Maria de Moraes Ribeira

E esta é a mulher do recém-postado Antonio de Brito Peixoto


 TESTAMENTO de MARIA DE MORAES RIBEIRA

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 | Arquivado no Museu Regional de SJ del Rei - Livro de Testamento 11 |
 | Transcrito por: Flávio Marcos dos Passos                           |
 | Transcrito em : FEV/2003                                           |
 | Solicitante   : Luís Antônio Villas Bôas                           |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Testadora     : MARIA DE MORAES RIBEIRA                            |
 | Testamenteiro : JERÔNIMO DE ANDRADE BRITO                          |
 | Testamento  redigido  na  Fazenda  das  Brisas  de  Carrancas   em |
 | 29/JUL/1790                                                        |
 | Abertura      :                                                    |
 | Número de folhas originais: 04                                     |
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 - FL.028/VERSO -

 Em nome da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo Deus Primo
 e uno em quem creio em cuja lei protesto viver e morrer. Eu  MARIA  DE
 MORAES RIBEIRA, estando de saúde e em  meu  perfeito  juízo  que  Deus
 Nosso Senhor foi servido dar-me faço  este  meu  testamento  na  forma
 seguinte: Nomeio em primeiro lugar para meu testamenteiro a meu  filho
 JERÔNIMO DE ANDRADE BRITO, em segundo lugar a meu filho MANOEL JOAQUIM
 DE ANDRADE e em terceiro lugar a meu genro DOMINGOS DE PAIVA SILVA aos
 quais todos instituo meus testamenteiros  e  administradores  de  meus
 bens com todos os poderes gerais  e  especiais  para  os  arrecadarem,
 venderem em praça ou fora dela como quizerem e lhes parecer  sucedendo
 uns aos outros pela  alternativa  declarada  acima.  Declaro  que  sou
 natural e batizada na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar da  Vila  de
 São  João  del-Rei,  filha  legítima  de   ANDRÉ   DO   VALE   RIBEIRO

 - FL.029 -

 e de TEREZA  DE  MORAES  já  falecidos.  Declaro  que  sou  viúva  por
 falecimento de ANTÔNIO DE BRITO PEIXOTO com o qual fui casada de  cujo
 matrimônio tive e tenho nove  filhos  cujos  nomes  são:  JERÔNIMO  DE
 ANDRADE, MANOEL JOAQUIM, TEREZA MARIA, MARIA VITÓRIA, JACINTA  TEREZA,
 ANA ANTÔNIA, DOROTÉIA MARIA, LUIZA (ilegível) e JOSÉ  o  qual  é  hoje
 falecido e no seu lugar na parte que a  seu  pai  pertencer  sucederão
 seus filhos e meus netos, cujos meus filhos e filhas os  instituo  por
 meus universais herdeiros a cada um naquela parte  de  suas  legítimas
 que por resto lhes pertencer. Declaro que meu corpo  será  involto  em
 hábito de Nossa Senhora do Carmo de cuja ordem sou irmã professa e  se
 pagarão aos anuais que eu dever e será  sepultado  a  eleição  de  meu
 testamenteiro se me dirão missas de corpo presente de  esmola  de  uma
 oitava cada uma sendo enterrada nesta capela e os  sacerdotes  que  se
 acharem dirão todos e sendo na vila me dirão  vinte  missas  de  corpo
 presente e havendo impedimento nesse dia  se  dirão  no  dia  tres  ou
 setimo do meu enterro. Declaro que meus testamenteiros  digo  que  meu
 testamenteiro repartirá por  quarenta  pobres  na  Vila  de  São  João
 del-Rei a quantia de dez oitavas de ouro por  esmola  as  quais  todos
 roguem a Deus pela minha alma. Declaro que quero se me digam por minha
 alma quatrocentas missas pela alma de meus pais, assim mais pela  alma
 de meus filhos cinquenta, como  também  pela  alma  de  meus  escravos
 falecidos, quarenta pelas almas de  meus  irmãos  terceiros  tanto  do
 Carmo como de São Francisco de cujas Ordens sou irmã professa se dirão
 quarenta missas. Declaro que todo o mais  meu  funeral  será  feito  a
 eleição de meu testamenteiro. Declaro que da minha terça se  darão  as
 minhas  netas,  filhas  de  MANOEL  MENDES,  todas  as  que  estiverem
 solteiras a cada uma para ajuda de seus casamentos cinquenta mil réis.
 Declaro que tenho um escravo por nome Gonçalo pardo o qual quarto  (?)
 em cem mil réis os quais dará em quatro anos e  não  se  dando  ficará
 sujeito ao cativeiro. Declaro que toda pessoa a quem eu dever  se  lhe
 pague sem contenda de justiça. Declaro que deixo a meu testamenteiro a
 quantia de cento e cinquenta mil réis por prêmio de seu trabalho e lhe
 espaço o tempo de quatro anos para a conta e lhe  encarrego  muito  as
 missas por minha alma que as mande logo dizer como espero  deles  como
 bons filhos. Esta é a minha última vontade que  quero  que  se  cumpra
 como nela se contém e declara para o  que  rogo  as  justiças  de  Sua
 Magestade a que competir façam cumprir e guardar como nela se contém e
 declara                 não                 saber                  bem

