Halloween com Saci!

Dentro do rol de temas que aguçam minha curiosidade, juntamente com o tema “história”, sou também um fissurado em estórias, contos, lendas, causos, e folclore em geral. Recentemente ganhei do amigo Bicarato (sempre ele!) um livro chamado O que se conta daqui… Nas palavras das autoras, Érica Turci e Tatiana Baruel, trata-se de um reencontro com o fascinante imaginário do jacareiense, através dos “causos” da cidade, num livro que mistura fatos verídicos e ficção, personagens históricos e seres sobrenaturais.

Fiquei surpreso ao ver causos ali contados – como o do “corpo seco” – que eu mesmo ouvia de minha bisa quando era pequeno. O que para mim comprova que toda essa região está definitivamente ligada com o sul de Minas, e também com a herança cultural deixada pelos bandeirantes que por aqui passaram.

Ainda assim é curioso que, mesmo com tanta riqueza cultural, a molecada de hoje (leia-se crianças e adolescentes) tenham mais afinidade com o norte-americano halloween que com as tradições da terrinha…

Apesar da bem-humorada figura ali de cima, tenho que esclarecer que não, não sou adepto da xenofobia, até porque tem muita coisa divertida e interessante além do nosso próprio quintal. Porém sou da opinião que há espaço para todos – afinal de contas que mal faria para as escolas e outras entidades, ao comemorar o Dia de Todos-os-Santos, fazer uma saudável mescla de ambas (ou mais) culturas? Creio que, culturalmente falando, somente teríamos a ganhar com isso! Ademais o folclore é (e realmente deve ser) dinâmico, ou seja, não temos que nos prender somente em tradições estáticas do passado: elas devem evoluir como todo o restante do mundo. É saudável e recomendável que guardemos suas raízes e origens, mas não podemos manter nossas tradições estagnadas.

Tem gente que já percebeu isso e vem fazendo o possível para demarcar esse território. Por exemplo: pra grande alegria da turma da SOSACI – Sociedade dos Observadores de Saci, temos que foi oficialmente criado o Dia do Saci. Segundo a Wikipedia:

O Dia do Saci é um evento criado pelo governo do Brasil em 2005, de caráter nacional, elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PCdoB – SP) e Ângela Guadagnin (PT – SP) com o objetivo de resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao “Dia das Bruxas”, ou “Halloween”, da tradição cultural dos Estados Unidos da América. Por isso é celebrado em 31 de Outubro. Anteriormente, o projeto de lei já havia sido aprovado na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municipal de São Paulo.

E, só por curiosidade, também segundo a Wikipedia, o Halloween – chamado de “Dia das Bruxas” nestas terras tupiniquins – tem suas remotas origens nas tradições celtas, quando se comemorava o fim do verão. Entre o pôr-do-sol do dia 31 de outubro e o amanhecer de 1º de novembro, ocorria a noite sagrada, ou seja, a Hallow Evening, palavra que através dos tempos deve ter sido deturpada para Hallowe’en, e, finalmente, Halloween.

Enfim, particularmente acho que há espaço pra todos. Afinal trata-se do imaginário popular, ou seja, do folclore, do saber do povo – do inglês folk (povo) e lore (saber) – que, repito, deve ser dinâmico.

De minha parte, juntamente com os filhotes, nesse feriado quero ver se consigo ir até São Luiz do Paraitinga pra tentar encontrar algum saci…

Turma de 96

Há cerca de 20 anos eu estava na fase final de minha adolescência. Estudava, trabalhava e estava prestes a me casar.

Há cerca de 15 anos eu havia acabado de passar pelo “facão” do banco onde trabalhava e, depois de quatro anos e um status de quase gerente, passei então a trabalhar num escritório de contabilidade num bairro do subúrbio. Ganhava um salário mínimo e mesmo assim resolvi começar uma faculdade. É. Direito parecia bom.

Há cerca de 10 anos, depois de passar por poucas e boas, altos e baixos, com subidas e descidas, tanto na vida pessoal quanto na profissional, eu estava prestes a me formar. Foram aproximadamente cinco longos anos desde o vestibular até a festa dos 100 dias. Às vezes parece que foi mais. Às vezes parece que foi menos.

Mas com certeza foi bom.

Comecei a estudar na turma da manhã (mais uma vez, por causa de um novo trabalho), porém, uns seis meses depois, passei pra noite. Conheci muita gente e mais gente ainda me conheceu. É certo que não me lembro lá muito bem de todos (ah, mardita memória!), mas de todos que me lembro, garanto que é com carinho. Nem sempre fui muito próximo de todos, mas de alguns fui mais próximo que se possa imaginar.

