O Homem da Terra

Clique na imagem para ampliar!

Caríssimos, nestes dias de hoje, com toda a tecnologia espalhafatosa que qualquer filme até mesmo de quinta categoria costuma apresentar, num momento em que os efeitos especiais estão cada vez mais grandiosos, a alta definição é de causar espanto e os efeitos 3D nos deixam estupefatos, enfim, nestes tempos de blockbusters, respondam-me sinceramente: vocês se submeteriam a assistir um filme sem NADA disso?

Pior, sem efeito NENHUM. Nem mesmo do tipo cenas de “flashback” para ilustrar uma eventual passagem de alguma narrativa. Um filme de cerca de uma hora e meia de duração, com pouco mais de meia dúzia de pessoas dentro de uma casa… conversando.

E só.

Parece chato, não? Aliás, muito chato. Ledo engano. Crasso engano. O filme é daqueles que você não consegue parar de assistir até chegar o final. E, quando chega, ainda fica com vontade de assistir de novo!

Trata-se de “The Man from Earth”, uma película de 2007, sem atores famosos, sem efeitos especiais, nem mesmo algum diretor badalado. Saibam que revelar parte da estória (ou será história?…) em nada afeta a possibilidade de que vocês venham a assistir e – com certeza – gostar do filme. Mas se você é daqueles que não gosta de saber nadica de nada de um filme que ainda vai assistir então pare de ler agora!

Não parou?

Tem certeza?

Então vamos lá!

O filme inteiro se passa no interior de uma casa, onde se reúnem alguns professores universitários para uma pequena confraternização de despedida, pois um deles está indo embora. Dentre eles, um arqueólogo, uma professora de literatura, um biólogo e um historiador. No decorrer da estória a casa vai se esvaziando – de coisas, não de pessoas – pois o proprietário doou praticamente tudo para caridade. Por último fica quase que só o sofá em que estão sentados.

Acontece que esse professor, John Oldman (e nunca um nome descreveu tão bem alguém), resolve revelar o porquê está indo embora. É que ele nunca fica mais de dez anos num mesmo lugar, senão as pessoas à sua volta começam a perceber que ele não envelhece. Isso mesmo. Ele é uma espécie de imortal que tem… 14.000 anos de idade!

E com isso o filme avança, dando início a uma extensa discussão filosófica, ora com conflitos, ora com humor, mas num clima, no mínimo, intrigante. Isso porque tanto ele não pode provar para os demais que tem essa idade, quanto estes não podem provar que ele não a tem. E a narrativa prossegue com ele contando um pouco de sua longeva experiência, que não o tornou mais sábio, nem mais inteligente – apenas um cara comum vivendo um dia após o outro. Passa pelos “homens das cavernas”, colonizações, descobertas da humanidade, Idade Média e por aí vai. Até mesmo Buda e Jesus são vistos sob uma ótica muito peculiar.

É um filme que empolga, emociona e entretém. E, ao final, surpreende!

A única coisa que eu não sabia quando o assisti é que foi baseado na obra de Jerome Bixby, um escritor de ficção científica que, dentre outras trabalhos, escreveu alguns capítulos de Star Trek e também de The Twilight Zone – os nerds de plantão sabem do que estou falando…

A estória original foi concebida por volta de 1960, mas somente acabou sendo produzido por seu filho, Emerson Bixby (o Bixby sênior faleceu em 98), e o filme ganhou fama à época porque foi distribuído livremente pela Internet. Ou seja, é um daqueles pequenos tesourinhos independentes que ocasionalmente aparecem na indústria e que se transformam rapidamente numa obra cult.

Enfim, recomendo.

Fucem por aí e baixem.

Não vão se arrepender…

O mecânico

Dia desses fui assistir o terceiro filme do Homem de Ferro. Alguém já havia me falado que não tinha gostado, que esperava mais, que o filme poderia ser melhor, etc. Algo assim. Mesmo assim, assisti. A eterna desculpa de que “fui levar a criançada” sempre é ótima!

E lá estava eu, como de praxe, com minha pipoca – doce por baixo, salgada por cima e muita manteiga…

E, independentemente, do pré-conceito que me foi passado, de um modo geral gostei do filme. Ah, antes de mais nada, para aqueles que não assistiram, fica o alerta de spoiler… Bem, tá certo que a estória se arrasta em alguns momentos, enquanto que em outros exageraram nos efeitos especiais. Talvez o ideal fosse dividir o filme em duas partes, de modo que se tornasse possível aprofundar um pouco mais, tanto na trama de um modo geral, quanto na do personagem, de um modo particular. Isso tudo significa que não gostei do filme? Não, antes o contrário! Aliás, melhor explicando, gostei da mensagem que o filme passou.