 - FL.029/VERSO -

 escrever digo bem ler e nem escrever pedi e roguei ao Padre ANTONIO DE
 SOUZA MONTEIRO GALVÃO que este me escrevesse e eu assinei depois de me
 ser lido e estar conforme o ditei e com meu nome por  letra  pelo  meu
 próprio punho. Hoje, Fazenda das Brisas de Carrancas, vite e  nove  de
 Julho de mil setecentos e noventa. MARIA DE  MORAES  RIBEIRA.  E  como
 testemunha que este escrevi a rogo da sobredita  testadora, ANTONIO DE
 SOUZA MONTEIRO GALVÃO.

Antonio de Brito Peixoto

Este, na linhagem dos Andrade, é o mais distante que consegui “recuar no tempo” através dos documentos que já publiquei aqui.


 INVENTÁRIO de ANTÔNIO DE BRITO PEIXOTO

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 | Arquivado no Museu Regional de São João del Rei - Caixa 605        |
 | Transcrito por: Flávio Marcos dos Passos                           |
 | Transcrito em : OUT/2003                                           |
 | Solicitante   : Luís Antônio Villas Bôas                           |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Inventariado  : ANTÔNIO DE BRITO PEIXOTO                           |
 | Inventariante : MARIA DE MORAES RIBEIRA                            |
 | Inventário Redigido:                                               |
 | Número de folhas originais: 253                                    |
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 - FL.002 -

 RELAÇÃO DE FILHOS :

 TEREZA MARIA DA CONCEIÇÃO casada com SIMÃO DE OLIVEIRA PEREIRA. 

 JOSÉ solteiro de 16 anos. 

 JACINTA de idade de 14 anos. 

 MARIA de idade de 12 anos. 

 ANGELA de idade de 12 anos. 

 JERÔNIMO de idade de 10 anos. 

 DOROTÉIA de idade de 7 anos.

 ANA de idade de 4 anos. 

 LUIZA de idade de 1 para 2 anos.

 - FL.005/VERSO -

 ESCRAVOS: 33

 - FL.007/VERSO -

 DIVIDAS ATIVAS 

 MANOEL DE OLIVEIRA GULARTE 79$500. 

 ANTÔNIO DO VALE RIBEIRO de resto de crédito  417$500. 

 MANOEL DO VALE RIBEIRO  por um crédito 480$000. 

 MANOEL MACHADO TOLEDO por um crédito 157$500. 

 DOMINGOS VILELA por um crédito  260$000. 

 - FL.008 -

 DIVIDAS PASSIVAS.

 No Rio de Janeiro a ANTONIO DIAS DE CARVALHO e Companhia  por  crédito
 304$349. 

 Capitão MANOEL RIBEIRO DOS SANTOS e Companhia por crédito 172$500.

 JOSÉ DE BARROS por crédito  240$000. 

 JOSÉ DE BARROS sem crédito  13$500. 

