Já há vários meses participei de uma reunião num bairro periférico em Jacareí cujo objetivo era a eleição de representantes daquela comunidade como delegados do OP (Orçamento Participativo). O bairro em si não era tão distante do Centro e, apesar de as ruas estarem bem niveladas, ainda assim eram estradas de terra, faltando-lhe o calçamento. Enfim, uma poeira só.
Na ocasião estavam presentes tanto o Prefeito quanto o Vice-Prefeito de Jacareí, assim como vários outros secretários e integrantes do primeiro e segundo escalão do governo do Município. Foi quando aprendi uma coisa bastante interessante no que diz respeito à infra-estrutura.
Em seu discurso frente à comunidade – que, aliás, não estava com uma cara muito satisfeita, pois estavam preparados para “cobrar o asfalto” – o Prefeito ressaltou o quão caro e trabalhoso é o asfaltamento de um bairro. Seria muito fácil simplesmente trazer para o bairro caminhões carregados de concreto betuminoso, mais alguns rolos compactadores e transformar suas ruas em verdadeiros tapetes asfaltados. Tão fácil quanto irresponsável.
Isso porque toda a infra-estrutura básica não teria sido executada. E aquele asfalto lindo e maravilhoso teria que ser quase que totalmente quebrado para realização dessas obras. E asfalto remendado às vezes é pior ainda que a falta de asfalto…
Por infra-estrutura básica entenda-se deixar preparada toda a rede de esgoto e suas galerias subterrâneas, as ligações de entrada de água para abastecimento das casas, o nivelamento das ruas, sua drenagem, a colocação de guias e sarjetas, etc. Só a drenagem já leva um tempo considerável, pois há que se fazer todo um estudo de escoamento das águas pluviais (das chuvas), para só então colocar os tratores nas ruas. E isso tudo é “dinheiro enterrado”. Não traz visibilidade. Normalmente nenhum político gosta de obras que não apareçam. O asfalto propriamente dito (que efetivamente traz visibilidade) somente pode ser colocado APÓS realizado tudo isso.
Enfim, foi esse o discurso dele. Apesar dos ânimos contidos do povo, a conclusão da linha de raciocínio que vinha tecendo foi a de que, ainda que não aparecesse, após meses de obras, finalmente toda a infra-estrutura do bairro estava pronta e naquele momento ele já iria assinar a ordem de serviço para que uma empresa contratada desse início à pavimentação do bairro. O povo foi à loucura de felicidade numa verdadeira apoteose…
O porquê lembrei desse “causo”? Simples. Ontem estava pensando em tudo que já fiz lá no quintal. Quem vem e olha minha obrinha poderia simplesmente dizer: “Pôxa, Adauto, faz mais de um mês que você está mexendo aqui no quintal todo dia e só fez a fundação pra uma parede? Benza Deus, hein? Que belo nada!”
Pois é. Mas ali, guardadas as devidas proporções, também tem muito “dinheiro enterrado”. Tanto no chão quanto nas paredes. Aliás, mais mão-de-obra que dinheiro, diga-se de passagem. Foi preciso desmontar todo um sistema de entrada d’água ineficiente, refazê-lo em outras direções, preparar a rede de esgoto para as novas ligações que serão feitas quando tudo estiver pronto, passar a fiação elétrica pelas paredes, preparar as brocas (buracos) de mais de um metro para colocar a ferragem que sustentará a parede, montar a própria ferragem, concretar tudo isso, enfim, coisa pra caramba…
Mas nada disso dá pra ser visto.
Entretanto, agora tá começando a ficar bonito. Mais um dia e o concreto já estará firme o suficiente para começar a levantar a parede. Ou seja, agora teremos “visibilidade”.
Ah, e sim. “Infra-estrutura” se escreve desse jeito mesmo. Com hífen.