Categoria: Martelando o Teclado
“O Menestrel”
Recebi por e-mail esse texto de autor desconhecido – sim: desconhecido – que costuma ser atribuído a Shakespeare (que jamais escreveria algo assim, pois seu estilo literário narrativo é totalmente diferente deste, dissertativo). Entretanto essa “falta de autoria” não diminui a beleza do texto – nem mesmo o fato de que tenha sido baseado no poema After a while, de Veronica A. Shoffstall (reproduzido ao final).
Enfim, leiam.
Pois em cada linha é possível encontrar uma surpresa. Uma identidade. Um reconhecimento…
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se.
E que companhia nem sempre significa segurança.
Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam…
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa – ou nada – e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa… Por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… Mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… E que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens…
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso!
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém…
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar… Que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
After a while
After a while you learn the subtle difference between holding a hand and chaining a soul,
And you learn that love doesn mean learning and company doesn mean security,
And you begin to learn that kisses aren contracts and presents aren promises,
And you begin to accept your defeat with your head up and you eyes open, with the grace of an adult, not the grief of a child,
And you learn to build all you roads on today because tomorrow ground is too uncertain for plans.
After a while you learn that even sunshine burns if you get too much.
So you plant your own garden and decorate your own soul, instead of waiting for someone else to bring you flowers.
And you learn that you really can endure…
That you really are strong,
And you really do have worth.Veronica A. Shoffstall
Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Hoje, vindo para o trabalho, como a Viatura estava (pra variar) no latoeiro fazendo uns ajustes, seguia eu próximo de casa – a pé – rumo a uma feérica carona, quando notei algo que jamais havia percebido ao passar diariamente de carro pelo mesmo local. Uma roseira. Com rosas rosas. Numa modesta casinha com ar antigo. Daquelas com cacos formando desenhos no piso da varanda.
Mundo mágico esse nosso real que, além das redes, tem o condão de nos transportar para o virtual. E no curto caminho que me restava veio à mente um sem número de imagens, de casinhas tais quais aquela, que exalavam nostalgia, com gosto de avó, de mãe, de infância, de algo perdido que parece não querer mais ser encontrado. A própria casa dos meus pais, com seu alpendre de caquinhos vermelhos, também eles formando desenhos, como as faixas pretas e as flores amarelas de pétalas negras. As três colunas – uma de cada cor – que ainda hoje adornam as muretas internas, refúgio de uma criança hiperativa que brincava sozinha em casa, inventando estripulias e traquinagens. As paredes grossas – tanto quanto a porta da sala, com sua tradicional janelinha (ainda não existia olho mágico), sua fechadura de punho e lingueta pra abrir. O longo corredor com o comprido carpete ótimo para se escorregar. As janelas de duas folhas que dobravam, com venezianas de madeira e vidros guilhotina. O forro de madeira, assim como os tacos e os rodapés – tudo sempre bem envernizado. O jardim quadrado todo gramado (ah, o cheiro da grama cortada que me inunda a memória!), a gigantesca torre da antena, o pé de erva cidreira num cantinho e, bem no meio, imponente e majestosa, triunfava A Roseira – com suas rosas brancas e rosas.
Grandes e suavemente perfumadas rosas com delicadas e macias pétalas, encimando um portentoso caule espinhoso – que pela espessura fazia denotar a sua própria antiguidade. Rosas tão frondosas e em tal quantidade que preenchiam todo o derredor com seu sempre suave perfume…
E todas essas lembranças me vieram com tanta fartura e velocidade, preenchendo de tal maneira os cantinhos vagos do coração com um nostálgico carinho, que, trôpego, momentaneamente esqueci-me onde estava, quem era, pra onde ia…
Mas o mundo real cobra seu preço e num átimo do segundo seguinte eu já seguia meu caminho.
E passei a pensar um pouco nas casas de hoje, essas de subúrbio, verdadeiras caixas de fósforo com arquitetônicas preocupações com um mítico coeficiente de preenchimento absoluto de todos os espaços possíveis de forma aproveitável. Casas sem corredores, com fórmulas matemágicas de ocupação diretamente proporcionais à quantidade de pessoas que ali vivem. A varanda é a garagem, o jardim é a passagem, o quintal é a lavanderia. O ornamental deu lugar ao prático. O ambiente amplo importa em desperdício. Um jardim, um quintal, uma árvore, um gramado não significam outra coisa senão a necessidade de dedicar atenção e cuidados que não encontram espaço em nossa atribulada agenda diuturna. Melhor o concreto, a impermeabilização, o piso que não dá trabalho.