 JOSÉ DE SOUZA o que ele disser. 

 ANA DAS NEVES filha de JÁCOME FERNANDES DAS NEVES seis novilhas. 

 SIMÃO DE OLIVEIRA PEREIRA  12$000. 

 - FL.008/VERSO -

 BENS DE RAIZ.

 Declarou o inventariante haver este sítio que consta de casas térreas,
 senzalas, paiol, tudo de capim , capoeiras e matas virgens,  parte  de
 uma banda com DOMINGOS VILELA e MANOEL DE  OLIVEIRA  GULARTE  e  DIOGO
 GARCIA e FRANCISCO XAVIER  e  MATEUS  LEME  e  FRANCISCO  DE  ÁVILA  e
 encostado a Serra das Carrancas que foi visto e avaliado  pelos  ditos
 avaliadores em novecentos e  cinquenta  mil  réis  com  as  terras  no
 barranco do Rio Grande que partem  com  DIOGO  GARCIA  -  Fazenda  das
 Carrancas. 

 - FL.018 -

 Consta que o tutor de órfãos é MANOEL DO VALE RIBEIRO.

 - FL.069/VERSO -

 CERTIDÃO DE ÓBITO de ÂNGELA MARIA DE JESUS.

 (...) a folhas cento e cinquenta e quatro verso  está  um  assento  do
 teor seguinte : Aos dez dias do mes de Outubro  de  mil  setecentos  e
 sessenta e um anos faleceu com todos os sacramentos  ministrados  pelo
 Reverendo LOURENÇO JOSÉ DE ALMEIDA, ANGELA MARIA DE JESUS, casada  com
 BENTO MANOEL DO NASCIMENTO foi  acompanhada  e  encomendada  pelo  Pe.
 Coadjutor BOAVENTURA LOPES LEITE e  sepultada  dentro  da  capella  da
 Senhora do Bomsucesso dos Serramos e para constar  fiz  este  assento.
 Aiuruoca, 10 de outubro de 1761. O coadjutor INÁCIO JOÃO DE SOUZA(...)

 - FL.073 -

 PROCURAÇÃO

 Procuração bastante que faz GREGÓRIO LOPES DOS REIS.
 DATA: 09/03/1770
 LOCAL: São Gonçalo do Rio Verde.
 PROCURADOR: DOMINGOS ALVES PONTES e JOAQUIM COELHO DE SOUZA.
 FIM: Dar quitação da legítima que tocou a sua esposa JACINTA MARIA  DA
 CONCEIÇÃO.
 ASSINADO: GREGÓRIO LOPES DOS REIS.

 - FL.074 -

 PROCURAÇÃO

 Procuração bastante que faz MANOEL MENDES DE ABREU.
 DATA: 08/03/1770.
 LOCAL: (ilegivel).
 PROCURADOR: DOMINGOS ALVES PONTES e JOAQUIM COELHO DE SOUZA.
 FIM: Dar quitação da legítima que tocou a sua esposa DOROTÉIA MARIA DE
 JESUS.
 ASSINADO: MANOEL MENDES DE ABREU.

 - FL.075 -

 PROCURAÇÃO

 Procuração bastante que  fazem  JERONIMO  DE  ANDRADE  BRITO  e  MARIA
 VITÓRIA DO NASCIMENTO.
 DATA: 20/12/1769.
 LOCAL: Carrancas.
 PROCURADOR: DOMINGOS ALVES PONTES e JOAQUIM COELHO DE SOUZA.
 FIM: Dar quitação da legítima que lhes tocou de seu pai.
 ASSINADO: JERONIMO DE ANDRADE BRITO e MARIA VITÓRIA.

 - FL.082 -

 PROCURAÇÃO

 Procuração bastante que fazem ANTONIO DE PAIVA SILVA.
 DATA: 28/06/1777.
 LOCAL: Carrancas.
 PROCURADOR: JOÃO FARIA DA SILVA e DOMINGOS ALVES PONTES  em  São  João
 del Rei.
 FIM: Dar quitação da legítima que tocou a sua esposa  ANA  ANTONIA  DE
 BRITO.
 ASSINADO: ANTONIO DE PAIVA SILVA.

