Trindade – II

De casa, com nossas tralhas, praticamente bastava atravessar a rua para o ponto de ônibus, quase em frente. “Ah, então vocês foram de ônibus?” – Não! Prestenção! Nós fomos para o ponto de ônibus, o melhor lugar para se batalhar uma carona.

Sim, carona. Tenho certeza que vocês já devem ter visto isso em filmes. Daqueles antigos. Na boa e velha década de oitenta ainda era possível viajar meramente de carona…

Uma vez que Trindade ficava um pouco antes de Paraty (era a única referência que tínhamos para a cidade), então teríamos que conseguir alguma carona lá na Tamoios, a estrada que leva ao litoral. Mas, antes mesmo, precisaríamos chegar até lá – coisa de, sei lá, uns dez quilômetros de onde estávamos, em Santana.

Nossa sorte já começou boa. É que, pertinho da casa de meu pai fica o Senai, escola que arregimenta estudantes vindos de todos os cantos da cidade. Por ser um período de férias, não teríamos que disputar carona com nenhum dos alunos de lá (que ficavam às pencas, também tentando uma carona), e, não demorou muito, um caboclo que passava num Golzinho simpatizou com a cara daqueles dois palermas enmochilados e resolveu nosso problema.

– Vai pra onde, chefia? – é, desde aquela época eu já tinha esse costume de tratar todo mundo por “chefia”…

– Vou aqui pro Centro. Tá bom pra vocês?

– Tá ótimo!

Regra número um de um bom caronista: se alguém vai, ainda que minimamente, pro mesmo lado que você pretende ir, aceite. É uma pernada a menos. Regra número dois: seja sempre cordial. Sempre. Converse, demonstre-se interessado, puxe assunto, seja educado. Normalmente quem dá carona costuma ser bom de proseio e está mais interessado em você, para onde pretende ir e como pretende fazer para chegar lá. E não se esqueça de sorrir!

Mas, hoje em dia, creio que essas regras já não valem tanto. Ou melhor, nada. Ao menos aqui nesta nossa terrinha, ou, no mínimo, na região. Já não se dá mais carona, já não se pede mais carona… Todos transitam sozinhos, encastelados dentro de seus próprios veículos, com os vidros fechados, no ar condicionado, blindados à exposição de outras pessoas, transeuntes, pedestres, pedintes, artistas, vendedores e o que mais quer que o mundo lá fora possa oferecer para ofender sua pseudo-segurança. Permitir que um estranho entre no seu carro? Que viole sua intimidade? Jamais! Tá me achando com cara de táxi? Ou de Uber? Quer ir pra algum lugar, que pegue um ônibus! Ou que compre um carro você mesmo, então!

Não… A “carona” é de uma outra era, uma época romântica, quando as pessoas se preocupavam com o próximo além de si mesmas e ainda olhavam nos olhos umas das outras – em vez de, como hoje, passarem ao léu de todos, absortas cada qual no seu mundo virtual de redes sociais. Acho que, na prática, o nome correto deveria ser “redes antissociais”…

– Aqui já tá bom, chefia!

“Apeamos” no Centro, próximos da Rodoviária Velha. É, dali não teria como, o negócio era caminhar, mesmo. O melhor lugar para batalhar uma nova carona seria lá no comecinho da Tamoios, no posto Caminho das Praias (que hoje já nem mais existe). Com o sol a pino e mochilas nas costas, atravessamos todo o centro velho da cidade, seguimos pela Paraibuna e, coisa de uma horinha depois, chegamos no nosso primeiro destino.

– Carái! Essa deu pra cansar, hein?

– Nah! É só porque esse solzão tá forte. Eu é que tô ferrado: se dali do Centro até aqui já tô vermelho assim, imagine depois de uns dias na praia!

– Hah! Vai ficar igual o homem-cobra: soltando a pele!

– Filmaço, né?

– Filmaço.

– Pelo menos aquela caroninha já ajudou. Imagine a gente, assim, carregado, de Santana ao Centro, a pezão na “subida da Rui Barbosa”?

– Putz! A gente tava ferrado! Não aguentava chegar até aqui não.

– Nem eu.

Essa “subida” nem era tanta assim. Mas fugíamos como o diabo da cruz toda vez que tivéssemos que enfrentá-la. Era preferível ficar mais de uma hora tentando uma carona que encarar aquela ladeira! Se tivéssemos a mínima ideia do que nos aguardava…

Enfim, carona de estrada já era um negócio mais complicado, pois normalmente quem ia viajar para o litoral já ia de mala, cuia, família, cachorro, gato, galinha e o escambau. Naqueles tempos o pessoal alugava uma “casa de temporada”, que normalmente só tinha o básico do básico da mobília, e tinham que levar todo o resto: panelas, pratos, mantimentos, lençóis, até mesmo a tevê da sala às vezes ia no porta-malas, junto com o resto das tralhas. E ói que estou falando daquelas tevês enormes, de tubo, hein… Espaço para mais dois caboclos e suas mochilas? Difícil, muito difícil.

