E, em tempos de Jump Festival, nada como um videozinho com uma corrida pra lá de radical!
Foi lá em Valparaiso, Chile. Recortei e colei daqui.
Confiram!
E, em tempos de Jump Festival, nada como um videozinho com uma corrida pra lá de radical!
Foi lá em Valparaiso, Chile. Recortei e colei daqui.
Confiram!
(Põe lá uma gravata e vê se também não acha que está quente demais!)
FREI BETTO
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:
– “Qual dos dois modelos produz felicidade?”
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:
– “Não foi à aula?”
Ela respondeu: – “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei:
– “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”.
– “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã…”
– “Que tanta coisa?”, perguntei.
– “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: – “Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!”
Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! – Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é “entretenimento”; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor… Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas…
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno… Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.
NOTA: Nestes tempos internetísticos fica cada vez mais difícil ter certeza da real autoria deste ou daquele texto. Até onde pude perceber (ainda que existam outras “versões”) este parece ser mesmo do Frei Betto. Caso alguém venha a descobrir que não é, me avise que eu corrijo os créditos…
MUITO interessante o site da WWF Brasil. Vale a pena mesmo surfar por lá (ainda não consegui ver tudo). E, ainda, sugiro que calculem sua “Pegada Ecológica”…
E o que raios vem a ser isso?
Tá lá a explicação completa, mas eis uma palhinha: “A Pegada Ecológica não é uma medida exata e sim uma estimativa. Ela nos mostra até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer, renovar seus recursos naturais e absorver os resíduos que geramos por muitos e muitos anos.”
Bem, eu calculei o tamanho do meu estrago. E sifudi! Acho que preciso repensar alguns comportamentos… Mas tem um detalhe: a “pegadinha” é que mesmo que se preencha o teste com dados para obter o tamanho da sua pegada ecológica com as melhores opções possíveis, ainda assim seriam necessárias “duas terras” para aguentar o ritmo. Ou seja, de qualquer modo o teste vai direcionar ao fracasso. Mas é um bom alerta…
Ainda assim taí o resultado:
Neste ritmo o planeta não vai aguentar!
Se cada pessoa no planeta adotasse o seu estilo de vida, seriam necessárias 3 TERRAS para suprir as necessidades da humanidade.
Que tal fazer uma reavaliação dos seus hábitos cotidianos hoje mesmo? dê uma olhada nas sugestões de como diminuir sua pegada e mobilizar mais pessoas!
Hoje pela manhã, num saboroso café com uma amiga espírita, ela me contou de sua experiência no final de semana quando conheceu uma técnica denominada “Constelação Familiar”. No singelo entendimento deste que vos tecla, parece tratar-se de uma espécie de união da técnica terapêutica de Hellinger com a doutrina espírita em si, numa busca de respostas através do acesso às energias conhecidas como “inconsciente coletivo familiar”.
O detalhamento com que descreveu como essa técnica funciona, a sincera intensidade de sua experiência e o “resultado” final, com a avaliação e as conclusões tanto de sua vida fática quanto espiritual são impressionantes!
É possível consultar um pouco mais sobre o tema aqui, aqui e, em especial, aqui.
Entretanto, para uma explicação técnica sobre a técnica (infelizmente sem o viés espírita), fiquemos com as palavras do psicoterapeuta Ernani Eduardo Trotta:
A Constelação Familiar é uma abordagem terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger a partir de muitos anos de observação de fenômenos que ocorriam em grupos terapêuticos que ele coordenava. A prática gerou a teoria, e não o inverso. O trabalho não se baseia em teorias psicológicas previamente estabelecidas. Trata-se de uma prática fenomenológica, e sua fundamentação é principalmente antropológica, filosófica e humanística.
A base conceitual desta abordagem pode ser resumida assim: Além do inconsciente individual (Freud) e do inconsciente coletivo (Jung) existe também segundo Hellinger, um inconsciente familiar compartilhado pelos membros de uma mesma família e que se transmite às gerações seguintes, e que é estruturado a partir de todos os acontecimentos que compõem a história da família (nascimentos, mortes, uniões, separações, rejeições e exclusões, sucessos, fracassos, padrões de conduta, etc…).