Após a formatura e com o passar dos anos algumas amizades esfriaram, algumas pessoas se distanciaram e outras simplesmente desapareceram. Entretanto, também novas amizades surgiram, outras melhoraram e algumas permanecem até hoje. E tudo entre os formandos!

Muitos de nós, ainda que arduamente, conseguimos permanecer na área do Direito. Não foi fácil. Mesmo aqueles que já tinham uma certa tradição na família, ainda assim penaram bastante. Outros nunca conseguiram ou sequer quiseram exercer a profissão. E outros, ainda, foram em busca de novas experiências em outras áreas. Alguns mudaram de vida, de ares e até mesmo de país.

Porém o que nos une depois de tanto tempo é o simples fato de que nos formamos juntos. Passamos por muitos apertos, sofremos com as mensalidades, com a falta de professores, com as fogueiras de vaidades do corpo docente, com salas de aula chuvosas, atrasos, cansaços, tarefas, trabalhos, provas, exames, etc, etc, etc. Mas também tivemos nossas cotas de coisas boas, nos divertimos em festas e bares, comemoramos a vitória de boas notas, matamos aula pra prosear, farreamos no pindura… Enfim, passamos por muita coisa juntos por cinco anos até que nos formamos.

E isso já foi praticamente há dez anos…

Mas vamos aos fatos. Não é de hoje que a nossa colega (e também amiga, diga-se de passagem) Cinthia Polatto vem orquestrando a idéia de um churrasco pra comemorar esses dez anos. Uma boa parte do povo tá lá no Orkut, alguns outros estão perdidos pelos e-mails da vida e o resto acho que nem sabe que existe Internet… Mesmo lá na nossa comunidade orkutística o pessoal vem falando do churrasco, mas ninguém se anima de verdade.

A última expressão de vontade nesse sentido veio há quase três meses por parte do Tiago! Ele sugeriu um churrasco ainda este ano para aquecermos as turbinas. Comentou que sempre aparecerá alguém pra dizer que não poderá ir neste, mas com certeza estará no próximo. Sugeriu que começássemos a pensar com antecedência. De minha parte lhe respondi que basta marcar (desde que tenha espaço suficiente pros três filhotes correrem à vontade).

Mas ninguém mais se manifestou.

Com esse post estou tentando dar um pontapé inicial nessa idéia. Vamos marcar alguma coisa e simplesmente executar! Quem está por aqui na Internet que avise outros que também estão e, independente disso, que todo mundo procure avisar aqueles que não estão.

Vamos ver se isso vai surtir efeito…

E, pra matar a saudade, seguem três imagens de três bons momentos de parte do povo da facultas. Quem quiser ver a foto (beeem) ampliada, basta clicar na imagem. Alguém se habilita a dizer quem é quem?


( Clique na foto para ampliar… )


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O passado bate à porta (II)

Irmãs Cajazeira1948. Seu Bento (vulgo Meu Pai) tinha, então, apenas onze anos de idade e veio do interior de Minas, juntamente com toda sua família, de trem, para o Vale do Paraíba, em São Paulo, onde seu pai (vulgo Meu Avô) resolveu tentar nova vida. Instalaram-se na zona rural de São José dos Campos, a família cresceu, fizeram amigos, conheceram o povo em geral. Pouco mais de dez anos depois seu Bento casou-se com Dona Dete (vulgo Minha Mãe) e instalaram-se na mesma cidade, no bairro de Santana (também conhecido como estância hidromineral – muita água em baixo e mais mineiro ainda em cima). Repetiu-se o ciclo, tiveram seus filhos e também eu nasci, sem saber que num futuro não muito distante teria a aparência física tão semelhante à de meu pai.

1988. Um ano que começou quente e abafado, com chuvas tão ligeiras que mal era possível se refrescar. Eu (vulgo Eu mesmo) havia me casado há pouco tempo e estava de mudança para uma casa nova, ainda em reforma, em Santana. Bairro antigo na cidade, onde a maioria dos moradores já remontava a outras épocas. Dentre estes, estavam as chamadas “Irmãs Cajazeira”. Quem se lembrar da antiga série “O Bem Amado”, com Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo e outros personagens pra lá de caricatos também vai se lembrar dessas moçoilas.

Na vida real, lá em Santana, tratavam-se de três irmãs já idosas e solteironas convictas que moraram juntas a vida toda. Minha nova residência ficava a apenas algumas dezenas de metros da casa delas e, na época eu ainda não sabia, elas foram amigas de minha família e conheciam meu pai de longa data. Naquele entra e sai de mudança, organizando tudo, eu e a falecida (vulgo ex-esposa) estávamos a todo momento na calçada, sob a vistoria intrépida daquelas senhoras que tinham por missão particular de vida fiscalizar toda a vizinhança. E eis que entre elas surge o conversê (cujo teor só fiquei sabendo por elas mesmas, anos depois):

– Olha lá, vizinhos novos!

