HQ Nacional em discussão

Notícia veiculada na revista Wizard Brasil nº 30:

Quadrinhos nacionais na pauta da Câmara dos Deputados

Sidney Gusman

Um sonho antigo de muitos quadrinhistas brasileiros parece perto de se realizar. Tramita em caráter conclusivo nas comissões de Educação e Cultura; de Finanças e Tributação; de Constituição e Justiça e de Cidadania na Câmara dos Deputados, em Brasília, o controverso projeto de lei 6581/06, do deputado Simplício Mário (PT do Piauí), que obriga as editoras a publicar um mínimo de 20% de histórias brasileiras, considerando-se a produção do ano inteiro.

A intenção é incentivar a produção, a publicação e a distribuição de gibis nacionais. A proposta também obriga as empresas a ter pelo menos 20% de obras brasileiras entre seus títulos de quadrinhos, e todos lançados comercialmente. Em ambos os casos, o percentual deverá ser atingido no quarto ano de vigência, a partir do aumento progressivo de um mínimo inicial de 5%.

A lei atinge até jornais que deverão observar a relação de uma tira ‘caseira’ para cada estrangeira publicada. O projeto entende HQ nacional como aquela criada por um artista brasileiro ou estrangeiro residente no País e publicada por empresa sediada aqui.

O projeto prevê que o poder público crie ações de apoio e incentivo à produção de HQs nacionais e que bancos e agências de fomento federais estabeleçam programas para financiar a confecção de publicações brasileiras. Na seleção dos projetos, será dada preferência aos com temática relacionada à nossa cultura.

Para Simplício Mário, esse percentual é suficiente para romper a hegemonia estrangeira, ‘sem impor uma limitação exagerada aos quadrinhos que vêm de fora, não representando assim, nenhum tipo de censura à liberdade de expressão e ao acesso à informação’. Se aprovada, a lei, que vem gerando discussões acaloradas, pode representar uma grande mudança no cenário da nona arte brasileira.

Eis a íntegra do Projeto de Lei nº 6581/2006 (tanto o texto como seus andamentos podem ser acessados em http://www.camara.gov.br):

PROJETO DE LEI N.º , DE 2006

(Do Sr. Simplício Mário)

Estabelece mecanismos de incentivo para a produção, publicação e distribuição de revistas em quadrinhos nacionais.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta Lei estabelece incentivo para a produção e distribuição de histórias em quadrinhos de origem nacional no mercado editorial brasileiro.

Art. 2º As editoras deverão publicar um percentual mínimo de 20 por cento de histórias em quadrinhos de origem nacional, considerando-se o conjunto das publicações do gênero produzidas a cada ano, na forma da regulamentação.

§ 1º Considera-se história em quadrinhos de origem nacional aquela criada por artista brasileiro ou por estrangeiro radicado no Brasil e que tenha sido publicada por empresa sediada no Brasil.

§ 2º O percentual de títulos estipulado no ” caput” deste artigo será atingido da seguinte forma: cinco (5) por cento no primeiro ano de vigência desta lei; dez (10) por cento no segundo ano; quinze (15) por cento no terceiro ano, atingindo-se a cota de 20 por cento no ano subsequente.

Art. 3º As empresas distribuidoras deverão ter um percentual mínimo de 20 por cento de obras brasileiras em quadrinhos entre seus títulos do gênero, obrigando-se a lançá-los comercialmente.

§ 1º O percentual de títulos e lançamentos a que se refere este artigo será implementado na forma prevista no § 2º do artigo anterior.

Art. 4º Em se tratando de veículos impressos de circulação diária, semanal ou mensal, deverá ser observada a relação de uma tira nacional para cada tira estrangeira publicada.

Art. 5º O Poder Público, por meio do órgão competente, implementará medidas de apoio e incentivo à produção de histórias em quadrinhos nacionais, tais como, estimular a leitura em sala de aula, promover eventos e encontros de difusão do mercado editorial de histórias com quadros em sequência voltadas para o público infanto-juvenil e a inserção de disciplinas práticas, tais como roteiro e desenho, no currículo das escolas e universidades públicas.

Art. 6º Os bancos e as agências de fomento federais estabelecerão programas específicos para apoio e financiamento à produção de publicações em quadrinhos de origem nacional, por empresa brasileira, na forma da regulamentação.

