Como se tornar o idiota da selfie

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Lara Brenner

Enquanto seguro meu garfo cheio de um suculento macarrão, me belisco e olho para o lado, apenas para checar se aquele momento de divindade gastronômica é real. Imediatamente desejo não ter me virado. A cena bizarra se repete novamente: uma moça bonita aciona a câmera frontal do celular e o estica frente a seus seios fartos, realçados por um vestido a vácuo, enquadrando-os junto a um prato de sobremesa. Ao longo da última hora, aquele deveria ser o quinquagésimo autorretrato (sou do tempo em que “fotinha” era retrato).

De repente, começo a me sentir um extraterrestre naquele restaurante descolado e com boa música ao vivo. Quase ninguém olhava para os músicos — que tocavam um samba de gafieira — a não ser para fotografá-los e postá-los em tudo quanto é canto cibernético. Ninguém comia sem antes registrar a comida, ou matava a sede antes de clicar o drink apoiado na mão e com o bar ao fundo. Era um show de Truman voluntário, uma bolha de registros milimetricamente calculados.

Beicinhos, caretas, piscadelas, cabelos jogados, ângulos corretos… Autorretratos em grupo, em casa, na cama, na piscina, em frente ao espelho, na academia, no funeral (!), após o sexo (sim!, tem isso agora), com o cachorro (milhares com o cachorro, meu Deus), com roupa de festa, com roupa íntima, sem roupa alguma (!), virado do avesso… Essa coisa de “selfie” tomou uma proporção tão maluca que, em 2013, foi eleita pelo dicionário Oxford como a palavra do ano, uma vez que sua popularidade havia crescido — pasme! — 17.000% em 365 dias. E cá estou eu, já alguns anos depois, mais perdida que cego em tiroteio, achando tudo meio artificial e esquisito. É o crescimento exponencial do ego.

Confesso que sempre que vejo uma “selfie” bem linda — e são várias em minha timeline — fico imaginando a luta da pessoa até consegui-la. Podem ser horas procurando a iluminação adequada, treinando a cara no espelho, batendo cabelo pra lá e pra cá, enquanto o braço quase gangrena de tanto segurar o celular para cima. Sei disso por experiência própria. Precisava obter algumas para uma divulgação e foi um martírio inesquecível. Segurar um “carão” é arte para poucos.

O problema não é se registrar para a eternidade, a modernidade está aí e não acompanhar faz nenhum sentido. O problema é retratar a vida sem realmente vivenciá-la, estar presente sem estar. É preocupante que as pessoas precisem se autorretratar infinitamente para sentir que estão ali de fato, muitas vezes crendo intimamente a qualidade daquele momento só será convalidada a depender do número de curtidas. Narcisos sofredores, narcisos drogados, embriagados de si mesmos e embevecidos num perigoso “egotrip”.

O crescimento exponencial do ego costuma carregar uma mortalha pesada: o vazio existencial. Nunca se esteve tão frágil e tão exposto ao mesmo tempo. Está aí a depressão — o mal do século — para comprovar. Talvez estejam sobrando registros externos e faltando os internos, num mundo com menos autorretratos e mais autoanálises. É hora de engolir a câmera e deixar que ela registre o que há de mais importante, mas quem tem realmente coragem para fazer essa viagem?

Posso estar ficando velha, chata e ranzinza. Posso estar saindo do otimismo cibernético para a crítica anacrônica, mas, da próxima vez em que você estiver saboreando um delicioso macarrão, pergunte-se sinceramente qual é a necessidade de se autorretratar ao comê-lo.

“Eu vim para trazer a divisão”, disse…
…Jesus!

Cynara Menezes
(Socialista Morena)

Uma das coisas que mais me perturbam na atual situação brasileira é a ilusão de certos setores de que o PT “inventou” a divisão entre ricos e pobres, entre negros e brancos, entre esquerda e direita, entre mulheres e homens, entre hetero e homossexuais. O chamado “Fla-Flu”. Tem gente que fica chateado porque brigou com amigos, colegas e familiares por causa de política e isso é “culpa do PT”. Será?

O primeiro ponto a se perguntar é: a divergência é mesmo algo ruim? Balela. Se o embate fosse entre brancos e brancos, ricos e ricos, direitistas e direitistas aposto como seria visto com mais normalidade: uma disputa entre iguais. O que incomoda é que a tal “divisão” é, na verdade, uma reação dos historicamente oprimidos, dos “de baixo”, às injustiças. Incomoda que as chamadas “minorias” estejam divergindo com mais força, em alto e bom som.

Os negros estão denunciando o racismo; as mulheres estão denunciando o machismo; os pobres estão denunciando o preconceito de classe; os gays estão denunciando a homofobia. Antes, todas estas cidadãs e cidadãos hoje em processo célere de empoderamento estavam mudas, resignadas com sua situação. A esquerda tampouco tinha acesso aos meios de comunicação para conscientizar a população –e hoje temos a internet.

Esta divisão é positiva para evoluirmos enquanto sociedade. Não acredite quando dizem que é ruim. Fiquei impressionada ao conhecer trechos do Novo Testamento onde Jesus Cristo fala justamente de divisão e não de união. “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc, 12, 51-52). Na Bíblia utilizada pelos protestantes, é ainda mais veemente: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt, 10, 34-35).

Em Lucas, complementa: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três: ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. Diz ainda Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a Terra; e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49-53).

Estes trechos dos evangelhos de Lucas e Mateus são considerados controversos porque indicariam que Jesus seria a favor do uso de violência. Não necessariamente. Do que Jesus não é a favor, sem sombra de dúvidas, é do conformismo. Se ele veio à Terra, não foi para transmitir uma mensagem pacificadora, isso está claro. Ou não teria expulsado os vendilhões do templo.

