O Dom

É… Eu antes havia dito que não tinha opinião formada – mas parece que ela já está se formando – e é bastante favorável!

Numa pequena “maratona” neste final de semana assisti uma boa parte dos episódios da primeira temporada do Dr. House. Vários chamaram minha atenção por vários motivos – mas particularmente o nono episódio (“DNR”, ou “Me deixe morrer”) trouxe, na minha opinião, um excelente diálogo que se passa entre o obstinado House e um famoso músico trompetista que perdeu a vontade de viver.

Confiram:

– Acabou. Estou sem fôlego. A gravação na outra noite com aqueles garotos era um teste pra ver se eu ainda poderia tocar. E eu não posso.

– E isso é tudo o que você é? Um músico?

– Eu sou apenas uma coisa, assim como você.

– Mesmo? Aparentemente você me conhece melhor do que eu a você.

– Eu sei da bengala. Eu sei do dedo sem aliança. E essa sua obsessão natural, esse é o grande segredo. Você não arrisca ir para cadeia e a sua carreira apenas para salvar alguém que não quer ser salvo a menos que tenha alguma coisa, qualquer coisa, uma coisa. A razão pela qual poessoas normais têm esposas, filhos e hobbies, ou o que seja. Isso porque eles não têm uma coisa os martelando realmente com força. Eu tenho a música, você tem isso (a medicina). É a coisa em que você pensa o tempo todo, a coisa que lhe dá a direção a seguir. Sim, nos faz grandes, nos faz os melhores. Todo o resto deixamos de lado. Não há uma mulher esperando em casa depois do trabalho com um drink e um beijo. Isso não acontece pra nós.

Constelação Familiar

Hoje pela manhã, num saboroso café com uma amiga espírita, ela me contou de sua experiência no final de semana quando conheceu uma técnica denominada “Constelação Familiar”. No singelo entendimento deste que vos tecla, parece tratar-se de uma espécie de união da técnica terapêutica de Hellinger com a doutrina espírita em si, numa busca de respostas através do acesso às energias conhecidas como “inconsciente coletivo familiar”.

O detalhamento com que descreveu como essa técnica funciona, a sincera intensidade de sua experiência e o “resultado” final, com a avaliação e as conclusões tanto de sua vida fática quanto espiritual são impressionantes!

É possível consultar um pouco mais sobre o tema aqui, aqui e, em especial, aqui.

Entretanto, para uma explicação técnica sobre a técnica (infelizmente sem o viés espírita), fiquemos com as palavras do psicoterapeuta Ernani Eduardo Trotta:

A Constelação Familiar é uma abordagem terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger a partir de muitos anos de observação de fenômenos que ocorriam em grupos terapêuticos que ele coordenava. A prática gerou a teoria, e não o inverso. O trabalho não se baseia em teorias psicológicas previamente estabelecidas. Trata-se de uma prática fenomenológica, e sua fundamentação é principalmente antropológica, filosófica e humanística.

A base conceitual desta abordagem pode ser resumida assim: Além do inconsciente individual (Freud) e do inconsciente coletivo (Jung) existe também segundo Hellinger, um inconsciente familiar compartilhado pelos membros de uma mesma família e que se transmite às gerações seguintes, e que é estruturado a partir de todos os acontecimentos que compõem a história da família (nascimentos, mortes, uniões, separações, rejeições e exclusões, sucessos, fracassos, padrões de conduta, etc…).

Este inconsciente familiar influencia de forma intensa alguns membros da família afetando significativamente suas vidas. Estes membros ficam de alguma forma identificados ou “emaranhados” a outros membros da família, freqüentemente de gerações anteriores, que foram ¨excluídos¨ ou que tiveram um percurso de vida sofrido ou um “destino” infeliz (a palavra destino tem um significado próprio na teoria de Hellinger, que não daria para explicar aqui em poucas palavras). Algumas vezes o membro emaranhado nem sequer tem conhecimento consciente do episódio de exclusão que ocorreu com os seus familiares. Porém ele capta estas informações do inconsciente familiar e retoma/revive o “destino” desta pessoa, ou tenta compensar ou fazer o que outro familiar “deveria” ter feito. Pode acontecer ainda que ao perceber que um dos pais está emaranhado e tenta repetir o destino de alguém, um filho decide inconscientemente tomar para si esta “missão reparadora” equivocada e, por exemplo, ele adoece ou fracassa ou deprime no lugar de seu pai ou mãe.

A observação empírica destes fenômenos permitiu que fossem descobertas algumas regras ou ordens naturais que regem o inconsciente familiar e que se forem restauradas garantem o bem estar e a harmonia dos membros da família. Exemplos de algumas destas ordens: o direito à pertinência (ver reconhecido o seu lugar naquele grupo), o resgate dos impulsos primários interrompidos, a força dos laços de sangue, a ordem de precedência entre as gerações, o direito a seguir as próprias escolhas , a reverência aos mortos, o equilíbrio entre o dar e o receber, e outros.