 - FL.083 -

 PROCURAÇÃO

 Procuração bastante que fazem AMARO GONÇALVES CHAVES.
 DATA: 06/04/1777.
 LOCAL: Carrancas.
 PROCURADOR: JOÃO FARIA DA SILVA e DOMINGOS ALVES PONTES.
 FIM: Dar quitação da legítima que tocou a sua esposa LUIZA  TEREZA  DE
 BRITO.
 ASSINADO: AMARO GONÇALVES CHAVES.

 - FL.084 -

 DECLARAÇÃO.

 Declaração bastante que faz MANOEL JOAQUIM DE ANDRADE.
 DATA: 12/12/1776.
 LOCAL: Carrancas.
 FIM: Quitação da legítima que lhe tocou por morte de seu  pai  ANTONIO
 DE BRITO PEIXOTO.
 TESTEMUNHA: ESTEVÃO PAULO DE MELLO e FELIPE ALVES (SOUZA?) DE RIBEIRO.
 ASSINADO: MANOEL JOAQUIM DE ANDRADE.

 - FL.096 -

 CERTIDÃO DE BATISMO.

 (...) nele a folha 69 achei o assento do teor e forma seguinte: Aos  8
 dias do mes de dezembro de 1750 nesta Igreja Matriz de  Nossa  Senhora
 da Conceição das Carrancas batizei e pus  os  santos  óleos  a  MANOEL
 filho legitimo de ANTONIO DE BRITO PEIXOTO natural da cidade de  Braga
 e de sua mulher MARIA DE MORAES natural da vila de São João del-Rei da
 Freguesia de Nossa Senhora do Pilar e nasceu em 14 de novembro do dito
 ano. Foram  padrinhos  SIMÃO  DE  OLIVEIRA,  morador  na  Ibituruna  e
 madrinha MARIA DA CONCEIÇÃO, e para constar fiz este assento,  era  ut
 supra. O vigario ANTONIO LUIZ CAMPOS (...)

 OBS: Aparecem com tutor dos órfãos MARIA DE MORAES e MANOEL  DO  VALLE
 RIBEIRO.

 - FL.173/VERSO -

 CERTIDÃO DE BATISMO de JOSÉ DE ANDRADE PEIXOTO.

 (...) a folha cento e quinze verso se acha  o  assento  (...)  teor  e
 forma seguinte: Aos 23 dias do mes de Setembro de 1733  na  Capela  de
 São Miguel do Cajurú o Padre MIGUEL LEITÃO SOARES  batizou  e  pos  os
 Santos óleos a JOSÉ filho de ANTONIO DE BRITO PEIXOTO e de sua  mulher
 MARIA DE MORAES, foram padrinhos JOSÉ GOMES  BRANQUINHO  e  ANA  PIRES
 mulher de ANTONIO VIEIRA DE MORAES todos moradores neta  freguesia.  O
 coadjutor MANOEL DA COSTA (...)

 - FL.183 -

 CERTIDÃO DE BATISMO de JERÔNIMO DE ANDRADE BRITO.

 (...) a folha 52 achei um assento do teor seguinte: Aos 19 dias do mes
 de outubro  de  1740  nesta  Igreja  Paroquial  de  Nossa  Senhora  da
 Conceição das Carrancas batizei solenemente e pus os  santos  oleos  a
 JERÔNIMO filho legitmo de ANTONIO DE  BRITO  PEIXOTO  e  de  MARIA  DE
 MORAES (ilegivel) foram padrinhos SIMÃO DE OLIVEIRA  da  vila  de  São
 João del-Rei MARIA ALVES BARBOSA das Carrancas de que fiz este assento
 que (ilegivel) verdade asseinei O  vigario  MANOEL  ROIS  RAMOS  (...)
 Passo o referido na verdade juro  aos  Santos  Evangelhos.  Lavras  do
 Funil 10 de outubro de 1769. O caodjutor MANOEL AFONSO DA CUNHA.

 - FL.183/VERSO -

 CERTIDÃO DE BATISMO das gemêas MARIA e ÂNGELA.