Aliás, imaginem o rebuliço que seria hoje se Jesus voltasse, como os cristãos esperam, e encontrasse vendilhões falando em seu nome em emissoras de TV e igrejas espalhadas pelo mundo… Com certeza seria acusado de “incitar a divisão” entre ricos e pobres ao pregar que “é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Cristo foi um revolucionário. E revolucionários não vêm a este mundo para lançar uma mensagem de obediência e subserviência ao sistema – ou não seriam revolucionários. O que o revolucionário quer é abalar as estruturas. Foi o que Cristo fez, ou não? E acabou morto por isso, assim como Maomé, perseguido por criar uma dissidência religiosa do judaísmo e do cristianismo, o islã. Martinho Lutero foi excomungado pela igreja Católica por dividi-la e houve luta armada em favor de suas ideias reformistas.

Fora do campo religioso, Nelson Mandela abriu os olhos do mundo ao absurdo regime que existia na África do Sul, que colocava os negros, originais moradores do país, em um gueto, dominados por supremacistas brancos de origem europeia. Pois é: para quem critica a “divisão” no sentido de conflito, que tal o apartheid? Os donos do poder pretendiam que os negros sul-africanos se subjugassem àquela situação para sempre. Mandela os fez se levantar contra ela. E que bom que tenha sido assim.

Com tantos erros cometidos sob a ótica do campo da esquerda, o PT teve o inegável mérito de dar voz a quem não tinha voz. Por isso agora eles gritam. Pare de reclamar da “divisão” que há em nosso país, preocupe-se em entender por que ela existe – e por que é bom que ela exista. Se não houvesse divisão, significaria que estamos conformados. E conformistas não movem o mundo.

“Eu vim para trazer a divisão”, disse……Jesus!

Cynara Menezes
(Socialista Morena)

Uma das coisas que mais me perturbam na atual situação brasileira é a ilusão de certos setores de que o PT “inventou” a divisão entre ricos e pobres, entre negros e brancos, entre esquerda e direita, entre mulheres e homens, entre hetero e homossexuais. O chamado “Fla-Flu”. Tem gente que fica chateado porque brigou com amigos, colegas e familiares por causa de política e isso é “culpa do PT”. Será?

O primeiro ponto a se perguntar é: a divergência é mesmo algo ruim? Balela. Se o embate fosse entre brancos e brancos, ricos e ricos, direitistas e direitistas aposto como seria visto com mais normalidade: uma disputa entre iguais. O que incomoda é que a tal “divisão” é, na verdade, uma reação dos historicamente oprimidos, dos “de baixo”, às injustiças. Incomoda que as chamadas “minorias” estejam divergindo com mais força, em alto e bom som.

Os negros estão denunciando o racismo; as mulheres estão denunciando o machismo; os pobres estão denunciando o preconceito de classe; os gays estão denunciando a homofobia. Antes, todas estas cidadãs e cidadãos hoje em processo célere de empoderamento estavam mudas, resignadas com sua situação. A esquerda tampouco tinha acesso aos meios de comunicação para conscientizar a população –e hoje temos a internet.

Esta divisão é positiva para evoluirmos enquanto sociedade. Não acredite quando dizem que é ruim. Fiquei impressionada ao conhecer trechos do Novo Testamento onde Jesus Cristo fala justamente de divisão e não de união. “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc, 12, 51-52). Na Bíblia utilizada pelos protestantes, é ainda mais veemente: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt, 10, 34-35).

Em Lucas, complementa: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três: ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. Diz ainda Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a Terra; e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49-53).

Estes trechos dos evangelhos de Lucas e Mateus são considerados controversos porque indicariam que Jesus seria a favor do uso de violência. Não necessariamente. Do que Jesus não é a favor, sem sombra de dúvidas, é do conformismo. Se ele veio à Terra, não foi para transmitir uma mensagem pacificadora, isso está claro. Ou não teria expulsado os vendilhões do templo.

Aliás, imaginem o rebuliço que seria hoje se Jesus voltasse, como os cristãos esperam, e encontrasse vendilhões falando em seu nome em emissoras de TV e igrejas espalhadas pelo mundo… Com certeza seria acusado de “incitar a divisão” entre ricos e pobres ao pregar que “é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Cristo foi um revolucionário. E revolucionários não vêm a este mundo para lançar uma mensagem de obediência e subserviência ao sistema – ou não seriam revolucionários. O que o revolucionário quer é abalar as estruturas. Foi o que Cristo fez, ou não? E acabou morto por isso, assim como Maomé, perseguido por criar uma dissidência religiosa do judaísmo e do cristianismo, o islã. Martinho Lutero foi excomungado pela igreja Católica por dividi-la e houve luta armada em favor de suas ideias reformistas.

Fora do campo religioso, Nelson Mandela abriu os olhos do mundo ao absurdo regime que existia na África do Sul, que colocava os negros, originais moradores do país, em um gueto, dominados por supremacistas brancos de origem europeia. Pois é: para quem critica a “divisão” no sentido de conflito, que tal o apartheid? Os donos do poder pretendiam que os negros sul-africanos se subjugassem àquela situação para sempre. Mandela os fez se levantar contra ela. E que bom que tenha sido assim.

Com tantos erros cometidos sob a ótica do campo da esquerda, o PT teve o inegável mérito de dar voz a quem não tinha voz. Por isso agora eles gritam. Pare de reclamar da “divisão” que há em nosso país, preocupe-se em entender por que ela existe – e por que é bom que ela exista. Se não houvesse divisão, significaria que estamos conformados. E conformistas não movem o mundo.

A Lista Definitiva dos 100 Melhores Filmes de Todos os Tempos

Na falta de tempo/vontade/ânimo/conhecimento para fazer minha própria lista, resolvi roubartilhar esta, do Ademir Luiz, que achei muito boa! Inclusive, só pra constar, alguns desses filmes estão disponíveis bem aqui

Mas vamos ao que interessa. Luzes… Câmera… AÇÃO! 😀

Diversos veículos de comunicação, nacionais e internacionais, produziram suas listas dos melhores filmes de todos os tempos. Nossa elegância impede de citar nomes, mas muitas não se sustentam. Basta lembrar que há listas com opções altamente questionáveis, como colocar “Um Sonho de Liberdade” em primeiro lugar ou incluir obras tecnicamente sofisticadas, mas com roteiros pobres como “Avatar”; ou ainda francamente descartáveis como “A Princesa Prometida”. Para corrigir essas distorções, a Revista Bula, em parceria com a ONU e os Illuminati, incumbiu-me de apresentar a lista definitiva dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Definitiva? Sim, humildemente assumimos esse fardo e essa pretensão. Tamanha convicção se justifica em função dos altamente sofisticados e científicos critérios adotados para a seleção.

