Tá certo que é Dia dos Pais…
Mas como existiríamos se não fossem as mães?
Não, não é bem o que vocês estão pensando…
Isto é, talvez seja exatamente o que vocês estão pensando!
Enfim, divirtam-se com essa saborosa crônica de Rubem Alves e vejam se ele não tem mesmo razão!
A função cultural das privadas
“Por gentileza, a senhora podia me dizer onde fica a privada?”. A anfitriã, ao ouvir a palavra “privada”, assusta-se e ruboriza-se. “Privada” não é palavra que se fale. Trata de remendar: “Ah, o banheiro… O banheiro fica no fim daquele corredor…”. O homem encaminha-se para o local indicado, intrigado: “Eu já tomei banho. Não quero tomar banho de novo…”. Mas logo, ao entrar no banheiro, vê que a anfitriã estava enganada. Lá não há nem banheira nem chuveiro. Só há uma privada – que é, precisamente, aquilo que ele está procurando.
Não é educado falar “privada”. “Vou à privada…”: isso não se diz, principalmente pelo fato de que essa palavra é sinônima de “latrina”, palavra de música feia, há muito fora de uso, exceto nos escritos do Manoel de Barros que diz: “Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro – elas podem um dia milagrar violetas”. Mas como as pessoas comuns não lêem Manoel de Barros, não se pode esperar que elas, ao ouvirem a palavra “latrina”, pensem em violetas.
O educado é “banheiro”. E também toilette que, segundo o dicionário, é “ato de se lavar, pentear e vestir”. Mas quando uma pessoa pergunta pelo banheiro ou pelo toalete ela não está pensando em tomar banho ou se lavar. Está pensando em outra coisa.
A primeira vez que fui aos Estados Unidos, arranhando inglês, numa escola, premido por forças fisiológicas, procurei o dito quarto. E logo vi, numa porta, escrito: Private. Achei que private era “privada”. Entrei pela porta. Mas logo descobri que private queria dizer que aquele era um cômodo onde eu não podia entrar. Quando, pela primeira vez, desci num aeroporto dos Estados Unidos, e vi placas indicando rest-rooms, achei que elam salas vip, com poltronas confortáveis, onde as pessoas descansavam, porque rest-room, traduzindo literalmente, é “quarto de repouso”. Mas não era. Era o lugar onde estavam as privadas e os mictórios.
Estou propondo que se recupere a dignidade da palavra “privada”. Pois suspeito que ela esteja ligada a “privacidade”, como o private americano. A privada é o lugar onde estamos sós e ninguém tem o direito de nos incomodar. Lugar de refúgio, santuário de solidão. Quando a gente está na privada não tem que se comportar direito, não tem que prestar atenção ao que os outros estão dizendo. É um lugar de liberdade e honestidade. Em reuniões, quando a agitação é muita, esse recurso é muito eficaz. “Vocês me dão licença…”. Sem explicar nada, todo mundo sabe que nos retiramos por motivos imperiosos. Não sabem que o que a gente deseja é ficar sozinho. Ali a gente não tem que estar sorrindo, não tem que achar as piadas engraçadas, pode se dar ao luxo de não falar.
Mas o meu interesse atual pelas privadas liga-se à minha crônica “Casas que emburrecem”. Acho que as privadas podem se tornar lugares desemburrecedores, que excitam a inteligência.
Educação, como se sabe, se faz com livros. Mas, com os inúmeros estímulos da televisão e a correria da cidade, as pessoas lêem cada vez menos e, com isso, ficam burras cada vez mais. Mas a privada, onde nada nos perturba e ninguém tem o direito de nos interromper (a menos que você seja dos tolos que levam o telefone para a privada…), é um lugar excepcional para a leitura.
Vi, muitos anos atrás, nos Estados Unidos, uma coisa insólita, que jamais passaria pela minha cabeça: um papel higiênico que tinha, em cada folha, um aforismo, máxima ou conselho. O usuário não resistia à tentação e, antes de fazer o uso normal do papel, lia o que estava escrito, o que contribuía decisivamente para sua formação intelectual e espiritual. Imaginei uma melhoria nessa idéia: livros inteiros impressos no papel higiênico. Assim, aos poucos, assentada na privada, a pessoa iria lendo a grandes obras da literatura mundial. Vai aqui uma sugestão para as fábricas de papel higiênico. Um bom moto de propaganda seria: “Use o papel higiênico ‘Inteligente’, que dá cultura antes de limpar”. Se, no futuro, aparecerem tais papéis higiênicos inteligentes no mercado, quererei receber minha porcentagem de direitos autorais. E invocarei vocês, leitores, como testemunhas de que a idéia original foi minha.
Mas, deixando de lado essas digressões, passo ao que me interessa: estou sugerindo aos pais e às mães, preocupados com a educação dos filhos e com sua própria educação, que transformem as privadas em bibliotecas. Uma minibiblioteca, é claro. Mas essa minibiblioteca seria suficiente para operar grandes transformações nos que lêem enquanto assentados no trono. A vantagem de tal providência seria uma transformação na língua, pois que as privadas, em vez de serem chamadas eufemisticamente de “banheiro”, seriam orgulhosamente chamadas de “biblioteca privada”. “Por gentileza, a senhora poderia me dizer onde fica a biblioteca privada? Estou sentindo uma premente necessidade de cultura…”. E a anfitriã responderia, orgulhosamente: “No fim do corredor. Lá o senhor encontrará livros fascinantes para ler…”.
As modificações nas privadas seriam mínimas. Uma pequena estante… Os artesãos de madeira que expõem na feira de artesanato bem que poderiam fazer essas pequenas estantes a serem afixadas ao alcance das mãos da pessoa que está assentada. Se isso não for possível, uma mesinha serve. Aqueles momentos, então, seriam momentos de prazer duplo, fisiológico e intelectual.