É um trabalho feito em grupo de cerca de 10 a 20 pessoas. Algumas delas estão no grupo para trabalhar questões suas fazendo sua própria constelação, outras estão para auxiliar o trabalho desempenhando papel de “representantes”. O terapeuta trabalha uma pessoa de cada vez. Esta pessoa (podemos chamá-la de paciente) expõe brevemente a questão que deseja trabalhar; não são necessários muitos detalhes o que facilita a preservação da intimidade. Então, o terapeuta sugere que ela escolha dentre os membros do grupo uma pessoa para representar a si própria e cada um dos personagens importantes de sua família ou da questão a ser trabalhada. Feito isso o paciente posiciona estes representantes no espaço terapêutico e senta-se para assistir o trabalho. Habitualmente, num determinado momento do trabalho, o terapeuta convida o paciente para ocupar o seu lugar, substituindo seu representante, e finalizando a constelação. Terminada a constelação faz-se silêncio e deixa-se que o trabalho atue sobre o inconsciente do paciente…

Quando alguém monta sua constelação, escolhendo e posicionando os representantes de si próprio e de cada membro da família, ele transmite aos representantes uma imagem espacial e energética do campo relacional existente entre estas pessoas. E os representantes podem sintonizar-se ou “canalizar” os sentimentos e impulsos de cada uma destas pessoas. Este fenômeno pode ser explicado pela teoria dos campos morfogenéticos formulada por Rupert Sheldrake em seu livro “Ressonância mórfica: a presença do passado”.

Esta teoria, baseada em diversas pesquisas, indica que nossa atividade mental gera um campo energético que se estende além de nosso cérebro, no tempo e no espaço, promovendo vibrações que atuam como canais de comunicação de informações que podem ser captadas por vários indivíduos de um mesmo grupo. Isto explicaria as repercussões à distância que as constelações podem ter, até sobre membros da família que não participaram nem tiveram conhecimento do trabalho. O trabalho é conduzido com muito poucas palavras, pois o que mais interessa é a atuação sobre o campo morfogenético da família, que o terapeuta constelador promove favorecendo o reposicionamento dos representantes e o resgate dos movimentos primários interrompidos. Por vezes o terapeuta propõe aos representantes a repetição de algumas mensagens verbais que favorecem a restauração das ordens naturais, o resgate dos impulsos primários e a reintegração de excluídos. Numa visão mais superficial e simplista, ou para aqueles que têm dificuldade de acreditar em “fenômenos energéticos sutis”, a constelação pode ser encarada como uma sessão de psicodrama, ou uma sessão de teatro-terapêutico do tipo “teatro imagem” tal como proposto por Augusto Boal. Monta-se uma cena que representa o conflito, e a partir dela, pesquisa-se a melhor maneira de solucionar o conflito até se chegar a uma cena que represente um caminho possível de solução do conflito inicial. (…) Atualmente muitos preferem o termo Constelação Sistêmica em vez de constelação familiar, pois este método pode também ser empregado em outros sistemas como empresas, escolas, etc.

O Discurso do Rei

E eis que na sexta, pouco depois do dilúvio que assolou esta cidade, fui assistir O Discurso do Rei.

Confesso que fiquei preocupado – ainda que fosse o último horário – em pegar uma sala lotada (ainda mais por ser estréia). Ledo engano. O cinema estava do jeito que adoro: praticamente vazio. De fato, se não for blockbuster, se tiver que “pensar” mais um pouquinho, sem efeitos especiais, 3D, ou seja lá o que for, creio que o povo prefere a balada ao cinema. Melhor pra mim…

Mas voltemos ao filme.

É bom esclarecer que, de qualquer maneira, eu já seria suspeito pra opinar, pois eu simplesmente sou fã de qualquer filme que retrate a época da Segunda Guerra…

Mas, paixões à parte, de fato o filme é muito bom.

Collin Firth e Geoffrey Rush – com a imprescindível presença de Helena Bonham Carter (todos ilustríssimos desconhecidos para este que vos tecla) – dão um show de interpretação. No decorrer do filme dá pra verdadeiramente sentir a agonia do rei face suas limitações. Isso sem falar no colírio auricular que é o sotaque britânico!

Mas… Sinceramente?

Daí a ser cotadíssimo para o Oscar, etc, etc, etc?

Acho meio muito.

Não é um filme que causa aquele “impacto”. Do tipo que te transporta numa montanha russa de emoções. Do qual você sai do cinema impressionado, com vontade de voltar e assistir de novo. Ainda que o próprio nome do filme já nos previna – “O Discurso do Rei” – é praticamente após o tal discurso que o filme acaba. Ficou, para mim, uma sensação de vazio. De “Hein? E o resto?”…

Mas não se iludam pelos tradicionais comentários deste velho ranzinza! Ainda assim o filme realmente é bom! Com esmero nos detalhes, um humor sutil e ótimas interpretações nos traz um belo retrato da época da ascenção de George VI e Elizabeth. Vale a pena assistir – com ou sem pipoca.

Mas, particularmente falando (se é que isso é possível num blog), não é um filme que eu vá me lembrar por muito tempo…