Dia Mundial do Rock

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Isso mesmo crianças: 13 de julho continua sendo o Dia Mundial do Rock!

Vocês querem saber como começou essa bagaça? Então sentem-se e leiam um pouco de história neste link aqui.

Agora, se vocês quiserem apenas ouvir um bom e velho rock’n roll, então confiram estas duas clássicas neste outro link.

Mas para que não digam que sou apenas um velho dinossauro saudosista – ainda que minha idade mental em termos musicais tenha parado lá pela década de oitenta – eis um pouco de bom e novo rock atual para vocês. Ou quase. Pois o álbum é de 2010…

Senhoras e senhores: Linoleum, de Pain of Salvation!

Cuidado!

1984.

Diferente do que previu George Orwell, o mundo (ainda) não estava dominado pelo Grande Irmão. Levaríamos, em padrões Globais, mais uns trinta anos para alcançar esse patamar…

O movimento Diretas Já! era algo que acontecia lá fora, marcando o início do fim da ditadura no país, sustentada tão somente pelo já depauperado governo do general Figueiredo, deixando a todos num ar meio que de perplexidade, sem saber exatamente para onde estávamos indo, tendo somente como realidade a última herança dessas duas décadas: um quadro de hiperinflação que ainda iria perdurar por cerca de mais dez anos. E estamos falando de números de quatro dígitos! Era uma insanidade!

Mas nós, adolescentes da época, começando nosso despertar para a vida, para os amigos, para os amores, para o trabalho, para a política, apenas orbitávamos em torno de tudo isso. Nada nos surpreendia, pois quadros como esse já faziam parte de nosso dia-a-dia. Fato processado, assimilado e consumado.

E, para mim, a simples realidade de período integral eram os estudos na ETEP, com tudo que dele fazia parte: mochila Knapsack preta de lona, régua T, outras réguas e esquadros da Desetec, compasso Kern, lapiseira 0,5 Pentel, canetas nanquim, papel vegetal, pranchetas, folhas A4, A3, etc, etc, etc. E, também, um certo cansaço. Apesar da tenra idade, a ida e volta pedalando doze quilômetros todos os dias – e com toda essa tralha nas costas – não era lá muito fácil!. Mas também tínhamos as festas, os namoricos, os trotes, as reuniões. Em especial aquelas que aconteciam no GEDOM, um salão reservado dentro da escola que sediava uma espécie de “clubinho” dos alunos que, como eu, estudavam Mecânica (daí até chegar na área de Direito tem uma longa estrada…). Eram clássicas as batalhas nas mesas de pingue-pongue, bem como as sessões de cinema que fazíamos, tendo por base fitas VHS alugadas ou simplesmente copiadas de alguém – “pirataria” era algo que simplesmente não existia no vocabulário da sociedade da época. Outras coisas eram clássicas lá também, mas este é um blog de família e deixo essa conversa para um pé d’orêia nos botecos da vida…

Enfim, volta e meia aparecia alguém com um filme “novo” para nosso deleite. O dinheiro era escasso, o cinema era caro (hiperinflação, lembram?), então virávamo-nos como podíamos.

E dessas sessões clássicas, lembro-me de uma clássica entre elas: uma tarde em que não havia aula e nos enfurnamos nesse nosso castelo para curtirmos dois filmes. Começamos com o recém-lançado filme Bete Balanço, com a – na época – deliciosa e sapeca Débora Bloch com apenas uns vinte aninhos; e, na sequência, The Wall, do Pink Floyd.

Vocês não têm noção do que foi aquilo.

A história dentro da história dentro da história. Tudo paralelo, simultâneo, ao mesmo tempo. A Segunda Guerra Mundial mesclando-se com uma infância isolada e opressora do mesmo jovem que viria a ser uma depressiva estrela do rock (conhecido como “Pink”), culminando com sua liderança de um grupo de “tudo-fóbicos”. Tudo isso temperado com a total desintegração de seu próprio ser ante o peso de todas essas experiências marcantes de sua vida. E, mais, com uma música de primeiríssima qualidade.

Mas os desenhos – ah, os desenhos!

Hoje todos estão tão acostumados com animações, efeitos especiais, desenhos de todo tipo e calibre, que até poderiam fazer com que os do filme parecessem toscos. Mas não o são. Nem nunca foram. E para aqueles adolescentes alucinados (literalmente) foi uma experiência reveladora! A harmonia do desenho perfeitamente conjugado com o filme, o impacto da música, as cenas fortes, a insinuação sexual nada sutil, enfim, não tinha como não ficar fã daquela banda ali mesmo!

Querem entender um pouco melhor do que estou falando? Aumentem o som e acompanhem…

 
Mas o porquê desse proseio? Bem, tudo sempre tem o seu “porquê”…

Toda essa viagem ao passado serviu somente para contextualizar como e quando conheci esse filme. Os tempos eram outros, as necessidades eram outras, a visão do mundo era outra. Por toda a sociedade.

Entretanto, das últimas manifestações dominicais, do tão aventado “discurso pacífico” autoproclamado por “pessoas de bem”, não me foi possível deixar de lembrar desse filme. Já quase no final, o depressivo e quase enlouquecido personagem acaba recebendo um coquetel de drogas que o leva a alucinar de vez. E segue para seu show, imaginando-se um tipo de ditador neo-nazi e o evento se transforma numa grande e apoteótica manifestação, com gigantesca pompa e circunstância, na qual manipula uma ainda mais alucinada plateia e usa o seu poder de persuasão para que o sigam e “limpem o mundo dos males da sociedade”…

Nada parecido com muita coisa que tem acontecido, não é? Ou será que não?

 
Nessa hora cabe lembrar da famosa frase daquele famoso filme: “Então, é assim que morre a liberdade. Com uma grande salva de palmas…”

Enfim, caríssimos… Cuidado com o discurso fácil e comovente, cuidado com o deixar de pensar em prol de que pensem por vocês, cuidado com as manifestações de ódio (ainda que pensem que não estão a fazendo), cuidado com as acusações infundadas, cuidado em defender um futuro sem conhecer seu próprio passado, cuidado com as notícias cuidadosamente preparadas para sua digestão, cuidado ao se acharem o centro do mundo (ou, ao menos, do Brasil), cuidado com a marcha das ideias, mas, sobretudo, cuidado com as ideias de marcha…

Vital e sua moto

Essa música é, sim, da MINHA época…

E tem muita história por trás de história pra contar sobre ela. Mas não hoje. Pois fiquei sabendo que faleceu Vital Dias, vítima de câncer, o batera da banda Paralamas do Sucesso na época – e que, inclusive, foi a inspiração para a música. Para quem conhece possa relembrar e para quem nunca ouviu possa conhecer, eis um vídeo feito sobre o tema a partir de uma muito simpática montagem com Lego…

Led Zeppelin – Physical Graffiti 2015

Physical Graffiti foi o álbum lançado pelo Led Zeppelin no dia 24 de fevereiro de 1975 e, desde então, já vendeu mais de 15 milhões de cópias (um dos mais vendidos da década de setenta). Agora, exatos 40 anos depois, uma nova edição remasterizada acaba de ser lançada pelo guitarrista Jimmy Page – que, diga-se de passagem, é considerado um dos melhores guitarristas de todos os tempos…

Segundo ele, as músicas da britânica banda de rock Led Zeppelin “resistiram ao tempo”. Desculpa aí, mas isso é meio que dizer o óbvio. Ao menos para mim – e, em parte, meus filhos – que continuo ouvindo clássicos até mesmo da década de sessenta!