Vou dizer os livros que, na minha opinião, devem estar na “biblioteca privada”.
Um livro com as tirinhas do Calvin. Se você não conhece o Calvin, saiba que quando o Correio Popular chega, vou direto ao Caderno C, para lê-lo. O Calvin é sempre uma pitada de sabedoria infantil no mundo louco dos adultos. O Calvin é uma alegria. Há livros com coleções de tirinhas.
Alguns números do Asterix. Quem não conhece o Asterix está perdendo uma das grandes alegrias da vida. São estórias de um pequeno herói gaulês e do seu amigo gordão, de força imbatível, Obelix. Aconselho, especialmente, os números Asterix Legionário e Obelix & Cia. Quem lê Obelix & Cia. fica sabendo tudo o que é preciso saber sobre o capitalismo, rindo e sem precisar aprender economês.
De Herman Hesse, Para ler e pensar – uma coletânea de pensamentos curtos sobre os mais variados tópicos: amor, morte, política, educação, arte. Fica mais sábio quem lê.
Da Adélia Prado, Solte os Cachorros – hilariante. Não é poesia; é prosa.
Não pode faltar poesia. Para os iniciantes, aconselho a leitura de Mário Quintana. E o Manoel de Barros: Livro sobre nada.
Livros de arte. A coleção Taschen, encontrada em qualquer livraria, é maravilhosa. Baratos. Você pode escolher: Picasso, Monet, Dalí, Michelangelo, Rafael, Klimt, Klee (leia-se “klêe”, e não “kli”), Boticelli, von Stuck e muitos outros. As crianças e os adultos se deleitarão. Também o Meu primeiro livro de arte.
Gostaria que alguns livros meus também fizessem parte dessa “biblioteca privada”. Crônicas, O amor que acende a lua, O retorno e/ terno, Sobre o tempo e a eternaIdade. E livros infantis: A menina e o pássaro encantado, A volta do pássaro encantado, Os três porquinhos.
E um livro de peso que quando lido fica leve: Confesso que vivi, de Neruda.
Você vai notar uma coisa curiosa: as visitas à “biblioteca privada” vão ficar mais freqüentes e mais demoradas… Eu não disse, no início, que as privadas podem ter uma função cultural?
Rubem Alves
Deixa-me seguir para o mar
Tenta esquecer-me… Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma… Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo…
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se…
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir… é seguir para o Mar,
as imagens perdendo no caminho…
Deixa-me fluir, passar, cantar…
toda a tristeza dos rios
é não poderem parar!
E então, logo pela manhãzinha, me corto ao barbear.
Não dói, não é absolutamente nada grave. Apenas demora (e muito!) pra parar de sangrar.
Visto-me. Ao tentar fechar o cinto, a fivela simplesmente explode. É daquelas desmontáveis. Pedaços para todos os lados. Todos eles vão pra lixeira.
No cabide, sirvo-me de uma de minhas camisas favoritas. Com todo cuidado para não manchá-la (me cortei, lembram?). Presto atenção: gola e colarinho manchados. Sei lá de quê. Bastaria uma leve esfregada antes da lavagem, o que não foi feito pela empregada. Aliás, ressalte-se, eu disse empregada. Nesses tempos de “politicamente corretos” abarrota-me o malote termos tais como “auxiliar”, “ajudante”, “secretária do lar” e outros tanto fantasiosos mais. Vamos combinar que empregada é empregada, sempre foi e assim vai continuar, independentemente da alcunha que se lhe dê. Aliás, a amiga Rossana tratou muito bem do assunto neste post aqui.
Pego outra camisa. Colarinho apertado. E as mangas encolheram. Ou meus braços cresceram, o que for menos pior. Resigno-me a também encolher os ombros. Pelo restante do dia.
Abro a gaveta do guarda-roupa para pegar um par de meias, e ela cai. Táquiôspa! Dou uma olhada e percebo que a ferragem do trilho caiu e se enroscou por trás de todas as gavetas. Certamente quando a empregada foi guardar algumas mudas de roupa. Pô, custava avisar que essa piromba tinha quebrado?
Já à mesa para o desjejum, o café estava quente e consigo o prodígio de queimar a língua.
Após esse des-gustar, ao arrumar minhas coisas, tiro o carregador de celular da tomada e, sei lá como, levo um pusta choque.
Sento-me ao computador sem perceber que meu maço de cigarro estava no assento da cadeira. O último cigarro. Que, lógico, quebrou.
Acesso minha conta bancária e, no meio do pagamento, o computador trava. E agora? Paguei ou não?
Enfim, ladies & gentlemen, hoje tá phowwdas. Numa surrealidade digna de Benjamin Buttle, nenhuma dessas ocorrências isoladamente teria sequer despertado meu (mau) humor latente. Mas o conjunto seguido uma atrás da outra em carreirinha reiteradamente de cada uma delas é capaz de tirar qualquer um do sério!
Ou seja, dentre outras coisas, tá na hora de rever minhas atitudes.
Além de meu peso.
Ou minhas roupas.
Ou o próprio guarda-roupa.
Ou todas alternativas anteriores…
Aliás, já falei que, além de tudo, hoje meu joelho dói?
Sei que o Valente deixou saudades… E ainda que já tenha começado a segunda temporada – que pode ser acompanhada de perto lá no blog de seu criador, o Vitor Cafaggi, para aqueles que preferirem rever uma a uma todas as tirinhas da primeira temporada, eis aqui um zipão para ser baixar, descompactar, ler e se divertir com calma em casa!
Mas veja sua conexão! Pois mantive a qualidade original das imagens, o que deu um arquivo de quase vinte mega! Basta clicar aqui e baixar…