E percebo o quão realmente distante estamos da qualidade de vida que nós, seres humanos hodiernamente práticos e modernos, teimamos em dizer que procuramos.
As coisas – como sempre – são mais simples do que pensamos. Ou achamos. Ou queremos.
A bem da verdade, simples como rosas.
Como as da roseira que lhes falei.
Cujas pétalas foram carregadas pelo vento da memória.
E é onde carinhosamente permanecem.
A roseira.
As rosas.
O perfume.
Rosa.
Time Tested Beauty Tips
Gostei muito desse texto.
Estas preciosas dicas do que é necessário para que as mulheres possam se tornar ainda mais lindas foram escritas por Sam Levenson, mas usualmente acabam sendo atribuídas a Audrey Hepburn, pois ela gostava de repeti-las para seus netos… Preferi mantê-las no original em função da simultânea leveza e força das palavras. Caso não tenham intimidade com a bretã língua (na realidade nem eu tenho lá muita), podem encontrá-las buscando pelo texto com o título traduzido de “Segredos de beleza de uma mulher”. Só que essas traduções pecam pela falta de fidelidade…
Aliás, falando nisso, para mim um de seus melhores trechos (agora numa livre tradução deste que vos tecla) é o seguinte: “A beleza de uma mulher não está em seu rostinho bonito, mas a verdadeira beleza em uma mulher está refletida na sua alma.”
Verdade verdadeiramente verdadeiríssima!
Time Tested Beauty Tips
For attractive lips, speak words of kindness.
For lovely eyes, seek out the good in people.
For a slim figure, share your food with the hungry.
For beautiful hair, let a child run his or her fingers through it once a day.
For poise, walk with the knowledge you’ll never walk alone.
People, even more than things, have to be restored, renewed, revived, reclaimed, and redeemed; Never throw out anybody.
Remember, If you ever need a helping hand, you’ll find one at the end of your arm.
As you grow older, you will discover that you have two hands, one for helping yourself, the other for helping others.
The beauty of a woman is not in the clothes she wears, the figure that she carries, or the way she combs her hair. The beauty of a woman must be seen from in her eyes, because that is the doorway to her heart, the place where love resides.
The beauty of a woman is not in a facial mole, but true beauty in a woman is reflected in her soul. It is the caring that she lovingly gives, the passion that she shows, and the beauty of a woman with passing years only grows!
Regras para escrever bem, por Mark Twain
Recortei-e-colei daqui. Os motivos estão lá…
1. Uma história deve realizar algo e chegar em algum lugar.
2. Os episódios de uma história devem ser partes necessárias dessa trama, e devem ajudar a desenvolvê-la.
3. Os personagens de uma história têm que estar vivos, exceto no caso em que sejam cadáveres. Nesse caso, o leitor precisa conseguir dizer a diferença entre os cadáveres e os vivos.
4. Os personagens de uma história, mortos ou vivos, devem ter uma boa desculpa para estarem ali.
5. Quando os personagens de uma história iniciam uma conversa, os diálogos devem soar como algo que seria dito por um ser humano naquelas circunstâncias, e ter um significado e um objetivo que possam ser descobertos, além de exibir relevância e se manter na vizinhança do assunto em questão. Tudo que for dito deve ser interessante para o leitor, ajudar a história, e parar quando as pessoas não tiverem mais nada pra dizer.
6. Quando o autor descreve a personalidade de um personagem em uma história, a conduta e os diálogos daquele personagem devem justificar tal descrição.
7. Quando um personagem fala como uma pessoa culta, educada, fina no início de um parágrafo, não deve falar como um menestrel negro (nota: personagens típicos do teatro popular dos meados dos anos 1800).
8. O leitor deve ser poupado de situações e personagens grosseiramente estúpidos com a desculpa do “ofício do marceneiro, a delicada arte da floresta” vindo do autor ou muito menos dos personagens da história.
