Caco e Forcinha – lembranças de dois malucos

Sei que já há um bom tempo não conto nenhum causo por aqui… Sinal dos tempos, da correria, das obrigações, da correria, das responsabilidades, da correria, da preguiça, enfim, em resumo: da correria.

Mas também já há alguns dias tenho algumas lembranças me martelando a memória e pedindo pra sair. Não sei exatamente o porquê, mas vamos lá!

“Caco” e “Forcinha” são dois amigos da minha já distante adolescência. Dois malucos (no sentido amplo da palavra) que invariavelmente estavam com suas motos em todo e qualquer ponto do pacato bairro de Santana, Zona Norte de São José dos Campos, verdadeira e legítima estância hidro-mineIral (água embaixo, mineiro em cima). Ambos cabeludos e loucos como só eles sabiam ser, mestres do wheelie, viviam empinando suas motos em toda e qualquer oportunidade nos áureos anos do início da década de oitenta. Não me lembro mais da moto do Forcinha, mas o Caco com certeza tinha uma Yamaha DT 180 – só não consigo lembrar se preta ou vermelha. Ah, essa memória…

O irmão do Forcinha tinha uma oficina de motos – de aparência tão maluca quanto a de todos os irmãos – que era constituída de um amplo salão e, logo após a entrada, havia uma escada de concreto com largos degraus, tendo correntes estilizadas como corrimão e que ia de lugar nenhum a lugar algum: começava no nada e acabava na parede. Assim, no nada mesmo. A qualquer um que chegasse e tivesse a petulância de perguntar o porquê daquela escada, a invariável resposta era:

“Stairway to Heaven, cara! Stairway to Heaven…”

A bom entendedor, meia palavra basta.

Certa vez, num conversê de cachoeira lá em São Francisco Xavier, o Forcinha – magrelo como ele só – me contou que tinha problemas com a virada do tempo por conta dos pinos que tinha no corpo (o que hoje, com meus dois quase espanados parafusos no joelho, compreendo muito melhor). Também não lembro mais a quantidade, mas sei que era muita coisa. Mesmo. Perguntei-lhe como foi aquilo, se tombo de moto ou o quê.

“Ah, foi, também. É que foram dois acidentes. Primeiro eu bati a moto no meio de um poste.”

Até ali nada demais. Mas ele fez uma cara de riso nem um pouco disfarçada me instigando a perguntar o que mais tinha por trás daquele acidente, de modo que não resisti. Perguntei. E ele explicou que não bateu simplesmente no meio do poste “na horizontal” – mas sim “na vertical”.

“Cumassim???”

Correndo demais (como sempre) no alto de uma subida simplesmente decolou e foi pro ar. Mas calculou (muito) mal a “aterrisagem”, pois foi pro lado. E no meio do caminho havia um poste. E havia um poste no meio do caminho. E ele se esborrachou no poste. E as pessoas que chegaram depois não entendiam aquele cara estendido no chão, a moto destruída e nenhum sinal de carro ou de batida por perto. Até que olhassem para cima e visualizassem a alguns metros do chão, abaixo dos fios e acima das placas, a nítida marca do acidente no poste…

“Putz… E o outro acidente?”

Assim como quem não quer nada, como se tivesse sido a coisa mais trivial do mundo, respondeu-me:

“Capotei um jipe.”

Isso mesmo. Um jipe. Já imaginaram? Sem capota, tudo aberto, rodopiando de lado como nos filmes de ação e com aquele magrelo firme no volante girando junto com o bólido. Não vou entrar nos detalhes do resgate nem tampouco da experiência extra corporal de quando ele estava na UTI. Mas ele foi praticamente reconstruído (santo Steve Austin, Batman!), com direito a placa no crânio e tudo o mais. E ali estava ele, magrelo, bem vivo, bem maluco, feliz e brincalhão como sempre, curtindo uma cachoeira como se nada disso jamais tivesse acontecido…

Doutra feita, num dos costumeiros acessos de loucura de ambos, Caco e Forcinha começaram uma discussão:

– Eu sou mais maluco que você!

– Claro que não! Eu é que sou mais maluco!

– Nada! Sou eu!

– Eu!

E tocaram a fazer todas as proezas que se pode – ou não – imaginar. Concluíram pelo empate. Mas a discussão não acabou ali.

