Educação no trânsito

E já que ontem falamos sobre o tema Mobilidade Urbana, que tal hoje falarmos um pouco sobre educação no trânsito?

Bem… quase!

Esta é uma animação (muito bem-humorada) do mestre Bruno Bozzetto sobre o que se deve ou não fazer no trânsito…

Divirtam-se!

Basta clicar aqui para assistir!
“Tell me how you drive and I’ll tell you what kind of an idiot you are!”

Mobilidade Urbana

Página 22 é uma publicação da FGV (Fundação Getúlio Vargas). O número 67 dessa revista (que pode ser baixado gratuitamente neste link aqui) trata especificamente do tema: Mobilidade – como reduzir a distância entre a cidade e as pessoas.

Se vocês, assim como eu, não são experts no assunto, com certeza a leitura dessa revista vai ajudar a esclarecer um pouco os enormes problemas e desafios que TODAS as cidades têm pela frente – quer sejam grandes ou não.

Segue o editorial dessa edição para que possam ter uma palhinha. Mas, na minha opinião, a chamada pergunta que não quer calar – e tão difícil de responder quanto de atribuir – é a seguinte: “Qual é a responsabilidade de cada um dos atores e setores envolvidos no problema?”…

Só um pacto salva

Como se resolve o deslocamento de diversos fluxos de gente e de veículos por um mesmo ponto? Organiza-se um cruzamento, criam-se regras e sinalizações, instalam-se semáforos e faixas. Cada um concorda – pelo menos em teoria – em esperar a sua vez antes de avançar. Isso é um tipo de pacto.

As grandes cidades chegaram a um ponto em que o simples e ir e vir tem ficado a cada dia mais impraticável. Para piorar, as médias e pequenas tendem a seguir o mesmo modelo. O trânsito e a mobilidade já ocupam o topo das insatisfações do cidadão. Mas, assim como em um simples cruzamento, a solução não partirá apenas de um lado da via. “Não existe uma bala de prata”, diz um dos entrevistados desta edição. Todos os envolvidos precisam participar de um acordo para que se chegue a um termo comum, em prol da (re)construção dos centros urbanos pelas pessoas e para as pessoas.

A questão envolve, além do cidadão – que antes de tudo é um pedestre –, o poder público, o mercado imobiliário, os planejadores urbanos, os órgãos de trânsito, os motoristas, motociclistas e ciclistas, as empresas, os sistemas de tecnologia e os fabricantes de automóveis. Qual é a responsabilidade de cada um desses atores e setores? E que tipo de contribuição podem oferecer? O que estão dispostos a empenhar em benefício de uma solução coletiva? O quanto sabem esperar a sua vez antes de avançar?

Esta é a provocação que PÁGINA22 lança nesta edição – em que comemora o sexto aniversário. Por entender que é impossível falar de mobilidade sem discutir o espaço urbano, e que a cidade é um sistema complexo, abordamos inicialmente o tema do urbanismo. Em seguida, a partir da “geografia urbana”, questionamos a lógica montada em cima do transporte individual motorizado e convidamos cada uma das partes a debater a questão sob diferentes olhares: econômico, cultural, ambiental e social. Enquanto alguns atores aprofundaram o tema abertamente, outros não responderam a contento, mas este é apenas um início de conversa para um assunto que não tem fim. É contínuo e permanente.

Despertar

Abri os olhos.

Meu corpo reclamou, ligeiramente coberto de suor.

Afastei as cobertas e o primeiro pensamento que me veio: ela se foi.

Finalmente aquela maldita dor de cabeça que me consumia até o último dos neurônios se foi.

Respirei fundo e fui ver como estava o dia lá fora. Como o mundo se comportou ante a minha forçosa ausência. Bem, como era de se esperar, o mundo continuou sendo mundo. Um ligeiro toque de melancolia maculou minha alma. Serei tão desnecessário assim? A casa em silêncio – afinal as crianças estavam na escola – fazia ecoar meus próprios passos.

Com o corpo ainda dolorido resolvi que era hora de dar uma olhada também lá fora, ver um pouco de céu, de ar, de gente.

No caminho resgato um cigarro e visito a garrafa térmica. Um último gole ainda me aguardava. Precisava de ambos. Afinal já se passaram dois dias inteiros sem café e ao menos mais de um sem cigarro! Muito tempo sem nenhum veneno no corpo.

No meu cantinho de sempre, da amurada do navio que a casa se transformou, vejo o mar de asfalto logo abaixo, onde apressadamente navegam carros e motos e gentes em busca sabe-se lá de o quê, sob um céu sem sol, acinzentado como tudo o mais.

Nesse momento a capela logo em frente põe-se a tocar Ave Maria no seu sofisticado sistema de som, com um único megafone dependurado à porta. Era a costumeira versão de Charles Gounod:

– Ave Maria, Gratia plena

Como que atraído por aquele triste lamento, meu vizinho também sai, mas à rua. Joga algo na lixeira, volta, recosta-se no portão.

– Dominus tecum, Benedicta tu

Volto toda minha atenção para ele que, agora, acocorado, perde-se em algum íntimo devaneio, olhando sem ver a densa mata que se ergue frente às nossas casas.

– In mulieribus, Et benedictus

Não posso deixar de pensar que, de algum modo, assim como eu, com esse ambiente, com essa música, também nele se fez vibrar alguma dissonante nota de tristeza dentro d’alma.

– Fructus Ventris tui, Jesus

E, não sei o porquê, talvez me atentando ao silêncio reinante dentro de minha própria casa, lembrei-me de seu filho, pouco mais que um adolescente e que faleceu há pouco tempo. Pouco mais de um ano, ou anos, creio eu.

– Sancta Maria, Sancta Maria, Maria

E me veio um aperto no coração, um aperto do tipo que se sente quando o mundo se distorce, retorce e contorce ao seu redor. Quando algo está extremamente errado e não necessariamente conseguimos entender o que é. Sequer sei se é sobre isso que ele devaneia, mas ao vê-lo, ali, aquele pai que sobreviveu ao filho, de um certo modo sua dor se torna minha dor. Seu lamento se torna meu lamento.

– Ora pro nobis, Nobis peccatoribus

Ainda me lembro do dia em que o garoto faleceu. Alguma espécie de leucemia descoberta tarde demais, se não me engano. Lembro-me claramente dos gritos desesperados de sua irmã naquela madrugada em que se foi, quando recebeu a notícia de sua partida. Gritos somente suplantados pelos da própria mãe. Mas dele, do pai, não me lembro sequer de um som. Talvez não estivesse lá. Mas talvez estivesse sofrendo, como agora, em silêncio.

– Nunc et in hora mortis, Hora mortis nostrae, Amen

E, cá no meu canto, comungo com ele uma silenciosa oração por aquele menino que tão cedo se foi. Apenas uma solitária lágrima rola por minha face, ainda que meus olhos estejam completamente marejados. E, talvez egoisticamente até, sinto uma enorme saudade de minhas crianças e da algazarra que normalmente preenche este lar e este coração vazios.

– Amen.