Pra variar, uma ótima dica do Jarbas, que, sobre o texto a seguir, comentou: “Uso contínuo de meios de informação digitais pode provocar um afastamento do mundo que poderia enriquecer a aprendizagem. Há muita gente que viaja, mas continua presa a sua casa pelos cordões umbilicais dos celulares e outros gadgets eletrônicos. Esses e outros assuntos são objeto de um ótimo artigo cujo link indico a seguir.”
O link para o original está aqui, mas o texto (numa tradução bem livre) segue abaixo.
Como os smartphones podem diminuir sua ingeligência cultural
08 Jan 2013
Um número crescente de alunos de intercâmbio agora passam a maior parte de seu tempo livre no Facebook e Skype, comunicando-se com amigos e família. E aqueles que viajam à negócios frequentemente fazem a mesma coisa. As noites são gastas numa tentativa de recuperar o atraso, verificando e-mails e comunicando-se com a família, colegas de trabalho e amigos – em vez de procurar absorver a cultura local.
Sherry Turkle, autora do livro Alone Together (o qual recomendo!), observou o mesmo fenômeno em conferências profissionais. Os participantes da conferência estão atrelados às suas traquitanas digitais, mais preocupados em encontrar tempo e espaço na agenda para ficarem a sós com suas redes digitais. Pessoas em conferências costumam ficar penduradas em seu comunicador pessoal com outras enquanto esperam pelo início de uma apresentação ou por um táxi. Gastam esse intevalo com e-mails, teoricamente fazendo melhor uso desse suposto tempinho de ócio.
Eu amo poder ver e ouvir as vozes dos meus filhos no Skype, mesmo quando estou do outro lado do mundo. Mas eu tenho uma crescente preocupação de que os nossos avanços tecnológicos na realidade trabalham contra muito daquilo que pode ser considerado essencial para a inteligência cultural – ou seja, quando se poderia estar totalmente presente, focado e tornando-se mais consciente de sua identidade e cultura. A crescente discussão e pesquisa levantando questões sobre o impacto da tecnologia em nossas vidas tem profunda relevância para a forma como pensamos sobre a nossa eficácia intercultural.
A influência do Espaço Liminar
Viagens internacionais sempre foram uma poderosa forma de ganhar uma autoconsciência e novas perspectivas sobre a vida quando de nossa volta para casa. Mas se nós levarmos nossas casas com a gente, quanto estaremos perdendo?
Você provavelmente está familiarizado com a idéia de “espaço liminar” – o termo antropológico para quando atravessamos determinados períodos nebulosos em que ocorrem mudanças e percepção de novos pontos de vista. Mas a tecnologia está fazendo com que fique cada vez mais difícil de encontrar esse espaço liminar.
Viagens internacionais, encontros interculturais e, de alguma forma, até mesmo retiros e conferências costumam ser ambientes ideais para ocorrência desse espaço liminar. Mas se a nossa preocupação for a de ficar conectado com o dia a dia em casa, no trabalho, ou mesmo com a vida lá fora, será muito mais difícil perceber e experimentar esse chamado período nebuloso de aprendizado e transformação que essas oportunidades costumam oferecer.
Em junho minha filha de 15 anos de idade fará sua primeira viagem internacional sozinha. Eu sou grato por saber que ela raramente enviará mais do que uma eventual mensagem de texto ou mesmo chamada no Skype. No entanto pergunto-me como é que isso poderá limitar sua experiência em comparação à minha primeira estadia no exterior, quando, durante um período de seis semanas, tive apenas a possibilidade de contato com o lar através de uma ou duas chamadas num radioamador, bem como algumas cartas de familiares e amigos. Minha rede social inteira me foi arrancada! Foi difícil, mas me obrigou a conviver diretamente com os meus companheiros de viagem, nossos anfitriões, e a cultura local peruana.
Por mais doloroso que vá ser, minha esposa e eu queremos limitar nossa influência sobre a experiência de nossa filha na Tailândia. Queremos dar-lhe o espaço liminar que ela precisa para moldar sua identidade e desenvolver sua inteligência cultural.
Eliminando a multitarefa
Muitos de nós (inclusive eu!) achamos que estamos imunes aos estudos que desmerecem o valor da multitarefa. Mas as pesquisas apontam que quando desenvolvemos várias atividades simultâneas a qualidade de tudo o que fazemos é rebaixada. Nos sentimos bem quando entramos nesse modo multitarefa porque nosso cérebro nos recompensa com um certo grau de satisfação pela nossa capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Só que o que não percebemos é que a nossa real produtividade e eficácia diminuem.
Sherry Turkle conta que seus alunos do MIT cujos laptops estão abertos na classe não se saem tão bem quanto aqueles que cuidam de fazer anotações em papel. Ela está convencida de que esta é mais uma consequência das distrações adicionais que seduzem essa geração engajada na tecnologia (por exemplo: atualizações no Facebook, resultados de jogos, filmes no YouTube, etc).
