Categoria: Martelando o Teclado
Poesia
Gastei uma hora pensando num verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Carlos Drummond de Andrade
(Alguma Poesia, 1930)
Nota: sei exatamente o que ele quer dizer! Muitas vezes tenho meus textos martelando em minha cabeça e implorando para sair, mas… simplesmente não flui…
Desejos
Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
Pensamentos
Pensamentos são como pássaros que vêm quando querem e pousam em nosso ombro. Não, eles não vêm quando os chamamos. Vêm quando desejam vir. E se não os registramos, voam para nunca mais. Isso acontece com todo mundo. Só que as pessoas, achando que a literatura se faz com pássaros grandes e extraordinários, tucanos e pavões, não ligam para as curruíras e tico-ticos… Mas é precisamente com curruíras e tico-ticos que a vida é feita.
Rubem Alves
Quarto de Badulaques
Mais Roseanices
E essa minha criançada não cansa de me surpreender…
Desta vez novamente foi o Jean, tal e qual a anterior.
Ontem à noite, meio que perdido em meus pensamentos enquanto a chuva fina e insistente despencava fora da área, estava lá eu empurrando o balanço e conversando com esse pequenino senhor que, do alto dos seus seis anos de idade, me contava como foi seu dia, suas opiniões, relatos e conclusões. No meio disso tudo, me veio com essa:
– Sabe, tem aquele brinquedo que você nos deu – que é um igualzinho ao outro? Então, o Kevin quebrou o dele. O meu não, o meu tá guardadinho. Mas o dele só quebrou porque ele deixou num lugar descuidadoso!
Reinventando a Gramática
Emília que se cuide!
Essa veio do Rubem Alves, do livro Quarto de Badulaques:
A menina, baseada em sólidos argumentos linguísticos, discordava: Não, o nome não pode ser “canteiro”. Canteiro é um lugar de canto. Um lugar onde crescem as plantas deve ser “planteiro”.
Solidão
Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo…
isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar…
isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos…
isto é equilíbrio.
Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida…
isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado…
isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto…
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!