Tire as tecnologias de Tony Stark. Tire os brinquedos. Tire o dinheiro. Tire tudo. Ainda assim, o que resta? O mecânico. Isso ficou patente em todos os três filmes. De um jeito ou de outro, o personagem retrata um sujeito que gosta de construir coisas. Que tem um dom. Que cria. Que, no final, conclui por um retorno à simplicidade. Não existe? Eu faço. Eu que fiz? Posso desfazer. Desfez-se? Faço de novo. Quebrou? Eu conserto.

Tanto o é que, ao final, Tony Stark, o cientista, o gênio, o empresário, o filantropo, o bilionário, o playboy, o super-herói – e sabe-se lá quantas outras alcunhas – assina como? Simplesmente “o mecânico”.

Um resgate às origens.

E, de todo o filme, compreender essa mensagem é o que me foi mais importante.

Quantas vezes já não discuti isso aqui neste nosso cantinho virtual? Sobre o que verdadeiramente importa? Em especial, acho eu, neste texto. Velejando pelos jargões e clichês de sempre, será que a criança que eu fui gostaria do adulto que me tornei?

Invariavelmente costumo discorrer sobre a inevitabilidade da vida, para onde o Destino nos conduz. E por isso mesmo – brilhante concepção! – encantei-me com uma das frases finais do filme Forrest Gump: “Não sei se cada um tem um destino ou se só flutuamos sem rumo, como numa brisa… Mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo…”

Ou seja, sim, existe um Grande Plano. Mas também existe um Grande Caos. E uma coisa tanto leva à outra quanto depende da outra. Jogue uma pedra num lago e observe o efeito das ondas repercutirem sobre sua superfície. Jogue outra, com idêntico formato, peso, força e local. Jamais você conseguirá o mesmo efeito já obtido.

Seja uma pedra. Sinta-se lançado no lago do tempo. As ondas que hoje você vive são a repercussão de tudo o que até hoje você já fez. Você somente é o que é por tudo que você já fez e já viveu.

E, já que falávamos de filmes, daí, talvez, o grande encanto pelas estórias em que personagens de alguma maneira voltam no tempo, como em Em Algum Lugar do Passado (Somewhere In Time), Feitiço do Tempo (Groundhog Day), O Exterminador do Futuro (The Terminator), De Volta Para o Futuro (Back To The Future) e, provavelmente meu preferido, Peggy Sue – seu passado a espera (Peggy Sue got married). De todos, este último tem uma das cenas mais interessantes com relação a esse conceito acerca da possibilidade de mudar seu passado para influenciar seu futuro (ou seja, sua vida atual). Nesse filme de Coppola, a personagem, no passado, conversa com seu avô (o qual acredita realmente que ela viajou no tempo) e lhe pergunta algo como:

“Vovô, o que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo?”

Ao que ele responde:

“Teria cuidado melhor de meus dentes.”

E qual é o encanto dessa singela passagem? É a plena consciência do ancião de que qualquer coisa que tivesse feito lá atrás poderia mudar o que ele é hoje. E essa passagem sempre fez minha cabeça dar voltas – e até hoje faz. Mais ou menos como aquela crônica de Veríssimo, Versões. Cada situação que eu passei é que me trouxe ao presente momento. Qualquer mínimo desvio de rota e eu não estaria onde estou com a consciência que tenho. E, de um modo geral, até que gosto de quem sou. Creio que não me admito, hoje, sem ter conhecido cada uma das pessoas que conheci, sem ter passado por cada uma das situações que passei, sem ter cada um dos filhos que tenho. Qualquer desvio de rota no passado, por ínfimo que fosse, teria alterado meu futuro. Ou melhor, meu presente.

E – divagações cinéfilas à parte – o que tudo isso tem a ver com o mecânico?

Que, apesar de tudo, de todas as nuances, de cada uma das ondas deste nosso lago temporal que foram necessárias para vislumbrar o efeito do que hoje somos – parece-me que as coisas se tornaram complexas demais. Melhor: tornei as coisas complexas demais. Uma volta às origens sempre será necessária. Às vezes olho-me no espelho e não me reconheço! Alice, quem é esse cara mal humorado que me fita do outro lado? Esqueci a simplicidade. Onde está aquela criança que enfiava pequenas peças encontradas no chão em uma caixa de fósforo e a levava na oficina, orgulhoso, para mostrar ao pai que também estava consertando algo?

Enfim, preciso resgatar o mecânico adormecido que paira em algum lugar do meu coração. Ou de minha alma. Ou de ambos. Não devo – nem posso – descuidar do plano global de minha vida, mas é imprescindível retomar os pequenos prazeres das pequeninas coisas. Viver a vida a mil? Legal, Janis. Mas chega um tempo – e esse tempo sempre chega – que a dez é bem melhor.

