Categoria: Criança dá trabalho
A origem
Perguntinha básica do filhote nº 3, ainda meio que acordando, durante o café da manhã de hoje:
“Mãe, por que os pesadelos se formam nos filmes de terror?”
E aí? Alguém se habilita a responder?…
Eu escolho você!
E então o filhote nº 1 solta uma pérola de sarcasmo à mesa. Impossível não rir. Até porque eu “sutilmente” o incentivei… Após o acesso (de todos), a Dona Patroa, bem-humorada:
– Tá vendo? Você criou um monstro!
Antes que pudesse me justificar, ele próprio já se manifestou em minha (nossa) defesa:
– Não, mãe. Monstros se criam sozinhos. Ele só me evoluiu!
Xeque-mate!
Filhote mais velho (com as brancas) indignado por levar um xeque-mate… Mas, ainda assim, está ficando cada vez melhor!
Jean
E lá se vão OITO anos…
Hoje.
Dia de festa.
E esse lambeta dessa antiga foto continua com o mesmo “sorriso quadradinho” de sempre…
Ponto de vista
– Sabia que seu filhote do meio tá lá com seu celular?
– E?…
– E sabia que ele já fez vinte e sete mil pontos naquele joguinho da bolinha?
– Hmm? É? Nada mau. Mas ainda muito longe dos SESSENTA E SETE MIL que eu fiz!
– Kodomô! Você não tem vergonha de ficar disputando com as crianças, não?
– Nenhuminha, desde que EU esteja ganhando…
O estímulo correto
EI!!!
Quando eu falo em “estímulo” não é nada disso que vocês estão pensando, não! Já disse por mais de uma vez que este aqui é um blog de família. Bem, quase.
Depois eu penso numa penitência pra vocês…
O negócio é que no jantar de ontem a Dona Patroa atacou com sua famosa (e altamente gaseificante) salada de beterraba. Simples e fácil de fazer – não requer prática e tampouco habilidade. Beterraba (dãããã…) e ovo, ambos cozidos, mais rodelas de cebola crua. Um tiquinho de maionese pra dar liga e sei lá mais quais ameaças de tempero pra completar. Muito saborosa. A salada, gente. Tá. Também.
Mas, então.
Ao final do jantar, cada qual acabando com seu cada seu, levanta-se o filhote do meio, que, praticamente, apenas “respirou” um pouco da comida, o filhote mais velho, nesse período de estirão também conhecido como “a draga”, a própria Dona Patroa e meu sogro, o honorável senhor Miyagi-san.
Ficamos eu e o caçula, com seus sete (quaji oitchu) profícuos aninhos.
Eu já tinha terminado e ele ajuntava os últimos grãozinhos de arroz com o garfo. A única fatia de beterraba que foi servida junto com sua refeição (sob veementes protestos) jazia solitária no ponto mais distante da galáxia de seu prato. Ele, meio que já aguardando o que lhe esperava, olha pra mim por sobre os óculos e com aquela carinha meio de receio, meio de quem tá tateando, pergunta:
– Que foi?…
– Olha, Jean. Nós dois sabemos que nós dois só sairemos desta mesa quando nós dois acabarmos TODA nossa refeição. Eu já acabei a minha. Você ainda está aí sem sequer puxar prosa com sua beterraba. E nem adianta me dizer que já está satisfeito. Deixa eu contar o que vai acontecer: eu só vou me levantar quando você tiver mastigado, engolido e comido ela todinha, mas você vai ficar enrolando e não vai comer, minha perna vai começar a doer (por causa da cirurgia) e eu vou ficar irritado, você vai ficar chateado porque eu estarei irritado, eu vou perder a paciência e vou acabar te colocando de castigo por você não comer a bendita beterraba, e, no final das contas, nós dois ficaremos tristes – você por causa do castigo e eu por ter perdido a paciência com você. Então que tal a gente pular todo esse imbróglio, você come logo essa beterraba e a gente resolve isso duma vez, hein?
– …
E é LÓGICO que ele ficou enrolando, empurrando a beterraba pra lá e pra cá. E é lógico que o pavio da minha paciência foi se extinguindo rapidinho (até porque ele tem a velocidade de queima daqueles pavios usados pelo Coyote quando tenta pegar o Papa-Léguas). E é lógico que minha perna, de fato, começou a doer.
– JEAN!!!
Pareceu que uma descarga elétrica desceu pelo corpo do petiz.
– Vê se pára de enrolar e come logo isso! Será possível?
Então ele começou, literalmente, a roer a beterraba cozida. Conhecendo-o como conheço, percebi de cara sua estratégia: se eu desse nova bronca ele diria que estava comendo, só que devagar; eu ficaria esperando mais um tempo, acabaria perdendo a paciência, sairia da mesa e, de quebra, não poderia lhe aplicar nenhum castigo, pois ele estava fazendo a parte dele; comigo fora do campo de visão bastaria se livrar do incômodo pedaço de beterraba. Perfeito! Um verdadeiro Moriarty das sobras do prato.
No tom mais calmo que consegui imprimir à minha voz, resolvi:
– Jean. Mudança de regras. O senhor tem UM MINUTO para comer esse minúsculo pedaço de beterraba. Se você não tiver mastigado, engolido e comido ela todinha antes desse minuto acabar, você ficará, vejamos, até a próxima segunda-feira sem sequer chegar perto de qualquer tipo de jogo, seja no computador ou na televisão, certo? Bem, vamos lá: cinquenta e cinco… cinquenta… quarenta e cinco…
Com a contagem regressiva em andamento e aparentemente derrotado em sua estratégia, ele puxou a tigela de feijão jogou um pouco do caldinho sobre a beterraba, olhou para o relógio e levou-a à boca numa única garfada, mastigando vigorosamente e engolindo duma vez só aquele verdadeiro pomo da discórdia.
Isso em cinquenta e cinco segundos cravados.
Ah… Nada como o estímulo correto, não é mesmo?