A equação envolve elementos relativos à influência, importância histórica, relevância dentro do gênero, apuro estético e artístico dos filmes, entre outros. O que, infelizmente, deixou de fora clássicos mudos como “Nosferatu”, “Intolerância” e “A Carruagem Fantasma”; clássicos sonoros, como “Chinatown”, “A Primeira Noite de um Homem”, “Quanto Mais Quente Melhor” e “Gata em Teto de Zinco Quente”; filmes divertidíssimos, como “De Volta Para o Futuro”, “Os Caça-Fantasmas” e “Curtindo a Vida Adoidado”; obras de formação de caráter, como os primeiros “Rambo” e “Rocky”, “Mad Max”, “Robocop” ou “Conan, o Bárbaro”; filmes de grande importância cultural, como “Adivinhe Quem Vem Para Jantar?”, “Os Eleitos” e “A Noviça Rebelde”; novelões, como “Assim Caminha a Humanidade” e “Jezebel”; experiências audiovisuais inusitadas, como “Valsa Russa”, “Boyhood” e “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”; épicos farofa, como “Gladiador” e “Coração Valente”; filmes com roteiros primorosos, mas com cinematografia discreta, como “A Malvada” e “O Declínio do Império Americano”; e mesmo esfinges intelectuais, como “Império dos Sonhos”, “Brazil, o Filme” e “Adeus à Linguagem”. Em alguns casos houve empate técnico, como entre “Réquiem Para um Sonho” e “Trainspotting” ou a refilmagem de “Scarface” e “Os Intocáveis”. Nessas ocasiões a subjetividade prevaleceu.

Cem títulos parece muito, mas é ilusório tendo em vista o número de candidatos potenciais. Por isso, tivemos o cuidado de restringir a participação de cineastas de gênio que poderiam monopolizar a lista, como Kubrick, Tarkóvski, Coppola, Bergman, Kurosawa, Orson Welles, David Lean, John Ford, Scorsese, Fellini ou Woody Allen. Esse critério retirou da lista obras-primas como “Um Corpo que Cai”, “O Homem que Matou o Facínora”, “Dr. Fantástico”, “Annie Hall”, “O Poderoso Chefão: Parte 2” e “Soberba”. Reconhecemos que — em alguns casos — fomos honestamente desonestos, considerando a “Trilogia de Apu” e a saga “O Senhor dos Anéis” como obras únicas, em função da unidade conceitual e estética. O mesmo não valeu para os filmes tão díspares, como os que compõem as trilogias “Star Wars” e “Poderoso Chefão”.

A lista é definitiva mesmo?

Sim.

Pelo menos até amanhã…

1 — Lawrence da Arábia (1962), de David Lean

“Lawrence da Arábia” é o melhor filme de todos os tempos. Por quê? Não é uma obra inovadora que revolucionou a linguagem do cinema, mas acertou em tudo a que se propôs, realizando cada um dos aspectos com excelência, elevando o nível do que foi feito até então e se tornando o padrão para tudo o que seria realizado posteriormente. Magnífico em todos os aspectos técnicos e artísticos, “Lawrence da Arábia” é, ao mesmo tempo, uma biografia romantizada, uma aventura épica, um filme histórico e um sofisticado estudo de personagem. Até os momentos cômicos funcionam. Praticamente todas as cenas são memoráveis, dignas de se tornarem quadros na parede. Podendo ser interpretado sob os mais diversos aspectos, se “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, é um livro catedral, “Lawrence da Arábia” é um filme catedral.

2 — 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick

Kubrick conseguiu a façanha de transformar um filme de arte em ícone pop. A cena do buraco de minhoca espacial é o mais próximo que um cinéfilo nerd pode chegar de uma viagem de LSD.

3 — Cidadão Kane (1941), de Orson Welles

Durante décadas, “Cidadão Kane” liderou a lista dos melhores filmes de todos os tempos, até ser superado por “Um Corpo que Cai” (que nem mesmo é o melhor filme de Hitchcock) e, em algumas seleções menos influentes, por “O Poderoso Chefão”. Certamente, é o filme mais influente e revolucionário entre os primeiros colocados em qualquer lista, embora não seja perfeito, como demonstrou a decana da crítica americana Pauline Kael, no livro “Criando Kane e Outros Ensaios”. Seja como for, “Cidadão Kane” é uma obra de mestre, surpreendentemente realizada por um jovem de vinte e cinco anos que se tornaria o mais colossal fracassado da história do cinema. Quem começa no auge só pode cair.

4 — O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola

As respostas para todas as perguntas estão na Bíblia, em “O Poderoso Chefão” e no número 42.

5 — Andrei Rublev (1966), de Andrei Tarkóvski

Outro filme catedral, “Andrei Rublev” representa a quintessência da arte do mestre russo Andrei Tarkóvski. Contém a poesia visual e sonora de “O Sacrifício”, “O Espelho” e “Nostalgia”, o rigor estético de “Solaris” e “Stalker”, e ainda narra muito bem sua história, como em “O Rolo Compressor e o Violinista” e “A Infância de Ivan”. A sequência da construção do sino concentra em si alguns dos mais belos momentos da história do cinema. Para assistir ajoelhado.

6 — Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa

O cinema de Kurosawa, diferente de, digamos, Ozu ou Kinoshita, é a ponte perfeita entre a arte oriental e a ocidental. Não por acaso, alguns de seus trabalhos foram refilmados com sucesso. “Yojimbo”, por exemplo, inspirou “Por um Punhado de Dólares”, de Sergio Leone, e “O Último Matador”, estrelado por Bruce Willis. Esse “Os Sete Samurais” inspirou “Sete Homens e um Destino”. O faroeste com Yul Brynner e sua turma é bom, mas o original é obra de mestre. Jamais será igualado. Cenas como a batalha na chuva e o incêndio permanecem gravadas na imaginação de quem as assistiu.

