Quintana de hoje

Saguão do Hotel Presidente, na Avenida Salgado Filho, um dos tantos endereços do poeta. O dono do hotel encontra Mario com as mãos no bolso do paletó, parado daquele seu jeito, olhando sem olhar, à espera de nada. E resolve interferir com uma brincadeira.

– Seu Mario, me disseram que o senhor vive dando em cima das moças que se hospedam no hotel…

Foi o que bastou para animar-se o velho sorriso ao mesmo tempo malicioso e ingênuo, quase adolescente:

– Olha, Pedrinho, não é verdade. Mas pode espalhar.

Do livro Ora Bolas – O humor de Mario Quintanta, de Juarez Fonseca.

O Caso dos Exploradores de Cavernas

Sempre acho incrível como alguns autores têm o poder não só da síntese em seus textos, como, às vezes, são quase premonitórios em suas idéias e concepções.

Como estou de molho por estes dias, resolvi aproveitar para tentar colocar parte da leitura em dia – tanto com a leitura de livros novos como com a releitura de livros antigos.

Esse livro em particular, “O Caso dos Exploradores de Cavernas”, eu li quando do primeiro ano de faculdade. Trata do julgamento fictício ocorrido no ano de 4.300 (chegaremos até lá?) envolvendo o caso de espeleólogos que ficaram presos numa caverna e, até que conseguissem tirá-los de lá, acabaram – mediante um acordo – por cometer antropofagia para sobreviver. Foram condenados em primeira instância e o livro traz os votos dos cinco ministros da Suprema Corte, cada qual exibindo suas teorias acerca da manutenção ou não da sentença original.

Estoriazinha interessante que nos fez aprender, mesmo sem precisar ter qualquer tipo de embasamento jurídico, as várias correntes doutrinárias existentes no direito.

Mas o que me chamou a atenção no meio do conto é que seu autor, Lon L. Fuller, já por volta de 1949 (ano de sua primeira edição), fazia uma crítica severa à chamada “autonomia dos poderes” – Executivo, Legislativo e Judiciário – fazendo referência tanto à falsa representatividade de um quanto à intromissão de outro na competência alheia.

Fictício, não totalmente técnico mas extremamente atual, segue tanto o trecho em questão quanto mais um outro, que repisa o óbvio:

Existiu um período neste Commonwealth quando os juízes realmente legislavam livremente, e todos nós sabemos que durante aquele período alguns de nossos estatutos eram integralmente feitos pelo judiciário. Era esse o tempo em que princípios aceitos de ciência política não eram designados em nenhuma ordem hierárquica ou função nos vários braços do estado. Nós sabemos da trágica questão de uma incerteza de uma curta guerra civil que levantou os conflitos entre o judiciário de um lado e o executivo e legislativo de outro. Não há necessidade de se relembrar aqui os fatores que contribuíram para que uma singular luta pelo poder, mesmo quando incluímos o caráter não representativo da Câmara, resultante de uma divisão do país em distritos eleitorais, que não mais estão de acordo com a atual distribuição da população, e a personalidade forte e sua grande popularidade que sucedia o então presidente do Tribunal.

(…)

De todos os ramos do governo, o judiciário é o mais propenso a perder o contato com o homem comum. As razões para isso são, naturalmente bastante óbvias. Onde as massas reagem a uma situação em termos de poucas saliências visíveis, nós pegamos cada um dos pequenos pedaços da situação apresentada. Advogados são contratados por ambos os lados para analisar e dissecar tais fatos. Juízes e advogados competem entre eles para ver quem descobre o maior número de dificuldades e distinções em um único fato. Cada lado tenta achar casos, reais ou imaginários, que poderiam complicar as explicações do outro lado. Para escapar de tal constrangimento, ainda mais distinções são inventadas e importadas para a situação sendo apreciada. Quando um conjunto de fatos foi sujeito a esse tipo de tratamento por um tempo razoável, toda a vida e vitalidade perdeu-se, e nós terminamos por ter como resultado somente pó.