O álbum original já foi qualificado como sendo um dos melhores discos duplos da história e este de agora terá ainda um disco complementar com sete músicas inéditas, incluindo a primeira versão de “Trampled Under Foot”, intitulada “Brady & Coke”, e mixagens de músicas como “In My Time of Dying” e “Houses of The Holy”.

O grupo, dissolvido em 1980, reeditou em 2014 seus primeiros discos: Led Zeppelin I, II e III, assim como novas músicas, que foram cuidadosamente catalogadas e armazenadas durante décadas nos arquivos da banda.

E, particularmente, sou obrigado a concordar com o bom velhinho Jimmy (santa intimidade, Batman!), que, do alto de seus 71 anos, acha a música Kashmir uma das melhores do álbum. De fato. Pusta musicão!

Ficaram curiosos? Fucem aí na Internet que vocês já devem encontrá-lo para download. Já baixei o meu – mas saibam que não vou deixar de comprar o original! Ah, essa minha mania de colecionador… 🙂

The Beatles: Discografia Completa

O trabalho completo para montar esta discografia foi feito pelo pessoal da HQROCK – Quadrinhos, músicas e afins, e o original está neste link aqui. Mas resolvi roubartilhar de lá, fazer algumas pequenas adaptações e deixar esse importante registro também aqui no Legal…

Nenhuma outra banda de rock foi mais importante do que The Beatles. O quarteto de Liverpool revolucionou a música, a moda e os costumes e causou um impacto imenso na cultura do século XX. E continuam a ser referência importante no século XXI. Tanto que os nomes dos quatro membros – John Lennon (vocais, guitarras, piano), Paul McCartney (vocais, baixo, piano e teclados), George Harrison (guitarras e vocais) e Ringo Starr (bateria, percussão e vocais) – já estão cravados na história.

Sua primeira formação remonta a 1960, com Lennon, McCartney, Harrison, Stuart Sutcliffe (baixo) e Pete Best (bateria). Os Beatles construíram sua reputação nos pubs de Liverpool e Hamburgo durante um período de três anos a partir de 1960. Sutcliffe deixou o grupo em 61, e Best foi substituído por Starr no ano seguinte. Abastecida de equipamentos profissionais moldados por Brian Epstein, que depois se ofereceu para gerenciar a banda, e com seu potencial reforçado pela criatividade do produtor George Martin, os Beatles alcançaram um sucesso imediato no Reino Unido com seu primeiro single “Love Me Do”. Ganhando popularidade internacional a partir do ano seguinte, excursionaram extensivamente até 1966, quando retiraram-se para trabalhar em estúdio até sua dissolução definitiva em 1970.

Enraizada do skiffle e do rock and roll da década de 1950, a banda veio mais tarde a assumir diversos gêneros que vão do folk rock ao rock psicodélico, muitas vezes incorporando elementos da música clássica e outros, em formas inovadoras e criativas. Sua crescente popularidade, que a imprensa britânica chamava de “Beatlemania”, fez com que eles crescessem em sofisticação. Os Beatles vieram a ser percebidos como a encarnação de ideais progressistas e sua influência se estendeu até as revoluções sociais e culturais da década de 1960.

A dupla John Lennon & Paul McCartney, responsável por cerca de 85% do material gravado pelo grupo, é a dupla de compositores mais importante e influente da música do século XX, tendo confeccionado clássicos imortais, como Strawberry fields forever, A day in the life, Come together, Day tripper, A hard days night, Yesterday, Let it Be, Hey Jude, Revolution, Don’t let me down… A lista é imensa!

Embora sem poder concorrer em quantidade com a dupla, George Harrison também compôs alguns dos maiores clássicos do rock dentro da banda, como Something, While my guitar gently weeps e Here comes the sun.

Em 10 de abril de 1970 foi anunciada a dissolução da banda. Cada músico então seguiu para uma carreira independente. McCartney e Starr continuam ativos; Lennon foi assassinado em 1980, e Harrison morreu de câncer em 2001.

Na discografia a seguir estão incluídos os singles ou compactos lançados pelos Beatles, já que muitas dessas canções não foram incluídas dentro dos álbuns e alguns compactos são tão importantes quanto álbuns completos.

Então, aproveite e dê um play logo abaixo para curtir uma boa música enquanto conhece uma pouco mais da história e discografia dessa fantástica banda!

 
– Love me do / P.S. I love you, 1962
– Please please me / Ask me why, 1963

Os Beatles estrearam oficialmente no mercado fonográfico em outubro de 1962 com o lançamento do compacto Love me do / P.S. I love you, que está (muito) longe de mostrar o melhor da banda, mas serviu para apresentar o quarteto de Liverpool ao restante da Inglaterra e até chegou à impressionante marca de 17º lugar das paradas de sucesso. Também era diferencial o fato de ser um single com ambas as canções de autoria da banda, assinadas por John Lennon e Paul McCartney (como aliás seriam praticamente todas as canções lançadas em compacto dali para frente). Na época, havia um divisão de tarefas entre compositor e intérprete, de modo que raramente um cantor popular podia lançar suas próprias composições. O compacto seguinte, Please please me / Ask me why era muito melhor do que o primeiro e, lançado em janeiro de 1963, chegou ao primeiro lugar das paradas nacionais.

PLEASE PLEASE ME – 1963

Após anos tocando no Cavern Club de Liverpool e nos inferninhos de Hamburgo, na Alemanha, os Beatles eram uma banda afiada, enérgica e competente. Por isso, após fazerem sucesso com seus dois primeiros compactos (Love me do / P.S. I love you, lançado em outubro de 1962; e Please please me / Ask me why, lançado em janeiro de 1963), o produtor George Martin queria gravá-los ao vivo para seu primeiro álbum. A escolha óbvia seria registrá-los no próprio Cavern Club, mas o maestro não gostou da acústica do lugar e terminou propondo uma solução intermediária: fazer um disco ao vivo no estúdio. Assim, as 10 músicas restantes de Please Please Me (o álbum, que incluiu as quatro já lançadas em compacto) foram registradas em um único dia, em uma longa sessão no dia 11 de fevereiro. Enquanto disco, Please Please Me é impressionante, no contexto da época, foi muito inovador: uma banda jovem, cheia de energia, misturando um rock alto com muita melodia e vocais à três vozes, combinando o rock and roll americano dos anos 1950, com o Doo-woop e o R&B, mas com maior acento melódico e harmônico em tudo. E não menos importante: metade do álbum é autoral, criado pela dupla Lennon & McCartney; algo impossível na época, já que se diferenciava o trabalho de compositor e de intérprete e pouquíssimos artistas de primeira linha cumpriam ambas as funções. O disco traz os originais I saw her standing there (uma letra bobinha emoldurada por um rockão ao estilo do início dos anos 1960), Love me do (a simpática estreia da banda), a faixa-título (uma maravilhosa peça cheia de energia e uma letra cheia de segundas intenções) e There’s a place (a primeira incursão existencialista de Lennon, emoldurada em um rock de meio tempo). E também há uma boa cota de covers sensacionais, como Anna (go to him), Baby it’s you e a famosíssima Twist and shout. Os Beatles eram uma banda democrática, assim, o disco também traz as estreias de George Harrison (Do you want to know a secret?) e Ringo Starr (Boys) nos vocais principais.

