Na terça, uma foto

Copiando descaradamente o costume do Pedro Dória (e já que não tenho conseguido atualizar direito os super-heróis de sábado), vamos combinar o seguinte: toda terça vou colocar uma foto antiga por aqui, relacionada às cidades da região ou à minha própria família.

Como “primeirinha” temos a Capela de Santa Cruz. Tá, e o que é que tem demais? Essa foto era de quando a capela estava começando a ser desmontada (dá pra ver que parte do telhado já tinha sido retirado), sei lá há quantos anos atrás. Talvez há uns cinquenta anos, pois ali ao fundo, do lado direito, hoje existe a casa de meu pai, a qual foi construída entre 1960 e 62. Tudo que restou dessa capelinha foi o nome da praça: Praça de Santa Cruz. Fica no bairro de Santana (de onde sou nascido e criado), em São José dos Campos, SP – subindo pela Av. Rui Barbosa, bem no ponto onde se vira à direita para chegar até o SENAI. O curioso é que havia um senhor que tomava conta dessa capela e, todos os dias, tocava o sino em determinados horários. Quando a construção veio abaixo, levou esse sino para casa, próxima dali, pendurou-o na varanda e continuo a tocá-lo nos mesmos horários de sempre. A capela já não mais existia, mas continuava dando sinal de sua presença através dos badalos diários de seu sino…

PS.: Meus agradecimentos à senhora Joana Rosa Savastano, viúva do “sineiro”, moradora do bairro de Santana e amiga da minha mãe, que permitiu que essa foto fosse escaneada.

A versão faz o fato

Esse “causo” eu copiei na íntegra lá de uma das listas de discussão sobre genealogia da qual participo – a Gen-Minas. Foi contado pela amiga virtual Silvia Buttros. Leiam até o fim e deleitem-se.

Judy Wallman é uma pesquisadora de genealogia e histórico de famílias no sul da Califórnia. Recentemente ela resolveu conduzir uma pesquisa em sua própria árvore genealógica e descobriu o seu tio-bisavô, Remus Reid era o ancestral comum entre ela e o atual Senador pelo Estado de Nevada, Harry Reid. Ela e o Senador Reid tinham em Remus um ancestral comum.

Ela descobriu também que seu tio-bisavô Remus Reid havia morrido enforcado, condenado por roubo de cavalos e roubo de trem no Estado de Montana, em 1889.

A única fotografia disponível de Remus Reid mostra seu enforcamento, no Território de Montana, em 1889.

No verso da fotografia de Remus Reid obtida por Judy durante sua pesquisa, estava a seguinte anotação: “Remus Reid, ladrão de cavalos, encarcerado na Prisão do Território de Montana em 1885, fugiu em 1887, roubou o trem Montana Flyer por seis vezes. Foi preso pelos detetives da Agência Pinkerton, foi condenado e enforcado em 1889.”

Judy então enviou um e-mail ao Senador Harry Reid solicitando informações sobre seu ancestral comum, Remus Reid, sem mencionar o que já sabia.

Os assessores de Harry Reid enviaram-lhe o seguinte resumo bibliográfico sobre Remus, para ser inserido em sua pesquisa genealógica:

“Remus Reid foi um famoso vaqueiro e cowboy no Território de Montana. Seu império comercial cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos exemplares de cavalos de raça, bem como um íntimo e profícuo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883 ele dedicou vários anos de sua vida ao serviço do governo estadual. Após isso ele licenciou-se para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia. Em 1887 ele foi o elemento fundamental em uma importante investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889 ele veio a falecer durante uma importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual ele estava cedeu logo após seu discurso.”

Isso é política.

Isso é saber apresentar os fatos sem mentir (muito).

Esperança

Boas considerações do amigo (e também copoanheiro) Zé Luís. Segue, na íntegra:

Quando a gente pensa que tá tudo perdido, que as instituições faliram de vez, surge uma esperança de que ainda dá para crer no ser humano.

Ao recusar uma promoção que o afastaria da Operação Satiagraha, o juiz Fausto De Sanctis inscreve mais uma vez seu nome na história e se encaixa no poema de Bretch:

“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém, há aqueles que lutam por toda a vida: estes são os imprescindíveis.”

A notícia:

“Fausto De Sanctis, juiz da Satiagraha, desiste de promoção

Do UOL NotíciasEm São Paulo

O juiz federal Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, divulgou nota nesta terça-feira (18) na qual afirma que não aceitará ser promovido desembargador do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região. Ele é responsável na Operação Satiagraha, investigações culminaram na prisão do banqueiro Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta.

Os advogados de Dantas questionaram a imparcialidade do magistrado e afirmaram que ele trabalhou junto ao delegado Protógenes Queiroz, afastado pela Polícia Federal por supostos abusos na operação. De Sanctis foi mantido no caso por decisão do próprio TRF-3. Caso aceitasse a promoção, o magistrado também não seria mais o responsável por processos relacionados à Satiagraha.

Solidariedade

Recebi, por e-mail, essa série de imagens encaminhada pela amiga Andréa Francomano. Sua mensagem: “Que o seu final de semana tenha bastante calor humano e que a iniciativa de ajudar esteja sempre presente em nossas vidas !”

Muito legal!

Valeu!

(Mequinho) Valtinho

E então, reunidos no boteco’s-bar de praxe, estavam os também copoanheiros de praxe discutindo, como de praxe, acerca da solução dos problemas do mundo.

