Por onde andará a Lua?

Por onde andará a Lua?

Essa menina benfazeja, Nova na sua essência eis que seu pouco prateado teimava em aparecer apenas em alguns dos raros pelos brancos que lhe recobriam o dorso. Olhos verdes inquiridores, insaciáveis pela sua natural curiosidade, serenos em sua usual companhia. Dizem que gatos são bichos independentes, que se afeiçoam à casa, ao território, e nada mais. Mentem. Ela sempre teve a capacidade de pressentir quando estávamos por chegar ou quando pretendíamos sair. Alguém já viu gato responder ao próprio nome? Pois bem, esta respondia. Sempre.

Por onde andará a Lua?

Era apenas uma pequena e arisca bolinha de pelo preto nos idos de 97, quando a encontramos em Caraguá. Ou melhor, será que não foi ela que nos encontrou? Impossível não se apaixonar por aqueles olhinhos estralados e suplicantes desde o primeiro momento do primeiro contato. Veio, viu, ficou. Pra sempre. Fui o primeiro a conquistá-la (ou será o contrário?), pois sempre procurava meu colo quando, a namoro, eu surgia na casa. E ela foi a companheira do fim de solteirice da Dona Patroa, foi a companheira das pequenas tarefas e consertos de meu sogro, foi a companheira dos crochês e tricôs e costuras e invencionices em geral de minha sogra – e quando esta, doente e debilitada sequer conseguia se locomover, ainda assim lá ainda ela permanecia, fiel como sempre. Mesmo dos sobrinhos, hoje adultos, foi a companheira oculta – pois bastava aquela criançada chegar que ela já se escondia em algum canto até que eles se fossem e lhe devolvessem o sossego de sempre. Meus próprios filhos, hoje adolescentes, nasceram e cresceram com ela. Tornou-se mais família que a própria, eis que sempre presente. Sempre.

Por onde andará a Lua?

E assim, ano após ano, companheira sempre foi. Por longos dezesseis anos. Teve suas crias – várias – que também se foram para outros lares. Até que, derradeira vez, uma delas recusou-se a sair. E ficou no ventre. E a necessária cirurgia estirpou-lhe a capacidade de novas crias. E, provavelmente, lá se foi também a primeira de suas sete vidas. Inúmeras também foram as brigas com cachorros e outros gatos da vizinhança, pois vez ou outra, surgia estropiada – mas serena. O pequenino pedaço de orelha que lhe faltava na profundidade de um corte era a maior prova disso. E pelo menos quatro outras vidas devem ter sido levadas nessas desventuras. Dezesseis anos… Quase oitenta, se humana fosse. Mas quem disse que não o era? Sempre pôde compreender nossos mais íntimos sentimentos muito melhor que muita gente por aí afora. E, mesmo em mudo silêncio, compartilhava nossas dores e alegrias, quaisquer que fossem. Sempre e sempre e novamente. Sempre.

Por onde andará a Lua?

Mas o tempo passa e cobra seu inafastável preço. De repente, do nada, de uma hora pra outra, adoeceu. Sua pata com uma chaga exposta e constantemente sangrando deixou claro que algo de muito errado havia. Diagnóstico: câncer. Sim, esse mal também aflige o mundo dos animais. Amputar? O melhor. Mas, pela idade, pelos rins falhando, pelo quadro clínico geral, não sobreviveria. Restava tão-somente cuidar e minimizar seu sofrimento. Remédios, pomadas, preparados, nada parecia adiantar. E eis que, num de seus usuais arroubos de maga-bruxa, a Dona Patroa suspende tudo e passa a tratá-la somente com seiva de babosa. Miraculosa babosa. Funcionou, resolveu, cicatrizou. Mas certamente lá se foi sua penúltima vida. Pra sempre.

Por onde andará a Lua?

Nada dura pra sempre. O “pra sempre” sempre acaba. Meses se passaram desde então e eis que, de repente, a Lua sumiu. E a mais antiga, presente e fiel companheira da Dona Patroa se foi. De nada adiantaram as buscas e as lágrimas. “Gatos sempre somem quando sentem que vão morrer”, foi o que lhe disse seu pai, do alto de sua oriental sabedoria. Verdade. Todo aquele que gosta de gatos sabe que eles escondem suas doenças até que estejam em estado avançado – é o instinto que restou de sua história ancestral. Na natureza seriam presas fáceis de predadores mais fortes e é por isso que se escondem até que se restabeleçam; até que estejam prontos para voltar a lutar ou fugir de vez. Ou, pior, até que sucumbam. E a Lua, ainda que especial, nesse ponto nunca foi diferente. E coube a mim, já há uma semana de seu desaparecimento, encontrá-la. Ou melhor, não, não a encontrei. Encontrei apenas sua casca, vazia e aninhada num canto, num esconderijo, que provavelmente deveria ser um de seus preferidos. Pois ela não estava lá. A prova disso está no que sinto, nas lágrimas que nublam os olhos enquanto escrevo, no seu sabor salgado que materializa sua ausência. Ela se foi. Ela não estava lá. Sua sétima e última vida a levara de vez. Pra sempre.

Por onde andará a Lua?