7 — O Sétimo Selo (1956), de Ingmar Bergman

Um cavaleiro cruzado jogando xadrez com a morte. Uma ideia seminal, traduzida em uma imagem imortal.

8 — O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel

A natureza animal do ser humano, exposta com crueza.

9 — A Doce Vida (1960), de Federico Fellini

Cada parte do filme representa um dos sete pecados capitais? Tudo bem, Anita Ekberg vale uma temporada no purgatório.

10 — Blade Runner, O Caçador de Androides (1982), de Ridley Scott

Mais forte, mais ágil, mais inteligente do que os filmes comuns.

11 — Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio De Sica

Um filme neorrealista italiano do pós-guerra que consegue agradar e emocionar qualquer público.

12 — Laranja Mecânica (1972), de Stanley Kubrick

Horror Show!

13 — Apocalipse Now (1979), de Francis Ford Coppola

O filme antibelicista por definição e um estudo profundo sobre a psique humana em situações extremas. É um dos casos no qual a versão do diretor piorou a obra original. A versão “redux” de “Apocalipse Now” é um elefante branco.

14 — O Leopardo (1963), de Luchino Visconti

Um dos raros casos em que o filme é tão bom quanto o livro.

15 — Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock

Comparo esse filme com um tapete persa. A tradição dos tecelões persas defende que se deve sempre deixar um fio solto em seus maravilhosos tapetes, como forma de testemunho de que apenas Alá é perfeito. Só há um plano “imperfeito” em todas as centenas de cenas de “Janela Indiscreta” e dura apenas uns dois segundos. Veja o filme com atenção e tente descobrir qual é.

16 — Cantando na Chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen

Tente não sorrir assistindo ao número musical na chuva.

17 — Metrópolis (1927), de Fritz Lang

Nosso futuro, se os nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra Mundial.

18 — Aurora (1927), de F. W. Murnau

Uma das mais notáveis realizações estéticas da era do cinema mudo.

19 — O Terceiro Homem (1949), de Carol Reed

O melhor final infeliz da história do cinema.

20 — A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir

Um filme para damas, cavalheiros e criadagem. A sequência da caçada entra no panteão das melhores.

21 — Amadeus (1984), de Milos Forman

Quem não assistiu a essa obra-prima pode se considerar cúmplice do assassinato de Mozart.

22 — Rastros de Ódio (1956), de John Ford

Esse é o maior faroeste de todos os tempos? Talvez “O Homem que Matou o Facínora” seja mais bem escrito. Talvez “Johnny Guitar” seja mais instigante. Talvez “Os Brutos Também Amam” seja mais empolgante. Talvez “Meu Ódio Será Sua Herança” seja mais realista. Talvez “A Face Oculta” seja mais profundo. Enquanto os mortais discutem, John Wayne cavalga magnânimo pelo Monument Valley.

23 — Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein

Eisenstein era fã do Mickey Mouse. Achei que deveria lembrá-los desse fato.

24 — Era Uma Vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu

Lento e belo como a vida.

25 — Olympia (1938), de Leni Riefenstahl

Segundo a crítica de cinema Pauline Kael, “Leni Riefenstahl é um dos cerca de doze gênios criativos que trabalharam com a mídia cinema”. O que a coloca ao lado de figuras como Orson Welles, Hitchcock e Eisenstein. Ela era nazista? Segundo a própria Leni, não era, mas apenas uma artista fascinada pela beleza. No documentário “Olympia”, ela colocou todo o seu talento para fazer o maior de todos os registros dos jogos olímpicos, retratando as competições como balés de corpos em movimento. A política aqui é mero detalhe. Contudo, o mesmo não pode ser dito com relação a “O Triunfo da Vontade”, documentário sobre o congresso do partido nazista de 1934. Por suas escolhas artísticas e más companhias, Leni já foi sentenciada em Nuremberg, mas nunca mais deixou de ser julgada.

26 — Ben-Hur (1959), de William Wyler

Um dos melhores filmes bíblicos. A sequência da corrida de quadrigas é a maior cena de ação de todos os tempos. E é apenas uma pequena parte desse filme excepcional, digno de ser admirado por cristãos, pagãos e ateus.

27 — O Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming

Assista ouvindo “The Wall”, de Pink Floyd.

28 — O Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder

Comparando esse clássico com a maioria da produção contemporânea, fica a sensação de que Norma Desmond tem razão: os filmes de hoje estão mesmo ficando pequenos demais.

29 — Rashomon (1950), de Akira Kurosawa

Um diz que esse filme é bom. Outro que é ótimo. Um terceiro defende que é uma obra-prima. Enquanto isso chove lá fora.

30 — Psicose (1961), de Alfred Hitchcock

Hitchcock filmou “Psicose” em preto e branco para não chocar o público. Não foi o suficiente. Até hoje.

31 — Amarcord (1973), de Federico Fellini

Um filme para ficar e sair da memória, simultaneamente.

32 — Era Uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone

Esse filme é uma ópera.

33 — Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti

O poder avassalador da beleza.

34 — A General (1926), de Buster Keaton e Clyde Bruckman

No filme “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolluci, dois personagens discutem quem é melhor: Chaplin ou Buster Keaton? Para um — não por acaso francês —, Chaplin é insuperável, enquanto o outro — um americano — defende que Keaton era um cineasta de verdade, enquanto Chaplin só se preocupava com sua própria performance. Questão de opinião. Pessoalmente, coloco Keaton um degrau acima.

35 — Em Busca do Ouro (1925), de Charles Chaplin

O crítico Paulo Emílio Salles Gomes, no ensaio “Chaplin é cinema?”, relativizou a habilidade de cineasta do eterno Carlitos. Chaplin seria um diretor apenas mediano, mas uma grande figura cinematográfica. Nesse “Em Busca do Ouro” temos um Chaplin despido de sentimentalismos ou proselitismo político, preocupado apenas em ser engraçado. Atingiu seu auge, mostrando que poderia ter sido ainda maior do que foi.

