Excommunicamus – A bruxaria nos quadrinhos

Noite de lua cheia. O céu está limpo, sem nuvens ou ameaças de chuva. No meio de uma floresta, em algum lugar, uma modesta cabana dá sinais de vida através das acanhadas luzes amareladas de velas e lampiões. Um pouco de fumaça sai de sua chaminé. É quase meia-noite…

Com hipnóticos olhos cor de mel, uma enorme coruja está atenta a tudo e, entre uma virada e outra do pescoço, crocita ruidosamente. Seu canto grave, entretanto, não intimida o réptil viscoso que rasteja pela folhagem seca. O vento se intensifica e muda sua entonação de voz. De melodioso assovio, torna-se uma lamúria gélida e sem fim. É quase meia-noite…

Na cabana, cochichos se escondem sob risadas apressadas. Ouvidos mais bem treinados certamente escutariam o tique-taque insistente de um relógio. Então, sem avisar, o caótico concerto noturno se cala. A coruja, agora muda, pisca seguidamente e afunda sua cabeça contra o corpo. Dentro da cabana, um cuco faz dueto com o relógio. Doze cantos e doze badaladas. A hora das bruxas. É meia-noite!

Caldeirões fervendo, asa de morcego, perna de sapo, veneno de aranha, pena de corvo… Irc! Que nojo! Bruxaria não! Ou melhor, bruxaria sim! Afinal, os quadrinhos são um grande refúgio de magia, bruxaria e seus derivados. Mas, antes, vamos dar uma olhada no pesadelo real que originou tantas lendas populares sobre as tão temidas bruxas.

Fala-se muito sobre a caça às bruxas e as impiedosas fogueiras inquisidoras, mas quase ninguém cita os responsáveis por essa chacina histórica. Na verdade, não existem culpados que você possa apontar, mas agentes de uma instituição que buscava uma maneira de se fortalecer mais ainda diante das constantes ameaças de perda de poder: a Igreja. Em 1231, o papa Gregório IX, através de sua bula, Excommunicamus, anunciou algumas “regras” para guiar os passos dos inquisidores profissionais no encalço daqueles que eram considerados hereges. Segundo ele, sua bula tornaria os julgamentos de heresia mais racionais, impedindo que a população cometesse atos de selvageria, tais como linchamentos e outras “diversões” do gênero. Apesar de suas intenções serem as “melhores” possíveis, Inocêncio IV autorizou a tortura como parte dos interrogatórios. Método bastante sutil para a época… Perseguições indiscriminadas não tinham mais fim, e até facções dentro da própria Igreja sofreram represálias. Toda a Europa se transformara numa imensa fogueira de ignorância. Acreditava-se que bruxas canibais e adoradoras do Diabo se reuniam para praticar todo tipo de malefícios através da magia. Segundo os religiosos mais fervorosos, as artes mágicas, boas ou más, eram um subterfúgio do demônio para enganar os homens e fazê-los perder a crença em Deus e, principalmente, nos cofres da Igreja… A condenação por heresia e a vinculação da bruxaria ao diabolismo no século XIV foram marcos decisivos para a ascensão do catolicismo na Idade Média.

Quando Inocêncio VIII redigiu a pomposa bula papal Summis desiderantes affectibus, em 1484, desencadeou, intencionalmente ou não, o início de uma Era dominada pelo medo e ignorância sem limites. Em sua onipotente presunção, ele quis instituir uma forma de combater todos os tipos de malefícios constatados pela Igreja até então. Dois anos depois, os inquisidores dominicanos Heinrich Kramer e James Sprenger escreveram o volumoso Malleus Maleficarum, um dos maiores tratados (junto com Formicarius de João Nider, 1435) sobre o assunto. De certa forma, o Malleus foi o livro de cabeceira do inglês Matthew Hopkins, o famoso caçador de bruxas que atuou por volta de 1650, desbravando uma impiedosa trilha de terror em nome de Deus.

Se a Itália, a França e a Alemanha foram os maiores palcos da Inquisição, a Inglaterra manteve-se isolada (por razões claramente religiosas). O manual de caça às bruxas de Kramer & Sprenger, durante muito tempo, só existia num círculo muito elitizado de estudiosos e cultos britânicos. Por outro lado, o Parlamento inglês teve três leis que condenavam a bruxaria como delito previsto na legislação. A última delas, que vigorou de 1604 a 1736, condenava as bruxas à pena de morte nos casos de reincidência de malefícios tais como roubos de tesouro, amor ilícito, destruição de gado ou bens e tentativas de assassinato. Além disso, era crime consultar, alimentar, recompensar ou se aliar a qualquer espírito mau.