9. O personagem de uma história deve ser confinado às possibilidades e deixar os milagres de lado; ou, no caso de serem beneficiados por um milagre, o autor deve tentar, de uma forma plausível, fazer as coisas parecerem possíveis e razoáveis.
10. O autor deve fazer o leitor sentir um interesse profundo pelos personagens de sua história. E também pelo destino que eles terão. O leitor deve amar as pessoas boas e odiar as ruins.
11. Os personagens devem ser tão claramente definidos que o leitor seria capaz de dizer antecipadamente o que cada um fará em uma emergência.
12. Diga o que ele se propõe a dizer, não chegue apenas perto.
13. Use a palavra certa, em vez de seu primo em segundo grau.
14. Fique longe dos excessos.
15. Não omita detalhes necessários.
16. Evite bagunçar a forma do texto.
17. Faça uso da gramática correta.
18. Tenha um estilo simples e direto.
Casa arrumada
Casa arrumada é assim: Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos… Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.
Alone in the darkness
E então você chega em casa.
Silêncio.
Para minimizar o efeito você se concentra nas tarefas triviais. Limpeza da casa. Roupas no varal. Correspondência sob a porta. Coisas do cotidiano.
Mas, ainda assim…
Silêncio.
Checa seus e-mails, atualiza seu blog, publica no Twitter, passeia pelo Facebook.
Enquanto isso…
Silêncio.
Toma um banho, rememora o dia, resguarda quem queria ver, releva quem não pretendia, planeja o amanhã, imagina o depois, mas…
Silêncio.
E seu coração começa a ficar apertado (somente compreende plenamente essa expressão quem já por ela passou).
Come o último pão integral, repassa mentalmente uma lista de compras que sabe que vai esquecer e flerta por alguns momentos com uma garrafa de vinho ainda fechada que sedutoramente te encara da cristaleira.
Mas o vinho, ao contrário dos solitários destilados, é uma bebida para ser verdadeiramente apreciada, no mínimo, a dois.
Que fique, pois, a garrafa quieta em seu canto, sossegada em seu mais absoluto…
Silêncio.
Recosta-se na cama, arruma o travesseiro, cobre-se, puxa um dos vários livros para mais uma vez continuar alguma das várias leituras.
Mas depois de duas, três, quatro páginas percebe que sequer tem idéia do que está lendo. Seu corpo está presente, mas sua mente não. Deixa o marcador na mesma posição de quando pegou o livro, apaga a luz, aninha-se e fecha os olhos.
E escuta.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Muito silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que se expande, que cobre, que envolve, se espalha e faz tremer as paredes.
Um aterrador silêncio.
Ainda que busque consolo nas memórias do dia, nas risadas compartilhadas, nas tarefas executadas, nas pessoas encontradas – ou, ainda mais distante, nas memórias recentes, na companhia dos amigos, nas viagens realizadas, na bagunça dos filhotes, nos lábios da amada, enfim, nos ruídos, nas percepções, nas experiências que poderiam preencher sua alma… Ainda assim ele se faz avassaladoramente presente.
Silêncio.
E a noite se estende e é cedo o suficiente para saber quão longa ela será. E nessa, em especial, na qual as famílias já se recolheram, os operários já se foram e as baladas acolhem seus devotos, mais uma vez é a solidão que em meio ao escuro do quarto se aproxima, se entremeia nas cobertas, te envolve nos frios braços e sussura em seus ouvidos.
Silêncio.
E você – pela bilionésima vez – se questiona acerca de seus caminhos, suas decisões, suas escolhas. As conversas que já teve, as que não teve, as que gostaria de ter, as que esperava ter, as que não terá.
E, animal social que é, percebe o quanto lhe faz falta o carinho, o aconchego, o sorriso, o abraço, o entrelaço de pernas, a pele na pele, a confiança largada, a segura companhia, a estável presença, o suave murmúrio das crianças na madrugada, o calor de realmente querer bem e de ser verdadeiramente correspondido, a simples e tenra ternura de sentir serenamente preenchido o coração. Sem efusão. Sem sofrimento. Doce acalento.
Mas não é esse o seu caminho.
Não hoje.
Não agora.
Resta, então, o abraço da solidão.
A noite que se distende.
E, obviamente.
Silêncio.