36 — Meu Tio (1958), de Jacques Tati

Chaplin ou Keaton? Tem gente que prefere Tati. O francês tem o lirismo do primeiro, porém sem seu gosto pelo melodrama, e a habilidade técnica do segundo.

37 — Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), de Quentin Tarantino

Quentin Tarantino é o cineasta favorito de oito entre dez jovens cinéfilos descolados. Andar com camisetas tarantinescas é cool! Dono de um toque de Midas pop, grande parte de sua reputação se deve a “Pulp Fiction”. O próprio Tarantino reconhece que jamais conseguirá igualar o que realizou nesse trabalho. “Pulp Fiction” é o seu “Cidadão Kane”. O que não deixa de ser um bom negócio, afinal, Zed is dead, baby, Zed is dead.

38 — Manhattan (1979), de Woody Allen

Woody Allen reinventou a comédia romântica com “Annie Hall”. Em “Manhattan” ele foi além, mostrando que também pode ser um grande cineasta quando se dá ao trabalho. “Crimes e Pecados” pode ser mais ambicioso, “Zelig” mais inventivo e “A Rosa Púrpura do Cairo” mais sensível, mas “Manhattan” ainda é seu trabalho mais sofisticado, com enredo mais bem resolvido e tecnicamente irrepreensível. Alguns podem preferir “Match Point”, mas parece-me que outro cineasta poderia filmar o mesmo roteiro com resultados igualmente satisfatórios, ao passo que somente Woody Allen poderia dirigir e estrelar “Manhattan”. É um filme assinatura e uma bela homenagem a Nova York.

39 — Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese

Você está falando comigo? Não tem mais ninguém aqui. Você está falando comigo?

40 — Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci

Foi censurado no Brasil. Passa uma manteiguinha que liberam…

41 — Teorema (1968), de Pier Paolo Pasolini

Acho que entendi. Tenho certeza que gostei.

42 — Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rossellini

Anna Magnani é a atriz mais chata de todos os tempos, mas até isso funciona no filme.

43 — O Nascimento de Uma Nação (1915), de D. W. Griffith

A certidão de nascimento do cinema enquanto linguagem. Afinal, nem tudo o que é bom e belo é necessariamente justo (KKK! WTF?).

44 — No Tempo das Diligências (1939), de John Ford

O primeiro faroeste realmente sério e ainda um dos melhores.

45 — A Marca da Maldade (1958), de Orson Welles

Indico o plano sequência na abertura desse filme como forma de aprender a diferença entre realmente ver ou simplesmente olhar uma cena.

46 — A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra

Um irresistível hino ao otimismo. Nunca foi tão bom ser ingênuo.

47 — Stalker (1979), de Andrei Tarkóvski

Em “Stalker”, Tarkóvski apurou sua visão de ficção científica apresentada em “Solaris”. Minha tese sobre esse filme: corpos humanos percorrendo telas expressionistas abstratas.

48 — Trinta Anos Esta Noite (1963), de Louis Malle

Um filme existencialista.

49 — Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan

O deus Brando em sua melhor atuação.

50 — Casablanca (1942), de Michael Curtiz

Umberto Eco escreveu certa vez que a força de “Casablanca” está no feliz acúmulo de vários clichês do cinema. Um clichê sozinho incomoda. Vários clichês, com sorte, podem gerar um conjunto harmonioso. É uma explicação. Seja como for, tenho uma longa amizade com esse filme.

51 — A Ponte do Rio Kwai (1957), de David Lean

Quem nunca tentou assobiar a marchinha “Colonel Bogey”?

52 — Morangos Silvestres (1957), de Ingmar Bergman

O personagem de Woody Allen em “Manhattan” afirmou que Bergman é o único gênio do cinema. Exagero, considerando que o próprio Allen é um gênio do cinema. Em todo caso, “Morangos Silvestres”, assim como “Gritos e Sussurros”, “Persona” e “Fanny e Alexander” são mesmo obras de gênio. Woody Allen fez sua versão de “Morangos Silvestres” em “Desconstruindo Harry”.

53 — Trilogia de Apu (1955/1956/1959), de Satyajit Ray

Esqueçam o oscarizado épico “Gandhi” ou mesmo o “Mahabharata” de Peter Brook. Se pretende conhecer algo sobre a Índia, o conjunto formado por “A Canção da Estrada”, “O Invencível” e “O Mundo de Apu” é a melhor porta de entrada. A principal lição que aprendemos com esses filmes é que os indianos não são nem os paspalhos da novela da Globo nem os seres iluminados que muitos hippies de butique imaginam. São gente como a gente.

54 — Fahrenheit 451 (1966), de François Truffaut

A morte precoce de Truffaut, com apenas 52 anos, foi uma das maiores perdas da história do cinema. Diretor de obras-primas como “Os Incompreendidos”, “Jules e Jim” e “A Noite Americana”, Truffaut ainda produziria muito. Assistindo a “Fahrenheit 451”, fico imaginando que magnífico “livro” desapareceu quando o perdemos.

55 — Acossado (1960), de Jean-Luc Godard

Gênio? Louco? Charlatão? Esfinge banguela? Caricatura de si mesmo? O Jean-Luc Godard de hoje tornou-se um fetiche dos cinéfilos PIMBA (Pseudointelectuais metidos a besta), mas ninguém pode lhe tirar a glória de ter sido um verdadeiro “enfant terrible” do cinema entre as décadas de 1960 e 1980. Godard verdadeiramente revolucionou o cinema. Poucos podem dizer isso. “Acossado” foi seu cartão de visitas.

56 — 12 Homens e Uma Sentença (1957), de Sidney Lumet

Tema espinhoso e polêmico. Cenário praticamente único. Ótimo time de atores, capitaneado por um astro, Henry Fonda. Roteiro muito bem escrito. Fotografia discreta e eficiente. Direção segura. Parece simples, mas fazer o simples bem feito é sempre o mais difícil.

