Reinaldo Pimenta
No livro: A Casa da Mãe Joana
Na Idade Média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo). O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um “m” ou um “n”) que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado “Phrancisco”, ficou com a abreviatura “Phco.” e “Pco”. Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de “Jesus Christi PaterPutativus”, ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura “JHS PP” e depois “PP”. A pronúncia dessas letras em sequência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como “e comercial” e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de “casa de”.
Veio à imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço – por exemplo: o registro contábil “10@£3” significava “10 unidades ao preço de 3 libras cada uma”. Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências:
1 – a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo “a” inicial lembra a forma do símbolo;
2 – os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de “10@£3” assim: “dez arrobas custando 3 libras cada uma”. Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa “a quarta parte”: arroba (15 kg em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal (58,75 kg).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo “@”, que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1872, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido “@” (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim “Fulano@Provedor X” ficou significando “Fulano no provedor X”.
Em diversos idiomas, o símbolo “@” ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários países europeus.