz, mas… uma máquina de calcular.

  2. Para quem não sabe, mais comumente encontrado com a grafia de “Antiquitera”, trata-se de um dispositivo utilizado na Grécia antiga para calcular o movimento dos corpos celestes e cujos restos foram encontrados na Ilha de Antykhitera.

    Sua história completa pode ser encontrada em detalhes bem aqui.

    Alexandre, quando escrevi o texto original sobre os primeiros computadores, eu havia feito uma menção bem mais completa a esse mecanismo. Mas, depois, revendo minhas anotações, percebi que ele tirava o foco da real origem do computador. Por mais impressionante que seja esse dispositivo, ele não contribuiu diretamente para a evolução da história da informática. É por isso que ele só aparece no texto como mera curiosidade…

    Abração!

  3. Preciso fazer um trablho acadêmico sobre A HISTÓRIA E A AEVOLUÇÃO DA INFORMÁTICA,e o material disponível nesse artigo é irrisório para isto,como faço para encontrar mais conteúdo?

    obrigado
    Vilson Pereira dos Santos
    vil.p@hotmail.com

  4. Bem Vilson, em nenhum momento eu resolvi “esgotar” o tema (se é que isso é possível). Assim, para ser bem objetivo, sugiro que – além das buscas na Internet – procure bons livros em alguma biblioteca ou até mesmo em sebos.

    Até porque os livros costumam ser fontes MUITO mais confiáveis que as páginas da Internet…

    Abraços!

  5. não achei o que queria , mas foi bom pesquisar e entender a evolução do computador, o que queria era sobre A EVOLUÇÃO DA INFORMATICA TEVE DESDE SUA ORGEM ATE D DIAS DE HOJE E QUAIS OS FATORES POSITIVO E NEGATIVO QUE ESSA EVOLUÇÃO TROUXE PARA OS DIAS ATUAIS.E quero saber onde encontro isso .

  6. Bom, Thássia, no tocante à questão do ONDE encontrar algo sobre a “evolução da informática desde sua origem”, creio que a resposta é meio óbvia: fuçando na própria Internet, como sempre.

    Já no que diz respeito aos fatores positivos e negativos, bem, creio que aí você deva – pelo menos em boa parte – expressar sua opinião pessoal. Pense um pouco. Um mundo SEM informática e um mundo COM informática. Tá certo que você terá exemplos extremos de benefícios que a informática trouxe, mas e os malefícios? A maioria deles, creio eu, estariam voltadas à vivência do dia-a-dia. Ao desfrutar a vida longe de computadores.

    Exemplo básico: ainda ontem teve um problema nos provedores do Speedy e boa parte da cidade ficou sem acesso à Internet. Apesar das usuais reclamações com as quais me deparei na rua, foi também o dia que mais pessoas pude encontrar. Eu mesmo me vi “obrigado” a sair com a criançada para passear um pouco, pois estávamos sem acesso à Rede e não pude encaminhar alguns trabalhos que fiz em casa.

    E aí? Isso foi um malefício ou um benefício? Deixo ao seu critério e ao seu trabalho responder…

  7. Fabiana, deixo-lhe a mesma recomendação que passei à Thássia no comentário anterior: o negócio é fuçar na Internet para construir seu raciocínio, colhendo uma informação aqui, outra ali, e quando menos esperar seu trabalho estará bem mais completo do que poderia imaginar…

  8. hsuahsuahuas adorei o negócio de 1+6

    Mas não passei pra dizer só isso, queria agradecer por toda esplicação que encontrei nessa pagina, o que não se encontra em qualquer outra, pode acreditar procurei em varias, a maoiria vem com um sistema de formulas que não ajudam em nada. Já você foi direto e ao mesmo tempo ofereceu informações extras, o que me ajudou muito no trabalho que estou fazendo sobre essa area.
    Muito obrigada!!!

  9. Fernanda, essa é a matemágica do anti-spam…

    No que diz respeito ao post em si, bem, o pouco que sei sempre compartilho, então obrigado pela visita e fico sinceramente feliz que tenha lhe sido útil!

    E não esquenta a cabeça, não! Computadores são bichos tinhosos e manhosos que às vezes enganam a gente. 😉

    Inté!

  10. Oiii,Amei o texto li do começo até o fiim,amo ler,a história é muito interessante,me ajudou muito no trabalho da escola,qdo tiver outro trabalhos iguais a esse eu venho nesse site.
    Muito Obrigado!
    Beijão

  11. Heh… Felomeno, e olha que isso tudo aqui JÁ É um belo de um resumo de uma história que é muito, mas muito maior mesmo…

    Mariiiana, agradeço os elogios. Servimos bem para servir sempre! 😀

  12. Querido Adauto, a minha filha estava pesquisando sobre a “Evolução Histórica do Computador” e achou, por acaso, a sua página. Como sou uma mãe curiosa, li o seu trabalho e fiquei encantada com o texto e a sua capacidade de simplificar o fato. O texto se torna tão interessante que nos atrai a ler mais sobre a questãoa pesquisar. Parabéns pelo seu trabalho. Leremos mais sobre suas pesquisas. Beijos…

  13. Eu não encontrei o que queria mas seu Blog é super legal e interessante.
    Valeu, não me ajudou muito mas foi legal saber sobre a historia e a evolução dos computadores!!!!
    E para o Alexandre Santos: O Adauto tem razão o Mecanismo Antiquitera não contribuiu muito diretamente para a evolução e para a historia da informatica!!!!

  14. Que bom, Débora! Fico sinceramente feliz que esse texto tenha ajudado – e continue ajudando – tanta gente em suas pesquisas e trabalhos. Ele fazia parte de anotações bem mais antigas do livro que jamais cheguei a escrever…. Mas aqui, através do blog e da Internet, ele tem se prestado muito bem a seu papel de “com-partilhar” informações!

    Abração e boa Páscoa!

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