“Eu vim para trazer a divisão”, disse……Jesus!

Cynara Menezes
(Socialista Morena)

Uma das coisas que mais me perturbam na atual situação brasileira é a ilusão de certos setores de que o PT “inventou” a divisão entre ricos e pobres, entre negros e brancos, entre esquerda e direita, entre mulheres e homens, entre hetero e homossexuais. O chamado “Fla-Flu”. Tem gente que fica chateado porque brigou com amigos, colegas e familiares por causa de política e isso é “culpa do PT”. Será?

O primeiro ponto a se perguntar é: a divergência é mesmo algo ruim? Balela. Se o embate fosse entre brancos e brancos, ricos e ricos, direitistas e direitistas aposto como seria visto com mais normalidade: uma disputa entre iguais. O que incomoda é que a tal “divisão” é, na verdade, uma reação dos historicamente oprimidos, dos “de baixo”, às injustiças. Incomoda que as chamadas “minorias” estejam divergindo com mais força, em alto e bom som.

Os negros estão denunciando o racismo; as mulheres estão denunciando o machismo; os pobres estão denunciando o preconceito de classe; os gays estão denunciando a homofobia. Antes, todas estas cidadãs e cidadãos hoje em processo célere de empoderamento estavam mudas, resignadas com sua situação. A esquerda tampouco tinha acesso aos meios de comunicação para conscientizar a população –e hoje temos a internet.

Esta divisão é positiva para evoluirmos enquanto sociedade. Não acredite quando dizem que é ruim. Fiquei impressionada ao conhecer trechos do Novo Testamento onde Jesus Cristo fala justamente de divisão e não de união. “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc, 12, 51-52). Na Bíblia utilizada pelos protestantes, é ainda mais veemente: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt, 10, 34-35).

Em Lucas, complementa: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três: ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. Diz ainda Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a Terra; e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49-53).

Estes trechos dos evangelhos de Lucas e Mateus são considerados controversos porque indicariam que Jesus seria a favor do uso de violência. Não necessariamente. Do que Jesus não é a favor, sem sombra de dúvidas, é do conformismo. Se ele veio à Terra, não foi para transmitir uma mensagem pacificadora, isso está claro. Ou não teria expulsado os vendilhões do templo.

Aliás, imaginem o rebuliço que seria hoje se Jesus voltasse, como os cristãos esperam, e encontrasse vendilhões falando em seu nome em emissoras de TV e igrejas espalhadas pelo mundo… Com certeza seria acusado de “incitar a divisão” entre ricos e pobres ao pregar que “é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Cristo foi um revolucionário. E revolucionários não vêm a este mundo para lançar uma mensagem de obediência e subserviência ao sistema – ou não seriam revolucionários. O que o revolucionário quer é abalar as estruturas. Foi o que Cristo fez, ou não? E acabou morto por isso, assim como Maomé, perseguido por criar uma dissidência religiosa do judaísmo e do cristianismo, o islã. Martinho Lutero foi excomungado pela igreja Católica por dividi-la e houve luta armada em favor de suas ideias reformistas.

Fora do campo religioso, Nelson Mandela abriu os olhos do mundo ao absurdo regime que existia na África do Sul, que colocava os negros, originais moradores do país, em um gueto, dominados por supremacistas brancos de origem europeia. Pois é: para quem critica a “divisão” no sentido de conflito, que tal o apartheid? Os donos do poder pretendiam que os negros sul-africanos se subjugassem àquela situação para sempre. Mandela os fez se levantar contra ela. E que bom que tenha sido assim.

Com tantos erros cometidos sob a ótica do campo da esquerda, o PT teve o inegável mérito de dar voz a quem não tinha voz. Por isso agora eles gritam. Pare de reclamar da “divisão” que há em nosso país, preocupe-se em entender por que ela existe – e por que é bom que ela exista. Se não houvesse divisão, significaria que estamos conformados. E conformistas não movem o mundo.

“Eu vim para trazer a divisão”, disse…
…Jesus!