Este inconsciente familiar influencia de forma intensa alguns membros da família afetando significativamente suas vidas. Estes membros ficam de alguma forma identificados ou “emaranhados” a outros membros da família, freqüentemente de gerações anteriores, que foram ¨excluídos¨ ou que tiveram um percurso de vida sofrido ou um “destino” infeliz (a palavra destino tem um significado próprio na teoria de Hellinger, que não daria para explicar aqui em poucas palavras). Algumas vezes o membro emaranhado nem sequer tem conhecimento consciente do episódio de exclusão que ocorreu com os seus familiares. Porém ele capta estas informações do inconsciente familiar e retoma/revive o “destino” desta pessoa, ou tenta compensar ou fazer o que outro familiar “deveria” ter feito. Pode acontecer ainda que ao perceber que um dos pais está emaranhado e tenta repetir o destino de alguém, um filho decide inconscientemente tomar para si esta “missão reparadora” equivocada e, por exemplo, ele adoece ou fracassa ou deprime no lugar de seu pai ou mãe.
A observação empírica destes fenômenos permitiu que fossem descobertas algumas regras ou ordens naturais que regem o inconsciente familiar e que se forem restauradas garantem o bem estar e a harmonia dos membros da família. Exemplos de algumas destas ordens: o direito à pertinência (ver reconhecido o seu lugar naquele grupo), o resgate dos impulsos primários interrompidos, a força dos laços de sangue, a ordem de precedência entre as gerações, o direito a seguir as próprias escolhas , a reverência aos mortos, o equilíbrio entre o dar e o receber, e outros.
É um trabalho feito em grupo de cerca de 10 a 20 pessoas. Algumas delas estão no grupo para trabalhar questões suas fazendo sua própria constelação, outras estão para auxiliar o trabalho desempenhando papel de “representantes”. O terapeuta trabalha uma pessoa de cada vez. Esta pessoa (podemos chamá-la de paciente) expõe brevemente a questão que deseja trabalhar; não são necessários muitos detalhes o que facilita a preservação da intimidade. Então, o terapeuta sugere que ela escolha dentre os membros do grupo uma pessoa para representar a si própria e cada um dos personagens importantes de sua família ou da questão a ser trabalhada. Feito isso o paciente posiciona estes representantes no espaço terapêutico e senta-se para assistir o trabalho. Habitualmente, num determinado momento do trabalho, o terapeuta convida o paciente para ocupar o seu lugar, substituindo seu representante, e finalizando a constelação. Terminada a constelação faz-se silêncio e deixa-se que o trabalho atue sobre o inconsciente do paciente…
Quando alguém monta sua constelação, escolhendo e posicionando os representantes de si próprio e de cada membro da família, ele transmite aos representantes uma imagem espacial e energética do campo relacional existente entre estas pessoas. E os representantes podem sintonizar-se ou “canalizar” os sentimentos e impulsos de cada uma destas pessoas. Este fenômeno pode ser explicado pela teoria dos campos morfogenéticos formulada por Rupert Sheldrake em seu livro “Ressonância mórfica: a presença do passado”.
Esta teoria, baseada em diversas pesquisas, indica que nossa atividade mental gera um campo energético que se estende além de nosso cérebro, no tempo e no espaço, promovendo vibrações que atuam como canais de comunicação de informações que podem ser captadas por vários indivíduos de um mesmo grupo. Isto explicaria as repercussões à distância que as constelações podem ter, até sobre membros da família que não participaram nem tiveram conhecimento do trabalho. O trabalho é conduzido com muito poucas palavras, pois o que mais interessa é a atuação sobre o campo morfogenético da família, que o terapeuta constelador promove favorecendo o reposicionamento dos representantes e o resgate dos movimentos primários interrompidos. Por vezes o terapeuta propõe aos representantes a repetição de algumas mensagens verbais que favorecem a restauração das ordens naturais, o resgate dos impulsos primários e a reintegração de excluídos. Numa visão mais superficial e simplista, ou para aqueles que têm dificuldade de acreditar em “fenômenos energéticos sutis”, a constelação pode ser encarada como uma sessão de psicodrama, ou uma sessão de teatro-terapêutico do tipo “teatro imagem” tal como proposto por Augusto Boal. Monta-se uma cena que representa o conflito, e a partir dela, pesquisa-se a melhor maneira de solucionar o conflito até se chegar a uma cena que represente um caminho possível de solução do conflito inicial. (…) Atualmente muitos preferem o termo Constelação Sistêmica em vez de constelação familiar, pois este método pode também ser empregado em outros sistemas como empresas, escolas, etc.
