Então vocês devem estranhar este velho metaleiro que vos tecla falando de coisas tão musicalmente singelas quanto um “fado”.
Pois é.
Mas sou assim mesmo…
O que me encanta é a musicalidade e a genialidade da canção, não importa onde quer que se encontrem. Tenho alguns pré-conceitos acerca de alguns gêneros musicais específicos – mas se, de repente, surgir alguma coisa interessante e cativante, por que não?
Neste caso a “brincadeira” do Chico Buarque fica por conta da mistura muito bem feita e rimada de elementos nacionais com elementos lusitanos (fora o eventual sarcasmo…), construindo toda uma pátria única e fictícia que atenderia ambas as nações. E é esse, na minha opinião, o maior encanto dessa música Fado Tropical.
Basta clicar no “play” aí embaixo, executar a música e acompanhar a letra. Divirtam-se!
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro Abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
“Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…”
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Além-Tejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
“Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contestoSe trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incestoQuando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa”
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Chico realmente é o CARA…
As composições dele são o máximo, e apesar de muitos já terem dito que a voz dele não ser exatamente própria para o canto, acho, e muito, o contrário!
Agora, para esta mesma música, e várias outras do Seu Francisco, caso você, ou demais leitores, ainda não conheçam, dê uma olhada, ou melhor, ouvida no disco entitulado “Seu Francisco”, do Oswaldo Montenegro. Não desmerecendo os trabalhos próprios do Oswaldo, mas esse eu considero o melhor, principalmente quanto aos arranjos.