– From me to you / Thank you girl, 1963
– She loves you / I’ll get you, 1963
– I want to hold your hand / This boy, 1963

O mercado de compactos era ainda o principal da Grã-Bretanha (e dos EUA também) nesse período, por isso, os Beatles investiram bastante no lançamento de singles. Outros três deles foram lançados em 1963, todos chegando ao primeiro lugar das paradas nacionais. Apesar de From me to you ser um tipo de “passo atrás” na obra da banda, She loves you é uma grande canção que bateu o recorde de vendas antecipadas e I want to hold your hand passou anos como o single de maior sucesso da banda (seria ultrapassado apenas por Hey Jude, em 1968) e foi, ainda, o primeiro sucesso dos Beatles nos EUA, já em fevereiro de 1964.

(Acabou a música? Já? Não se preocupe, tem mais!)

 

WITH THE BEATLES – 1963

O primeiro álbum é um estouro, mas o segundo disco da banda é um dos melhores de seu catálogo. Começando pela belíssima capa, With the Beatles repete a fórmula do antecessor, combinando as peças autorais de Lennon & McCartney com bons covers. A diferença é que, desta vez, não é um “ao vivo” no estúdio, mas faixas trabalhadas em gravações, o que rende ótimas performances. Há mais confiança por parte da banda na execução, também. Entre os destaques autorais temos: a enérgica It wont be long, o tocante R&B de Lennon All I’ve got to do e a clássica All my loving, sucesso no mundo todo. Também há a estreia de George Harrison como compositor em Don’t bother me, embora mais como um exercício. Ringo Starr canta I wanna be your man, a canção que os Beatles deram de presente para os Rolling Stones fazerem sucesso. Por fim, alguns dos covers mais famosos dos Beatles estão aqui: Till there was you, Please Mr. postman, Roll over Beethoven (cantada por Harrison), You really got a hold on me e Money (that’s what I want).

– Can’t buy me love / You can’t do that, 1964

Sem grandes destaques estéticos, Can’t buy me love foi outro grande sucesso que serviu para movimentar a primeira turnê mundial dos Beatles em 1964.

A HARD DAY’S NIGHT – 1964

A qualidade dos Beatles mostra-se crescente a cada disco. De verdade. A Hard Day’s Night é um passo adiante em todos os sentidos: é um disco melhor, é inteiramente autoral (todas as faixas são de Lennon & McCartney) e é a trilha sonora do primeiro longametragem da banda. O filme é um clássico dirigido por Richard Lester mostrando de modo ficcional um dia na vida da banda, saindo de trem de Liverpool para Londres, onde irão se apresentar na TV. É um retrato impressionante dos anos 1960 e do grupo. Mas vamos ao disco, que destila uma lista infindável de clássicos: a enérgica faixa-título com seu arranjo impressionante, a pop I should have known better, a melosa If I feel, a balada-bolero And I love her, o sucesso Can’t buy me love, a enérgica Anytime at all e o rockão You can’t do that. O álbum também traz alguns elementos novos de sonoridade, com o grupo ainda mais encorpado e George Harrison adotando a guitarra de 12 cordas, que era algo novo na época.

– Long tall Sally / I call your name / Slow down / Matchbox, 1964
– I feel fine / She’s a woman, 1964

Long tall Sally foi um dos únicos EPs (compactos duplos) inéditos lançados pelos Beatles (o outro seria Magical Mystery Tour, em 1967). Outro diferencial é o fato de ser quase exclusivamente montado com covers: apenas I call your name é de Lennon & McCartney. Já I feel fine é um passo avançado, por trazer o primeiro fade out da história do rock: aquela distorção de guitarra bem no início.

BEATLES FOR SALE – 1964

A fama tem um preço. E os Beatles pagaram o preço mais alto de tudo. Eles próprios perceberam isso na época e Beatles For Sale é o retrato disso, mostrando o cansaço e cinismo da banda a tudo ao seu redor, começando pelo título de humor autocrítico: “Beatles à venda”. O álbum reflete o turbilhão que foi o ano de 1964: duas turnês nos EUA, a primeira turnê mundial da banda, um filme, um ano todo praticamente na estrada, com as horas vagas gastas em estúdios de gravação. A banda aparece cansada não apenas nas fotos da capa, mas também nas gravações. Mas no fim isso funciona, dando um ar mais melancólico e folk ao disco. O acento folk também é fruto da influência de Bob Dylan, muito querido da banda, o que se reflete em John Lennon praticamente trocando a guitarra pelo violão, enquanto Harrison mantém a guitarra de 12 cordas, dando um passo decisivo para o surgimento do folk rock que embalaria bandas como The Byrds no ano seguinte. Entre as faixas, destaque para a crônica No reply, o folk rock I’m a loser, a valsa dark Baby’s in black, o big-hit Eight days a week, outros dois folks rocks tocantes com Every little thing (que traz Ringo Starr tocando tímpanos e anos mais tarde seria regravada pela banda Yes) e I don’t want to spoil the party (com uma ótima dobradinha violão-guitarra de 12 cordas de Lennon e Harrison) e a dinâmica What you doing (cujo o riff de guitarra foi copiado pelos Byrds para Mr. Tambourine man). Entretanto, os Beatles dão um passo atrás ao voltar aos covers, com o rockão Rock and roll music, a bela Words of love e dois números de Carl Perkins: Honey don’t e Everybody’s trying to be my baby.

– Ticket to ride / Yes it is, 1965
– Help! / I’m down, 1965

Dois grandes compactos lançados no início do ano para chamar a atenção do vindouro segundo filme da banda.

(E vamos em frente…)

 

HELP! – 1965

A trilha sonora do segundo filme dos Beatles é um álbum muito bom e traz alguns dos maiores clássicos e das canções mais famosas da banda. O álbum mantém o acento folk do anterior – novamente com John Lennon tocando violão na maioria das faixas – mas também o mescla com sonoridades mais variadas. Algumas letras também vão bem mais longe, com sentimentos mais profundos e carga melancólica. Destaque para o existencialismo enérgico da faixa-título, os toques de jazz em The night before, a balada folk existencialista You got to hide your love away, o pop de You gonna lose that girl, a sonoridade mais dinâmica e trabalhada de Ticket to ride, o toque skiffle de Tell me what you see, o bluegrass acelerado de I’ve just seen a face e a balada imortal Yesterday, que se tornaria a canção da banda mais regravada da história. George Harrison ganha mais espaço como compositor com duas canções de destaque I need you e You like me too much. Porém, ainda há dois covers de pouca expressão. (Seria o último álbum a trazer canção não-autorais da banda). Ao terminar a audição do disco pode se perceber que por sua grande variação de ritmos e arranjos, os Beatles estivessem procurando algo. O álbum seguinte mostraria o quê.