Foram horas ali no posto, na beira da estrada. Mas éramos teimosos e determinados. Alguém ainda iria parar. Alguém TINHA que parar… Até porque o tempo já estava começando a fechar, anunciando uma daquelas chuvas de verão se avizinhando. E carona na chuva é algo que beira o impossível! Foi quando um caminhão deu uma guinada, quase em cima da gente e parou, uns trinta metros adiante. O Vilaça deu uma corrida pra conversar com o motorista, enquanto eu fiquei no mesmo lugar, um tanto quanto cético. É que uma das “diversões” do pessoal das estradas era justamente parar o carro lá adiante e quando os pretensos caronistas iam correndo para alcançá-los, faltando alguns metros, eles aceleravam e iam embora dando risada. E a cabine do caminhão estava lotada – eu vi! Estava mais que na cara que era mais um daqueles tiradores de sarro.

Mas não saíram. Apesar de já estarem até atrapalhando o trânsito ali naquela curva de estrada, ficaram parados e trocaram uma rápida ideia com o Vilaça. Fiquei olhando, de orelha em pé…

– Bora!

– Cumassim?

Ligaram o motor e já foram dando seta ao mesmo tempo que o Vilaça já foi subindo na traseira do caminhão.

– Só tem espaço aqui atrás! Bora, bora, bora!

Merda! Saí correndo ao mesmo tempo que o caminhão engatou a primeira. Estava a uns dois metros dele, arranquei a mochila e joguei pro Vilaça, que já estava lá em cima. O filha da puta do motorista engatou a segunda e eu ali correndo os cem metros rasos, a centímetros da carroceria. É, não ia ter jeito, seja o que Deus quiser.

Pulei.

Pulei e me agarrei na madeira do jeito que dava. O Vilaça se cagando de rir da minha situação, e eu ali, pendurado, tentando descobrir onde apoiar ao menos um dos pés – até que encontrei o para-choque e, com o coração na boca, consegui me apoiar firme e decentemente na traseira da porra do caminhão. Foi só o tempo de recuperar o fôlego para, antes mesmo de subir, descarregar nos ouvidos do Vilaça toda a farta coleção de palavrões e impropérios ao meu alcance…

Subi. Olhamos um pro outro. Ele ainda rindo. Menos, mas ainda. Não teve jeito: tivemos ambos um ataque de riso monumental, que deve ter durado de uns cinco a dez minutos! Daqueles de fazer doer a barriga, sabem?

Só então, recuperando o fôlego e tentando manter o equilíbrio, ainda com lágrimas nos olhos é que pudemos dar a devida atenção à situação em que nos encontrávamos.

Não estávamos sozinhos.

( Continua. Serra abaixo e morro acima, mas continua… )

 
 
# Perdeu o começo? Liga não. Tá aqui.

Chumbo trocado…

E ontem à tardinha, quando de minha tradicional passada lá no Sr. Barba para uma brejinha gelada, eis que já chego com uma cena inusitada: o Fred na cadeira do Nando! Visto o visto, era dia de eles darem uma aparada nas próprias madeixas…

Só posso dizer que Stan Laurel e Oliver Hardy não me fariam rir tanto! Se bem que, talvez, esses dois estejam mais para o Pink e o Cérebro… Mas o negócio é que ambos realmente se divertem com o que fazem!

Clique na imagem para ampliar!

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Ah, mais uma coisa: jamais, eu disse JA-MAIS, permitam que o Fred comece a cortar ao som de Queen… #ficaadica

Emenda à Inicial: Bem mais tarde, via chat, enviei estas e outras fotos que tirei para os dois jaritatacas. A conversa foi mais ou menos assim:

Eu:
Seguem as fotos… Ah, também tem post lá no blog!

Nando:
Jeeesusmariajosé hahaha

Fred:
Vai ter churrasco?

Eu:
Num sábado qualquer vou acabar fazendo um churrasco elétrico é lá no Sr. Barba… 😉

Nando:
Ai sim kkk

Fred:
Então, só perguntei pq este canal de comunicação, ao meu ver, só serve para marcar churrasco na casa do adalto.
Kkkkkkkk

Eu:
Vamos começar com uma lição de português. Repitam comigo: A-daU-to… 😀

Fred:
Adalton

Hadalton

Adownto

Nando:
Adawtu

Athauto

Eu:
Putz… Eu pedi por isso, né?…

Fred:
Há down tom

Eu:
Assifudê! 😀

Nando:
A down