“Depois que acabou” é um livro de Daniela Abade e faz parte da Coleção Interletras, da Editora Gênese, que, tendo percebido que a Internet tem sido um local onde escritores novos têm ensaiado seus primeiros contatos com os leitores, decidiu por uma série que busca apresentar autores inéditos revelados através de blogs e sites.
A seguir, alguns trechos do livro, trechos que gostei ou me que chamaram a atenção – não sei o porquê. Mais detalhes lá em Lendo de Tudo…
“Nos dias que se seguiram eu li todos os livros que tinha. Era uma urgência em reter todas aquelas informações. Eu reconhecia que tinha até sido um tanto relapsa com algumas obras, com bons autores. Mas não porque não sentia curiosidade em lê-los. Só não comecei a leitura antes porque sempre comprei mais livros do que podia ler, achava que em alguma hora teria tempo e sabia que os que não estavam sendo lidos estariam lá, na estante, esperando por mim. Mas naquele momento eu precisava lidar com a perda. Eles não estariam mais lá, não seriam mais meus. Acabar a leitura dos livros deixados momentaneamente de lado foi uma forma de ser justa com todos os autores. Eu me lembraria das histórias, fossem elas boas ou ruins. E lembrar da história já é muito mais do que lembrar de um nome na estante.”
“E eles eram assim, cada um tentava surpreender o outro com coisas boas, mesmo que não fosse na data de aniversário. Eles não deixavam que a vida os jogasse numa rotina. (…)”
“(…) Ele estava morando na cobertura. Ela não chegava a ser muito grande, tinha dois quartos, mas havia sido decorada para propositadamente parecer um lugar de gente com dinheiro, tinha aquela ostentação de quem quer mostrar poder sem saber como. (…)”
“Como é que se supera uma desilusão amorosa desse tamanho depois de morta? Não podia cortar os pulsos, não podia encher a lata, conversar com um terapeuta, dar pro primeiro que aparecesse.”
“Foi assim que comecei a contar essa história. Por algum motivo – que eu tenho certeza nunca serei capaz de descobrir qual – eu estou aqui escrevendo. (…) Não sei o que continuo fazendo aqui, escrevendo. Acho que foi um jeito de desabafar. De me fazer ouvir, nem que fosse por uma máquina.”