– We can work it out / Day tripper, 1965

Este compacto foi o primeiro Duplo A da história, um single em que os dois lados eram tidos como principais. O riff de Day tripper, de autoria de John Lennon, se tornaria um dos mais famosos da história do rock. Esta canção também é a primeira a trazer referências explícitas ao uso de drogas, já que fica claro que a “viajante diurna” do título não está pegando nenhum trem.

RUBBER SOUL – 1965

Como se não bastasse todos os grandes álbuns que a banda lançara até então, com Rubber Soul os Beatles chegam a outro patamar. Isso mesmo! Rubber Soul exibe sofisticação e qualidade desde a bela capa (com efeito alongado) até o desfile de grandes canções e clássicos. Os arranjos vão ainda mais longe e as letras também vão se tornando cada vez mais sérias e profundas. Norwegian wood e Nowhere man são letras contundentes, verdadeiras obras-primas de John Lennon, e se destacam em sua sonoridade: ambas têm acento folk (mantendo o espírito dos discos anteriores), mas com Norwegian wood cadenciada de uma maneira estranha e pontuada por uma cítara indiana tocada por George Harrison; e Nowhere man de arranjo simples e direto, mas com uma clareza de som impressionante, além de uma bela composição de vocais a três vozes. Há também a belíssima In my life, com sua letra tocante e arranjo minimalista (e um solo de piano acelerado eletronicamente para parecer um cravo). Paul McCartney contribui com o clima de Motown em Drive my car e na bonita simplicidade de You won’t see me. E os álbum ainda tem Michelle, Girl e I’m looking throught you.

– Paperback writer / Rain, 1966
– Eleanor Rigby / Yellow submarine, 1966

Embora Paperback writer tenha feito bastante sucesso – com destaque para seus backing vocals amplificados – o maior destaque desse single foi o Lado B com Rain, uma canção lisérgica, com guitarras de efeito, uma bateria transloucada, uma letra onírica, um final falso e o efeito especial de um vocal colocado “de trás para frente” no fim da faixa. Já Eleanor Rigby / Yellow submarine, a despeito da beleza da primeira e dos grandes efeitos sonoros da segunda, é um compacto mais pop. Também foi outro Duplo A.

REVOLVER – 1966

A escalada de qualidade dos Beatles ainda não tinha chegado no ponto mais alto, mas dá outro grande passo em Revolver, o álbum favorito de muitos dos fãs do grupo. Se Rubber Soul pode ser considerado uma guinada a uma música de maior qualidade e profundidade, Revolver é uma acelerada funda neste quesito. É a reta depois da curva! Os Beatles investem fundo nos efeitos sonoros e nas experimentações, como a guitarra de trás para frente de I’m only sleeping; os efeitos sonoros de Yellow submarine; e toda a extravagância de Tomorrow never knows, que é montada inteiramente em torno de um loop (gravação curta que fica se repetindo) e mistura um monte de efeitos estranhos (gaivotas?), guitarra de trás para frente (de novo) e uma letra demolidora de John Lennon, baseada na filosofia oriental. Sem dúvidas a canção mais estranha do repertório da banda até aqui. Também há rockão ao velho estilo de And your bird can sing, a viagem lisérgica de She said, she said, o conto sobre o médico traficante de remédio para chapação Dr. Robert, a letra pujante sobre a solidão acompanhada apenas por um quarteto de cordas em Eleanor Rigby, a ode à maconha de Got to get you into my life (com metais e sopros ao estilo da Motown) e duas das mais lindas baladas de Paul McCartney: a mais famosa Here, there and everywhere; e a menos conhecida For no one, que tem um tocante solo de trompa, maravilhosa. Curiosamente, George Harrison tem um destaque diferenciado no álbum, assinando três faixas: Taxman, um grande rock que abre o disco e faz uma severa crítica ao sistema de impostos da Inglaterra; a peça indiana levada na cítara Love you to e a mais convencional (e carregada de soul) I want to tell you. Revolver causou um impacto imenso no mercado fonográfico quando foi lançado, mudando a história do rock. E ainda há a capa, com a bela colagem de fotos e desenhos do artista Klaus Voormann.

– Penny Lane / Strawberry Fields forever, 1967

Lançado em fevereiro daquele ano, este foi o compacto mais importante da história dos Beatles. Primeiro lançado depois da banda decidir abandonar os concertos, ambas as canções são extremamente inovadoras. Penny Lane, de Paul McCartney narra de modo surreal uma das principais ruas do subúrbio de Liverpool, emoldurada por um arranjo de encher os ouvidos, com várias camadas de piano e alguns instrumentos orquestrais. Já Strawberry fields forever, de John Lennon, era a mais audaciosa canção dos Beatles até então: um letra onírica sobre um lugar especial (um orfanato do Exército da Salvação em Liverpool, há poucos quarteirões de Penny Lane) emoldurada em um arranjo belíssimo e inovador. Ela começa como uma faixa mais ou menos tradicional (com a linda introdução no mellotron, um tipo de teclado) e os versos cantados de forma triste até que, no segundo refrão, entra um arranjo totalmente diferente, com várias camadas de instrumentos orquestrais criando melodias intercruzadas. Há ainda um longo final instrumental com um final falso. O compacto causou um grande impacto, mostrando o direcionamento mais radical e experimentalista dos Beatles. Como era um Duplo A, ambas as canções terminaram entrando nas paradas de sucesso, porém, serem contadas distintamente levou ao curioso fato deste ser o primeiro compacto dos Beatles a não chegar ao 1º lugar das paradas de sucesso da Inglaterra desde Love me do! Penny Lane ficou em 2º e Strawberry fields… em 6º contadas separadamente, como se fossem dois singles!

(Acabou de novo? É… As músicas são curtas, mas são boas! Experimente essa, agora!)

 

SGT. PEPPERS LONELY HEARTS CLUB BAND – 1967

Em primeiro lugar, é preciso dizer: Sgt. Peppers é a obra mais importante dos Beatles. É o álbum mais significativo da história do rock e um dos discos mais importantes da música moderna. Isso significa dizer que é o melhor álbum dos Beatles? Não! Importância (histórica) e qualidade (estética) são coisas diferentes. Sgt. Peppers é um disco sensacional, um marco, um épico, mas o quarteto de Liverpool tem discos melhores (Abbey Road e Revolver, por exemplo). Contudo, Peppers é uma ruptura, é inovação do começo ao fim, é uma obra artística que causou um impacto desmedido no mundo na época de seu lançamento. Por isso, não tem para ninguém em termos de importância. E porque tudo isso? Porque Peppers sintetizou com perfeição todo o clima cultural dos anos 1960 e, mais especificamente, do Verão do Amor, da aventura psicodélica, da Swing London e de toda aquela movimentação lisérgica-pacifista-bicho-grilo do período. Tudo nele é sensacional: da capa superproduzida de autoria de Peter Blake (com os Beatles fantasiados de banda de circo, cercado por algumas das figuras históricas e culturais mais importantes da história – 160 personagens que vão de Buda e Krishna até Marlon Brando, Chaplin e Aleister Crowell); passando pelo set list de canções famosas maravilhosas; pelos arranjos inovadores e não-ortodoxos; pela tonelada de efeitos sonoros e truques de gravação; pelo conceito que embala todo o álbum (como se os Beatles assumissem a identidade de uma outra banda, a Banda do Sargento Pimenta do Clube dos Corações Solitários) que faz o disco parecer com um concerto (há a introdução, a apresentação da “estrela” [Billy Shears, o vocalista da tal banda], a sequência de faixas falando sobre a infância, os “bons tempos”, reflexões existencialistas sobre o passado, um número final para levantar as cadeiras, e um bis para fechar a noite); e por último, mas não menos importante, até o fato de ser o primeiro álbum de rock da história a trazer a letra das canções encartada em seu interior (aliás, na contracapa).