Uma parte crucial de um comportamento que permita desenvolver a inteligência cultural é poder adentrar em um alto nível de auto-consciência. Isso inclui coisas como a percepção das perspectivas – “Como eu me sentiria se, neste momento, eu fosse essa pessoa? Como os outros me percebem? Como será que eles encaram essa situação?”. O problema de tentar atingir essa auto-consciência é que exige bastante trabalho cerebral – algo que fica reduzido quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo. De fato, alguns estudos como um que foi relatado no The Chicago Tribune mostram que nós realmente diminuímos nosso QI quando entramos nesse “modo multitarefa”.
Crie limites
Mas a tecnologia não é o inimigo. Abordagens frias de qualquer problema sempre costumam ser irreais. A maioria de nós não tem como parar totalmente com os contatos por e-mail quando viajamos nem podemos esperar que todos os alunos de intercâmbio renunciem ao Facebook por um semestre completo (embora se você já tentou isso e conseguiu, por favor compartilhe os resultados!).
Mas podemos recuperar o controle sobre a nossa tecnologia, e não apenas sermos seduzidos por suas facilidades (nem sempre presentes) e atrativos visuais. Eis, a seguir, algumas sugestões de maneiras simples para começar, tanto para quando você viajar quanto para quando estiver em casa.
1. Sem telefones nas refeições: Ao compartilhar uma refeição com os entes queridos, colegas, amigos ou até mesmo para fechar algum negócio, desligue seu telefone por uma hora. Isso faz maravilhas para permitir uma boa conversa e para conhecer as pessoas.
2. Desligue o modo “Push”: Aquele aviso sonoro do e-mail que chega enche o cérebro de dopamina. Quando ouvimos esse barulhinho, a maioria de nós não pode resistir à tentação de verificar o telefone para dar uma olhadinha na mensagem que chegou. Uma maneira simples de eliminar esse tipo de distração é colocar-se no comando de si mesmo quando você receber e-mail, em vez de o dispositivo estar no controle de sua atenção.
3. Agendar horários para checar o e-mail: Todos nós já ouvimos isso antes, mas vale a pena repetir. Apenas um ou dois períodos durante o dia focado para a comunicação por e-mail é mais que suficiente para a maioria de nós. É incrível quão rápido passa o tempo quando essa é a única coisa que eu estou fazendo por uma hora! Mas também é surpreendente a rapidez com que consumo quatro ou cinco horas do meu dia quando estou apenas aleatoriamente respondendo os e-mails que chegaram.
Além do mais, se você é conhecido como alguém que sempre responde quase que imediatamente seus e-mails, tudo dará errado quando você realmente quiser fazer uma pausa. Se você entrar de férias ou mesmo apenas programar uma auto-resposta, aproveite-se disso e não vá conferir os e-mails que chegarem!
4. Não verifique e-mails durante pausas: Quando você estiver viajando ou participando de uma conferência, se possível, não verifique seus e-mails durante as eventuais e breves pausas que surgirem. Muitas e muitas vezes eu me arrependi de verificar meu e-mail na hora do almoço, frustrado por não ter tempo suficiente para lidar com algumas das coisas teoricamente urgentes que chegavam. E ele sempre me deixa tentado a enviar uma resposta rápida da qual eu poderia me arrepender mais tarde.
5. Repensar o que é urgente: Mas o que acontece quando houverm questões verdadeiramente urgentes que têm de ser resolvidas? Certamente crises surgem. Mas a maioria das coisas que consideram uma crise, realmente não o são e podem ser adiadas por algumas horas ou mesmo dias.
6. Use o tempo de viagem para refletir e respirar: Quando em viagem (ou até mesmo durante o tempo que levar para chegar diariamente ao seu trabalho) resista à tentação de usar esse tempo de para ler e-mails, ou usar o Twitter ou ainda fuçar no Facebook. Observe o que está acontecendo ao seu redor. Reflita sobre os acontecimentos do dia. Respire profundamente. Isso pode fazer toda a diferença para uma viagem de trem de apenas 15 minutos ser calmante e estimulante ou simplesmente chata.
7. Limitar o “efeito pingue-pongue”: O problema em tentar recuperar o atraso com os e-mails é que isso leva a quase tantas respostas que acabarão enchendo sua caixa de entrada novamente. Pense sobre como fazer com que as discussões por e-mail limitem-se ao mínimo possível. Sugira um horário e lugar para encontrar-se com seu interlocutor. E se você precisar se comunicar com algum outro colega no corredor ou sala próxima, simplesmente caminhe e vá falar com ele.
Eu não imagino que esta tenha sido a primeira vez que você ouve a maioria destas idéias. O maior desafio é verdadeiramente implementar esses limites. Mas espero que você concorde comigo para ao menos tentar ganhar um pouco mais de controle sobre a tecnologia neste ano, o que, por sua vez, vai melhorar sua inteligência cultural, a qualidade do seu trabalho, e, o melhor de tudo, a sua qualidade de vida!