§ 1º Na seleção dos projetos, será dada preferência àqueles de temática relacionada com a cultura brasileira.

§ 2º Os projetos financiados com recursos públicos deverão destinar percentual de, no mínimo, 10% da tiragem das publicações em quadrinhos para distribuição em bibliotecas públicas, na forma da regulamentação.

Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

Conhecida como “banda desenhada”, “BD”, “história em quadrinhos” ou “HQ”, a narração de histórias de forma sequencial, conjugando texto e imagens, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras, são um gênero de arte que conquistou o mundo.

Não há país que não mantenha uma legião de admiradores e colecionadores de histórias em quadrinhos, nos mais diversos formatos, estilos, gêneros e temas. Surgidas no século XIX, as histórias em quadrinhos tiveram o seu berço nos Estados Unidos, segundo alguns autores, com a publicação de “As Canções de Cego”, editadas em 1820.

Alguns autores apontam, no entanto, que foi de Angelo Agostini, em 1869, no Brasil, a idéia de fazer histórias ilustradas quadro a quadro. A primeira revista em quadrinhos brasileira chamava-se “Tico Tico” e acredita-se que foi a primeira do mundo a trazer histórias completas. Foi lançada em 1905 e em seus primeiros anos limitava-se a reproduzir os quadrinhos norte-americanos, principalmente Buster Brown e Tige de Richard Outcault (renomeados como Chiquinho e Jagunço).

Mas, apesar de ser uma arte antiga no País, o mercado nacional de historinhas ilustradas sempre foi dominado pelas publicações estrangeiras, com personagens como Yellow Kid, o Super Homem, o Batman, Tintin, acompanhado do cão Milou, além de outros, como o marinheiro Popeye e o detetive Dick Tracy.

Majoritariamente, os autores nacionais seguem o estilo comics (como os quadrinhos norte-americanos ficaram conhecidos, em função do humor) dos super-heróis criados nos Estados Unidos. No caso dos Comics, alguns artistas brasileiros, agenciados nos Estados Unidos, conquistaram fama internacional, como Roger Cruz que desenhou o X-Men e Mike Deodato, que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros. Além dos comics, os desenhos brasileiros também foram fortemente influenciados pelos gibis japoneses, conhecidos como Mangá.

A tira é considerada como estilo mais identificado com o brasileiro, tendo sido usada, como elemento de resistência à ditadura militar ou de sátira aos costumes nacionais. Entretanto, apesar de estarem há mais de 100 anos no mercado nacional, e de terem ganhado o apelido de “Gibi”, graças a uma revista lançada em 1939, os quadrinhos brasileiros nunca ganharam grande impulso.

Afora alguns títulos de menor expressão, o mercado brasileiro é identificado apenas por um grupo de personagens, criado por um artista nacional: a Turma da Mônica. Atualmente, grande parte das revistas vendidas em bancas leva a assinatura de Maurício Souza, o “pai” de Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e outras personagens que marcaram gerações no Brasil, mantendo sempre o mesmo estilo, a mesma mensagem, os mesmos papéis, mas sem envelhecer ou perder a atualidade. Atualmente, as revistinhas da Turma da Mônica são um fenômeno mundial, tendo sido traduzidas para diversas línguas e sendo vendidas em inúmero países.

Para os estudiosos, o mundo dos quadrinhos, que já foi visto como inimigos da aprendizagem por educadores, hoje representa um retrato de valores e costumes de uma sociedade e reproduz para a criança um universo estável, em meio a tantas mudanças e à insegurança que cerca o cotidiano da vida moderna. Além de ser uma “válvula de escape” para a fantasia infantil, os quadrinhos são uma grande forma de promover a cultura nacional.

O projeto que ora propomos leva em conta não apenas o potencial econômico do mercado consumidor brasileiro, que hoje beneficia apenas a indústria de entretenimento norte-americana e outras nacionalidades, mas também a importância de fomentar um elemento de identidade cultural e manifestação artística.

Por isso, sugerimos que sejam incentivadas as empresas que comprovem a publicação de, pelo menos, 20% de material nacional. O percentual estabelecido é suficiente para romper a hegemonia estrangeira, mas sem impor uma limitação exagerada aos quadrinhos que vêm de fora, não representando, assim, qualquer tipo de censura à liberdade de expressão e ao acesso à informação.

