A gente sofre é com o fim. Há incômodo na relação morna, tédio por viver na cidade que já não comporta nossos planos, frustração no emprego que era dos sonhos e agora é corrente que freia novos passos. Mas a gente aguenta. Levanta o queixo, ajusta falhas, engana a alma, forja felicidade. A gente adestra decepções para fugir do desconcerto que nos assola quando é preciso encerrar fases. E, então, mergulhados na crença capenga de que se um dia foi bom tem potencial para ser imortal, a gente começa a esticar sentimento morto, a repisar terreno gasto.
Não que seja errado perseverar. Há mérito e nobreza na luta pela manutenção do que foi precioso. Mas, às vezes, é preciso desligar os aparelhos. Coragem para aceitar que chegou a hora da eutanásia dos vícios emocionais e da ilusão de que há sobrevida no que já era. Já deu!
Em um mundo em que os contos infantis martelam o “felizes para sempre” e os casamentos são regidos pelo “até que a morte os separe”, quem precisa romper laços sente o peso de bancar o fim. Mas há força e lucidez na decisão de reinaugurar a própria história. Dá para trocar raízes por asas, escritórios por mochilas, vida a dois sufocante por novas companhias e aventura. E também dá para trocar, em sentido inverso, asas por raízes, mochilas por escritórios, companhias sufocantes e aventura por vida a dois cheia de afeto e leveza.
Só não dá para criar momentos de estimação e tentar guardá-los em um pote na esperança de que não se percam. Um dia vão acabar. Vai doer. Mas vai ser libertador também. É a regra do jogo, é a dinâmica que move o mundo e suas surpreendentes formas de nos tirar do lugar… É o clichê “que seja infinito enquanto dure” alertando que o destino é mais brisa do que chumbo. Não precisa ser eterno, basta ser bom — no tempo e na forma possíveis. A vida sempre se encarrega de equilibrar perdas e ganhos em necessários ciclos de fins e recomeços.
Adauto, eu sempre leio as postagens mas nunca comentei! Mas dessa vez tenho que escrever alguma coisa.
Eu comecei a frequentar esse blog assim que entrei na faculdade, há cinco anos. E agora é hora de me formar… e não sei o que fazer. Quero dizer, construí coisas aqui dentro, tenho uma ideia de caminho para seguir, mas não sei se é isso mesmo. E ainda ontem estava pensando exatamente no que esse texto diz. Acho que vou levar mais tempo para decidir, mas saber que tem outras pessoas pensando igual sempre é bom…
Gabriel, é bom saber que este nosso cantinho da Internet, ainda que não seja exatamente com minhas palavras, continua cumprindo sua função: fazer o registro de minhas aventuras e desventuras e de meu modo de pensar, muitas vezes “roubartilhando” os textos de outrem…
Enfim, é minha própria “penseira virtual”!
E de toda experiência que já acumulei , com todos meus erros e acertos, se tem uma coisa que posso lhe garantir é que a vida não é linear. Nós simplesmente não decidimos uma determinada coisa e temos que viver com essa decisão pelo restante de nossa existência. O caos nos cerca é o melhor que podemos fazer é tentar aproveitar de cada situação da melhor forma possível.
Então, caríssimo, deixe-se levar. Não há certo e não há errado, pois a vida é feita de momentos. É bom sempre ter uma “bússola moral” que nos impeça de fazer besteiras gigantescas, mas algumas besteirinhas sempre são admissíveis… Ou seja, mire numa direção e vá. Sabendo que, a qualquer momento, pode se inclinar um pouco mais para a esquerda ou outro tanto para direita, ou, ainda, até mesmo voltar atrás. Só não dá pra ficar parado!
Acho que uma boa parte de tudo isso que gostaria de lhe dizer está neste outro texto aqui: https://legal.adv.br/20151102/solidario-a-solidao/ .
Enfim, desejo-lhe sorte. Não aquela sorte aleatória, de se estar entregue às engrenagens do destino, mas uma sorte mais intimista, a de tomar decisões, boas ou ruins, e saber conviver com elas. Saber aprender com elas. Saber crescer e se desenvolver com elas.
E também quero lhe agradecer. Pois este cantinho virtual já esteve abandonado por tempo demais. Eu meio que já havia me conformado que as pessoas de hoje não gostam mais de ler qualquer coisa um pouco mais extensa, com um tiquinho mais de profundidade, preferindo os textos curtos e rápidos, de opiniões formadas e que não se prestam a pensar, mas sim a seguir, conforme a quantidade de curtidas e de comentários de gente que pensa da mesma maneira. Mas a vida não é assim. No fundo, no fundo, todos pensamos de forma diferente e isso é bom, implica em diversidade e compreensão de que o mundo é bem mais vasto do que aquilo que nossa parca visão consegue alcançar.
Obrigado por me mostrar que eu estava errado.
E que, por incrível que pareça, ainda existe espaço para os blogs!
🙂