 (...) a folha 39 achei um assento da maneira e teor seguinte: Aos 5 de
 abril de 1738 nesta Matriz da Conceição das Carrancas batizei e pus os
 Santos oleos a MARIA e ÂNGELA filhas de ANTÔNIO  DE  BRITO  e  de  sua
 mulher MARIA DE MORAES do  Ribeirão  do  Bomsucesso  desta  Freguesia.
 Foram  Padrinhos  FRANCISCO  DE  ÁVILA  e  sua  mulher  D.  MARIA   DA
 PORCIUNCULA de que fiz este assento que por verdade assinei. O vigario
 MANOEL RODRIGUES RAMOS.

Um pouquinho de Teixeiras

E não é que nesse mundo insólito, onde os mais improváveis encontros acontecem, hoje não houve mais um?

Pois estava eu em meu trabalho, pouco depois do horário de almoço, quando um senhor bem apessoado se apresentou à porta de minha sala.

– Pois não? – disse-lhe a secretária.

– Eu gostaria de falar com o senhor Adauto de Andrade.

– E seria sobre o quê?

– Diga-lhe que um consanguíneo dele está aqui.

Eu, que já estava lá no meu canto com a orelha em pé, de imediato saltei da cadeira!

E assim tive a grata supresa de conhecer o senhor Girley Teixeira, afilhado da Esther, cujo antepassado em comum remonta ao meu tetravô, Francisco Theodoro Teixeira, e com o qual passei os momentos seguintes trocando um proseio pra lá de interessante.

Com seus impressionantes olhos azuis (que lembram bastante os de meu avô materno) foi desfiando causos e pessoas da época de antanho, com os quais eu concordava e acrescentava ainda mais detalhes.

Ou seja, duas pessoas que nunca se viram, tratando de outros parentes em comum que viveram a séculos (literalmente) e tudo dentro da mais perfeita normalidade…

Enfim, uma ótima (ainda que curta) experiência!

Trocamos endereços e telefones e – com certeza – não demora muito e ainda devo lhe fazer uma visita para um cafezinho de fim de tarde…

Tudo por um sax

Essa é mais uma do Valtinho.

Sim, aquele excelente fotógrafo lambe-lambe – ele odeia ser chamado assim – que é a uma das pessoas mais fora de série que eu conheço. Definitivamente uma “figura prima”, pois o termo “figura ímpar” é muito pouco para descrevê-lo – já é melhor ir diretamente para os números primos…

Enfim, do nada ele se convenceu que eu tenho que comprar um saxofone.

Aliás, não é qualquer saxofone – tem que ser o saxofone que ele está vendendo…

– Valtinho, mas por que cargas d’água você comprou um sax afinal?

– Ah, sei lá. Nem lembro mais. Sempre achei bonito aquele negócio de sax. É que nem aquele filme que tem um policial que faz uns hominhos com palitinhos!

– “Hominhos com palitinhos”? Do que é que você está falando?

– Um filme do futuro, pô! Que é todo mundo robô e tem um policial que enquanto vai conversando faz, assim, uns hominhos, uns bichinhos – tudo com palitinho – e vai deixando pra trás…

– Robôs? Futuro? Não é o Blade Runner não?

– ISSO!

– Tá. Entendi. Mas não é no filme, é na trilha sonora então. De fato tem umas músicas muito boas lá com sax…

– Então. Mas agora mudei de idéia. Acho que você é que tem que comprar esse meu saxofone.

EU? Mas o que é que eu vou fazer com isso Valtinho? Eu nem sei tocar esse negócio.

– Ah, sei lá. Passa pros seus filhos então. Já imaginou aqueles japonesinhos tocando sax? Que da hora não ia ficar?

– Não, Valtinho. De jeito nenhum. Não rola.

– Ou então pra você mesmo! Você é uma figuraça, que gosta dessas coisas antigas… Gosta daqueles carrões – como é que é mesmo? Ah é, Passat (ai!). Já imaginou? Você aí… desse jeitão… de chapéu… tocando um sax… Ia ficar igualzinho aquele cara famoso, o Baden Powell (aaaai!)!

