Ainda que pela metade, esta é a continuação da aventura
que agora se tornou uma narrativa
UM BOTECO!
Isso mesmo: um botequinho, pé-sujo, de madeira, perdido no meio do nada!
E – pasmem – aberto!
Entre surpresos e cansados, apeamos do carro, e fomos ver aquele local insólito dentro de um cenário que já era pra lá de insólito. Conhecemos o tiozinho que “toca” o lugar, proseamos um bocadinho e pudemos relaxar outro tanto. É lógico que ali, perdido no fim do mundo, as opções seriam limitadíssimas.
Com o friozinho que fazia e os pés meio que úmidos eu adoraria tomar um “choconhaque” – uma boa lembrança de quando fui pela primeira vez em São Thomé das Letras e que, numa situação de chuva calamitosa e barracas flutuando, encharcados até a alma, vim a conhecer essa saborosa mistura que aquece até o coração: chocolate quente com conhaque.
É lógico que ali ele não teria essa beberagem divina, quando muito a garrafinha térmica com café dele mesmo. Pra não passar em brancas nuvens, já que não teríamos um choconhaque, fiquei somente com o conhaque mesmo…
E, após tanta tensão, a Alê, embevecida com a paisagem, sacou de sua máquina fotográfica e começou a registrar tudo que podia – em especial a passarinhada multicolorida que cobria o lugar. O tiozinho explicou que ali era assim mesmo, e que os passarinhos já estavam até acostumados, até comiam na mão. Ante minha cara de incredulidade ele descascou uma banana e colou na murada. Aquilo ferveu de passarinhos! Coloquei uma raspinha na mão e a estiquei. E não é que veio mesmo um curiosinho dar umas bicadas na polpa da banana (e também da minha mão)?
Mais um pouquinho de proseio e de repente a gente ouve o inconfundível som de um motor de fusca. Não apenas um, mas dois, estavam descendo a serra, carregados até o talo de tralhas e, numa boa, como se estivessem passeando em pleno asfalto! De fato, fuscas são bodes mecânicos, aguentam ir até onde jipeiros não arriscariam…
Não sei precisar quanto tempo ficamos por ali, se apenas alguns minutos, meia hora, uma hora ou mais. Eu sei é que estávamos agora bem despertos e mais relaxados e com uma paisagem paradisíaca à nossa frente. Um quê de comunhão com a natureza de poder olhar a paisagem até onde a vista alcança e apenas encontrar a mata densa, fechada, linda, soberba!
Até mesmo a estrada parecia que estava bem melhor a partir daquele ponto!
Mas não se enganem: Murphy é, sempre foi e sempre será um velho sacana – e com a cara do House…
Talvez pouco mais de uma centena de metros abaixo havia uma ponte de pedra no meio do caminho, no meio do caminho havia uma ponte de pedra… Larga o suficiente na justa medida para as rodas do carro passarem quase que na borda…
Foi minha última intervenção como guia. Bem devagar, com as rodas bem alinhadas, ela veio trazendo o carro em linha reta até passar a bendita da pontezinha – sempre olhando nos meus olhos enquanto eu, do lado de fora, ia vendo se as rodas não desviavam de seu trajeto.
Passado esse último obstáculo, de fato a estrada voltou a ser estrada – ainda que de terra, mas já dava para desenvolver até mesmo uma surpreendente velocidade de uns trinta a quarenta por hora…
E continuamos nossas conversas e proseios, agora de fato relaxados, planejando o que faríamos onde ficaríamos e assim por diante. E como quando você não está dirigindo sempre acaba tendo mais liberdade para prestar atenção na paisagem, coisas e pessoas, de repente eu vejo as costas de uma grande placa e fico curioso. Enquanto estávamos passando ao lado da placa, fui virando a cabeça e pude ler o que estava escrito. Não me contive:
“Para! Para! Para! Alê, para esse carro agora! Você PRECISA ver isso!”
Taquiôspa! Só agora que avisam? Não dava pra ter colocado essa placa lá em cima, no começo, ANTES de a gente entrar na estrada? Que caramba!
(essa história ainda continua…)