Sgt. Peppers demorou seis meses para ser gravado (três vezes o tempo normal de uma superprodução daqueles dias) e custou uma fortuna em horas de estúdio, mas o resultado compensa cada centavo. Traz clássicos como Sgt. Peppers, With little help from my friends, Lucy in the sky with diamonds e A day in the life, cada uma inovadora na época em estilo e estética. Há o público e a imitação de concerto da faixa título e o modo como ela se emenda sem intervalos com With a little help…; há o “clima” lisérgico de Lucy in the sky… e o modo como os vocais do refrão atravessam para dentro dos versos; há a distorção (grave e aguda) dos instrumentos musicais em praticamente todas as faixas; há a colagem de vários teclados diferentes (pedaços de fita que juntos produzem solos aleatórios) e o clima de circo em Being for the benefit of Mr. Kite; há inovadora canção em estilo indiano de George Harrison, com Within you, without you; os sons de animais gritando e correndo em Good morning, good morning; os zunidos transformados em notas musicais de Lovely Rita; e o majestoso arranjo de orquestra (42 músicos!) tocando notas aleatórias em uma escala crescente para formar um grande orgasmo sonoro no meio e no fim de A day in the life, sem contar que a nota final de piano continua soando por cerca de três minutos até um zunido muito alto e um looping de risadas ficar se repetindo eternamente… O resultado? Uma revolução cultural, um impacto desmedido na cultura do século XX e o álbum de maior sucesso e vendagem dos Beatles até ali, ficando 11 semanas em 1º lugar das paradas do Reino Unido.

– All you need is love / Baby, you’re a rich man, 1967
– Hello, goodbye / I am the walrus, 1967

All you need is love veio na esteira de Peppers e corou o Verão do Amor com um hino sobre o poder do amor. Outra curiosidade é que a canção foi gravada em uma apresentação ao vivo na TV na primeira transmissão mundial via satélite dentro do programa especial Our World. Já Hello, goodbye, de Paul McCartney, apesar de bonita, é uma canção mais tradicional e o Lado B neste caso, I am the walrus, de John Lennon, é bem mais interessante: uma peça experimental com letra surreal e um arranjo completamente maluco. A mais bizarra das canções famosas dos Beatles.

(Eis, então, uma pra lá de clássica…)

 

MAGICAL MYSTERY TOUR – 1967

Originalmente, Magical Mystery Tour era um EP (compacto duplo) com a trilha sonora do filme homônimo que os Beatles gravaram como um especial de Natal para a TV britânica. Mas tendo em vista que era a época do Acid rock, longametragem é uma colagem de cenas desconectas, surrealismo, piração lisérgica e algumas bobagens. Não há sequer uma história por trás das cenas! A música é o que se salva. Para o filme, a banda reuniu algumas faixas e lançou o disco como um EP com quatro faixas na Inglaterra. Foi a Capitol Records dos EUA quem teve a ideia de somar àquelas as faixas lançadas nos outros compactos do ano de 1967. Assim, Magical… virou um álbum completo. Com o passar do tempo, os Beatles acabaram gostando da ideia e o álbum norteamericano Magical Mystery Tour se tornou oficial, permanecendo assim desde que a discografia oficial do grupo foi relançada unificada em 1975. Isto tem que ser dito para se entender o que é Magical… ao ouvi-lo. A desconexão do disco é algo perceptível por qualquer ouvinte, o que cria a impressionante impressão de que, apesar de ter faixas espetaculares como a faixa-título, The fool on the hill, I am the walrus, Hello, goodbye, Penny Lane, Strawberry fields forever e All you need is love, o álbum ainda não soa tão bom. Estranho, né? Talvez porque a seção que corresponde ao EP original (o Lado A do LP) é muito inferior ao Lado B, que traz os compactos daquele ano. Ainda assim, enquanto o filme foi um fracasso retumbante, o disco foi um sucesso enorme.

– Lady madonna / The inner light, 1968
– Hey Jude / Revolution, 1968

Após a farra experimentalista e psicodélica de 1967, os Beatles voltaram a uma sonoridade mais tradicional em Lady madonna, uma canção meio boba que fez bastante sucesso, mas é uma peça menor em seu repertório. Há certo destaque ao Lado B, The inner light, pois é a primeira composição de George Harrison a chegar a um single dos Beatles, além de ser uma peça indiana levada na cítara. Hey Jude foi lançada no verão e se tornou o compacto de maior sucesso da carreira do grupo e uma de suas canções mais famosas. O Lado B também tem destaque, pois o rock pesado de Revolution, de John Lennon, posiciona a banda em meio aos eventos do Maio de 1968 por meio de uma mensagem pacifista.

THE BEATLES (THE WHITE ALBUM) – 1968

A vida dos Beatles virou de cabeça para baixo depois do sucesso de Sgt. Peppers: o empresário Brian Epstein morreu, John Lennon teve o ego destruído pelo uso abusivo de LSD, a ausência de shows fez cada membro do grupo se dedicar mais às atividades individuais etc. Por isso, em 1968, a banda passou um tempo em um retiro na Índia, estudando meditação transcendental com o Mararishi Maesh Yogi; antes de voltar à Inglaterra e lançar a Apple Corps., a empresa do grupo que reunia gravadora, estúdio cinematográfico e outras mídias. The White Album (nome pelo qual o disco com o nome da banda ficou famoso) é resultado direto do período na Índia, onde a banda compôs uma quantidade imensa de canções. Por isso, The Beatles é o único álbum-duplo da carreira do grupo, reunindo 30 canções. O excesso de faixas é o seu maior defeito, já que tamanha quantidade dá espaço para canções fracas, algumas muito ruins, abaixo do padrão esperado do grupo. Se fosse mais concentrado, sem sombra de dúvidas, The White Album seria o melhor disco da carreira do grupo. Ainda assim, traz uma sequência impressionante de pérolas, como Back in the USSR, Dear Prudence, Glass onion, Ob-la-di, ob-la-da, While my guitar gently weeps, Blackbird, Julia, Piggies, Birthday, Mother nacture’s son, Helter skelter, Sexy sadie e Revolution.