A analogia que fazemos é com a chamada “cota de tela”, prevista no art. 55 da Medida Provisória nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001, que determina que “por um prazo de vinte anos, contados a partir de 5 de setembro de 2001, as empresas proprietárias, locatárias ou arrendatárias de salas, espaços ou locais de exibição pública comercial exibirão obras cinematográficas brasileiras de longa metragem, por um número de dias fixado anualmente, por decreto, ouvidas as entidades representativas dos produtores, distribuidores e exibidores.”

A “cota de tela” constitui instrumento importante para incentivar a produção cinematográfica nacional, por meio da obrigatoriedade de exibição de uma quantidade mínima de películas nacionais nas salas de exibição de uma quantidade mínima de películas nacionais nas salas de exibição em todo o Brasil. Se temos as cotas para os filmes, podemos também ter as cotas para os quadrinhos, como uma política temporária de incentivo, a ser extinta no momento em que o setor se desenvolver e passar a caminhar de maneira autônoma.

Para que esse crescimento ocorra, também estabelecemos que caberá ao Poder Público, por meio de suas agências de fomento, financiar a produção de quadrinhos nacionais. Há vários anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, criou uma linha de financiamento para patrocinar o cinema brasileiro, desde a produção até a exibição. Neste ano, destinou R$ 22 milhões para o setor, 46% a mais do que no ano passado.

Seguindo o mesmo modelo, e investindo em um gênero de arte como os quadrinhos, estamos convictos de que poderemos aumentar a presença internacional do Brasil na área cultural, ainda considerada tímida e restrita basicamente às novelas, com exportações anuais de cerca de US$ 60 milhões. Podemos fazer como a Coréia, onde os quadrinhos receberam forte apoio estatal, e hoje são exportados para vários países, inclusive o Brasil.

Assim sendo, pedimos o apoio dos ilustres parlamentares para a aprovação da norma proposta.

Sala de Sessões, em de de 2006.

Deputado SIMPLÍCIO MÁRIO

Criatividade

Conheci e aprendi a gostar do personagem Calvin graças ao amigo Fábio, advogado e fã incondicional desse maroto. Através de outro amigo, o Bicarato, recentemente resgatei esse gosto. Essa tira abaixo é simplesmente o máximo: traduz de forma excepcional não só os anseios de escritores com seus textos, como os de advogados ante o prazo final que se aproxima.

Recordar é viver!

Como já devem ter percebido, por esses dias tenho me limitado mais a um Ctrl-C/Ctrl-V do que a escrever algo realmente digno de nota. Talvez a aventura da semana passada tenha consumido a maior parte de minha pseudo capacidade criativa. Talvez eu esteja enfrentando um famigerado “bloqueio de escritor”. Ou talvez eu simplesmente esteja com preguiça. Sei lá.

Como neste dia de hoje devo ficar fora devido a uma pequena viagem a trabalho (com uma sincera esperança de que isso vá me trazer novidades narrativas), deixo por aqui um pouquinho de um gibi de minha coleção que estou (re)lendo, do Laerte. O nome da revista é Striptiras e circulou há não menos que dez e não mais que vinte anos atrás – pela editora Circo. As tiras são dos Gatinhos, um casal composto por um trouxa (na maior parte das vezes) e uma esperta (sempre). Dá pra adivinhar quem é quem?…

REPAROS. Ninguém sabe porque, mas este é o nome de uma peça da válvula da privada. Talvez porque ela vive quebrando e precisando de conserto. E aqui no Brasil é assim: quando você chama o encanador, ele quebra o azulejo. Quando você chama o pedreiro, ele estraga a fiação. Quando você chama o eletricista, ele destrói a pintura. Quando você chama o pintor, ele quebra a porta. Quando você chama o chaveiro, ele pede para ir ao banheiro, fode a vávula e a descarga dispara.

Sessão de cinema

Magneto

E então fomos assistir o filme X-Men.

Na realidade tínhamos ido assistir o filme Código da Vinci, mas como eu esqueci de descontar meia hora do horário de início real do filme, e como a Dona Patroa é quem estava dirigindo, é LÓGICO que chegamos cinco minutos após o início e não haviam mais entradas…

Mas, numa mui especial deferência, ela concordou em assistir ao outro filme. Aliás, foi ela mesma quem sugeriu! Até porque os momentos nos quais podemos nos dar o deleite de pegar um cineminha são raros. Nessa vida de trabalho, correria e três petizes em casa, não sobra muito tempo para conciliar com os horários de filmes.

