Ordem e Progresso

É… Continuando o assunto de ontem, o que eu procurava realmente estava em minha biblioteca.

A expressão “Ordem e Progresso” constante da bandeira nacional foi resumida por Miguel Lemos, um dos integrantes da equipe que definiu os parâmetros do atual visual de nosso pendão.

Segundo Augusto Comte, fundador da Escola Positivista, essa expressão vem da seguinte frase:

“O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim.”

Existem, ainda, outras características interessantes que dizem respeito às cores adotadas, vinculando-as não só às características desta terra brasilis como também a todo um estudo heráldico da Família Real Portuguesa. Mas deixemos isso pra um outro dia…

Libertas quae sera tamen

Quem me conhece pessoalmente sabe que costumo me considerar um alfarrábio de cultura inútil. Porém tem gente pior: um advogado amigo meu (Sylvio) certamente me suplanta – e muito – nesse título…

E, como genealogista amador e amante de história que sou, dentro dessa seara sempre me vêm inúmeras informações interessantes (pelo menos a meu ver). Inúteis. Mas, ainda assim, interessantes.

Há alguns dias aprendi uma nova lição em uma das listas de genealogia das quais participo, através de uma mensagem enviada pelo Haríolo, referindo-se a uma carta publicada no jornal de Belo Horizonte “O Tempo” em 09/05/04. Trata-se do lema inscrito na bandeira do Estado de Minas Gerais. Para aqueles que não se lembram, é o seguinte: “Libertas quae sera tamem”. Ou seja, “Liberdade ainda que tardia”.

Ocorre que um ex-seminarista, Tobias Isaac Neto, já possuía uma dúvida antiga sobre esse lema, desde sua época de colégio. Ele não conseguia enxergar com clareza a tradução do latim para o português, pois achava que as palavras não se encaixavam. Porém, dentro de sua condição de ginasiano, tinha receio de colocar em xeque uma citação histórica já consagrada.

Foi somente depois de muitos anos, que lhe veio às mãos a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João Del Rey, que em seu volume V continha um capítulo chamado “Os inconfidentes”, escrito por Antônio Gaio Sobrinho. Nessa obra ele conseguiu a informação que lhe faltava, confirmando que realmente existe uma palavra a mais no lema da bandeira de Minas Gerais.

Quando da criação daquele estandarte, o inconfidente Alvarenga colheu uma frase de um diálogo entre os pastores Títiro e Melibeu, protagonistas das Bucólicas Vergilianas, onde um pastor canta seu amor por Marília (o que, segundo Roberto Cardoso, outro participante dos grupos de discussão aos quais me referi, supõe que a semelhança com a Marília de Dirceu do Tomás Antonio Gonzaga seria bem mais do que uma simples coincidência). Nesse poema Melibeu pergunta:

“Et quae tanta fuit Romam tibi causa videndi?” – “E qual foi teu grande motivo para ver Roma?”

E Títiro responde:

“Libertas quae sera tamem respexit inertem (…)” – “A liberdade, ainda que tardia, contudo encontrou-me inativo (…)”

Portanto, para expressar o espírito inconfidente, bastaria apenas a frase “Libertas quae sera”. O “tamem” (contudo) seria tão somente uma conjunção para dar continuidade à frase original.

Não sei se oculto nas catacumbas de meu computador ou perdido em minha modesta biblioteca caseira, existe também uma história acerca do “Ordem e Progresso” de nossa bandeira nacional… Assim que encontrá-la, eu aviso!

“Doutores”

Se tem uma coisa que eu NUNCA vou conseguir me acostumar é com essa prepotência que existe no meio advocatício com o pseudo-título de “doutor”…

Sexta participei de uma reunião com uma advogada descompensada que levou uns dez minutos para nos atender (eu e mais dois), isso APÓS estarmos sentados à sua frente. Minha vontade era de ir embora enquanto ela ficava resmungando de si para si mesma: “essa greve atrapalhou tudo… deixa eu dar uma limpada na minha mesa… tenho audiência em outra cidade segunda pela manhã… Fulana! Cadê você?…”, etc, etc, etc.

Mas não é esse o ponto. O ponto é que começamos a reunião com ela nos tratando no tapa. Ríspida. Arrogante. “Porque eu advogo há mais de vinte e dois anos… Porque sempre estou no Fórum…”, e assim por diante. Mas QUANDO ela identificou um de nós como advogado (não, eu não), passou a tratá-lo na base do pão-de-ló: “Pois é, DOUTOR, o senhor sabe como é… Não DOUTOR, acho que assim não dá… Imagine, DOUTOR, eu sabia que o conhecia de algum lugar…”

Sabe, não tenho um pingo de vaidade no tocante a isso, mas a situação se tornou meio que insólita… No final das contas, É LÓGICO, demos boas risadas da infeliz…

Mas o fato é que normalmente a maioria dos adEvogados faz questão de serem chamados de “DOUTOR”, mal tendo competência para o bacharelado. Sempre invocam a quantidade de anos que estão na praça, ou o número de ações que possuem, e até mesmo que estão sempre no Fórum, como se isso fosse sinal de capacidade. Pô, na realidade quem tem competência se estabelece! Pelos próprios méritos. Não é a presença ou falta de uma alcunha que vai tornar este ou aquele melhor ou pior que outrem.