Parece brincadeira, mas não é. Milhares e milhares de pessoas (a maioria formada por mulheres) foram condenadas à morte simplesmente por discordarem dos dogmas impostos pela Igreja, que ditava como deveriam viver e em que acreditar. Joana D’Arc (hoje santa), uma verdadeira heroína francesa durante a Guerra dos Cem Anos, chegou a vestir-se como cavaleiro para fortalecer o sentimento patriótico de seu povo e acabou sendo condenada à fogueira em 1431, acusada de heresia e feitiçaria. Vinte e cinco anos depois, uma comissão papal reveu o julgamento e ela foi canonizada. Ironia? Não. Benevolência… Quantas idéias não se perderam nesse período tão negro? Para se ter idéia, o astronônomo italiano Giordano Bruno foi queimado como herege por defender a idéia de que a Terra e outros planetas giravam em torno do Sol (teoria do heliocentrismo lançada por Nicolau Copérnico em 1512). Mais afortunado foi Galileu Galilei, o polêmico cientista de Florença, que tanta dor de cabeça causou à Inquisição. Com Siderus Nuncius (1610), um tratado que descrevia o relevo lunar, desvendava quatro satélites de Saturno e defendia o heliocentrismo, o “pai do telescópio” recebeu apenas um pequeno aviso de que suas afirmações eram contrárias às da Igreja. Depois, com a publicação de Dialogo (1632), que reforçava ainda mais as suas idéias anteriores, Galileu foi julgado como herege e acabou se retratando publicamente para não ter que ir para a cadeia ou sofrer uma penalidade mais drástica. E foi somente agora, no final deste século, que a Igreja deu pleno perdão a ele e retirou seu nome da lista negra. Incrível, hein? O que seria do “mago” Paulo Coelho se ele vivesse em plena Inquisição? É melhor não entrarmos no mérito da questão…

Hoje, felizmente, os tempos são outros e as bruxas e bruxos não amedrontam mais. Muito pelo contrário! Quem é que não se lembra da simpática Samantha, do seriado A Feiticeira, que marcou os anos 60 e 70? É lógico que sua mãe, Endora, fugia à regra e infernizava a vida de seu genro, James. Aquele velho problema com as sogras… Até o antigalã Jack Nicholson, que encarnou o Diabo no filme As Bruxas de Eastwick, de George Miller, sofreu na pele os encantos e feitiços de três lindas bruxas vividas por Michelle Pfeiffer, Cher e Susan Sarandon. Em Coração Satânico, de Alan Parker, o azarado detetive particular vivido por Mickey Rourke se vê atormentado por todo tipo de magia negra e descobre que foi contratado pelo próprio Lúcifer, magnificamente interpretado por Robert De Niro. Mais para o gênero do terror/humor, Warlock, o Demônio, de Seteve Miner, mostra um inquisidor do time dos “mocinhos” no encalço de um feiticeiro com cara de roqueiro que busca o Grimoire (um livro de magia negra). Tudo isso em pleno século XX!

David Lynch, o grande cineasta do obscuro, se enveredou pelos tortuosos caminhos do sobrenatural e criou o assustador pesadelo em capítulos chamado Twin Peaks. Também dirigido por Lynch há o estranhíssimo Coração Selvagem, onde a bruxinha boa e a bruxa má fazem aparições memoráveis. Para os amantes da lenda do Rei Arthur, John Boorman produziu o monumental Excalibur, que reconta toda a saga dos Cavaleiros da Távola Redonda, onde o mago Merlin e a feiticeira Morgana desempenham papéis fundamentais. E é claro que não poderíamos omitir O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaund, uma citação direta à Inquisição. Embora não seja uma adaptação fiel do romance homônimo de Umberto Eco, este filme traz o sempre espetacular Sean Connery no papel de um monge franciscano que tenta solucionar estranhos assassinatos numa distante abadia.

Levando o tema para uma versão mais infantil, podemos citar Fantasia (produzido pelos estúdios de Walt Disney), um belíssimo desenho animado, de 1940, comandado pelas peripécias mágicas do ratinho Mickey, o aprendiz de Feiticeiro. Além das inovações de animação, Fantasia traz uma trilha sonora composta pelos maiores músicos da história. Ainda sob a batuta do papai Disney, as crianças perderam o sono com Branca de Neve e os Sete Anões (de 1937) e A Bela Adormecida (de 1959). No primeiro, a vaidosa e vingativa bruxa, madrasta da bobinha Branca de Neve (criada pelos Irmãos Grimm), inferniza a vida de sua enteada e da gangue de baixinhos. No outro, adaptação inspirada do conto de Charles Perrault, a feiticeira Malévola enfrenta o valente Príncipe na forma de um imenso dragão. Quem viu sabe que essa é uma das sequências mais incríveis já produzidas para o cinema.