Se existe um “céu para os gatos” é lá que ela está. Companheira, guerreira, amiga, fiel escudeira. Já sofreu tudo que tinha que sofrer nessa reta final de sua longa vida e merecidamente precisava descansar. Se no Antigo Egito gatos foram deuses, então certamente ela ascendeu à sua própria divindade. E, garanto-lhes, nunca mais me será possível olhar para a Lua que no céu desfila aos meus olhos sem lembrar da Lua que no chão ronroronava a meus pés. É lá que ela está. É lá que, para mim, ela está. E sempre estará.

Pra sempre.

PEC 37: saiba mais antes de ser contra. Ou a favor.

O que temos visto pelas mídias são falsas e rasas premissas para problematizar a PEC 37. O assunto deve ser debatido sim, como também deve ser debatida a ausência de legalidade e qualquer parâmetro para a defendida “investigação criminal” pelo Ministério Público. Acreditamos que é preciso esclarecer alguns pontos, para que o debate se faça de uma forma mais justa e menos reprodutiva.

Há previsão legal para o poder de investigação do MP?

Em nenhum momento a Constituição confere ao MP poder para realizar investigações criminais que, em regra, são feitas pela polícia (art. 144, §1º, I e IV e §4º, da Constituição Federal). O que está previsto como atribuição do MP, no art. 129, VII, da Constituição, é a função de “exercer o controle externo da atividade policial”. Atenção: controle externo não se confunde com investigação criminal. Esse controle significa que o MP deve acompanhar o inquérito policial, fiscalizando o respeito aos direitos e às garantias do investigado.

Existe sim um conjunto de decisões que reconhecem, em casos excepcionais, a possibilidade do próprio Ministério Público participar ativamente da produção de provas. Mas, veja-se, trata-se de uma interpretação feita por tribunais, e não de uma norma constitucional.

O que é a PEC 37 e quais os seus fundamentos?

A PEC 37 é uma proposta de Emenda Constitucional que tem por objetivo a inclusão de um parágrafo ao art. 144, estabelecendo como privativa a competência da polícia federal (e Polícias civis dos estado e Distrito Federal) para apuração de infrações penais, ressalvando casos como o da investigação pela comissão parlamentar de inquérito.

Ela nasce para conter um excesso de poderes (investigar e promover a ação penal) nas mãos do MP. Nenhuma instituição deve concentrar poderes, sob pena de se deixar o caminho livre para arbitrariedades. A polícia, ao exercer a atividade investigatória, está submetida a um controle externo, e no caso do MP? Quem o fiscalizaria? Uma investigação sem regras claras e sem controle é muito mais propícia a abusos.

Nessa linha a própria Constituição cuidou de fazer uma separação entre o órgão responsável pela investigação, pela acusação e pelo julgamento, adotando o sistema acusatório. Aqueles que citam países europeus que permitem a investigação criminal por parte do MP estão falando de outro sistema, um sistema misto, não adotado no Brasil.

Um sistema democrático se baseia na separação de poderes e no sistema de freios e contrapesos (pra quem nunca ouviu falar é a forma que se escolheu para evitar abusos de autoridades, separando certas funções estatais e estabelecendo um controle mútuo entre elas). Isso é fundamental e deve ser defendido em uma democracia.

Por que “PEC da Impunidade”?

A PEC 37 foi apelidada de “PEC da Impunidade”, e o apelido colou. É chamada assim porque supostamente pretende enfraquecer o poder investigatório de uma instituição que se intitulou principal guardiã do interesse público, e que seria a principal combatente dos “crimes sérios” no país.

Não é o que parece.

Primeiro, porque o MP vem demonstrando um critério de repercussão midiática para escolher os casos em que vai atuar com mais afinco e os casos que irá deixar de lado, o que passa longe da proteção dos interesses da sociedade.

Segundo, porque, embora tenha muitas atribuições definidas e que não geram polêmica: cabe ao MP investigar irregularidades na atuação do executivo, olhar os contratos por eles firmados, defender direitos difusos e coletivos (como meio ambiente, moradia), este órgão deixa a desejar na atuação em diversas violações expressivas a interesses sociais. Por exemplo, cadê o MP investigando os bilhões gastos com a Copa?? Cadê o MP investigando a política de remoções violenta da Prefeitura?? Cadê o MP na hora de analisar a legalidade das concessões das prefeituras às grandes empresas de ônibus??

Terceiro, o discurso da impunidade, embora cole com facilidade deve ser visto com mais atenção. Vivemos em um país com mais de meio milhão de presos e cuja população carcerária aumenta assustadoramente. A ideia de que vivemos no “país da impunidade” só pode ser falsa, pois em termos proporcionais somos o país que mais pune no mundo. Acontece que tal punição é seletiva e somente atinge os mais pobres. O modelo de resolução de conflitos através do cárcere parece esgotado. Não diminuiu a violência nem transformou a sociedade. Suas funções manifestas não são cumpridas. Esse modelo é alimentado por grande parte dos membros do Ministério Público, aliás, recentemente um promotor se orgulhou de ser chamado de nazista e outro defendeu a morte para manifestantes paulistas. Logo, percebe-se que aumentar o poder dessa instituição é, no mínimo, uma proposta ambígua.

