Outro dia assisti (novamente) um filme que já pode ser chamado de antigo: Hackers.
Tudo bem que não é lá nenhuma super produção, mas o filme tem seu charme. Sei que muita gente (vulgos “entendidos”) desceu a lenha nesse filme, dizendo ser um dos piores já feitos ao abordar esse tema.
Mas discordo veementemente.
O filme tem pelo menos três grandes pontos fortes.
Em primeiro lugar preocupou-se em “traduzir” para os leigos toda aquela linguagem informática. Fez isso com os recursos que tinha à época, concentrando-se mais na linguagem visual do que na técnica propriamente dita. Até porque, para quem não é da área, seria muito chato um filme mostrando as invasões de hackers da maneira como realmente acontecem (comandos, scripts, comandos, telas de texto e mais comandos). De se destacar alguns pontos interessantes que aparecem no filme na busca de elementos, como a chamada engenharia social, os manuais técnicos utilizados, as incursões nos lixos das empresas, as políticas de segurança, e por aí afora.
Em segundo lugar, o filme possui, antes de mais nada, um alento de saudosismo, de ingenuidade. Você percebe a luta do grupo em manter seu padrão ético. Subversivo, sim, mas ainda assim totalmente ético. E com isso vem à tona das lembranças os áureos tempos de transgressão ginasiais. Não éramos guiados por interesses financeiros ou de ganhos pessoais, seja a que título for. Na verdade os interesses diziam respeito à sede pelo conhecimento, à capacidade de realização e – por que não? – a um pouco de divertimento também. Mas a gente cresce e o mundo acaba ficando mais complicado, mais difícil, mais cinza (como o tempo chuvoso lá fora…). Para onde foi tudo isso? Para onde foi aquela antiga convicção de que iríamos mudar o mundo? Eu também não sei…
Aliás, eis o trecho final de um texto citado no filme, conhecido como O Manifesto Hacker, escrito originalmente em 8 de janeiro de 1986 por The Mentor.
Este é nosso mundo agora. O Mundo do elétron e do switch, a beleza do modem, a lógica do zero e um, positivo e negativo, dentro e fora. Nós nos utilizamos de um serviço já existente recusando-nos a pagar pelo que deveria ser baratíssimo se não fosse comandado por glutões corporativistas ambiciosos. E vocês nos chamam de criminosos.
Nós exploramos e vocês nos chamam de criminosos. Nós buscamos conhecimento e vocês nos chamam de criminosos. Nós existimos e sobrevivemos independente de raça, nacionalidade ou orientação religiosa e vocês nos chamam de criminosos…
Vocês constróem armas atômicas, vocês declaram guerras, matam, trapaceiam e mentem tentando convencer-nos de que é para nosso próprio bem e mesmo assim tem a maldita cara de pau de nos chamar de criminosos.
Sim! Eu sou um criminoso! E meu crime é o de curiosidade! Meu crime é o de julgar as pessoas pelo que elas falam e pensam e não pela sua aparência.
Meu crime é o de ser mais esperto do que vocês, algo pelo que vocês nunca vão me perdoar…
Eu sou um hacker, e este é meu manifesto. Vocês podem até barrar este indivíduo. Mas você NUNCA vai conseguir acabar com todos nós. Afinal de contas… Somos todos iguais…
Bem, e em terceiro lugar (e sei que vou ser massacrado por isso), outro ponto forte do filme é poder assistir à Angelina Jolie com uns dezoito aninhos, mais ou menos no começo de carreira… 😉