– Ok, na moto estamos iguais. Mas na prática eu sou mais maluco que você!

– De jeito nenhum, eu é que sou!

E resolveram provar sua maluquice. Tradicionais e conhecidíssimos pelos cabelos nas costas e barba no peito, entraram numa barbearia. Sentaram-se ao mesmo tempo em duas cadeiras lado a lado. Chamaram os barbeiros.

“Tira a barba” – em uníssono.

E toca os barbeiros, com aquela cara de interrogação, a escanhoar os rapazes até que suas jovens feições aparecessem novamente…

Empate.

Um olhou para o outro. Já com raiva. Ainda deitados nas cadeiras, cada qual esticou o braço e segurou o outro pela camisa, na altura do peito. E a outra mão em punho fechado. Já sabiam qual seria a próxima “prova” pra conferir quem seria mais louco. Mas também cada qual queria se certificar que o outro não fugiria no meio do caminho…

“Raspa” – rosnaram ao mesmo tempo.

Os barbeiros, já não sabendo se deveriam se divertir ou temer aqueles dois comprovados malucos, passaram ao trabalho de tosquiar a cabeça dos agora imberbes motoqueiros.

Final de serviço, novo empate.

Com um nada dissimulado ódio da situação, pensando como numa única mente pra onde é que agora iriam, foram no que sobrou: as sobrancelhas. A princípio nenhum dos barbeiros queria levar aquilo adiante, mas ao final acabaram também cedendo. Cada qual passou a Gilette no seu freguês, deixando-o mais próximo de Roger Waters, em The Wall, que qualquer outra coisa.

E naquela nova bizarra aparência ambos se levantaram.

Os barbeiros se afastaram.

Ambos se olharam.

Se mediram.

Se encararam.

E…

Tiveram o mais monumental acesso de riso jamais outrora registrado na face deste nosso planetinha Terra!

Anos de cabelo e barba se transformaram em horas de trabalho no chão. E esses dois malucos, amigos-irmãos, tiveram a absoluta certeza de que não importava quem fosse mais maluco, desde que estivessem perto um do outro pra poder rir um pouco de toda aquela doideira…

Não sei mais desses dois. Nunca mais vi. Nunca mais ouvi falar. Conhecia muito mais o Forcinha que o Caco, mas podia tranquilamente me dizer amigo dos dois. Até porque o divertido era a “química” de ambos. Espero que ainda estejam por aí, assim como também poder encontrá-los, nem que seja só pra saber de outras maravilhosas maluquices que, certamente, já aprontaram e ainda devem estar aprontando por este mundão afora!

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Mas toda essa (re)lembrança foi simplesmente pra manter a linha e a mão na escrita, de modo a pelo menos tentar fazer jus à menção honrosa que a amiga virtual Edna Medici fez a este nosso humilde – mas Legal – cantinho virtual, bem como a este contador de causos (mas prefiro o termo “causídico”) que vos tecla.

Se quiserem conferir – e, de quebra, descobrir outros indicados sabores de endereços virtuais bem próximos – dêem uma olhada lá na página 54 da revista Absolut. Sim, essa mesma que está aí embaixo!

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Papa Bento XVI anuncia demissão

E eu que nem sabia que os Papas podiam se demitir…

Em comunicado divulgado hoje pelo Vaticano, o papa Bento XVI (o alemão Joseph Ratzinger, 85 anos) anunciou que deixa o pontificado no dia 28 de fevereiro deste ano. A renúncia é a primeira de um papa na era moderna.

Caríssimos Irmãos,

convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.

Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.

BENEDICTUS PP XVI

Fonte: Arquidiocese de São Paulo e Agência Brasil

Ave Caesar, morituri te salutant

A fachada da Boate Kiss, em Santa Maria, após o incêndio.

Impensável, intolerável, inominável.

A Tragédia de Santa Maria (assim mesmo, com “tê” maiúsculo) é daquelas situações que desafiam a lógica.

Aliás, demorei a escrever algo por aqui por simplesmente não ter palavras.

Mas a imprensa tinha.

Ainda que eu continue não as tendo.

Sendo assim, além do amigo Bicarato, que traduziu bem o meu pensar (pesar) neste texto aqui, trago as palavras do Duda Rangel, que deixou o humor de lado para passar a lição de casa para aqueles que ainda não aprenderam.