YELLOW SUBMARINE – 1969

Este álbum é na verdade um embuste da EMI. Com o lançamento do desenho animado homônimo em 1968, a gravadora pressionou a banda para lançar um disco com a trilha sonora. Mas os Beatles não queriam, já que quase todas as canções foram retiradas dos discos anteriores da banda. Então, a EMI encontrou um jeito de fazê-lo: lançou Yellow Submarine, o disco, com uma bela capa, mas apenas seis canções dos Beatles (o Lado A do LP) e o restante formado por peças orquestrais criadas e conduzidas pelo produtor George Martin. Para piorar, das seis faixas, duas já tinham sido lançadas (a faixa título e All you need is love), restando, por fim, apenas quatro inéditas: Hey bulldog, All together now e duas de George Harrison, Only a northern song e It’s all too much. Por melhor que seja Hey bulldog – um dos grandes rockões da banda – ela sozinha não justifica um álbum inteiro vazio. É tudo uma grande enganação para o consumidor. Em 1999, os Beatles lançaram o mais honesto The Yellow Submarine Soundtrack, que traz todas as canções que tocam no filme e, portanto, funciona como uma coletânea da fase psicodélica da banda.

– Get back / Don’t let me down, 1969
– The ballad of John & Yoko / Old brown shoe, 1969
– Something / Come together, 1969

Get back foi retirada da gravações inacabadas do álbum Let it Be (que seria lançado mais tarde) e é um bom rock da banda, com uma ótima levada e uma letra sobre o preconceito contra uma transsexual (isso mesmo!). The ballad of John & Yoko narra por meio de uma crônica os eventos em torno do casamento de John Lennon com Yoko Ono. Como curiosidade, esta última canção traz apenas Lennon e McCartney tocando todos os instrumentos.

(Um bom rock para agitar um pouco as coisas!)

 

ABBEY ROAD – 1969

Abbey Road pode ser considerado o melhor álbum dos Beatles. Também é o último gravado pela banda, a última vez que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr se reuniram em um disco. Gravado totalmente em 8 canais, o álbum mostra a banda em uma execução fantástica, com bons arranjos e todos dando o máximo de si em seus instrumentos. Muito bem gravado (pelo maior número de canais) o som do disco é muito límpido, permitindo distinguir com clareza cada instrumento, o que faz muito bem aos Beatles. Um disco com uma sonoridade única. O Lado A traz canções mais convencionais, com Come together, Something (o grande clássico de Harrison), Oh! darling, Octopus’s garden (de Ringo Starr) e I want you (she’s so heavy). Lado B também começa assim, com Here comes the sun (também de Harrison) e Because, mas em seguida dá início a um grande medley, no qual as canções vão se emendando uma nas outras em um crescendo maravilhoso, com You never give me your money, Sun king, She comes in throught the bathroom window, Golden slumbers e The End. A icônica capa da banda atravessando a faixa de pedestres da rua que dá título ao álbum (e ao estúdio da EMI em que foi gravado) se transformou em uma das imagens mais fortes do rock. Abbey Road também foi o disco de maior sucesso dos Beatles.

– Let it be / You know my name (look up the number), 1970

Lançado para promover o vindouro álbum, Let it be (o compacto) foi produzido por George Martin e virou uma bela balada, mas é uma versão diferente da mesma canção que iria aparecer no álbum (que foi reproduzida por Phil Spector): as duas têm arranjos distintos e solos de guitarra diferentes.

LET IT BE – 1970

Apesar de ter sido o último álbum lançado pelos Beatles, na verdade, ele foi gravado antes de Abbey Road (em janeiro de 1969) e consistiu apenas de ensaios da banda para um concerto que nunca ocorreu (portanto, não foi gravado como os demais álbuns, com a intenção de fazer uma obra clara). Além disso, Let it be já é um álbum póstumo, pois quando chegou às lojas, a notícia de que os Beatles tinham se separado já era conhecida. A história de sua gravação, portanto, é a mais dramática dentre todos os seus álbuns: os Beatles se reuniram no início de janeiro de 1969 para ensaiar novas canções para um “concerto de retorno”, uma volta aos palcos; filmando tudo para montar um documentário para TV mais tarde. Mas no fim das contas, as relações internas do grupo estavam tão ruins que desistiram do show e encerraram o projeto no fim daquele mesmo mês. Para não desperdiçar o esforço, encarregaram o produtor Glynn Johns de montar um disco com os ensaios, mas nenhuma versão agradava a banda, que foi fazer Abbey Road com outro conjunto de canções. Depois de várias tentativas frustradas, John Lennon contratou o badalado produtor norteamericano Phil Spector para fazer a edição final do álbum. Spector remixou tudo e até acrescentou algumas orquestras e coros. Muita polêmica se constituiu daí, por Spector ter alterado significativamente faixas como The long and widing road e Across the universe. Mas o álbum tem uma sonoridade grave e profunda que é muito interessante, diferente de todos os outros da banda, reunindo ainda canções como a faixa-título, Dig a pony, I got a feeling e uma reprise de Get back. É um bom disco, mesmo que não seja um álbum propriamente dito, mas apenas “melhores momentos” de um processo de ensaios.

PAST MASTERS, VOL 1 & 2

Quando a discografia dos Beatles foi oficialmente lançada em CDs em 1987, a EMI produziu estes dois discos reunindo todas as canções da banda que não estão nos álbuns oficiais, lançadas em singles, compactos ou discos especiais, como She loves you, I want to hold your hand, I feel fine, Day tripper, Paperback writer, Hey Jude, Revolution e Don’t let me down. Tê-los é fundamental para entender a carreira do grupo. Quando a coleção dos Beatles foi remasterizada em 2009, os dois discos foram reunidos em um só álbum duplo, que é o formato mais comum de encontrá-lo nas lojas.

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Álbuns Póstumos

Fora da Discografia Oficial da banda, vieram vários lançamentos póstumos.

THE BEATLES AT THE HOLLYWOOD BOWL (1964-1965) – 1977

A maior lacuna na carreira oficial dos Beatles era a ausência de um álbum ao vivo. O maior obstáculo, desde sempre, era o barulho infernal do público durante os concertos. Mas quando a EMI descobriu que a gravadora Pollydor iria lançar um álbum ao vivo dos Beatles (gravado na Alemanha em 1962), apressou-se em lançar um material para poder concorrer. Assim, resgatou velhos tapes registrados pela Capitol Records (a subsidiária norteamericana da EMI) no Hollywood Bowl de Los Angeles em 23 de agosto de 1964; e 29 e 30 de agosto de 1965. O produtor George Martin recuperou as fitas e fez um esforço hercúleo para diminuir o ruído do público e ressaltar a banda. Com a tecnologia da época, o resultado não é 100%. Por mais que se perceba o vigor da banda tocando ao vivo (uma performance muito boa mesmo!) o barulho do público está lá o tempo todo, como um ruído branco incessante horrível. Talvez esse seja o motivo do disco – que chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e 2º lugar da dos EUA – jamais ter sido lançado oficialmente em CD, permanecendo fora de catálogo desde o seu lançamento.

