Cabelos Negros

Serenos cabelos de perene fulgor
S’ agitam em ti voluptuosos.
E os teus olhos garbosos
São a seiva do meu amor.

Por onde andas quando só penso em ti?
Onde estás nos dias que não te vejo?
Já a tua voz ao longe me aquece o coração
E eu penso…
Quando sentirei o calor dos teus lábios nos meus…

Sérgio O. Marques

Essa que eu hei de amar…

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.

E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…

E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”

Guilherme de Almeida

Sexo matinal melhora humor e sistema imunológico

Hmmm…

Interessante…

Será?

😀

Se você anda de mau humor e não sabe como melhorá-lo, a solução é simples: ao acordar, continue na cama e pratique sexo matinal. De acordo com uma pesquisa da educadora sexual Debby Herbenick, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, o ato faz se sentir mais feliz ao longo do dia e ainda pode fortalecer o sistema imunológico.

A cientista disse ao jornal Daily Mail que as relações sexuais no período da manhã liberam oxitocina, que tornam os casais mais amorosos e ligados. Também elevam os níveis de IgA, um anticorpo que protege contra infecções.

Os benefícios não param por aí. Já ouviu dizer que transar deixa a pele, as unhas e o cabelo mais vistosos? Pois é a mais pura verdade. Isso porque aumenta as taxas do hormônio estrogênio.

Nem sempre é fácil encontrar tempo para uma praticar sexo ao despertar. Filhos e afazeres domésticos podem atrapalhar. Mas o empenho vale a pena, certo?

PATRICIA ZWIPP

Saudade

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e que você que também está vendo estas linhas, provavelmente, está sentindo agora que acabou de ler…

Liber Testamentorum

Histórias inusitadas ocorreram nos últimos tempos… Gente querida de gente querida faleceu, deixando um histórico de saudade, dor, surpresa, alívio – não necessariamente nessa ordem.

Casos e casos. Morte inusitada, que ninguém espera. Morte estúpida, que ninguém aceita. Morte sofrida, que ninguém compreende. Morte distante, que traz um vazio. E, talvez pior que tudo – até onde posso compreender – morte em vida, que traz um grande sofrimento.

E, em todos os casos – sem exceção – pontuada é a tristeza dos familiares, amigos e mesmo conhecidos.

E isso dá no que pensar: e quando minha hora chegar?

Então, pois bem, está decidido.

Nada disso quero para mim.

Sem, absolutamente, faltar com o respeito para com a dor que cada um sente, quero deixar bem clara minha intenção: nada de tristeza!

Minha vez há de chegar – eis que somente não escapamos de duas coisas nesta vida: do imposto de renda e do encontro com a ceifeira. Então, vamos combinar? Faço desde já meu testamento: tudo, eu disse absolutamente tudo, que tenho de material vai para meus filhos. Em caráter irrevogável, irretratável e irretocável. E o que tenho de “imaterial” – representado pelas minhas idéias, filosofias, doideiras, entendimentos, convicções, memórias e tudo mais nesse sentido – num primeiro momento a eles pertence, eis que mesmo com uma dedicada vida inteira jamais eu conseguiria lhes transmitir tanta coisa de ordem personalíssima. Mas, neste caso, há uma condição sine qua non para que se tornem senhores de tais bens: a obrigação indissolúvel de compartilhar isso com, somente, o restante da humanidade. Quer queiram ou não. Quer desejem ouvir minhas palavras ou não. Quer dê trabalho ou não.

E é assim que procuro garantir efetivamente meu acesso à imortalidade: mantendo vivo meu pensamento, ainda que seja na cabeça do mais obscuro ser humano, do mais distante lugar, na mais improvável situação. Enquanto isso acontecer, enquanto meus ditos forem citados, enquanto minhas convicções permearem ao menos uma pessoa das geraçãoes futuras – quer sejam descendentes ou não, quer saibam serem minhas ou não – lá estarei.

E se isso não vier a acontecer?

Sem problemas. Minha passagem por este plano já teve o condão de afetar vidas alheias, quer seja por minha direta intervenção ou não. Nem todas para o bem, infelizmente, eu sei, mas tal qual um “efeito borboleta”, minha marca já foi indelevelmente fixada nas vidas de outrem.

Assim, de resto, resta o encontro final em si.

Façam-me o favor: sem choradeira!

Já ouviram falar em “beber o morto”? Antiquíssima tradição funerária?

Pois é.

Comprem uns barris de chopp, uns engradados de cerveja, umas boas e velhas cachaças da terra e passem comigo minha última e derradeira noite bebendo e (re)lembrando tudo de bom e de ruim que fiz. Onde quer que eu esteja quero ouvir risadas, gracejos, lampejos de sarcasmo e brincadeiras como sempre costumei aprontar. E volto para puxar o pé de quem este desejo não respeitar!

Aliás, sim, eu disse “comigo” – ou acham que eu iria faltar à minha própria festa? Doem o que tiverem que doar (ao menos aquilo que ainda for “aproveitável”), me homenageiem como tiverem que homenagear e, depois, queimem o que sobrar. E espalhem ao léu o que restar.

Simples assim.

Minhas idéias haverão que ser mais fortes e permanentes que um mero marco fixado no chão.

Ou não.

E, independentemente disso, que tudo seja rápido, certeiro e indolor.

Ah, sim!

E a conta disso tudo?

Quem paga?

Vocês, é lógico!

Ou já se esqueceram para quem vai todos meus bens materiais?…

De resto já deixo uma sugestão de música para a ocasião – Rolando Boldrin, como não podia deixar de ser!

 
😀