E nesse exercício de paciência para todo aquele que chegou até aqui depois deste longo texto de quem há muito não colocava as próprias estapafúrdias idéias em evidência, diga-me: e você? Existe alguém preso na masmorra de seu coração ou na torre de sua alma que precisa ser resgatado?

Clique na imagem para ler a revista a que ela se refere!

Jerry Lewis e a máquina de escrever

Achei que já tinha publicado isso por aqui antes, mas outro dia – por conta de mais uma das inúmeras “adaptações” do Hino Nacional Brasileiro – fui procurar e não encontrei.

Então lhes reapresento Jerry Lewis e a clássica cena da máquina de escrever, diretamente de 1963 – uma época em que a mímica e o gesto eram fundamentais para as gags de humor. Reparem que ele não falha em nenhuma nota e em nenhum som…

Filme do dia

Como muito bem disse a Amanda Pimenta neste texto aqui: “a partir do momento em que você passa a entender a grandiosidade da beleza dos filmes que estão à margem do sucesso, passa a idolatrá-los. Isso porque todo o tipo de arte, principalmente a sétima, possui pessoas envolvidas. No caso de filmes, dezenas, centenas, talvez até mesmo milhares. Pessoas que se reúnem e dão o melhor de si para desenvolver essa bela expressão artística que são os longas e curtas metragens.”

Sugiro veementemente que leiam o texto completo…

De minha parte, muitos dos melhores filmes que já assisti simplesmente não fizeram parte do “grande circuito” – ou, se fizeram, também simplesmente não tomei conhecimento deles…

E o que recomendo por hoje é esse: Ruby Sparks – A namorada perfeita. Imaginem um escritor com bloqueio criativo e que, não mais que de repente, sente-se compelido a escrever sobre uma personagem que jamais existiu. Imaginem que ele se empolga tanto com essa tarefa a ponto de se perder nos detalhes e pormenores de sua criação. Imaginem que ele fatalmente se apaixona por ela. E, finalmente, imaginem que ela passa a existir – em carne e osso!

Sei que até pode parecer um pouco com Weird Science, de 1985, mas garanto-lhes que o enfoque é bem outro! A estória tem uma sensibilidade quase que oculta, fazendo-nos pensar quão complicados são nossos relacionamentos, quão inflados são nossos egos e quão simples seria meramente ter a coragem de encarar cada um como realmente é…

“Life is pain”

Finalmente acabei de assistir a última temporada do House.

Graças aos bons samaritanos que têm quase que por sacerdócio a tarefa de legendar e compartilhar com os demais mortais, mal era lançado algum novo episódio lá fora e eu já baixava para as catacumbas de meu computador.

Mas, no caso da oitava – e última – temporada, lá ficaram por mais tempo do que eu poderia pressupor. Não sei exatamente o porquê de não ter assistido antes. Mas agora assisti. E me impressionei. Críticas dos experts à parte, foi um bom desfecho. Bem inesperado, confesso. Mas, ainda assim um bom desfecho.

Como sempre, fica um gostinho de “quero mais”…

Mas não mais teremos.

Num explícito trocadilho com sua frase mais famosa – “everybody lies” – o título do último episódio não deixa margem para dúvidas: “everybody dies”.

E deixo, por fim, uma cena impressionante (ao menos para mim) dessa reta final. Num impacto digno de Gandalf, talvez a maior explosão que já presenciei do personagem.

E, como sempre, com uma grande verdade avassaladora em suas palavras…

 
E adeus.

Querendo dormir?

Imaginem a seguinte hipotética situação: o sujeito (vulgo macho-alfa, pseudo-líder da alcatéia), sua Dona Patroa (gravidíssima como sempre) e uma renca de filhos (sendo que cada qual dorme num horário diferente). E, lógico, o zeloso sujeito, a mando pedido de sua amada idolatrada salve salve esposinha, é quem foi incumbido de colocar a criançada pra dormir, numa incessante luta para tentar conseguir fazer com que cheguem num determinado momento de delicadíssimo equilíbrio em que todos estejam simultanteamente dormindo, dando-lhe, enfim, um pouco de paz…

Não, não! Desta vez não tenho nada a ver com isso não!

Juro que não fui eu!

Trata-se de uma cena da excelente animação Hotel Transilvânia, que, a cada vez que lembro, começo a rir novamente. Confiram por si mesmos, atentando ao detalhe do sono dos justos que vai finalmente chegando, calma, lenta e inexoravelmente, até que…