57 — Napoleão (1927), de Abel Gance

A era do cinema sonoro ainda deve uma versão definitiva da saga de Napoleão Bonaparte. Esse foi um dos projetos abandonados por Kubrick na década de 1970. Por hora, a melhor realização cinematográfica sobre o imperador francês ainda é esse imponente longa-metragem mudo, repleto de experiências estéticas e sem medo de ser grandioso. Exatamente como seu personagem título.

58 — O Exorcista (1973), de William Friedkin

Friedkin é um dos menos reconhecidos entre os cineastas do primeiro time. Fez alguns trabalhos menores, mas tem em sua filmografia obras poderosas, como “Comboio do Medo”, “Operação França” e “Parceiros da Noite”. Merece um resgate. Em seu melhor e maior filme, “O Exorcista”, realizou não apenas a quintessência do terror, mas um drama psicológico dos mais sofisticados. Veja a versão de 1973, o relançamento com efeitos especiais digitais tirou muito da sutileza do filme original.

59 — Asas do Desejo (1987), de Wim Wenders

Discutindo o sexo dos anjos, literalmente.

60 — Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray

Alguns cínicos afirmam que quando Marlon Brando vestiu suas calças jeans em “O Selvagem”, produziu uma revolução muito maior na juventude do que todos os livros de Marx juntos. Talvez seja um exagero. Mas se somarmos nessa equação a jaqueta vermelha que James Dean usou em “Juventude Transviada”, aí sim teremos algo.

61 — A Paixão de Joana D’Arc (1928), de Carl Theodor Dreyer

O mestre Nicholas Ray costumava dizer que o cinema é a “magia dos olhares”. Essa máxima nunca foi tão verdadeira quanto em “A Paixão de Joana D´Arc”, nos magníficos closes em Renée Maria Falconetti.

62 — Era Uma Vez na América (1984), de Sergio Leone

Depois de fazer história com seus “faroestes espaguete” na Itália, Sergio Leone foi para a América fazer “filmes de gangster espaguete” no melhor estilo americano. Se não fosse a trilogia do “Chefão”, esse “Era Uma Vez na América” seria o melhor exemplar de um gênero que conta com pérolas como os dois “Scarface”, “Os Bons Companheiros” e “Inimigo Público Número 1”.

63 — O Atalante (1934), de Jean Vigo

Nada mais pesado do que a leveza do cotidiano.

64 — O Tesouro de Sierra Madre (1948), de John Huston

Esse filme vale ouro.

65 — O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski

Quem aí não acredita piamente que viu o bebê capiroto? Eu vi, eu vi, sim, eu vi…

66 — Touro Indomável (1980), de Martin Scorsese

Martin Scorsese estava convicto que esse seria seu último filme. Por isso concentrou nele todo seu talento. Felizmente, não foi seu último trabalho. Felizmente, Scorsese pensou que seria.

67 — Blow Up – Depois Daquele Beijo (1966), de Michelangelo Antonioni

Só uma obra-prima pode ter o mestre Jimmy Page, do Led Zeppelin, como figurante.

68 — Tubarão (1975), de Steven Spielberg

Spielberg é um grande cineasta em obras como “A Lista de Schindler”, “A Cor Púrpura” e “O Império do Sol”, mas outros diretores poderiam fazer esses mesmos trabalhos tão bem quanto ele, e talvez até os melhorassem, diminuindo o melodrama. Seu verdadeiro gênio, sua assinatura mais destacada, se manifesta em filmes aventurescos e divertidos, mas nem por isso menos inteligentes, como “Encurralado”, “E.T.” e a série Indiana Jones. Dessa leva, o melhor é “Tubarão”, não por acaso o primeiro “blockbuster” da história.

69 — Os Imperdoáveis (1992), de Clint Eastwood

“Todos vão saber que Clint Eastwood é o maior covarde do oeste” (fala de “De Volta Para o Futuro III”).

70 — Patton (1970), de Franklin J. Schaffner

O comunistinha covarde que não apreciar a grandeza patriótica desse filme vai levar uns tapas. Em tempo: se fosse um sujeito bonito, George C. Scott teria sido o maior astro de cinema de todos os tempos.

71 — Rio Vermelho (1948), de Howard Hawks e Arthur Rosson

O maior exemplo de conflito de gerações da história do cinema.

72 — Bonnie e Clyde: Uma rajada de balas (1967), de Arthur Penn

Nada menos que o filme marco da Nova Hollywood.

73 — Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman

Um filme tão impactante que Jack Nicholson nunca mais conseguiu sair dele.

74 — O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme

Recomendo que leiam o profundo e complexo ensaio escrito por, acreditem, Olavo de Carvalho. Depois da leitura nunca mais verão “O Silêncio dos Inocentes”, nem o Olavo, da mesma forma.

75 — Os Excêntricos Tenenbaums (2002), de Wes Anderson

A prova de que nem todos os escritores que fazem cinema estão traindo a arte.

76 — Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha

Lembrando o bom e velho Paulo Francis: o filme é uma porcaria, mas o diretor é um gênio.

77 — O Rei Leão (1994), de Roger Allers e Rob Minkoff

(…) Desculpe, não posso escrever nada agora, estou ocupado dançando e cantando “Hakuna Matata”…

78 — Veludo Azul (1986), de David Lynch

Existe algo de podre no reino do “american way of life”.

79 — O Senhor dos Anéis (2001 / 2002 / 2003), de Peter Jackson

Um filme para dominar a todos.

80 — Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan

Por mais que, por exemplo, o “Super-Homem: O Filme”, de Richard Donner, seja icônico e nos tenha feito acreditar que “um homem poderia voar”, ainda está preso no gênero “filmes de super-heróis”. “O Cavaleiro das Trevas” transcende esses limites. É um ótimo filme de super-heróis, mas também é um policial instigante e um suspense de primeira linha. E, claro, apresentou o Coringa definitivo.

81 — Os Caçadores da Arca Perdida (1981), de Steven Spielberg

Indiana Jones não faria diferença no desenrolar da história?! Se isso for verdade, então, é como na vida real. Só torna o filme melhor.