– Baden Powell?…

– É, cara!

– Cê tem certeza disso, Valtinho?

– Tô te falando!

– Tá. Entendi. Mas não vou entrar em detalhes com você. Ainda assim, vamos combinar: qual parte do “não rola” você não entendeu? Sinto muito, mas sem chances!

– Pô! Ó o cara…

Enfim, só mesmo o Valtinho para perder tanto tempo querendo que (1) eu gaste um dinheiro que eu não tenho (2) com uma coisa que eu não preciso (3) para fazer algo que eu não quero.

Mas se não fosse assim o Valtinho não era o Valtinho…

Casas Entristecidas

Autora: Walcerly Corrêa de Oliveira
Pedagoga especializada em Educação pela Universidade de Campinas
Artigo publicado no jornal Diário de Jacareí em 30/AGO/2009

De repente, depara-se com um imóvel residencial antigo, destoando da maioria das edificações das ruas, agora movimentadas.

Seus antigos donos já se foram e seus descendentes, por motivos diversos, venderam as propriedades ou as deixaram aos cuidados de locadores, que dão a elas uma finalidade qualquer.

Tímidas e isoladas, entre construções modernas de desenhos frios e materiais sintéticos, essas construções, de elaborada e suntuosa arquitetura, que resistem à ação do tempo ou à demolição, humildemente exercem agora função bem diferente da original, ora servindo ao comércio, ora adaptadas para estalagens ou para frios comitês políticos.

Os poucos imóveis residenciais antigos que ainda restam, habitados por algum membro da família de origem, e que outrora foram cheios de movimento e vida, são agora casas entristecidas.

Suas dependências, onde as famílias se reuniam ao final da tarde e eram especialmente iluminadas em dias de festas, hoje são frios espaços vazios.

Os amplos e confortáveis quartos, antes ocupados por filhos ainda crianças em um entra-e-sai vivificante, hoje são solitários depósitos de velhos objetos empoeirados que, junto com o cômodo, perderam a razão de existir, mas que inconscientemente são mantidos ali, como se o tempo pudesse retornar…

A suntuosidade da construção já não mais é conservada por manutenção, seus vidros se tornaram baços e suas paredes pálidas.

As janelas, destas casas entristecidas, sempre fechadas como para que impedir a saída das lembranças que ali devem estar preservadas, dão-lhes um ar de mistério e causam tristeza seus jardins descoloridos e abandonados, onde velhas e estéreis plantas ainda resistem sustentadas por bulbos profundos plantados por mãos que já se foram…

Casas entristecidas, espremidas entre modernas e funcionais construções, geralmente são indiferentes à maioria: a alguns despertam curiosidade, a outros melancolia, a muitos interesse especulativo, mas aos que valorizam histórias de gentes, despertam saudades…

Lauriana de Souza Monteiro

E, por sua vez, temos aqui a esposa de Manoel Joaquim de Andrade.


 TESTAMENTO de LAURIANA DE SOUZA MONTEIRO

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 | Arquivado no Museu Regional de São João del Rei - Caixa 52         |
 | Transcrito por:                                                    |
 | Transcrito em : NOV/2002                                           |
 | Solicitante   :                                                    |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Testador      : LAURIANA DE SOUZA MONTEIRO                         |
 | Testamenteiro : ANTÔNIO JOAQUIM DE ANDRADE                         |
 | Testamento redigido  na  Paragem  da  Fazenda  do  Espírito  Santo |
 | Freguesia de Carrancas em 26/JUL/1822                              |
 | Abertura      : 03/NOV/1833                                        |
 | Número de folhas originais: 6                                      |
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 - FL.141/VERSO -