Hmmm…
Interessante…
Será?
😀
Se você anda de mau humor e não sabe como melhorá-lo, a solução é simples: ao acordar, continue na cama e pratique sexo matinal. De acordo com uma pesquisa da educadora sexual Debby Herbenick, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, o ato faz se sentir mais feliz ao longo do dia e ainda pode fortalecer o sistema imunológico.
A cientista disse ao jornal Daily Mail que as relações sexuais no período da manhã liberam oxitocina, que tornam os casais mais amorosos e ligados. Também elevam os níveis de IgA, um anticorpo que protege contra infecções.
Os benefícios não param por aí. Já ouviu dizer que transar deixa a pele, as unhas e o cabelo mais vistosos? Pois é a mais pura verdade. Isso porque aumenta as taxas do hormônio estrogênio.
Nem sempre é fácil encontrar tempo para uma praticar sexo ao despertar. Filhos e afazeres domésticos podem atrapalhar. Mas o empenho vale a pena, certo?
Relativamente longo (entenda-se: para os padrões internetísticos-bloguísticos de hoje), mas realmente excelente texto. Escrito pela Marjorie e vindo diretamente lá do Idelber.
Ano passado, fui a um evento em que várias bandas nacionais e internacionais se apresentaram numa fazenda no interior de São Paulo. Para assistir aos shows, era necessário comprar um ingresso que custava, se não me falha a memória, trezentos reais. Isso para ficar a vários metros de distância dos palcos. Quem quisesse ver as apresentações de perto, num cercadinho chamado de área VIP, teria de pagar o dobro. É mais do que o atual salário mínimo brasileiro, de R$510. Lá dentro, a água custava 6 reais, a cerveja uns oito. O evento foi patrocinado por quatro empresas: duas multinacionais do ramo de bebidas, uma multinacional do ramo de alimentos e uma nacional do setor de telefonia.
Tem toda a cara de um festival de música como outro qualquer, voltado para consumidores de classe média/alta, certo? Errado. Segundo os organizadores e os patrocinadores, o que estava acontecendo não era um show, bobinho, era um movimento social pela conscientização ambiental, chamado “starts with you” (começa com você). Oi? Movimento social. Tipo o feminista, o negro, o indígena e o sem-terra, sabe? Mesma coisa.
Uma das multinacionais do setor de bebidas que patrocinaram o evento foi multada em 47 milhões de dólares por poluir lençóis freáticos na Índia. Ela produz uma bebida com 18 colheres de açúcar a cada dois litros. Apenas uma de suas usinas de engarrafamento no Brasil é capaz de produzir 27 mil garrafas por hora. Outra das patrocinadoras engarrafa milhões de litros de água mineral, mesmo que muitos governos locais já tratem a água e a ofereçam gratuitamente aos cidadãos (e sem garrafa). Para competir com a água tratada e gratuita nos países onde ela é disponível, a propaganda classifica a água engarrafada como “mais confiável”, o que nem sempre é verdade.
Entretanto, nos telões do festival, ambas as empresas alardeavam sua preocupação em manter operações sustentáveis, na medida em que reciclam e/ou reutilizam parte das garrafas PET desnecessárias que produzem. A mensagem era clara: “já estamos fazendo a nossa parte, agora faça você a sua. Starts with you! Feche a torneira ao escovar os dentes, desligue os aparelhos eletrônicos da tomada quando sair de casa e seja um consumidor consciente”. E, com “consumidor consciente”, lá vem a mensagem subliminar: “ao comprar um refrigerante de uma empresa responsável como a nossa, você está ajudando o planeta. Não compre dos outros, compre da gente!”.