82 — O Império Contra-Ataca (1980), de Irvin Kershner

“Guerra nas Estrelas” mudou o cinema. Não fosse a canhestra direção de atores de George Lucas, estaria na lista. Essa honra cabe à sua continuação, uma aventura de ficção científica perfeita.

83 — Os Intocáveis (1987), de Brian De Palma

Engana-se quem pensa que esse filme é sobre a investigação e captura de Al Capone pelo lendário agente federal Eliot Ness e seus companheiros incorruptíveis. “Os Intocáveis” é um filme sobre cinema.

84 — Trainspotting (1996), de Danny Boyle

Foi anunciado como o “A Laranja Mecânica” da nova geração. Agora que a nova geração tornou-se veterana, sabemos que não é. Mas é um dos mais incisivos retratos sobre o mundo contemporâneo produzido pelo cinema.

85 — Beleza Americana (1999), de Sam Mendes

Quanto o produtor Steven Spielberg entregou o roteiro para o diretor Sam Mendes, recomendou enfático: “não mude uma linha”. Felizmente, foi obedecido.

86 — … E o Vento Levou (1939), de Victor Fleming

Esse filme é um novelão. Mas quem disse que uma boa novela não pode ser ótima?

87 — Matrix (1999), de Lana Wachowski e Andy Wachowski

Fico imaginando se o filme “Matrix” não é um recurso da matrix para distrair-nos do fato de estarmos todos confinados na matrix, assistindo às duas péssimas continuações de “Matrix”. Se for, a ignorância é mesmo uma bênção.

88 — Ligações Perigosas (1988), de Stephen Frears

Você vai adorar a sofisticação, refinamento e inteligência desse filme. Quer apostar?

89 — Clube da Luta (1999), de David Fincher

Regra número um: Você não fala sobre o clube da luta. Regra número dois: Você NÃO fala sobre o clube da luta.

90 — Faça a Coisa Certa (1989), de Spike Lee

Spike Lee tornou-se um patrulheiro insuportável. Felizmente, nesse filme conseguiu fazer a coisa certa ao tratar da questão do racismo sem radicalismo, condescendência ou pieguice.

91 — Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar

Esse Almodóvar me arrepia os cabelos do… (sim, isso é uma citação).

92 — Ondas do Destino (1996), de Lars Von Trier

O Dogma 95 em seu momento áureo. Com um final que rasga todas as regras do manifesto Dogma 95. Lars Von Trier é mesmo um cínico, no melhor dos sentidos.

93 — Cinzas no Paraíso (1978), de Terrence Malick

Antes de ficar obcecado em colocar meninas bonitas girando sem parar sobre o próprio eixo em projetos pretensiosos e mal acabados, como “Árvore da Vida”, “O Novo Mundo” e “Amor Pleno”, Terrence Malick realmente foi um projeto de gênio. Pena que voltou de seu autoexílio de duas décadas. Funcionava mais como mito recluso do que como cineasta na ativa.

94 — Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund

“Favela movie” no melhor estilo chiclete com banana.

95 — O Segredo de Seus Olhos (2009), de Juan José Campanella

O pior defeito do cinema brasileiro é o descaso com o roteiro. A maior qualidade do cinema argentino é o cuidado com o roteiro.

96 — Viagem de Chihiro (2001), de Hayao Miyazaki

Um filme para ser visto com humildade, ciente de que não basta fazer yoga e comer sushi para achar que entende alguma coisa sobre a riquíssima cultura oriental.

97 — Herói (2002), de Zhang Yimou

Existe uma longa tradição de filmes de Kung Fu no cinema. As coreografias são sempre um espetáculo por si só, mas o que torna “Herói” especial, para além do pano de fundo histórico, é o fato de que foi dirigido por um cineasta de verdade. Imaginem se o homem que dirigiu o sensível “Lanternas Vermelhas” tivesse tido a chance de trabalhar com o mestre Bruce Lee. “Herói” é o mais próximo que se pode chegar dessa utopia.

98 — Sangue Negro (2008), de Paul Thomas Anderson

Fé, ambição e petróleo. O mais próximo que se chegou de Kubrick após a morte do mestre.

99 — Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore

Uma ode ao cinema. Tudo o que o melodramático “Cine Majestic” tentou ser e não conseguiu. O que prova que talento é mais importante que orçamento.

100 — Um Sonho de Liberdade (1995), de Frank Darabont

Figura em algumas seleções de voto popular como o primeiro da lista. Não se justifica, embora seja um ótimo filme. Fica na digna posição de centésimo. Os últimos serão os primeiros?

Envelhescência

Mario Prata

Se você tem entre 45 e 65 anos, preste bastante atenção ao que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira.

Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que, entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65), existe a ENVELHESCÊNCIA.

A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim como a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência.

E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso:

– Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? Notadamente na bunda? [Nota: em mim, não!]

– Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos.

– Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhescentes, também. Mudamos o nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rápido; os envelhescentes querem falar mais lentamente.

– Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar do passado. Bons tempos…

– Os adolescentes não têm ideia do que vai acontecer com eles daqui a vinte anos. Os envelhescentes até evitam pensar nisso.

– Ninguém entende os adolescentes… Ninguém entende os envelhescentes… Ambos são irritadiços, se enervam com pouco. Acham que já sabem de tudo e não querem palpites nas suas vidas.

– Às vezes, um adolescente tem um filho: é uma coisa precoce. Às vezes, um envelhescente tem um filho: é uma coisa pós-coce.

– Os adolescentes não entendem os adultos e acham que ninguém os entende. Nós, envelhescentes, também não entendemos eles. “Ninguém me entende” é uma frase típica de envelhescente.

– Quase todos os adolescentes acabam sentados na poltrona do dentista e no divã do analista. Os envelhescentes, também a contragosto, idem.

– O adolescente adora usar uns tênis e uns cabelos. O envelhescente também. Sem falar nos brincos.

– Ambos adoram deitar e acordar tarde.