Cynara Menezes
(Socialista Morena)

Uma das coisas que mais me perturbam na atual situação brasileira é a ilusão de certos setores de que o PT “inventou” a divisão entre ricos e pobres, entre negros e brancos, entre esquerda e direita, entre mulheres e homens, entre hetero e homossexuais. O chamado “Fla-Flu”. Tem gente que fica chateado porque brigou com amigos, colegas e familiares por causa de política e isso é “culpa do PT”. Será?

O primeiro ponto a se perguntar é: a divergência é mesmo algo ruim? Balela. Se o embate fosse entre brancos e brancos, ricos e ricos, direitistas e direitistas aposto como seria visto com mais normalidade: uma disputa entre iguais. O que incomoda é que a tal “divisão” é, na verdade, uma reação dos historicamente oprimidos, dos “de baixo”, às injustiças. Incomoda que as chamadas “minorias” estejam divergindo com mais força, em alto e bom som.

Os negros estão denunciando o racismo; as mulheres estão denunciando o machismo; os pobres estão denunciando o preconceito de classe; os gays estão denunciando a homofobia. Antes, todas estas cidadãs e cidadãos hoje em processo célere de empoderamento estavam mudas, resignadas com sua situação. A esquerda tampouco tinha acesso aos meios de comunicação para conscientizar a população –e hoje temos a internet.

Esta divisão é positiva para evoluirmos enquanto sociedade. Não acredite quando dizem que é ruim. Fiquei impressionada ao conhecer trechos do Novo Testamento onde Jesus Cristo fala justamente de divisão e não de união. “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc, 12, 51-52). Na Bíblia utilizada pelos protestantes, é ainda mais veemente: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt, 10, 34-35).

Em Lucas, complementa: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três: ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. Diz ainda Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a Terra; e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49-53).

Estes trechos dos evangelhos de Lucas e Mateus são considerados controversos porque indicariam que Jesus seria a favor do uso de violência. Não necessariamente. Do que Jesus não é a favor, sem sombra de dúvidas, é do conformismo. Se ele veio à Terra, não foi para transmitir uma mensagem pacificadora, isso está claro. Ou não teria expulsado os vendilhões do templo.

Aliás, imaginem o rebuliço que seria hoje se Jesus voltasse, como os cristãos esperam, e encontrasse vendilhões falando em seu nome em emissoras de TV e igrejas espalhadas pelo mundo… Com certeza seria acusado de “incitar a divisão” entre ricos e pobres ao pregar que “é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Cristo foi um revolucionário. E revolucionários não vêm a este mundo para lançar uma mensagem de obediência e subserviência ao sistema – ou não seriam revolucionários. O que o revolucionário quer é abalar as estruturas. Foi o que Cristo fez, ou não? E acabou morto por isso, assim como Maomé, perseguido por criar uma dissidência religiosa do judaísmo e do cristianismo, o islã. Martinho Lutero foi excomungado pela igreja Católica por dividi-la e houve luta armada em favor de suas ideias reformistas.

Fora do campo religioso, Nelson Mandela abriu os olhos do mundo ao absurdo regime que existia na África do Sul, que colocava os negros, originais moradores do país, em um gueto, dominados por supremacistas brancos de origem europeia. Pois é: para quem critica a “divisão” no sentido de conflito, que tal o apartheid? Os donos do poder pretendiam que os negros sul-africanos se subjugassem àquela situação para sempre. Mandela os fez se levantar contra ela. E que bom que tenha sido assim.

Com tantos erros cometidos sob a ótica do campo da esquerda, o PT teve o inegável mérito de dar voz a quem não tinha voz. Por isso agora eles gritam. Pare de reclamar da “divisão” que há em nosso país, preocupe-se em entender por que ela existe – e por que é bom que ela exista. Se não houvesse divisão, significaria que estamos conformados. E conformistas não movem o mundo.

Precavida

Isabela, minha sobrinha-neta de apenas três aninhos, após insistentes chamados (por que toda criança é assim?) resolve finalmente atendender à mãe e se dirigir ao banheiro para o banho.

– Filha, por que essa demora?

– Tava pocuiando, mãe!

– Procurando o quê, meu amor?

– Isso.

E mostra, orgulhosa, um canudinho de refrigerante.