LIVE AT THE STAR CLUB (1962) – 1977

A onda de discos inéditos dos Beatles ia resultar nisso em algum momento: um álbum apócrifo. Este registro ao vivo foi lançado sem a autorização da banda, o que motivou um processo, do qual foram vencedores. O empresário Ted “Kingsize” Taylor foi um dos responsáveis pelas últimas turnês dos Beatles por Hamburgo, em 1962, e teve a sorte de registrar a banda tocando ao vivo em algumas ocasiões no Star Club. De posse dessas fitas, conseguiu montar esse álbum duplo mostrando os Beatles exatamente no momento anterior à fama, prestes a estourarem na Inglaterra e Europa. São 34 faixas que dão uma boa amostra do repertório do grupo na época, trazendo poucas canções autorais (I saw her standing there e Ask me whyI’m talking about you, The hippy hippy shake, Long tall Sally, Besame mucho, I’m gonna sit right down and cry, Be bop a lula, Sweet little sixteen, To know her is to love her, a maioria delas jamais lançadas oficialmente pelo grupo até então. Tendo em vista as condições precárias de gravação, o registro sonoro não é excelente: especialmente os vocais são muito prejudicados e soam baixos, esmagados pelo som da banda. Mas por outro lado, é possível sentir a energia impressionante da banda e o modo como eram fortes ao vivo, antes de terem que competir em barulho contra o público que gritava mais alto do que eles, como seria depois da fama (o que At Hollywood Bowl mostra muito bem…). John Lennon disse em uma célebre entrevista que o melhor trabalho dos Beatles foram os shows em Hamburgo. E, mesmo com a má qualidade de som deste disco, dá para ter uma ideia do que ele está falando ao ouvi-lo e, ignorando as imperfeições técnicas (de registro, não de execução), notar como aquela jovem banda era enérgica e poderosa no palco. Star Club saiu de catálogo ainda nos anos 1970 por causa de um processo movido pelos Beatles, porém, uma lei italiana permitiu que o disco continuasse a ser prensado naquele país. No Brasil, há uma versão editada em CD pelo selo Discobertas.

(E agora uma boa balada para alcalmar…)

 

LIVE AT BBC – 1994

Isso mesmo, os Beatles ficaram mais de vinte anos sem que material novo fosse lançado. Parte disso se deveu aos problemas com o emaranhado da gravadora Apple Records e as companhias individuais de cada membro, a EMI, a Capitol, e ainda a Apple Computers. Somente no fim dos anos 1990 um acordo foi possível, e logo, a Apple foi atrás de o que lançar de material inédito da banda. A primeira fornada foi esta: gravações dos Beatles tocando ao vivo nos estúdios e teatros da Rádio BBC. Nos anos 1960, a BBC era um monopólio estatal de rádio e tinha uma política de ter a maior parte de sua programação formada por material próprio, como uma forma de reduzir o uso de gravações comerciais. Por isso, a prática comum de todas as bandas britânicas era simplesmente tocar suas músicas na rádio e permitir que estas fossem exibidas em programas especiais ou na programação normal. O material de Live at BBC traz registros dos Beatles realizados entre 1963 e 1965 e é uma maratona de mais de 65 canções. E o melhor: a maior parte é formada por canções que a banda gostava de tocar (covers de outros artistas) e que não puseram nos discos oficiais. Assim, podemos ouvir versões arrebatadoras de I got a woman, Sweet little sixteen, Johnny B. Goode, I just don’t understand, That’s is alright, mama, To known her is to love her, Soldier of love e Sure to fall. Também há algumas canções do repertório oficial da banda, como A hard day’s night, Love me do, Can’t buy me love e muitas outras. O álbum (um CD duplo) veio numa embalagem belíssima, quase luxuosa para a época, com um libreto muito bonito em cor sépia, que detalha as gravações, os programas em que a música foi exibida e o contexto da época. O maior “senão” de BBC é a qualidade de áudio nem sempre perfeita, já que muitas gravações estavam armazenadas em fitas em condições precárias nos depósitos da rádio. Mesmo com alguns chiados ou problemas de volume, muitos desses registros mostram a potência dos Beatles enquanto banda e a energia que transmitiam ao vivo. Outro ponto a salientar é que Live at BBC foi um tipo de teste de mercado, para ver a força dos Beatles na era do CD. (O resultado foi ótimo, o disco fez um sucesso enorme!). Era apenas a entrada para o prato principal que veio a seguir.

THE BEATLES ANTHOLOGY, VOL. I – 1995

The Anthology foi um imenso projeto multimídia que consistia em um documentário autobiográfico da banda (10 horas de programa!), primeiramente exibido na TV e, depois, lançado em vídeo doméstico; um livro coletando todas as falas; e uma série de discos. Apesar do nome “antologia”, na verdade, os álbuns trazem gravações inéditas de todos os tipos: demos, out-takes (sobras de estúdio), ao vivo e algumas remixagens. O Volume I é o mais interessante e o mais importante em termos históricos, pois cobre o período de 1958 (!) a 1964, com o início do sucesso mundial da banda. Aqui há desde uma demo dos Quarrymen (a banda de skiffle fundada por Lennon) gravada em 1958, quando John Lennon, Paul McCartney e George Harrison eram apenas adolescentes; passam por outras demos de 1959 (o único registro do baixista Stu Sutcliffe, que fez parte do grupo antes da fama); por gravações realizadas em Hamburgo (acrescentando My bonnie, Ain’t she’s sweet e Cry for a shadow à discografia oficial do grupo pela primeira vez) em 1961, canções do famoso teste na gravadora Decca em 1962 (na qual foram recusados pela gravadora); seguindo adiante com out-takes e ao vivos com a escalada de sucesso da banda. Além disso tudo, Anthology I traz uma canção verdadeiramente nova dos Beatles: Free as a bird. Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr acrescentaram suas vozes e instrumentos a uma rudimentar gravação de John Lennon (morto em 1980) da canção em uma demo em fita K7 datada de 1977. O resultado final é uma canção bonita e melancólica que realmente parece Beatles. Nada mal.

THE BEATLES ANTHOLOGY, VOL. II – 1996

O Volume II dá prosseguimento à saga sonora dos bastidores dos Beatles, exibindo principalmente out-takes de canções conhecidas. Aqui, o mais interessante é perceber a evolução das canções enquanto são gravadas e versões diferentes das finais. Destaque para versões ao vivo de Help, Ticket to ride e Yesterday; uma versão diferente de And your bird can sing (em que Lennon e McCartney têm um ataque de risos enquanto gravam os vocais); as primeiras versões de Norwegian wood e Tomorrow never knows; uma demo de Strawberry fields forever com Lennon apenas na voz e violão; os takes 01 e 07 dessa mesma canção, já em estúdio; várias faixas de Sgt. Peppers sem as camadas de efeitos sonoros; e uma bela versão acústica de Across de Universe. Volume II foca no período 1965 e 1968. Assim, como o Volume I, este também traz uma canção nova: Real love repete o mesmo processo de Free as a bird (demo de Lennon mais gravações novas de McCartney, Harrison e Starr), mas o resultado não é tão bom. Anos mais tarde, uma outra versão demo somente de Lennon tocando a faixa no piano foi lançada no The John Lennon Anthology, e mostra que a canção é simplesmente belíssima, algo notável mesmo, mas aqui, os Beatles optaram por acelerá-la, o que terminou deixando-a muito pop e sem graça.

