E não, não é do joelho…
😉
E não, não é do joelho…
😉
Gostei.
Roubartilhei daqui.
– O futuro? O futuro é dos jovens! – disse o apresentador de televisão
Ao ouvir isso, o velho ao meu lado sorriu com amargura.
– Que besteira – ele disse.
– O futuro não é dos jovens, velho? – perguntei para ele.
– O futuro não é dado pra ninguém, ele é conquistado. E esses idiotas da televisão ficam dizendo que o futuro será dado numa bandeja de prata para os jovens. E os jovens, que estão acostumados a comer, beber e a respirar mentiras, acreditam. Isso é um crime.
– O senhor está errado, o futuro é dos jovens. Tenho certeza disso.
– Ah é? Que futuro tem alguém com uma péssima educação, que não tem saneamento básico, e cuja alma está embrutecida? Sem chance, essa pessoa não possui o futuro, é o futuro que a possui. O futuro chupará seu sangue, depois a mastigará, quebrará todos os os seus ossos, chupará a medula deles e então a cuspirá de uma vez só. Essa é que é a verdade.
– O senhor esta errado, o futuro é dos jovens.
– Não, não é. O futuro está sendo roubado dos jovens, essa é que é a verdade. Roubado por gente que sabe como a máquina funciona. Geração após geração essas pessoas roubam o futuro dos jovens, mas ninguém tem coragem de falar nisso. E sabe por quê? Porque tem sempre um imbecil na televisão dizendo que a juventude é o máximo, mesmo que ela seja aviltada dia após dia. O simples fato de ser jovem já implica em um mérito, é a lavagem cerebral que esses idiotas da televisão fazem na cabeça da juventude todos os dias.
– O senhor esta errado, ser jovem é o máximo!
– Talvez até seja, sei lá. Mas por si só não é mérito nenhum.
– O senhor está errado. O senhor vai ver. Nós vamos mudar esse País.
– Eu não vou ver nada, seu pentelho. Até lá já estarei morto. Mas vou lhe dizer porque você e todos esses seus amiguinhos, que acham que a juventude é um mérito por si só, não vão mudar porra nenhuma.
Ele faz uma pausa.
– Uma máquina de moer carne não produz bifes, ela os destrói. Transforma tudo em picadinho. Você e o seus amiguinhos cabeça de vento querem fazer filé com uma máquina de moer carne. Não tem como, não dá. Coloca isso nessa sua cabeça dura, seu merdinha.
– Se é assim, seu velho gagá, o que é que a gente faz? Chora? – perguntei com doses cavalares de ironia em minha voz.
– Joga a porra dessa máquina fora. Joga no rio, põe fogo, manda pro espaço, sei lá, manda pro inferno.
Passam-se alguns segundos.
– Mas por que o senhor não fez isso quando era jovem, hein, senhor sabe tudo?
– Na sua idade, eu e os outros jovens estávamos construindo a máquina. A gente não sabia o que tava construindo. Os mais velhos diziam que era necessário construir a máquina porque ela iria nos salvar.
– Salvar do quê? – perguntei sem entender.
– Não sei, não lembro mais. Era tanta mentira… Os mais velhos ficavam insistindo que a gente tinha que construir a máquina porque tudo seria melhor com ela. Bando de miseráveis. Eles só esqueceram de dizer que as peças dessa máquina eram feitas dos nossos sonhos, das nossas esperanças, do nosso futuro, da nossa felicidade.
Dessa vez sou eu que faço uma pausa. O velho fala com tanta certeza que minha vontade de retrucar desaparece.
– A primeira coisa que vocês têm que fazer é parar de alimentar a máquina. Sem combustível ela para.
– Como? – perguntei.
– Parem de acreditar nas mentiras. É o primeiro passo.
– E depois?
– Daí vocês desmontam ela. Você vai ver, sem a máquina, vai sobrar tempo pra tudo, inclusive pra ser feliz.
Olho para o velho, pego o controle remoto, e desligo a televisão.
O velho olha para mim e sorri um sorriso menos amargo.
– E agora, velho? Que que eu faço?
– Sai daqui e vai fazer o que você nasceu pra fazer.
– O quê?
– Desmontar a porra dessa máquina.
Então.
Na minha eterna busca pela luz no fim do túnel (e que não seja um trem na contra mão…) eis que me deparo com mensagens lindíssimas, mesclando texto com imagens…
Legal.
Muito legal.
Mas…
Será só isso? Será que é mesmo isso? Não querendo parecer “melhor, impossível” pergunto aos meus cabisbrunhos botões: será? Nesse imediatista mundo facebookiano, em que ilações viram verdades absolutas, onde cada vez mais menos se avalia e mais ainda se julga, onde é que foi parar o gosto pela brincadeira? O regozijo pela felicidade alheia? A alegria pelo trocadalho do carilho? Quero leveza, sim, e, ainda, “quero ter um milhão de amigos para bem mais forte poder cantar”…
E meu canto será de alguém com esperança e tranquilidade. De quem está cansado do cinza da opinião alheia e que procura quem consiga ainda ver a beleza de um arco-íris, a cor no nome das pessoas e o cheiro das lembranças. De quem possa olhar pra frente e dizer nos meus olhos “vem, me acompanha, que te sigo” – e juntos possamos desbravar os locais por onde já passamos e chegar no conhecido lugar em que jamais estivemos. E que nessa viagem dentro da viagem deixemos de lado todo esse mundo vil, pequeno e mesquinho, virtualmente centrado nos próprios umbigos dos eternamente insatisfeitos mal amados que procuram afirmação, simplesmente curtindo e compartilhando a alegria de con-viver.