– Hmmm, parece casalzinho recém-casado…

– Já têm filho? Alguém viu algum bebê por ali?

– Não, não parece que têm não. Mas aquele rapaz ali até que é bem familiar, não é não?

– Agora que você falou, é sim. Quem será?

– Ah, não acredito que vocês não se lembram! É o Bentinho!

– Será?

– Ah, não pode ser!

– É sim!

– Mas tirou o bigode.

– E tá bem, não tá não?

– Tá sim. Bonitão, como sempre… E casado com aquela mocinha!

– Menininha de tudo!

– E a Detinha?

– Não sei não.

– Deve ter desquitado…

– Pouca vergonha.

– Puxa vida, mas que coisa. Como será que ele conseguiu ficar assim tão bem conservado – tanto que até casou de novo – e nós três aqui, ACABADAS!…

O passado bate à porta (I)

Dia de eleição. Como voto no mesmo lugar desde que tirei o título de eleitor, que, inclusive, é a escola estadual onde estudei da primeira à oitava série, é também uma oportunidade para rever velhos amigos e conhecidos.

Seção cheia, bem cheia. A fila dava volta no corredor. E eis que aquela moça simpática, a alguns metros de distância, sorri para mim e dá um tchauzinho…

Olho para a menina logo atrás de mim, a qual está absorta numa conversa com um rapaz – provavelmente namorado. Olho para a moça na minha frente, que, por sua vez, está examinando atentamente uma mancha formada no teto.

É. É comigo mesmo.

Sorrio e avanço alguns passos na direção da agora sorridente moça, a qual me disse:

– Olá! Tudo bem? Há quanto tempo, hein?

Aproveito – também sorrindo – para tomar-lhe da mão o título e examinar seu nome completo. Nada. Minha mente é um vazio. MUITO sem jeito, digo-lhe:

– Puxa, não fique brava, mas sinceramente não consigo me lembrar de você…

– COMO NÃO??? A gente estudou junto, tinha fulano, beltrano e sicrano na nossa classe! Lembro-me até de uma redação que você fez, que a cada frase você terminava com a frase “É claro”!

Sinto o coração encolher e um rubor subindo às faces. Diacho, do que é que ela está falando? Que raio de redação seria essa? Que terminava com “é claro”? Tem minha cara brincar com as palavras desse jeito, mas desde o ginásio?

– Olha, realmente NÃO me lembro, mesmo. Mas, também, né? Já faz mais de vinte e cinco anos, meus neurônios já estão numa fase de perder as sinapses…

Rimos um pouco e passamos a conversar sobre amenidades. Mas aquela sensação de mal estar permaneceu na pontinha do meu coração. Como diria uma amiga, “borboletas revoavam em meu estômago”…

Havia chegado a hora de ela votar, de modo que voltei para meu lugar na fila (que dava volta, lembram?) – ainda assim fiquei matutando. Foram necessários mais uns dez minutos, até que a lembrança me atingiu como uma bigorna!

– MAS É CLARO!

A moça que estava na minha frente olhou desconfiada para aquele sujeito grandalhão que estava falando sozinho.

Lembrei-me dela! Ainda não conseguia precisar o ano específico em que estudamos, mas a imagem me veio à mente: ela era bem magra, e na época já era meio que alta para a idade; seu cabelo era curto, preto e cheinho nas pontas (e não loiro como agora), e não consigo deixar de imaginá-la com uma blusa, se não me engano de tricô e de gola alta, feita com várias faixas coloridas – cada faixa, um fio de uma cor.

Lembrei-me mais com o coração do que com a mente, pois veio a sensação de que éramos bem mais que colegas de classe! Não, não namorados – até porque não namorei absolutamente ninguém da escola naquela época. Éramos amigos mesmo. Ademais, sempre tive muito mais facilidade de fazer amizades com as meninas que com os meninos. Em sua maioria, elas sempre tiveram bem mais o pé no chão que os demais rapazes, os quais só pensavam em futebol, bicicleta, etc, etc, etc.

Pena que não a encontrei pessoalmente para lhe pedir perdão (e não desculpas) pela memória cheia de buracos que tenho. Poderíamos ter relembrado com mais acuidade aqueles tempos. Mesmo assim consegui achá-la no Orkut, e pude fazer um mea culpa virtual Contudo, a respeito daquela redação, a do “é claro”, sinceramente não consegui me lembrar. Todo o material escolar que eu possuía daquela época já deve ter virado pó, e minha memória – que sequer conseguiu lembrar de pessoas queridas – deixou-me na mão também com relação a isso. Mas, dado o tempo decorrido, e as zilhões de situações pelas quais eu já passei desde então, era de se esperar uns lapsos desse jeito…

É claro.