(Essa é a canção gravada após a morte de Lennon – mas com Lennon!)

 

THE BEATLES ANTHOLOGY, VOL. III – 1997

O Volume III traz mais 150 minutos de sobras de estúdios da banda e, honestamente, o processo começa a cansar o ouvinte. Além disso, a escolha de algumas canções é duvidosa: será que não havia uma outra versão de Teddy boy que não fosse esta com uma desafinada horrorosa de Paul McCartney? Ainda mais quando a versão de Anthology é, na verdade, a junção de dois takes distintos? Também chateou os fãs o fato de haver pouco material das sessões do Let it Be, que se sabe haver dezenas de canções inéditas. Em Anthology III, também, há a estranha opção de escolher alguns out-takes muito parecidos com os originais. Qual o propósito disso? Parece que quem selecionou as faixas também cansou do processo. Ainda assim, há alguns highlights: versões acústicas de Happiness is a warm gun, Sexy sadie, While my guitar gently weeps e Something (fantásticas!); a faixa inédita Not guilty (de Harrison) gravada para o White Album, mas não lançada; um ensaio mais solto de Oh! darling; uma versão lenta de She cames on throught the bathroom window (interessantíssima); e algumas jam sessions da banda tocando covers, como Blue suede shoes, Mailman bring me no more blues e Ain’t she’s sweet.

LET IT BE… NAKED – 2003

Poucas coisas foram mais mitificadas na carreira dos Beatles do que as sessões de Get Back / Let it Be, que renderam dezenas de horas de material inédito jamais lançado. Por isso, quando se anunciou este álbum, os olhos dos fãs brilharam. Mas o resultado foi um dos mais frustrantes possíveis: Naked traz simplesmente uma releitura do álbum Let it Be sem a produção de Phil Spector. Assim, temos uma versão muito bonita de The long and winding road (muito parecida com aquela vista no filme Let it Be) só com a banda tocando, sem orquestra e coro, o que a deixa mais simples e triste. Também há um remix matador de Across the universe, que ganha sua melhor versão dentre todas as que existem. Don’t let me down (que terminou fora do álbum original por já ter sido lançada em compacto) ganha uma versão mais despojada (que mistura a performance do show do telhado com outra em estúdio). Contudo, no mais, o resto é basicamente mais do mesmo, com pouquíssimas mudanças em relação às antigas versões. O que dá ao projeto todo um ar de muito oportunista. E no fim, muitas das versões de Spector ainda são melhores, porque têm aquele “grave profundo” que nenhum outro álbum da banda tem. E se os fãs esperavam que o filme Let it Be finalmente seria lançado em DVD (e com material extra!) estavam enganados. O longametragem permanece inédito em vídeo doméstico até hoje!

LOVE – 2006

Quando o Cirque du Solei resolveu produzir um espetáculo sobre os Beatles, a Apple achou que era uma boa produzir uma trilha sonora específica. Assim, nasceu a ousada ideia do produtor George Martin e seu filho, Giles Martin, remixarem as canções originais em novas versões. São as grandes canções mexidas na mesa de mixagem, adicionando instrumentos ou tirando-os, combinando trechos de faixas diferentes e coisas do tipo. O resultado final é até bom, com algumas boas sacadas: a versão acústica de While my guitar gently weeps (do Anthology III) ganha uma nova gravação de uma orquestra por trás; todas as versões lançadas de Strawberry fields forever são cominadas em uma só (e funciona!); Lady madonna ganha alguns acréscimos interessantes; e é construída uma belíssima passagem entre Hey Jude e Sgt. Peppers, como se as duas faixas fossem uma só.

ON AIR – LIVE AT BBC, VOL. II – 2014

Um pouco de mais do mesmo, uma nova fornada de gravações realizadas na rádio BBC ganha as lojas. O impacto é quase nulo, tendo em vista que se repetem as canções do vol. I em outras versões.

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Coletâneas

Os Beatles já tiveram inúmeras coletâneas. Eis apenas as mais importantes.

BEATLES 1962-1966 / 1967-1970

As coletâneas mais famosas dos Beatles são esses dois álbuns duplos lançados originalmente em 1973. Têm a vantagem de reunirem as principais composições da banda em ordem cronológica e com um encarte com todas as letras. Também há as capas, nas quais a banda repete a mesma pose em dois momentos bem distintos: em 1963 e 1969. Os discos ganharam uma versão remasterizada em LP em 1988 e uma versão em CD em 1993, com a vantagem de ter fotos do grupo acrescentadas no encarte. Uma nova edição saiu em 2009.

THE YELLOW SUBMARINE SOUNDTRACK

Quando o filme Yellow Submarine foi relançado em vídeo em 1999, a EMI reuniu as faixas da trilha sonora em um álbum, que portanto, e a reúne pela primeira vez (já que o Yellow Submarine de 1969 é um embuste). No fim, o álbum funciona como uma boa coletânea da fase psicodélica da banda e traz versões remasterizadas mais fortes de Hey bulldog e It’s all too much.

1 (ONE)

Em 2000, a Apple teve a genial ideia de reunir os principais sucessos dos Beatles em um único disco (afinal, discos duplos são sempre bem mais caros). O título 1 é referência ao fato das 27 faixas terem chegado ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido e ou dos EUA. É a mais compacta (e alguns diriam mais completa) coleção de faixas dos Beatles. E foi um dos maiores fenômenos de vendas de discos do século XXI. Se você não conhece Beatles e quer uma introdução, este é o seu disco: She loves you, I want to hold your hand, Help!, Day tripper, Penny Lane, Hey Jude, Get back, Come together, Something, Let it Be… O sucesso foi tão grande que vários outros artistas imitaram a iniciativa e lançaram outros Numbers 01 no mercado.

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Os Beatles surgiram em 1962, advindos da cidade britânica de Liverpool, e alçaram sucesso imediato na Inglaterra, que rapidamente se espalhou para a Europa, para os Estados Unidos e daí para o resto do mundo. Formado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, foram a banda pioneira do movimento da Invasão Britânica que fundou o rock clássico e criou as bases modernas do gênero. Lançaram 13 álbuns e são recordistas até hoje em canções de sucesso. Encerraram as atividades em 1970, quando cada um dos membros saiu em carreira individual, todos com sucesso em níveis variados.

(E, para encerrar, uma de minhas preferidas!)

Flight of the Bumblebee

Não, não, crianças, isso aqui não tem nada a ver com o &Bumblebee lá do filme Transformers

Estamos falando da música composta por Nikolai Rimsky-Korsakov e que era a música tema do antigo seriado do Besouro Verde. Sempre gostei dessa música – tão veloz, tão atordoante, tão complexa, que nunca compreendi como alguém conseguia tocá-la sozinho no piano. E volta e meia perguntava aos meus estupefatos botões como seria se fosse tocada a quatro mãos…

Bem, não preciso perguntar mais! Eis uma bem humorada interpretação dessa música a quatro mãoes – e ainda com bateria!