E eis que chega todo esbaforido o nosso caríssimo amigo, companheiro, retratista e gente boa a toda prova, o Valtinho. Com a sua característica e portentosa voz de buzina de bicicleta (aquelas do tipo fon-fon, lembram?), já foi logo dizendo:

– Caramba, gente. Acabei de ganhar um jogo de xadrez. Acho que nem sei mais como é que se joga xadrez. Como é que vou ensinar meu filho, assim? Como é mesmo que se joga esse negócio?

O sempre prestimoso Bicarato bem que tentou apelar à memória do próprio Valtinho:

– Vamos lá, neguinho. Como é que o cavalo anda?

Meio que desconfiado, meio que indignado, na hora o caboclo já emendou:

– Como assim como é que o cavalo anda? Anda nas quatro patas, uai!

Após os dezoito minutos de gargalhadas que em seguida tomaram conta do recinto, eis que o Bica, talvez munido mais de compaixão que de bom-senso, ainda tentou insistir:

– E que mais você lembra do xadrez?

– Ah, sei lá! Sei que tem um monte de peãozinho querendo comer a rainha. Aliás, também tem o rei – que acho até que deve ser meio viado…

Depois dessa, ficou decidido.

O negócio dele é o jogo de damas.

Ainda que com as peças do xadrez…

Emenda à Inicial: É lógico que essa figura ímpar que é o Valtinho não teria se contentado com somente essa “atrocidade”. Segue lá pro Alfarrábio que tem mais (com fotos) acerca desse sanguibão

Mundo globalizado?

Que sirva de lição aos grandes amantes das modernidades e de todas essas traquitanas tecnológicas. Nossa realidade é bem outra. O mundo lá fora existe, sim senhores. Eu mesmo somente acabei me lembrando disso ao – só hoje! – ler o post  do último dia 10 de junho lá no Lente do Zé.

Ficamos tão preocupados com as novidades, com o virtual, com as posturas, com os movimentos sociais na rede, e, no meu caso ainda pior, com posturas jurídicas, correntes doutrinárias, decisões de tribunais, sentenças incongruentes, que acabamos esquecendo que o mundo não gira em torno de nosso umbigo. O ser humano foi “inventado” bem antes dos computadores e costumava ter seu próprio modus operandi antes dessa era digital. Eu sou o primeiro a sempre me dar esse puxão de orelha para me lembrar disso – mas também sou sempre o primeiro a esquecer…

Bem, segue o texto na íntegra, que foi publicado pelo Zé sob o título de “Rosário e Chapada do Norte”.

Alguém já ouviu falar em Chapada do Norte?

Trata-se de uma cidadezinha mineira de apenas 15 mil habitantes (destes, 9.000 na zona rural), 555 km pra cima de Belo Horizonte – mais precisamente no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais miseráveis do país.

Minha diarista, a Rosário, é de lá. Há mais de vinte anos trabalhando comigo, em quatro casas eu morei, nas quatro ela me ajudou a organizar o caos semanal. Também faz faxina no Villaggio, na casa da Rô e até na gravadora Lua, ainda hoje. Trabalha duro seis dias por semana, incansável.

Vinte anos trabalhando pra mim e até hoje não sei seu sobrenome – até porque nunca precisei saber. Também nunca soube seu endereço, e só passei a ter como falar com ela fora de casa depois lhe dar um celular que havia trocado por um modelo mais novo, cerca de dois anos atrás. Não porque tivesse necessidade ou motivos pra ligar – já que nunca faltou sequer um dia. Simplesmente perguntei se ela queria a geringonça e a resposta foi sim, aceito, obrigado.

Perto dos seus sessenta anos, sempre foi do tipo caladona, séria. Nos últimos anos é que começou a rir um pouco das minhas brincadeiras, a conversar timidamente. Solteira e sem filhos, mora num desses subúrbios da Capital com uma “sobrinha”, moça (des) casada que era filha de uma de suas ex-patroas e que, quando perdeu a mãe, foi morar com a amada faxineira – vejam só.

Das poucas coisas que sei dela, uma é que, há anos, vem economizando e mandando caraminguás pra construção de uma casinha para os pais, velhinhos, lá em Minas. Nesse “palácio”, que nunca termina de ser construído, é que planeja morar quando se aposentar.

Já faz três anos que Rosário não vai a Chapada do Norte. Um pouco por falta de dias livres, outro pra não deixar a “sobrinha” sozinha com seu bebê, já que praticamente sustenta todo mundo em casa. “Este ano ano eu vou dar um jeito de ir”, vinha dizendo.

Ontem ela soube, através de um telefonema – que nem teve chance de atender -, que seu pai falecera. Na verdade, já tinha até sido enterrado, no último sábado.

Veio trabalhar assim mesmo, mais calada do que de costume. Hoje cedo sua tristeza só não era maior do que a frustração e a sensação de impotência diante de um simples detalhe: não tem como falar com seus familiares. Não pode saber como está a mãe, só soube – por quem ligou e deixou recado na sua casa – que a velha senhora “não estava bem”.

Ora, mas como – em pleno 2008 – alguém não consegue falar com alguém neste país por telefone, questionei? Resignada, respondeu que na zona rural de Chapada do Norte só tem um telefone, comunitário, e que não consegue completar uma mísera ligação pra lá. “Deve estar quebrado, como sempre”, concluiu, com pesar. Quem ligou e avisou sobre a perda do pai, explica, teve que rodar pelo menos 40 minutos em estrada de terra até a cidade, sabe-se lá em que condução, pra ter como mandar a triste mensagem.

“Meu pai tinha 84 anos, mas sua saúde era boa”, falou. “Nem sei do que ele morreu, vamos tentar mandar um telegrama amanhã e pedir notícias”.

E continuou seu trabalho, calada, como sempre fez nesses vinte anos.