– Mas pra quê isso, filha? Você não vai tomar suco, vai tomar banho!

– É pa não afogá, mamãe!

Enquanto isso, no supermercado…

Juliana Magalhães

Dois anos e dois meses, idade que conclui ser impossível ir sozinha com a cria fazer compras.

Mercadinho do bairro, coloquei a filhota sentada dentro do carrinho, pois não havia daqueles com cadeirinha para criança e não sou louca de deixá-la ir no chão. Primeiro ela olhou para os tomates cereja e começou a dizer “uva, uva, uva”, expliquei que eram tomates, ela me olhou e disse “qué, tomate!”, uma mulher assistiu à cena e sorriu, sorri de volta. Foi mesmo engraçadinho. Então ela avistou as uvas, dessa vez eram mesmo uvas, expliquei que compraria, mas que ela só comeria em casa, pois era preciso lavar. Não, ela não entendeu, começou a primeira gritaria – “UVAAAA!” – tentei acalmar, conversar, mas nada parava o escândalo, ela berrava! Um funcionário se ofereceu pra lavar as uvas, agradeci, anjos existem. Seguimos. “Nana, nana, NANAAA!” Ela gritava olhando para as bananas, enquanto literalmente fazia suco de uvas com as mãozinhas. As que permaneceram ilesas formaram um rastro pelo chão do estreito corredor do estabelecimento. No momento que ela gritou “manga!”, sai correndo da seção de hortifruti. Acelerei mais um pouco na seção dos iogurtes, enquanto ela quase se jogou do carrinho, peguei pela perna. Chorou até avistar a padaria, quando começou a dizer “pão, pão, pão…”, ok, mamãe compra pão. Viu um bolo e divertiu as pessoas da fila quando começou a bater palmas e cantar parabéns. Encontrei uma amiga e tentamos trocar meia dúzia de palavras: impossível, pois ela já tentava se jogar do carrinho mais uma vez. Peguei os pães, estavam quentes, ela não conseguia comer, mais um escândalo. Rasgou o saco e lá se foram 4 pães, cada um para um lado. Peguei correndo o básico do básico do que precisava pra casa, nessa altura já empurrando o carrinho e ela no meu colo. Antes de chegar ao caixa, mais uma gritaria, dessa vez para o suco, olhares julgadores, olhares de pena, pontapés para tentar se desvencilhar do colo… “Chão, chão, SUCO!!!”, peguei a garrafa, dei na mão dela e ela topou voltar pro carrinho. Reta final, caixa, onde a pobre funcionária não conseguiu passar sequer um produto na registradora sem ouvir um choroso e sonoro “É meeu!!”. Tentava acalmar minha ferinha, enquanto pensava na melhor estratégia para levar nossas compras para o carro que não estava tão perto assim. Levei uma mordida. Resolvi por as compras numa caixa. Sem dúvidas a melhor escolha para o meio ambiente, mas não para uma mãe. Como pegar a caixa e ela no colo? Como segurar pela mão? Cadê aquele anjo?? Mal saímos pela porta do mercado e ela correu de mim em direção à rua, um mini infarto, larguei a caixa no chão e corri atrás dela, peguei! Um motorista gritou que eu era irresponsável, outro balançou a cabeça, deu vontade de chorar, não chorei. Consegui, não sei como, mas consegui levar ela e a caixa nos braços até o carro. Acomodei-a na cadeirinha, a caixa no banco da frente, sentei no banco do motorista, fechei os olhos para uma oração, um agradecimento, quando aquela vozinha mais uma vez me chamou…

– Mamãe?!!

Olhei pra trás.

– Oi filha?

E me olhando com o sorriso mais lindo do mundo ela disse:

– Te amo!

Dessa vez eu chorei.

Tatuagem e concurso público: acabou a celeuma!

Já falamos bem rapidamente sobre tatuagens lá no texto “16 coisas que você precisa saber sobre pessoas tatuadas”, mas o que não falamos foi sobre a grande celeuma que existia para pessoas tatuadas e que passavam em concursos públicos – principalmente na polícia militar (assim, em minúsculas mesmo).