Simples assim…
Roberto Carlos – Eu quero apenas
Sim, isso é Roberto Carlos. E, sim, a letra é MUITO bonita…
Através do Rubem Alves fiquei sabendo que Cortázar tem um conto delicioso em que descreve a história das invenções. De forma resumida, segundo ele, é mais ou menos assim:
Os homens são notáveis em sua engenhosidade para inventar coisas que tornem sua vida mais confortável. Inventaram os maravilhosos aviões supersônicos, que cruzam o oceano em três horas a uma altura de doze quilômetros.
Mas logo se deram conta de que poderiam aperfeiçoar este engenho fabuloso. Perceberam que é coisa muito boa ficar no avião por bastante tempo, longe dos telefones e dos incômodos do trabalho. Ponderaram, também, que um dos prazeres da viagem é ver as paisagens desta terra tão bonita.
Assim, inventaram os aviões subsônicos, que voam a somente oitocentos quilômetros por hora e a uma altitude mais baixa. O prazer foi tamanho que concluíram que seria muito melhor viajar mais devagar e a uma altitude menor ainda. Inventaram então os aviões a hélice. Foi então que viram a beleza da terra e a beleza do mar. E seu engenho inventivo avançou ainda mais. Inventaram maravilhosos transatlânticos e automóveis. Ah, que gostoso singrar os mares, vagarosamente, bem perto do mar azul. Mas logo se deram conta das desvantagens de tais navios, que gastavam muito combustível, o que tornava as viagens muito caras. Inventaram então outra maravilha: os navios a vela. Combustível gratuito, pra todo mundo. Nenhuma dependência do petróleo dos árabes. Nos transportes terrestres, um avanço semelhante aconteceu com a descoberta da bicicleta que, além de ser prática, barata e só depender das pernas, tinha a vantagem de fazer muito bem para a saúde. Mas os progressos não pararam aí. O vento tem enormes vantagens, e desvantagens também. Pois não é sempre que ele vem. E quando ele pára os navios a vela ficam parados também. Descobriram, então, que este inconveniente podia ser facilmente resolvido. E inventaram os barcos a remo. Consta que, no campo dos transportes terrestres, os homens estão a ponto de fazer o maior de todos os avanços. Pois suspeita-se de que é possível andar a pé. Quando esta invenção maravilhosa acontecer, estaremos todos, então, para sempre, livres do trambolho dos meios de transportes, seus atrasos, custos e acidentes.
No mistério do Sem-Fim equilibra-se um planeta.
No planeta, um jardim.
No jardim, um canteiro.
E no canteiro, o dia inteiro
Entre o mistério do Sem-Fim e o planeta
A asa de uma borboleta…
Cecília Meireles
(citada por Rubem Alves)
E essa minha compulsão por escrever?
A quantas anda?
Ao que parece, meio que bloqueada…
Não, não sei dizer o porquê. O mundo tem se apresentado tão cinza ultimamente (não, não em “cinquenta tons”, ok?) que me foge aquela verdadeira pitada de humor, aquela tirada divertida, aquela construção de palavras, o trocadilho, a brincadeira, o olhar, enfim.
Excesso de trabalho? Mau humor congênere? Desencanto com pessoas? Com situações? Tudo isso, talvez. Nada disso, provavelmente.
A fagulha me escapa. Aquela mesma fagulha que, de pequenina centelha, vai tomando corpo, crescendo, me abordando, me preenchendo e me levando a transformar em palavras meus sentimentos, minhas experiências, meus pontos de vista. Fraca. Apagada. Quase que inexistente. Praticamente inofensiva.
Este meu desencanto atribuído a sei lá o quê é que me desencanta. E olha que temos assunto, hein? Basta abrir o jornal – e basta ser o local. Há muito, muito tempo não tenho mais escrito por aqui. Não de verdade. Pequenos gracejos, uma foto interessante, uma imagem curiosa. Uma tuitada de momento. Uma instagrada de socorro. Frases desconexas com algum fundo moral ou pessoal tirada daquelas apresentações de Powerpoint que acabaram por se transformar na essência das mensagens do Facebook. E só. Acho que só. Tão só. Somente só.
O peso da idade – quatro-ponto-cinco chegando – também não ajuda em nada, a não ser na rabugice.
E se você chegou até aqui sem ímpetos de se suicidar, parabéns!
Então já é hora de chacoalhar a cachola e começar de novo.
Porque o Ano Novo nem chegou ainda (afinal ainda não passamos do Carnaval) e a primeira tá difícil de engatar, rateando, rateando, rateando, estourando, pipocando e não engrenando.
Mais uma vez, derradeira repetitiva vez, vamos arregaçar as mangas e tomar rédeas da situação em vez de lamuriar pelos cantos. Foco. Força. Fé. Se bem que cerveja, cigarro e cachaça também ajudam de quando em quando…
Enfim, caríssimos e caríssimas, já tô meio cansado de não expor minhas sempre inúteis não tão úteis palavras e pensamentos por aqui. Vamos retomar o fio da meada, fazendo o que faço de melhor: dizendo o que não deveria ser dito de modo a deixar claro que o que foi dito não disse exatamente o que deveria dizer, mas sim, se o dissesse, a dita cuja daquilo que não foi dito em forma do simples dizer teria por si só dito tudo. E nada mais há a ser dito.
E esta é a prova inequívoca de que um texto, sem dizer absolutamente nada, pode ainda dizer alguma coisa.
Ou não.
Enfim, bem-vindo de volta eu mesmo!
😉