– O adolescente ama assistir a um show de um artista envelhescentes (Caetano, Chico, Mick Jagger). O envelhescente ama assistir a um show de um artista adolescente (Rita Lee).

– O adolescente faz de tudo para aprender a fumar. O envelhescente pagaria qualquer preço para deixar o vício.

– Ambos bebem escondido.

– Os adolescentes fumam maconha escondido dos pais. Os envelhescentes fumam maconha escondido dos filhos.

– O adolescente esnoba que dá três por dia. O envelhescente quando dá uma a cada três dias, está mentindo.

– A adolescência vai dos 10 aos 20 anos: a envelhescência vai dos 45 aos 60. Depois sim, virá a velhice, que nada mais é que a maturidade do envelhescente.

– Daqui a alguns anos, quando insistirmos em não sair da envelhescência para entrar na velhice, vão dizer: “É um eterno envelhescente!”

Que bom.

Encontre alguém que te surpreenda

Encontre alguém que bagunce o seu cabelo e coloque ordem no seu coração. Não que faça tudo certinho, mas que ligue quando você não puder atender só para dizer que te ama assim, sem hora marcada. Encontre alguém que te leve para sair justo naquele dia que o seu celular estava sem bateria para você poder registrar somente na memória e ter que fechar os olhos para reviver o momento.

Encontre alguém que te surpreenda, que faça o que ninguém fez antes. Alguém que te mostre que o amor vale a pena acima de qualquer circunstância, apesar de qualquer dificuldade – encontre alguém que enfrente o que for para estar ao seu lado e te prove que ainda é possível confiar. Encontre alguém que te leve um chocolate em uma segunda-feira às seis da tarde só para arrancar um sorriso do seu rosto. Alguém que faça diferente, que saia do senso comum e que se jogue de corpo e alma, porque ninguém aqui precisa de uma relação morna.

E quando encontrar alguém que faz o seu coração disparar sem motivo, por nada e por tudo, valorize e não deixe escapar, porque este sentimento não dá para comparar. Vai mudar a sua vida e vai te fazer entender que amar é surpreender.

Milene da Mata

Viagem ao redor de um joelho

Ainda agora pela manhã, numa conversa joelhística acerca do que nos faz doer e como (tentar) resolver – com uma breve digressão à minha época de escola, quando fazíamos atletismo, e relembrando como é que se identifica qual seria a “perna de impulso” – lembrei-me de uma das sempre saborosas crônicas de Mário Prata.

Ei-la!

Montevidéu – Para começar, vou logo dizendo que acho a palavra joelho horrível. Pense bem: jo-e-lho. Não é feia? Além de proporcionar rimas fáceis e deselegantes. Aqui ele é conhecido como rodillas, que soa bem melhor.

O que acontece, é que eu estou com um problema no joelho esquerdo. Desde março. Quatro meses, já. Me colocaram dentro de um tubo de ressonância magnética que deve ter este nome por causa do barulhão que faz lá dentro. O médico me disse que eu estava com o corno posterior lesionado. Coisas no menisco (outra palavrinha feia).

Opera, não opera, acabei não operando. Mas é o que eu vou fazer quando voltar ao Brasil. Estou em permanente litígio com ele, o joelho.

Toda esta introdução é para dizer que tenho pensado muito no joelho. No meu joelho. Nunca tinha dado muita bola para ele. Mas com o corno estourado você passa a conviver muito mais com a sua própria rótula (eta nome!). Ou, pelo menos, tenta.

Você não pode imaginar como um joelho é importante para um vertebrado como a gente. É a rótula que nos dá a rota, que nos traz e nos leva.

Começou a me incomodar mais quando cheguei aqui ao frio do Uruguai. Dentro do quarto tem calefação. Mas o joelho sabe que, lá fora, está zero grau. Ele odeia o frio. E sofre, coitado. Ele não, eu.

É quando a gente percebe que não consegue fazer nada sem ele. Andar claudicando é o de menos. O pior é quando você para numa esquina e fica com apenas a ponta do pé apoiada no chão, com a perna meio curvadinha. Parece uma bicha no ponto. Sempre passa um engraçadinho e grita: maricón! E quando a gente começa a atravessar a rua e percebe que não vai dar tempo pra chegar do outro lado e não dá para correr?

Até para as necessidades mais íntimas, você precisa do joelho. Tem que se sentar com a perna um pouco esticada, porque não dá para dobrar. Experimente fazer cocô com uma perna esticada. Alguma coisa não vai sair certo.

Se o sabonete cair no chão, na hora do banho, esqueça. Seus braços jamais chegarão lá embaixo. Enxugar os pés então, nem pense nisso. E, por favor, não tente chutar uma tampinha de coca-cola na rua. Pode ser fatal. Mas a dificuldade maior é para se fazer sexo sem a colaboração total e imprescindível do joelho.

Pode parecer bobagem, mas para o ato sexual, o joelho é muito mais importante do que o, por exemplo, pênis. Desculpem usar a palavra pênis, que é uma coisa que só médico tem. Perguntam: e o pênis, como vai? Como se o pênis fosse um tio da gente (já escrevi isso em algum lugar…).

Mas eu dizia da importância do joelho no ato sexual. De joelhos, por exemplo, nem pensar. Mesmo deitado, virado para cima, sem o joelho você não faz nada. O joelho é quem comanda, quem faz as inflexões todas, é ele quem dá a pressão, faz os movimentos, é ele quem dirige a ação. É ele quem engata a primeira, é ele quem gira para uma marcha-aré mais arriscada.

O resto não faz nada sem o comando do joelho, a principal alavanca do ato em si.

O joelho é o responsável pelo ritmo. É o joelho quem dá o tempo certo. E é nele que você se apóia na hora do orgasmo final e grita. De dor.

É impossível ir-se até o belíssimo Estádio Centenário e fugir na hora do sururu. Vou apanhar sentado.

É impossível ir-se até a igreja que eu vejo aqui da minha janela e ajoelhar-se diante do altar de Deus e pedir perdão por pensar e escrever tanta besteira.

É que a dor é maior que o amor, meu bem.