Crepúsculo

Ou, se preferirem no original, Twilight.

Já li o livro (obrigado, Priscila!). Em seguida assisti o filme.

Bem, quanto ao livro devo confessar que não entendo o porquê de ser um “sucesso absoluto de vendas”. Tá, é razoavelmente bom. Consegue até criar um clima – um certo misteriozinho – mas não passa disso. Creio que verdadeiramente seu ponto mais forte talvez sejam os diálogos tensos entre os protagonistas. Em algumas passagens – pasmem! – chega quase a lembrar On the road, de Jack Kerouac.

E é só.

Isso porque não teve o condão de explicar todas as sutilezas que pairavam no ar nem tampouco deixou “pontas soltas” a serem desvendadas futuramente.

Mas confesso que foi um bom divertimento. Bem, pelo menos um ponto de vista diferente a respeito do tema.

Já, quanto ao filme, é claro que houve a “mutilação padrão” que ocorre sempre que tentam transpor uma estória para a telinha. Tudo acontece rápido demais, direto demais, sem todas as nuances que estão presentes no livro. Um bom show de imagens em alguns momentos, mas também é só. O mocinho parece um pugilista de nariz quebrado e a mocinha uma adolescente à beira de um ataque de nervos.

Mas sejamos condescendentes ao menos em um ponto.

No livro eu já havia gostado mais da personagem chamada Alice.

No filme também.

E uma salva de palmas para Ashley Green – ela não é mesmo uma gracinha?…

Quintana de hoje

Depois de ter feito na Clínica Pinel o tratamento contra o alcoolismo, no início dos anos 50, Mario nunca mais bebeu. Certa vez, lembrando os velhos tempos, disse que na verdade não bebia, havia tomado apenas um porre. E que este porre durara 25 anos.

Durante o tal porre, numa manhã Nelson Boeira Faedrich se dirigia à redação da Revista do Globo quando viu o amigo entornando o copo num bar da Rua da Praia. Acercou-se e, cuidando para que não parecesse censura, em tom protetor:

– Mario! Já bebendo?

– Já não, ainda.

Do livro Ora Bolas – O humor de Mario Quintanta, de Juarez Fonseca.

Quintana de hoje

O pintor Waldeny Elias atende à campainha de seu ateliê na Rua General Vitorino e lá está Mario Quintana. Viera agradecer pelo presente, uma “pintura de bolso”, de 6cm x 4cm. Levava-a, contou com um sorriso português, “na algibeira do fato domingueiro”. Retribuiu presenteando o velho amigo, a quem chamava de Pinta-Mundos, com o recém-lançado livro Do Caderno H.

Na dedicatória, justificou por que não havia aceito um quadro grande que o pintor lhe oferecera.

–    Elias, me desculpe e acredite.    Eu não tenho paredes.    Só tenho horizontes…

Do livro Ora Bolas – O humor de Mario Quintanta, de Juarez Fonseca.

Avisos Paroquiais

Avisos Paroquiais* são avisos fixados nas portas de igrejas, todos eles reais, escritos com muito boa vontade e má redação.

AVISO AOS PAROQUIANOS

– Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.

– Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do pároco.

– Interessados em participar do grupo de planejamento familiar, entrem pela porta de trás.

– Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.

– Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos!

– Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas. Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus.

– O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.

– O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia.

– O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!

– O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida.

– Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.

* Enviado por e-mail pela amiga Nydia

O mundo é mesmo chato

E acaba de ficar um pouco mais…

Não é que o Mestre Idelber resolveu tirar umas longas férias?

É verdade sim! Tá bem aqui, ó.

Apesar do tom cataclísmico de seu post, creio que ele volta.

Cedo ou tarde.

Mas volta.

Aliás, tem que voltar!

Até porque eu não tuíto, não leio a Revista Fórum e decidi prender-me na crença de suas palavras de que, na verdade, não existe “ex-blogueiro”.

Ou seja, é só uma questão de tempo…

Mesmo assim (nesse meio tempo), desejo-lhe muita boa sorte nas empreitadas acadêmicas e livrísticas!