Respondendo um e-mail da amiga virtual Clotilde, acabei achando que ficou interessante o suficiente para merecer um post – conforme a regra geral…
Pois bem.
Meu pai, vulgo “Seo Bento”, do alto de seus 72 anos, continua firme e ativo – ainda que aposentado – com uma oficininha de conserto de televisores no fundo de sua casa.
Foi mecânico a vida inteira, tendo vindo de trem de Santa Rita de Jacutinga, MG, para São José dos Campos, SP, aos onze anos de idade. Sendo o mais velho de um total de doze irmãos (e irmãs) foi para roça para plantar arroz com a família e cerca de dez anos depois resolveu ir para cidade. Conseguiu emprego numa fecularia e mais tarde numa mecânica de caminhões, ambos da família Renó. Quando a empresa faliu, foi para a Johnson e lá ficou até sua aposentadoria.
Tudo isso é só para contextualizar.
Lá na mecânica conheceu o sr. Nobilino, encarregado, e que viria a ser meu padrinho de batismo. Vida dura, casou-se, construiu sua casa e teve três filhos (sendo eu o caçula). Minha mãe contribuía na renda familiar com suas costuras, mas, para ajudar um pouco mais, meu pai fez um curso por correspondência para conserto de rádios e televisores no IUB – Instituto Universal Brasileiro. Sempre após o serviço ficava acordado até tarde, ainda na cozinha de casa, consertando rádios e outros aparelhos.
Numa época em que televisão ainda era um luxo, meu padrinho, seu chefe, sujeito já estabelecido e com mais posses – mas dado a violentos acessos de fúria – havia comprado uma dessas máquinas de fazer doido. Mas não é que a televisão apresentou defeito? Mexe daqui, mexe dali, fuça, vira, tenta, esmurra, acabou ficando puto, levou aquela “geringonça” para fora, bem no meio do quintal, e extravasou sua raiva a golpes de machado no pobre aparelho…
Não sobrou muito.
Ciente de que meu pai estava dando seus primeiros passos naquela arte eletrônica, juntou os cacarecos que sobraram da vítima e levou até em casa.
– Toma, Bento. Se você conseguir fazer essa porcaria funcionar, ela é sua.
O que para outros seriam lixo, para meu pai foi uma oportunidade! Jamais que ele teria como comprar um aparelho daqueles naquela época!
Desmontou tudo, arranjou madeira (sim, as tvs de então possuíam caixas de madeira – ótimas para cupins…), e, usando suas habilidades de marcenaria, fez outra caixa para a televisão. Economiza daqui, compra uma válvula dali, solda acolá e, não demorou muito, o aparelho voltou à vida!
E então, quando eu tinha apenas um mês e meio de idade, na vizinhança a casa de meu pai – ainda que modesta – era a única que tinha televisão. Minha mãe conta que nesse dia todos os vizinhos possíveis e imagináveis se reuniram em casa para ver as fantásticas notícias naquela tv preto e branco à válvulas e recém reformada, a respeito de um homem – quanta ousadia! – que chegara à Lua.
E essa é a história da primeira televisão que tivemos em casa…
E pensar que, quarenta anos depois, ainda ontem comprei um “eme-pê-qualquer-coisa” pro meu filhote, do tamanho de um celular, e que dentre outras funções já possui tv embutida…