 (...) Em nome de Deus trino e  uno.  Eu  LAURIANA  DE  SOUZA  MONTEIRA
 estando em meu perfeito juízo temendo a morte por ser de hora  incerta
 faço o meu testamento da maneira seguinte: Sou natural e  batizada  na
 Capela de Santa Rita, freguesia de São João del-Rei, filha legítima de
 ANDRÉ MARTINS FERREIRA e sua mulher MARIA DE SOUZA MONTEIRA, ambos  já
 falecidos, sou casada com o Tenente  MANOEL  JOAQUIM  DE  ANDRADE  que
 ainda vive de cujo matrimonio tivemos os filhos  seguintes:  VENANCIA,
 casada com MANOEL JOAQUIM DE SANTA ANA, ANA  já  falecida  e  que  foi
 casada com MANOEL TOMÁS DE CARVALHO de cujo  matrimonio  deixou  cinco
 filho que são, JOÃO, FRANCISCO, MARIA,  JOAQUIM  e  UBALDINA,  DELFINA
 casada com o Alferes FRANCISCO TEODORO DE MENDONÇA e ANTONIO os  quais
 são meus legítimos herdeiros nas duas partes de meus bens e  para  que
 não entre em dúvida os que levaram seu dote declaro  que  minha  filha
 VENANCIA quando casou levou uns bens e dinheiro um conto  e  trezentos
 mil réis com os quais entram a colação e os outros  meus  tres  filhos
 lhes dei outra tanta quantia que também entraram com elas  a  colação.
 Declaro que estes dotes foram dados por mim e meu marido  e  por  isso
 entram com eles a colação na parte que lhes coube digo que  me  coube.
 Nomeio por meus testamenteiros com livre e geral administração  a  meu
 marido unido em um só corpo com o meu filho ANTONIO, em segundo  lugar
 a meu genro FRANCISCO TEODORO DE MENDONÇA, em  terceiro  lugar  a  meu

 - FL.142 -

 genro MANOEL TOMÁS DE CARVALHO a cada um em solidão concedo  todos  os
 meus poderes para zelar, administrar e dispor dos bens da minha  terça
 como melhor lhe convier para cumprimento das  minhas  disposições  sem
 que para isso lhe seja preciso autoridade judicial o que tudo por eles
 feito haverei por firme e valioso e lhes deixo de premio duzentos  mil
 réis e uma ano para as contas. Ordeno que meu corpo  seja  envolto  em
 hábito da Senhora do Carmo de cuja  ordem  sou  irmã  e  sepultada  na
 Capela mais vizinha ao lugar do meu falecimento e deixo tudo  mais  do
 meu funeral a eleição do meu testamenteiro.  Deixo  a  Santa  Casa  da
 Misericórdia sessenta mil réis. Deixo que por minha alma se digam  dez
 missas  e  que  sejam  ditas  por  dez  cléricos  a  eleição  do   meu
 testamenteiro pela esmola do Bispado. Ordeno que por alma de meus pais
 se me deve dizer dez  missas.  Pelas  almas  de  meus  escravos  vinte
 missas. Pelas almas do Purgatório  preferindo  aquelas  com  que  tive
 negócios vinte missas. Declaro que de  comum  acordo  com  meu  marido
 fizemos, digo declaro que de comum acordo com  meu  marido  fizemos  o
 Inventário dito dos bens do nosso casal para se dar partilhas a nossos
 filhos herdeiros reservando as nossas terças e por isso da  minha  que
 me competive quero e é muitoa minha vontade  que  cumpridas  todas  as
 minhas disposições do  restante  dela  seja  meu  herdeiro  meu  filho
 ANTONIO e na falta dele seus filhos meus netos que existirem  e  desta
 maneira tenho concluido este meu testamento e rogo as justiças de  Sua
 Magestade Fidelissima queiram cumprir e guardar como nele se contém  o
 qual vai escrito a meu rogo pelo JOSÉ ESTEVES DE  ANDRADE  e  por  mim
 assinado     com     meu     nome      sinal      de      que      uso

 - FL.142/VERSO -

 sendo nesta  paragem  da  Fazenda  do  Espírito  Santo,  freguesia  de
 Carrancas aos vinte e seis de Julho de mil oitocentos e vinte e  dois.
 LAURIANA DE SOUZA MONTEIRA.  Como  testemunha  que  fiz  a  rogo  JOSÉ
 ESTEVES DE ANDRADE.

 - FL.143/VERSO -

 Abertura do testamento ocorreu em 03 de Novembro de 1833.