Palestra de Steve Jobs

Copy & Paste do bom e velho Alfarrábio. Realmente vale a pena ler até o final:

Veja a íntegra do discurso de Steve Jobs, o criador da Apple, para os formandos de Stanford:

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.

A primeira história é sobre ligar os pontos

Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais dezoito meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei?

Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina. Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês o querem?” Eles disseram: “É claro.” Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade.

E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de 6 meses, eu não podia ver valor naquilo. Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria OK. Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes.

Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo. Muito do que descobri naquele época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço.

Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.

Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse. Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para a frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.

De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.

Minha segunda história é sobre amor e perda

Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação – o Macintosh – e eu tinha 30 anos. E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses. Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício]. Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo.

Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa. Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple. E Lorene e eu temos uma família maravilhosa.

Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama. Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.

Minha terceira história é sobre morte

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último”. Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.

Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.

Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de 3 a 6 semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas – que é o código dos médicos para “preparar para morrer”. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus. Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem. Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário. Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid. Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes do Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de The Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras: “Continue com fome, continue bobo”. Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.

Obrigado.

Dia de festa!

Finalzinho de 2005. O casal estava radiante: finalmente, após anos de namoro, decidiram que já era o momento de marcar o casório. A data foi escolhida com cuidado e carinho, já para o ano seguinte, de modo a homenagear o pai da noiva. O dia de seu aniversário, quinze de setembro.

E lá foram eles comunicar a grande decisão.

Orgulhoso, o peito estufado como um pombo, certo de que não tinham como errar, já esperando a alegria e comemoração por parte do futuro sogro, o noivo adiantou-se para ele:

– Pois é, seu Chico. Nós viemos lhe comunicar uma coisa muito importante. Já marcamos a data: QUIN-ZE-DE-SE-TEM-BRO!!!

Segundos de silêncio e expectativa no ar. A respiração presa, esperando – talvez, no mínimo – um pulo, um berro, uma alegria desvairada. Certo de que havia acertado a jogada, um inafastável xeque-mate, o lance certeiro e perfeito.

Então, com um olhar calmo de quem avalia a situação, com um olhar complacente por cima dos óculos, eis que o sogrão se manifesta:

– Quinze de março. E não se fala mais nisso.

E o noivinho, atônito, pálido e desconcertado, murchooooou…

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Mesmo assim, permaneceu a data. E eis que – finalmente – chegou! Meus sinceros cumprimentos virtuais aos nubentes. O abraço pessoal será dado ainda hoje, mais tarde, com um bom brinde, no decorrer da festa.

Parabéns, Carlos e Milena!

Ordem e Progresso

Pois é: Semana da Pátria, feriadão, emendou-se tudo, quatro dias direto, etc, etc, etc.

Já falei por aqui sobre isso antes, mas acho que não custa repetir (principalmente agora que os arquivos estão ficando indexados): alguém sabe de onde exatamente veio a expressão “Ordem e Progresso” que está em nossa Bandeira Nacional?

Então, vamos à nossa famosa pérola de cultura inútil…

A expressão “Ordem e Progresso” foi resumida por Miguel Lemos, um dos integrantes da equipe que definiu os parâmetros do atual visual de nosso pendão. Segundo Augusto Comte, fundador da Escola Positivista, essa expressão vem da seguinte frase:

“O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim.”

Existem, ainda, outras características interessantes que dizem respeito às cores adotadas, vinculando-as não só às características desta terra brasilis como também a todo um estudo heráldico da Família Real Portuguesa. Mas deixemos isso pra um outro dia…

No mais, só me resta dizer o quão estupefato eu ainda fico com a capacidade desse povo de reinventar o óbvio. “Semana da Pátria” (e expressões afins), pra mim, já resume tudo: o tema a ser abordado é – logicamente – a Independência do Brasil. Afinal de contas é pra isso que existe essa data comemorativa. E não é que agora muitos municípios resolveram inovar? Inventaram temas para o desfile. Só aqui na região já ouvi falar em “Meio Ambiente” e “Pai da Aviação” – que será que não rolou por esse Brasilzão afora?…

Tudo bem, tudo bem: sei que é mais uma implicância desse velho ranzinza que vos escreve, mas sou assim; que fazer? Tá certo que deve ter ficado bonito, interessante, educativo e quantos adjetivos mais queiram pôr. Sei também que nossa Independência – historicamente falando – já foi toda torta, pois a imagem pintada através dos tempos não necessariamente corresponde aos fatos verdadeiramente ocorridos. Mas ainda assim tenho um pé totalmente atolado em tradições do passado e existem certas coisas que simplesmente não consigo entender (aceitar). E essa é uma delas.