Nesta semana, em São Paulo, a maior editora de revistas do Brasil promove, pelo quarto ano consecutivo, um evento de sustentabilidade. A mensagem é a mesma do SWU: feche a torneira, faça xixi durante o banho, use os dois lados da folha sulfite, apague a luz. Decorando o evento, esculturas de papelão feitas com as bobinas que envolvem os rolos de papel utilizados na fabricação das revistas. E aí as pessoas vão passeando por ali e pensando “uau, que legal! Um material que normalmente seria jogado fora serviu para produzir algo belo!”. E eis que a editora de revistas se sai como uma puta empresa bacana. Mas ninguém pára para pensar, afinal, para quê todas aquelas bobinas de papel sequer foram produzidas. Ninguém se faz aquela perguntinha do Caetano: quem lê tanta notícia? A humanidade precisa mesmo de tanta revista? Pra quê tanto papel para falar dez mil vezes a mesma coisa? Não parece um contrassenso pagar de gatinho da sustentabilidade reciclando e reutilizando toneladas de papel que foram usados, principalmente, para estimular o consumo? Afinal, hábitos de consumo são a principal coisa vendida por esse tipo de veículo em particular, a revista.
Citei esses dois exemplos, mas poderia citar outros vários. Cada vez mais empresas, de todos os ramos do mercado, têm se apropriado do discurso da sustentabilidade ou patrocinado eventos de “conscientização”. E isso não é à toa. Nada mais insustentável do que o discurso da sustentabilidade. Trata-se de um discurso deliberado de alienação, que foca a resolução da questão ambiental sobre as nossas pequenas ações cotidianas e não sobre a raiz a ser extirpada: o modelo de produção e consumo vigente. É claro que nossas pequenas ações cotidianas têm sim seu peso (ninguém está dizendo que fechar a torneira enquanto escovamos os dentes é uma coisa ruim), mas vamos combinar: não somos nós que jogamos milhões de litros de óleo no Golfo do México. Não somos nós que poluímos ar e água com substâncias cancerígenas. Não somos nós os responsáveis por socar partículas de sacolinhas e garrafas PET no bucho dos animais marinhos. Então, não é à toa que tantas empresas que nunca deram a mínima para o meio-ambiente de repente tenham virado sustentáveis desde criancinha. Não é à toa que o nome do tal festival, ou melhor, do “movimento social”, é starts with you. Começa aí com você, seu trouxa. Afinal, enquanto a gente fica aqui criando consciência, as grandes empresas, responsáveis pelo grosso do problema, ganham tempo. Adia-se mais um pouco o debate sobre a sociedade de consumo que construímos.
Outro problema desse discurso da sustentabilidade, tão em voga, tão na moda, é que ele nos convida a ser benevolentes com o planeta, quase como se estivéssemos lhe fazendo um favor: “salve a planeta! Salve os ursos polares! Salve as florestas!”. Meu filho, a questão é salvar a nós mesmos. É o nosso que tá na reta. O planeta se vira sem a gente. Se isso aqui virar tudo uma grande sauna inabitável, o planeta continua existindo. Numa boa. Como todos os outros planetas inabitáveis universo afora. Não é a Terra que vai se foder (pode palavrão aqui, Idelber?), é você. Você.
O terceiro (e, muito provavelmente, não o último) problema desse discurso é que ele limita a nossa esfera de ação ao consumo. O único poder das pessoas de salvar o planeta (e não a si mesmas) é enquanto consumidoras, nunca enquanto cidadãs, nunca através do fazer político. Enfiamo-nos nessa enrascada consumindo e consumindo sairemos dela. É apenas uma questão de mudar o jeito como se consome, tornando-se um consumidor “responsável”. Mas o que é ser um consumidor responsável? Ora, é consumir na mesma quantidade e das mesmas empresas de sempre (como as patrocinadoras do SWU…), só que com a consciência tranquila porque as empresas estão reciclando uma coisinha aqui e ali, utilizando circuito fechado de água numa fábrica aqui, noutra ali. Ah, e enquanto você consome uma coisa e outra, apague a luz.