Pense melhor:

Ao invés de fazer coro em nome do Ministério Público, por que não questionar suas omissões? Por que esbanjar apoio popular a uma instituição que, apesar de sua estrutura, de sua independência, tanto vangloriada, e de sua já farta gama de poderes, faz tão pouco pelo povo? Se tem tanta autonomia e eficácia para enfrentar esquemas de corrupção, por que então sua atuação é tão tímida ou nula em outras demandas de enfrentamento político?

Ano da Serpente

Acho que isso explica tudo…

Um ano dado a reflexão, planejar e procurar respostas. Esta será uma época cheia de romance, cortejo e escândalos de todo o tipo. Um bom momento para transações, casos políticos e golpes de estado. As pessoas estarão mais viradas para planejar e ponderar sobre as matérias excedentes do que agir de imediato. Um ano auspicioso para o comércio e indústria. As soluções e os acordos podem chegar, mas não sem alguma desconfiança no início.

Olhando para trás na história, nós vemos que o ano da serpente nunca foi tranquilo. Talvez isso aconteça porque é a força negativa mais forte no ciclo e segue o ano do dragão, que é o positivo mais forte de todos. Muitos desastres que se iniciaram no ano do dragão tendem a culminar no ano da serpente. Esses dois signos têm uma relação muito próxima e as calamidades dos anos da serpente resultam frequentemente dos excessos cometidos durante o reinado dos dragões.

A sabedoria venerável da serpente será evidente em muitas facetas da nossa vida, particularmente aqueles que requerem decisões. Embora tudo possa ter um ar fresco e calmo à superfície, o ano da serpente é sempre imprevisível. A parte dianteira fresca da serpente esconde as maneiras profundas e misteriosas da sua natureza. Deve-se ter em conta que uma vez que a serpente se desenrola para atacar, ela move-se como um relâmpago e nada pode ser mais repentino e devastador do que ela.

Veja onde pisa e seja mais cauteloso este ano. O jogo e a especulação são estritamente proibidos. As consequências seriam devastadoras. A serpente não é misericordiosa.

O que poderá também acontecer, a serpente dar-nos-á fé em nossas convicções e forçar-nos-á a agir durante o seu reinado.

Este não é um ano para colocar a cerca.

Um projetor

Sim, um projetor. No caso, de “slides”.

Hm?

Você não tem nem a mais afastada idéia do que seja isso?

Bem, confesso que já vi muitos slides, utilizei alguns projetores, mas nunca me perguntei o porquê de fazerem aquelas “fotinhos” daquele tamanhinho, já que podiam fazer uma “normal” e revelar…

Mas nada como uma pequena busca na Internet para entender as coisas!

Enfim, o que sempre chamei de slides na realidade eram filmes positivos. Mas até que eu (e toda minha geração) não estava tão errado, pois esse bichinho tem uma infinidade de nomes, sendo conhecido também como cromos, películas positivas, transparências, filmes reversíveis e por aí vai.

São, literalmente, “filmes positivos” (dãããã…), ou seja, ao contrário dos negativos coloridos – que precisam ter suas cores invertidas para mostrar o resultado final – esse tipo de filme (após revelado) ao ser contraposto à luz já permite ver a imagem exatamente como ela deve ser. É uma foto já pronta para ser impressa ou projetada. Sei que nestes tempos de máquinas digitais, câmeras, celulares, tablets, isso pode soar pra lá de esquisito – mas ele tinha lá suas vantagens!

É que essas películas possuíam altíssimo contraste, reproduzindo bem melhor as cores, mantendo ainda uma granularidade muitíssimo boa. Dizem os especialistas que esses seriam os filmes que melhor reproduzem as cores (ainda que comparado aos melhores negativos profissionais).

À sua época foram largamente utilizados nas principais áreas profissionais de fotografia, em catálogos de imagens, publicações de alta definição, grandes ampliações, em exposições, bem como outros trabalhos que exigissem uma expressividade muito boa das cores. Para que as imagens pudessem ser projetadas em série, o filme era cortado e encapsulado em molduras brancas – eis aí os slides! – e, assim, ficavam prontos para para serem colocados na devida ordem no “carrosel” do projetor. Sim, aquela máquina esquisita na foto lá em cima.

Muito bem, era isso.

Assim encerramos a aula de cultura inútil de hoje…

Alfândega Pastoral

Pensai numa mãe solteira que vai à Igreja, à paróquia e diz ao secretário: Quero batizar o meu menino. E quem a acolhe diz-lhe: Não tu não podes porque não estás casada. Atentemos que esta mãe que teve a coragem de continuar com uma gravidez o que é que encontra? Uma porta fechada. Isto não é zelo! Afasta as pessoas do Senhor! Não abre as portas! E assim quando nós seguimos este caminho e esta atitude, não estamos fazendo o bem às pessoas, ao Povo de Deus. Jesus instituiu sete sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral. (…) Quem se aproxima da Igreja deve encontrar portas abertas e não fiscais da fé!

Papa Francisco
25/MAI/2013