Solitude

Oi?

Alguém aí?

Ninguém?

ÓTIMO.

É que já tem meses que escrevi algo que tivesse saído de minha própria cabeça e, na prática, ANOS que escrevi algo que realmente eu mesmo possa rotular de “interessante”…

Esse distanciamento deste espaço virtual se deu em parte por conta da correria do dia a dia (que – vamos combinar? – nem é tão corrido assim…), um tanto de crise criativa e outro tanto de ceticismo generalizado após acompanhar o FEBEAPÁ que grassou nas redes sociais

E não foi sem motivo que fiz uma boa faxina por lá. Não, não exclui ninguém – ainda que muitos merecessem – apenas “me” exclui. Explico. Tirando o Instagram, que na maioria das vezes é uma simpática diversão, o Twitter, onde praticamente ninguém se importa se existo ou não, e o Linkedin, que até hoje não tenho certeza do que estou fazendo por lá, restou-me o degenerado Facebook, um sangrento campo de batalha em que qualquer tentativa de demonstrar algum posicionamento (político, religioso, humorístico, filosófico, pessoal, fiscal, sexual ou seja lá o que for) invariavelmente desanda numa flame war digna de Game of Thrones!

Quer passar incólume por lá? Fácil. Basta se limitar a postar: fotos ou vídeos que mostram os queridos amigos ou a excelente família que você possui e como todos vocês se dão bem, quer sejam recentes, antigas, verdadeiras ou não; frases e citações bonitinhas que servem para estimular o lado positivo das pessoas, ainda que você jamais tenha lido uma vírgula sequer do autor da frase ou, pior, naquele costumeiro exercício insano de recortar-e-colar-sem-nada-checar, que tenha atribuído o texto a quem nunca o disse (e, talvez, jamais o dissesse); e pets. Não as garrafas, mas sim aquelas fotos e vídeos fofinhos de animaizinhos de estimação, nas quais as pessoas gastam horas admirando e readmirando, curtindo, comentando e compartilhando com todo o restante do UNIVERSO – mesmo quando os demais mortais que estão em sua timeline não tenham a mínima vontade de ter o mesmo peculiar e carinhoso olhar do remetente no que diz respeito aos pequenos monstrinhos.

Existem variações, mas a receita básica é essa.

Só que esse negócio já me deu nos pacová, de modo que eu simplesmente apaguei tudo, TUDO, que existia na minha timeline desde 2010 até outubro deste ano. Fotos, frases, vídeos, curtições, postagens, compartilhamentos, comentários, bate-papos, etc. Tudo. Tá certo que eu continuo sendo o neurótico do backup de sempre, de modo que tenho tudo isso muito bem guardado nas catacumbas de meu computador (para eventuais referências futuras…) – mas, lá na rede, mais nada.

Por quê?

Porque preciso – mais uma vez – voltar ao básico. Ao que é simples. Ao que é objetivo. Preciso ter foco.

Mesmo este blog sequer começou como blog! Como já contei antes, lá nos idos de janeiro de 98, o que era para ser uma simples página para consultas jurídicas paulatinamente foi se transformando, se moldando, se ajustando, até que, anos depois, viria a assumir sua natural vocação para se tornar um verdadeiro blog. E só para não deslembrar: BLOG corresponde ao acrônimo de WEBLOG, que nada mais é que uma página da WEB (rede) em que o LOG de dados (registro de eventos) tem suas atualizações organizadas cronologicamente de forma inversa, do mais antigo para o mais atual. Isso mesmo, é exatamente como um DIÁRIO, em que a última página disponível também foi a última a ser escrita.

Ah, eu e esse meu didatismo…

Mas, enfim, é como a mais famosa frase de uma série que sempre adorei, Battlestar Galactica: “all of this has happened before and will happen again”… E com este ano de 2019 se aproximando, juntamente com tudo o que ele representa para este Velho Causídico que vos tecla, essa frase é mais sintomática que nunca. Pois já passei por isso antes, como, há anos, contei neste texto.

E é bem como está escrito lá, pois “não me sinto nem um pouco diferente, mas sei que não sou mais o mesmo”, pelo que me faz falta “uma época em que as coisas eram mais simples, a vida mais doce e a morte mais distante”“Desde então tenho procurado algo que estava faltando. Aquilo que eu esqueci. O Básico

“Quero poder escrever sem saber se e quando vou ser lido. De mim para mim. E deixar lá. Palavras ao vento. Úteis ou não. Não me importa, nem quero me importar mais com o que em qualquer exato momento outrem estiverem fazendo ou pensando. Deixem seus registros e eu, também quando e se quiser, os verei.”

E não, não estou velho e amargurado. Nem solitário. Nem sofrendo de solidão. Mas de uma outra coisa, sim.

Solitude.

Palavrinha interessante, que me foi generosamente apresentada há não muito tempo e cujo conceito não me era estranho – somente não sabia que existia um nome para esse conceito. Inclusive meio que já escrevi sobre isso antes

Diferente da solidão, que é encarar o vazio – que pode se dar pela ausência de contato com outras pessoas, de se expor a relações ou mesmo de poder confrontar as próprias ideias – criando um verdadeiro isolamento de si mesmo (ensimesmar-se), a solitude diz respeito ao pleno contato consigo mesmo, não havendo necessidade de estar sempre em companhia de outras pessoas – e não há solidão por conta disso. É poder estar sozinho viajando numa nave no vazio do espaço e, ainda assim, satisfeito.

A solitude confunde quem olha de fora, pois o observador tem a sensação de que não estamos bem, que estamos sofrendo, enquanto que a realidade é outra: é de paz.

E é essa a paz que busco.

Para isso me é necessário aprofundar-me um tanto numa solitariedade – sem abraçar a solidão – para atingir uma plena solitude

E tentar voltar a escrever.

Escrever como nunca!

Mesmo que não seja lido, como sempre…

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