Então tem essa figuraça com quem trabalhei durante muitos anos. Por incrível que pareça, um sujeito tímido. E, justamente para enfrentar essa timidez, sempre foi um cara pra lá de bem humorado, sempre propenso a “pegadinhas” e coisas do gênero, o que somente foi aumentando cada vez mais a aura de cara sacana que sempre orbitava a sua volta. Mas, em verdade, em verdade, não era assim. Bem, quase. Vamos chamá-lo de “Japa”.
E dos inúmeros causos que me contou em inúmeras situações, teve um que jamais me esqueci. Ele trabalhava num banco, concursado, cargo de gerente ou algo que o valha.
Numa era pré-informática, quando mais se trabalhava com papel que com pessoas, tinha lá a sua própria mesa, com a famosa “mesinha de café” logo atrás. E quem já trabalhou em banco sabe: lá dentro somos todos movidos a café. Aliás, fora do banco também. Mas não é esse o caso.
O caso é que nessa mesinha havia uma garrafa térmica. E, na garrafa térmica, uma etiqueta colada com os seguintes dizeres:
“Chá de boldo amargo medicinal e sem açúcar.”
Intimidador, não?
E quem passasse por ali, já pensando em serrar um cafezinho, se deparava com aquela garrafa e já ia perguntando, com nariz torto:
– Pô, Japa! Quiéisso, hein? Algum tipo de remédio, por acaso?
E sempre que alguém fazia essa pergunta, já com uma cara toda lamentosa, o Japa buscava um daqueles copinhos de café descartáveis, suspirava fundo, se servia de um tanto da garrafa térmica e dizia:
– Estômago, cara. Sabe como é, né? Tenho que ficar o dia inteiro tomando esse troço…
E, ato contínuo, virava aquilo numa golada só, fazia careta e buscava um olhar de compreensão – que sempre lhe era retribuído, pois ninguém estava a fim de tomar aquele negócio, ainda mais o dia inteiro. E deixavam-no em paz, com seu “chá de boldo amargo medicinal e sem açúcar”.
Só tem um detalhe.
Era uísque.