Mas devo chamar atenção para uma coisinha mais. É que muitas empresas inserem o pilar social no seu conceito de sustentabilidade. E aí, a meu ver, mora um grande, gigantesco perigo. Através de fundações e institutos associados ao terceiro setor, empresas privadas querem substituir o Estado, tomando para si atividades que devem ser de responsabilidade dele (como educação, saúde, combate à pobreza, etc). Ou então, sequestram o rótulo de sociedade civil e passam a dizer ao Estado quais são as necessidades das comunidades, o que deve ser feito e como. Essa do SWU assumir o rótulo de “movimento social”, por mais ridículo que pareça, é uma coisa que as fundações e institutos, associados ao terceiro setor, já têm feito há tempos. Aí, o próprio Estado passa a dar dinheiro a empresas privadas, para que o capital se encarregue de dar um tapa nas desigualdades que ele mesmo gera.
Por isso, desconfio de toda e qualquer empresa que vem com discurso sustentável para cima de moi. Não votei em Marina, por mais que simpatize com vários aspectos de sua biografia e atuação política, justamente por causa disso. Pode me chamar de comunista barbuda, mas a solução dos problemas gerados pelo capital não virá pelas mãos do próprio capital. Há uma óbvia incompatibilidade de interesses. A mobilização, querido, realmente starts with you: não são as empresas que têm de criar consciência na gente. É a gente que tem de criar consciência, coletivamente, sem mediação privada alguma. É a gente que tem de questionar o modo como se vive, a maneira como as coisas são produzidas e, a partir daí, peitar as empresas.
PS – Mais um obrigada gigante ao querido Idelber pelo convite para escrever aqui, mesmo que a minha escrita seja assim, tão mequetrefe.
PPS – Agora o merchan. Blog: www.marjorierodrigues.com e twitter: www.twitter.com/marjerodrigues
Nestes últimos dias tenho acompanhado (bem de perto) o trabalho da Defesa Civil aqui na cidade.
Não, antes de mais nada deixem-me explicar que não estou no Rio de Janeiro nem em nenhum desses locais que ensejam algum tipo de megacatástrofe!
Estamos falando de Jacareí, interior de São Paulo, com cerca de 210 mil habitantes.
Entretanto, como qualquer outra cidade – independentemente do tamanho – tem lá seus problemas urbanos. Em especial no que diz respeito às construções (principalmente as bem antigas) em áreas que hoje podem ser consideradas como “de risco”. E eu digo hoje pelo simples fato de que num volume normal de chuva tais áreas não apresentariam graves problemas – como, de fato, por muitos e muitos anos a fio não apresentaram. Mas com esse absurdo de água que tem caído do céu… bem, a situação é bem outra!
Mas o trabalho preventivo que vem sendo feito tem gerado um ótimo resultado. O pessoal da Defesa Civil tem virado dias e noites para todos os cantos inimagináveis da cidade fazendo inspeções, vistorias e constatações. Identificada alguma anomalia (já ocorrida ou que esteja prestes a ocorrer), rapidamente os moradores recebem a orientação para deixar o local, até porque invariavelmente quando chega nesse ponto é pelo fato de que a casa já está condenada.
E esse é o ponto.
Ressalvadas poucas exceções, a maioria dos imóveis que precisaram ser demolidos eram aqueles com os famosos puxadinhos. Mas não pensem que estou falando simplesmente de um cômodo a mais ou algum aproveitamento diferenciado do que já foi construído. O problema é que, partindo de uma planta original (quando a casa ainda era uma casa), fazem um quartinho a mais aqui, que depois emendam numa laje ali, esticam um banheiro e uma área de serviço acolá, resolvem aproveitar e botar uma escada e toca pro segundo pavimento, começando tudo de novo!
E a desgraça de tudo isso é que fazem sem nenhum acompanhamento técnico, do jeito que “aquele pedreiro bão” disse que resolvia, totalmente à margem de qualquer fiscalização. E daí que essas tortas torres não têm a mínima possibilidade estrutural de existir!
A menos – é lógico – que estivéssemos falando d’A Toca, residência oficial dos Weasley’s.
O problema é que, diferente do que acontece lá no mundo de Harry Potter, neste nosso mundo real não temos magia pra manter tudo isso em pé…