E duvido que venham a aprender.

Para um jornalista, cobrir uma tragédia é trabalhar no limite. O limite entre o interesse público e a simples exploração da desgraça.

Cobrir uma tragédia é monitorar os próprios passos, perceber até onde se pode avançar.

É apelar para o bom gosto em meio a gosto tão amargo.

Cobrir uma tragédia é prestar serviço. E auxílio, se for preciso.

É ficar bem próximo da dor do outro, da histeria, da anestesia. E saber respeitá-las. É lembrar que o Jornalismo pertence à tal área de Humanas, por mais que a Matemática, com seus balanços de mortos e feridos e índices de audiência, insista em se intrometer.

Cobrir uma tragédia é parar com a bobagem de achar que frieza é sinônimo de profissionalismo. Jornalista pode se emocionar, pode se solidarizar. Pode se sentir pequeno. Nós, jornalistas, não somos máquinas. Pertencemos também à área de Humanas.

Emenda à Inicial: Aí embaixo, nos comentários, o Bicarato deu o link direto para o texto que (agora) também está lá no Alfarrábio.

Embargos Auriculares: Um excelente texto pinçado lá do Trezentos, de autoria do Manoel J. de Souza Neto, é este aqui: “Incêndio em boate em Santa Maria (RS) não é fato isolado – Brasil precisa de um Código Nacional do Setor de Eventos e Entretenimento”.

Primeiro dia do ano

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E eis que é o começo do recomeço!

E um detalhe: mais de uma pessoa me desejou boa sorte… Em especial me foi dito que sorte nada mais é que competência e oportunidade – e que eu teria os dois. Não, não vou contar que foi a Gleice quem disse isso.

Bem, como já disse mais de uma vez por aqui: ninguém se faz sozinho. Graças a TODA a equipe é que teremos a oportunidade de buscar ainda mais competência para suplantar os novos desafios que nossa Secretaria de Assuntos Jurídicos terá pelos próximos anos.

E esse foi só o primeiro passo…

Aliás, os desavisados podem pensar que esta foto está ligeiramente embaçada. Ledo engano. São as lágrimas de emoção do momento que turvaram a vista da fotógrafa… 😉

Um bom dia e um bom ano a todos!

E vamo que vamo!!!

Natal da Turma da Mônica

Hoje pela manhã, quando levantei, somente o filhote número dois estava acordado.

Fui até ele, renovei os votos de Feliz Natal que já havia dado na véspera – aliás, não era véspera, pois já era hoje, mas de madrugada – AH, vocês entenderam.

Enfim, fui até ele cantarolando uma musiquinha de Natal: “Feliz Natal pra todos, feliz Natal… Cascão ganhou uma lata de lixo bem sujinha…”

A reação foi imediata. Pelo olhar já vi tudo. “Que raios de música de Natal é essa, papai?”… De fato. Ninguém mais a conhece, pois fez parte de MINHA infância, na longínqua década de setenta. Dentre tantos hoje existentes, talvez seja esse um dos primeiros desenhos animados feito pelo Maurício de Souza. Se não for ele próprio o primeiro.

Assim, para os “clássicos” como eu que ainda tem memória desse desenhinho, reapresento-lhes, um clássico da época natalina de minha infância: O Natal da Turma da Mônica !

Niemeyer e o Banhado

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Foi quando acabou a fase dos prefeitos nomeados em São José e o primeiro eleito foi Joaquim Bevilacqua. Havia várias correntes na cidade que tentavam responder a pergunta: o que fazer com o Banhado?

Alguns achavam que deveria ser construído um parque aquático, outros uma Disneylândia. A favela se expandia, embora ali não fosse local para habitação, devido ao solo turfoso.

Chamaram, então, Oscar Niemeyer e sua equipe. Ao chegar, o arquiteto ficou por muitos minutos olhando a paisagem. Depois, atravessou a rua e juntou-se ao grupo. Então o prefeito perguntou: “Que devemos fazer com o Banhado?”

A resposta foi simples e objetiva: “A natureza demorou milhares de anos para fazer esta magnífica paisagem. Como e porque destruí-la?”. O grande mestre da arquietetura reconheceu que nem ele era capaz de ofuscar essa obra divina.

Ciro Bondesan dos Santos