E o curioso é que normalmente esse povo não tem nem idéia do porquê “poderiam” ser chamados de doutores. “Ah, porque advogado é doutor, né?”. Tá, mas por quê? Vamos a um pouco de cultura inútil…

Tudo começou há muito, muito tempo atrás, não no reino de Shrek, mas aqui mesmo, in Terra Brasilis, quando predominavam basicamente duas profissões de renome no país (normalmente de brasileiros formados na Europa): a de medicina e a de direito. E, já desde aquela época, os adEvogados se sentiram enciumados pelo fato de que seus colegas médicos eram chamados de doutores, enquanto que eles não… Para resolver o dilema, inclusive pra agradar sua tchurminha maçônica, D. Pedro I, então Chefe do Governo Brasileiro, baixou um DIM (Decreto Imperial) em 1º de agosto de 1825 (que veio a dar origem à Lei do Império de 11 de agosto de 1827), que, de uma só tacada, não só criou dois cursos de Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil, como também dispôs sobre o título (grau) de “Doutor” para o advogado. E, como não consta que essa norma tenha sido revogada…

Assim, vem daí, de mais de século e meio atrás, a já arraigada prepotência de muitos advogados que até hoje fazem questão de serem tratados por “doutores”, sem sequer saber o porquê “poderiam” usar tal título…

Mas que é um absurdo, ah, isso é!

A Lei de Murphy – qual sua origem, afinal?

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Acho que todos conhecem a malfadada “Lei de Murphy”. É aquela que tem como premissa básica que “Tudo o que puder dar errado, dará”. Vários livros foram editados sobre o assunto, estendendo suas definições para as mais variadas áreas de atuação.

Temos, por exemplo, a clássica situação das filas: se você estiver numa fila, a do lado certamente estará andando mais rápido; mas caso resolva mudar de fila, aquela em que você entrou certamente passará a andar devagar, enquanto que a anterior começará a fluir. É a manifestação da Lei: “A fila do lado sempre anda mais rápido”. A Lei de Murphy, na minha opinião é tão complexa que se você tentar tirar benefício dela, dará com os burros n’água. No exemplo citado, caso você resolva ficar na mesma fila aguardando a aplicação tácita da Lei de Murphy, com certeza ela não ocorrerá, de modo que sua fila não sairá do lugar…

E em informática então? Basta não salvar o arquivo em que está trabalhando para aumentar as chances de ocorrer um travamento. Como dita a Lei: “A possibilidade de algo sair errado é diretamente proporcional ao tamanho do prejuízo”.

É a verdadeira Teoria do Caos materializada!

Mas, afinal de contas, de onde surgiu tudo isso? Existiu mesmo um tal de Murphy que deu início a esse conceito? A resposta é SIM!

O nome correto é Edward A. Murphy Jr, engenheiro, nascido em 1917, sendo que no final dos anos 40 trabalhava como pesquisador e chefe de desenvolvimento em Wright-Patterson, base da Força Aérea localizada em Dayton, Ohio, Estados Unidos.

Nessa época desenvolvia um projeto – o USAF MX-981 – cujo intuito era testar os limites da tolerância humana às forças de aceleração. Um dos vários experimentos envolvia a montagem de 16 medidores de aceleração a serem instalados em diferentes partes do corpo da cobaia, quer dizer, do voluntário. Esses medidores somente poderiam ser montados de duas maneiras (sim, sim, a certa e a errada). É mais que óbvio que alguém conseguiu o prodígio de instalar todos os 16 medidores exatamente da maneira errada, inviabilizando o experimento.

Foi face a essa experiência desastrosa que Murphy fez a seguinte alegação: “Se há duas ou mais formas de se fazer algo, e uma delas pode resultar em uma catástrofe, então, alguém a fará”. Dias depois, a cobaia, digo, o voluntário que se submeteu ao teste, major John Paul Stapp, numa conferência de jornalistas parafraseou o conceito, com suas próprias palavras.

Estava feito o estrago. Dentro de alguns meses a frase, cada vez mais adaptada, havia se propagado para várias áreas técnicas ligadas à engenharia espacial, chegando mesmo a entrar para o dicionário Webster, em 1958. A sua forma atual foi consagrada pelo escritor Larry Niven, em sua obra de ficção científica “Lei das Dinâmicas Negativas de Finagle”, onde cunhou o enunciado “Tudo o que puder dar errado, dará”.

Existem muitas variações desse enunciado, sendo que um dos meus prediletos é que “se uma série de coisas puder dar errado, dará na pior sequência possível”.

E, por fim, o corolário que dita que “se algo que tinha tudo pra dar errado, no final deu certo, é porque na verdade deu tudo errado”

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