Sei de gente que, para poder assumir o cargo, teve que se submeter ao doloroso procedimento de remoção da tatuagem. E, sim, dói.

Mas hoje li esta notícia vinta diretamente lá do site do Supremo Tribunal Federal e resolvi compartilhar com vocês…

Proibição de tatuagem a candidato de concurso público é inconstitucional, decide STF

Por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão desta quarta-feira (17), julgou inconstitucional a proibição de tatuagens a candidatos a cargo público estabelecida em leis e editais de concurso público. Foi dado provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898450, com repercussão geral reconhecida, em que um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo foi eliminado por ter tatuagem na perna. “Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais”, foi a tese de repercussão geral fixada.

O relator do RE, ministro Luiz Fux, observou que a criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade. Em seu entendimento, qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas. Salientou que a jurisprudência do STF prevê que o limite de idade previsto em lei é constitucional, desde que justificável em relação à natureza das atribuições do cargo a ser exercido.

O ministro destacou que a tatuagem, por si só, não pode ser confundida como uma transgressão ou conduta atentatória aos bons costumes. Segundo ele, a tatuagem passou a representar uma autêntica forma de liberdade de manifestação do indivíduo, pela qual não pode ser punido, sob pena de flagrante violação dos princípios constitucionais. Para o ministro Fux, o respeito à democracia não se dá apenas na realização de eleições livres, mas também quando se permite aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que isso não represente ofensa direta a grupos ou princípios e valores éticos.

Em seu entendimento, o desejo de se expressar por meio de pigmentação definitiva não pode ser obstáculo a que um cidadão exerça cargo público. “Um policial não se torna melhor ou pior em suas funções apenas por ter tatuagem”, afirmou.

O relator destacou que o Estado não pode querer representar o papel de adversário da liberdade de expressão, impedindo que candidatos em concurso ostentem tatuagens ou marcas corporais que demonstrem simpatia por ideais que não sejam ofensivos aos preceitos e valores protegidos pela Constituição Federal. “A máxima de que cada um é feliz à sua maneira deve ser preservada pelo Estado”, ressaltou o ministro.

Em seu voto, o ministro Fux assinalou que tatuagens que prejudiquem a disciplina e a boa ordem, sejam extremistas, racistas, preconceituosas ou que atentem contra a instituição devem ser coibidas. Observou, por exemplo, que um policial não pode ostentar sinais corporais que signifiquem apologias ao crime ou exaltem organizações criminosas. Entretanto, não pode ter seu ingresso na corporação impedido apenas porque optou por manifestar-se por meio de pigmentação definitiva no corpo.

O relator explicou que as Forças Armadas vedam o ingresso de pessoas com tatuagens que transmitam mensagens relacionadas à violação da lei e da ordem, tais como as que discriminem grupos por sua cor, origem, credo, sexo, orientação sexual ou que incitem o consumo de drogas ou a prática de crimes, por entender que são incompatíveis com a função militar.

Caso: No caso dos autos, o candidato obteve, em primeira instância, decisão favorável em mandado de segurança impetrado contra sua exclusão do concurso público para o preenchimento de vagas de soldado de 2ª classe depois que, em exame médico, foi constatado que possui uma tatuagem em sua perna direita que estaria em desacordo com as normas do edital. O Estado de São Paulo recorreu alegando que o edital estabeleceu, de forma objetiva, parâmetros para admissão de tatuagens, mas que o candidato não se enquadrava nessas normas.

Em acórdão, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) destacou que o edital é a lei do concurso e a restrição em relação à tatuagem encontra-se expressamente prevista. Assim, ao se inscreverem no processo seletivo, os candidatos teriam aceitado as regras. O acórdão salienta que quem faz tatuagem tem ciência de que estará sujeito a esse tipo de limitação. Acrescenta que a disciplina militar engloba também o respeito às regras e o descumprimento da proibição a tatuagens não seria um bom início na carreira.

Por maioria de votos, o Plenário deu provimento ao RE 898450 para impedir que o candidato seja eliminado do certame por ter tatuagem.

Ficou vencido o ministro Marco Aurélio, que entendeu não haver inconstitucionalidade no acórdão do TJ-SP.