Diretamente da Bélgica, Peyo criou os felizes Schtroumpfs (“Smurfs”, no Brasil), uma versão light de duendes pentelhos que vivem sendo perseguidos pelo azarado feiticeiro Gargamel e seu fiel assistente, o gato Cruel. Ei! Que é que há, velhinho? Pernalonga, o coelho cinquentão mais esperto do cinema, também passou maus bocados com a bruxa Hazel, que queria incluí-lo nos ingredientes de seu fumegante caldeirão.

E no mundo dos balões e onomatopéias, a Santa Inquisição não tem vez mesmo! Cheio de receitas miraculosas, Panoramix, o sábio druida da aldeia gaulesa criada por Goscinny & Uderzo, foi o manipulador da poção mágica que concedia força sobre-humana a Asterix e seu obeso e inseparável companheiro Obelix. Assim, eles podiam enfrentar o avanço dos atrapalhados romanos. Para quem aprecia patos (não para comer, é lógico!) a Maga Patalogika fazia parceria com a Madame Min para roubar a cobiçada moeda número 1 do velho muquirana Tio Patinhas. No Brasil, a simpática bruxinha Medéia, da Turma do Arrepio (criação de César Sandoval), apronta das suas com seus monstruosos amiguinhos. Dando um ar mais adulto ao assunto, o desenhista britânico John Bolton, produziu, em parceria com Chris Claremont (o mentor X-Maníaco), duas obras recheadas de fetiçaria: Marada, a Mulher Lobo e Black Dragon. Ambas retratam com seriedade a época medieval. Na mesma linha, Tim Truman concebeu TOADSWARTH, representante primogênito do movimento gótico em quadrinhos. Inspirado pela Guerra dos Cem Anos, François Bourgeon nos presenteou com os Companheiros do Crepúsculo, uma obra simplesmente magnífica que narra as andanças de um cavaleiro desfigurado e sem destino pelos campos de feitiçaria. Da Marvel, há exemplos famosos. O mais conhecido deles é Conan, o Bárbaro, que passou noites e noites em claro seduzido pelos encantos naturais irresistíveis de bruxas curvilíneas. Seu criador, Robert E. Howard, também concebeu Solomon Kane, um puritano da Idade Média que provou todos os dissabores da feitiçaria. Entre relâmpagos e trovões, o mago Shazam concedeu todos os superpoderes a Billy Batson, transformando-o no Capitão Marvel, o mortal mais poderoso da Terra (e de seu idealizador, C. C. Beck).

Merlin e Morgana, além da lenda saxônica que os mantêm “vivos” até hoje, receberam inúmeras versões nas HQs. A saga futurista Camelot 3000, de Mike Barr e Brian Bolland, talvez seja a mais significativa. Mas o demoníaco par também teve importância no surgimento de Etrigan, o Demônio, que também foi brilhantemente revitalizado por Matt Wagner na minissérie The Demon, um tratado de demonologia em quadrinhos. Ainda no gênero de super-heróis, o Dr. Estranho continua travando intermináveis batalhas astrais, enquanto, na Latvéria, o tirano enlatado Dr. Destino faz uso de magia e tecnologia para infernizar a vida de seus adversários. Tex Willer, o ranger mais famoso do Velho Oeste, ganhou alguns cabelos brancos quando enfrentou as bruxarias de seu arquiinimigo Mefisto. O mal-encarado feiticeiro Mordru fez jus às suas qualidades e tornou-se um dos mairoes inimigos da Legião dos Super-Heróis, no século XXX.

Nos chamados quadrinhos adultos seria sacrilégio deixarmos de citar a minissérie Livros de Magia, escrita por Neil Gaiman, onde praticamente todos os personagens mágicos da DC Comics são retomados, e Dylan Dog, de Tiziano Sclavi, que, além de solucionar os casos mais escabrosos, provou ser mais um sucesso absoluto do grande editor e aventureiro Sergio Bonelli, da Itália.

Apesar de tudo o que foi dito nesta pretensa matéria sobre Inquisição e bruxaria, nunca haverá espaço suficiente para explorarmos o assunto com o merecido respeito. Para se ter uma idéia, Sandman, John Constantine, e o Monstro do Pântano, personagens considerados como a elite dos quadrinhos de horror, têm envolvimentos tão fortes no reino do sobrenatural que seriam argumento mais do que suficiente para receberem matérias próprias, tamanha a riqueza de citações em suas histórias. Por essa razão, encerramos nossa breve incursão mística com a obrigação de retomarmos o tema em breve. Um brinde aos bruxos e bruxas de todas as épocas. Que os tempos negros da Inquisição não voltem jamais.


Leandro Luigi Del Manto

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Superman – XIV

O Mundo de Krypton

A cinquenta anos-luz da Terra, existe uma estrela anã vermelha, ao redor da qual orbitam os restos do falecido planeta Krypton. Antes de sua destruição, Krypton era um mundo relativamente pequeno, mais ou menos do tamanho da Terra, habitado por uma civilização extremamente avançada.