Ambos gostamos do filme – mas eu, particularmente, mais. Bem, tudo que diz respeito aos quadrinhos normalmente me empolgam (mal posso esperar o novo filme do Superman). Aliás, se você ainda não assistiu o filme e pretende assistir, pode parar por aqui, pois não só vou tecer alguns comentários, como talvez também conte o final.

Eu avisei…

Além dos sempre espetaculares efeitos especiais, esse filme cuida bem da trama. Seu pano de fundo nada mais é do que uma discussão ética entre o certo, o errado e o necessário. Como diz o ditado: “o poder por si só já corrompe, mas o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Falando em efeitos especiais, a sequência da ponte é simplesmente deslumbrante. Com seus poderes Magneto levanta uma ponte pênsil inteira, para posicioná-la, juntamente com seu exército, sobre a ilha que pretende invadir. Bem, existem outras sequências igualmente muito boas, como a da “Sala de Perigo”. Trata-se uma sala de treinamento – sempre presente nas revistas – onde os mutantes podem utilizar seus poderes à vontade em simulações de combate. O que chama a atenção é que o treinamento deles está sendo feito através de uma luta contra um robô gigante, exatamente como os Caçadores que existem nos quadrinhos. A cena do lago, quando a Fênix ressurge, também é muito boa, e temos ainda a do garoto com asas, e, deixe-me ver… bem, é melhor eu ficar quieto, senão não vai sobrar muito filme para assistir.

Uma das primeiras cenas do filme é uma aula que o Professor Xavier está ministrando para alguns alunos. Aconselho a prestar atenção em seu discurso, pois é daí que sairá um dos questionamentos finais do filme.

Alguns dos costumeiros personagens saem de tela de vez, enquanto que outros retornam. A cisma entre Magneto e Xavier extravasa definitivamente o campo acadêmico e passa para uma guerra de fato, num mundo que já reconhece que os mutantes são uma realidade com a qual devem conviver. Apesar da crueldade por vezes demonstrada, não consigo deixar de gostar do personagem Magneto, pois, bem lá no fundo, possui bom coração. Aliás, os maiores questionamentos éticos partiram dele.

E outro ponto a destacar: o quanto alguém pode amar outra pessoa? Alguns diriam que até com a própria vida. Tá. Mas você seria capaz de amar tanto alguém ao custo da própria vida dela? Ser tão apaixonado que conseguiria deixar de lado o desejo de ter sempre presente o ser amado, de amar tanto ao ponto de sacrificar seu próprio egoísmo pelo bem dela? No filme isso segue uma linha crescente até seu clímax (ou deveria dizer anti-clímax?)…

Enfim, é um bom filme. Em especial gostei mais do primeiro, pelo clima de novidade, por trazer para a tela personagens até então existentes somente nos quadrinhos. Já o segundo foi um espetáculo para os olhos e serviu para dar mais coesão à escola do Professor Xavier. Uma última dica: além da ponta solta que deixaram na última cena do filme, que envolve o Magneto, aguarde até o final dos letreiros. Existe mais uma pequenina sequência que fecha o filme com chave de ouro, e abre novas possibilidades…

Mundo HQ

Quem disse que quadrinhos são pra crianças? O mundo HQ (Histórias em Quadrinhos) há muito vem se profissionalizando, explorando novos nichos, tanto que acaba sendo vítima de sua própria ousadia. Vejam o que saiu na Wizard de maio:

O longa-metragem de animação Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n Roll”, baseado nas histórias em quadrinhos do paulistano Angeli, ganhou uma mídia extra bastante interessante. O Ministério da Justiça classificou o aguardado desenho como impróprio para menores de 18 anos.

A produtora do filme, Marta Machado, ficou indignada e disse ao jornal Folha de São Paulo que ‘os gaúchos da Otto Desenhos Animados entram para a história por produzirem a primeira animação brasileira proibida para menores’.

Para quem não sabe, Wizard é uma revista especializada no tema, trazendo toda e qualquer notícia voltada ao mundo dos quadrinhos, quer seja relacionada a novas publicações, filmes em cartaz, circuito alternativo, etc.