Eclipsado

Estava lá eu, na minha sala, quieto no meu canto, concentrado, cuidando das minhas coisas e dos meus processos e ouvindo Bonnie Tyler como se não houvesse amanhã.

Então percebo uma figurinha parada à porta.

Uma de nossas estagiárias.

– Oi?

– Oi… Nossa, que música é essa? Acho que nunca ouvi antes…

– Ah, esta? Chama-se “Total eclipse of the heart”, uma música lá da década de oitenta que sempre gostei muito.

– Nossa!

– Que foi?

– Década de oitenta? Puxa! Ainda faltavam 14 anos para eu nascer!

Olhei bem pra carinha sorridente dela e a única coisa que me veio à mente foi:

– E eu já tinha uns 14 anos… Agora, vem cá, me faz um favorzinho, faz? Vê se vai procurar o que fazer, pois você acabou de me deixar deprimido pelo resto do dia, tá?

Putz, eu mereço!

Bem, e se vocês também não conhecem essa música, então me façam vocês um favor: ouçam. Tá aí embaixo. Tenho certeza de que vão gostar.

Ou não…

Bonnie Tyler – Total eclipse of the heart

 

Ser ou não ser?

E essa minha compulsão por escrever?

A quantas anda?

Ao que parece, meio que bloqueada…

Não, não sei dizer o porquê. O mundo tem se apresentado tão cinza ultimamente (não, não em “cinquenta tons”, ok?) que me foge aquela verdadeira pitada de humor, aquela tirada divertida, aquela construção de palavras, o trocadilho, a brincadeira, o olhar, enfim.

Excesso de trabalho? Mau humor congênere? Desencanto com pessoas? Com situações? Tudo isso, talvez. Nada disso, provavelmente.

A fagulha me escapa. Aquela mesma fagulha que, de pequenina centelha, vai tomando corpo, crescendo, me abordando, me preenchendo e me levando a transformar em palavras meus sentimentos, minhas experiências, meus pontos de vista. Fraca. Apagada. Quase que inexistente. Praticamente inofensiva.

Este meu desencanto atribuído a sei lá o quê é que me desencanta. E olha que temos assunto, hein? Basta abrir o jornal – e basta ser o local. Há muito, muito tempo não tenho mais escrito por aqui. Não de verdade. Pequenos gracejos, uma foto interessante, uma imagem curiosa. Uma tuitada de momento. Uma instagrada de socorro. Frases desconexas com algum fundo moral ou pessoal tirada daquelas apresentações de Powerpoint que acabaram por se transformar na essência das mensagens do Facebook. E só. Acho que só. Tão só. Somente só.

O peso da idade – quatro-ponto-cinco chegando – também não ajuda em nada, a não ser na rabugice.

E se você chegou até aqui sem ímpetos de se suicidar, parabéns!

Então já é hora de chacoalhar a cachola e começar de novo.

Porque o Ano Novo nem chegou ainda (afinal ainda não passamos do Carnaval) e a primeira tá difícil de engatar, rateando, rateando, rateando, estourando, pipocando e não engrenando.

Mais uma vez, derradeira repetitiva vez, vamos arregaçar as mangas e tomar rédeas da situação em vez de lamuriar pelos cantos. Foco. Força. Fé. Se bem que cerveja, cigarro e cachaça também ajudam de quando em quando…

Enfim, caríssimos e caríssimas, já tô meio cansado de não expor minhas sempre inúteis não tão úteis palavras e pensamentos por aqui. Vamos retomar o fio da meada, fazendo o que faço de melhor: dizendo o que não deveria ser dito de modo a deixar claro que o que foi dito não disse exatamente o que deveria dizer, mas sim, se o dissesse, a dita cuja daquilo que não foi dito em forma do simples dizer teria por si só dito tudo. E nada mais há a ser dito.

E esta é a prova inequívoca de que um texto, sem dizer absolutamente nada, pode ainda dizer alguma coisa.

Ou não.

Enfim, bem-vindo de volta eu mesmo!
 
😉