Há mais de 200.000 anos, no final da Quarta Era Histórica de Krypton, a ciência local havia aperfeiçoado um sistema de extensão de vida através da clonagem. Nesse sistema, retiravam-se amostras de células de todos os kryptonianos recém-nascidos e, a partir daí, cultivavam-se clones em enormes câmaras subterrâneas. Em meados da Quinta Era de Krypton, todo homem, mulher e criança tinham um mínimo de três clones em diversos estágios de desenvolvimento. Mantidos no ápice da condição física, os clones era usados para fornecer “peças de reposição” quando seus “originais” sofriam ferimentos, eram acometidos de doenças ou envelheciam. Os clones, mantidos em hibernação, não eram considerados humanos e não tinham direitos.

Um segmento da população, porém, começou a ver esse sistema com maus olhos. Um Movimento pels Direitos dos Clones começou a crescer na capital mundial de Krypton, Kandor. Grupos terroristas proliferaram, e o maior deles era o extremista Zero Negro. Os membros do Zero Negro se dedicavam à destruição total do planeta, acreditando que seria a única maneira de vingar o que viam como o assassinato de bilhões de clones kryptonianos. O Zero Negro detonou um dispositivo termonuclear no coração de Kandor, destruindo a cidade e matando seus 40 milhões de habitantes. Por causa disso, Krypton foi varrido pela sua primeira guerra mundial.

A destruição de Kandor marcou o início da Sexta Era Histórica. Quase todos os traços da alta cultura da Quinta Era foram apagados durante terríveis mil anos de violência. Soldados vagavam pelo planeta arruinado em enormes trajes de combate, procurando e exterminando grupos rebeldes. Ainda assim, por mais horrível que tenha sido a Sexta Era, restaram sobreviventes o suficiente para plantar as sementes da Sétima e Última Era.

A Sétima Era durou quase cem mil anos e, embora tenha sido um período tranquilo, sua paz vinha da esterilidade. Os sobreviventes da selvagem Sexta Era se dedicaram a criar um mundo livre de descontentamento. Os Bancos de Clones haviam sido destruídos na guerra, e os biocientistas restantes procuraram novos meios de sustentar a vida. A partir da tecnologia dos trajes de guerra da Sexta Era, eles desenvolveram uma veste bioestimulante, um traje negro, que preservava e prolongava suas vidas por séculos. Envolvidos nessas vestes protetoras desde o nascimento, os nativos de Krypton se tornaram seres solitários, servidos por robôs. O contato físico se tornou cada vez menos aceitável e a reprodução foi relegada à fertilização e gestação em laboratórios.

Todavia, enquanto a Sétima Era avançava em paz, um dispositivo ativado pelo Zero Negro quase cem mil anos antes estava produzindo uma reação em cadeia no núcleo do planeta, criando um novo elemento radiativo, o kriptônio. Terremotos abalavam o mundo à medida que suas pressões internas aumentavam. A radiação mortífera do novo elemento começou a vazar através da crosta superficial, matando vinte milhões de pessoas durante o último ano de existência de Krypton. Descobrindo o segredo por trás das forças que estavam condenando seu mundo, o cientista Jor-El ordenou a remoção da matriz vital de seu filho das câmaras de gestação e acoplou-a a um veículo intergaláctico especialmente projetado por ele. Jor-El planejava enviar a matriz através do hiperespaço até o planeta Terra.

Jor-El era, em vários sentidos, um romântico, um homem fora de seu tempo. em seus últimos momentos, enquanto a câmara matricial do feto se afastava do mundo condenado, o cientista partilhou seus sentimentos com Lara, sua esposa, declarando seu amor por ela. E então Krypton explodiu, transmutando a totalidade do planeta moribundo em kryptonita, o minério do kriptônio.

Décadas depois, a câmara pousou na Terra, e um bebê nasceu… a criança que se tornaria o nosso maior herói: Super-Homem.

O planeta Krypton existe até hoje, na forma de uma nuvem de poeira e entulho radiativo que envolve um núcleo de kryptônio derretido.


Publicado na Revista Super-Homem nr. 118, em 1994

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Superman – XIII

Entrevista com Julius Schwarz

Quando os fãs de quadrinhos discutem sobre os grandes talentos do ramo, ele é sempre um dos mais citados. E não é pra menos: JULIUS SCHWARTZ ajudou a estruturar o universo de super-heróis da DC, editando quadrinhos desde a década de 40. Nesta entrevista, Julie fala de sua carreira e dos projetos nos quais participou…

Hoje, com 76 anos, Julie é o que se pode chamar de um grande veterano das HQs. Na verdade, ele começou sua carreira antes mesmo do surgimento da indústria quadrinística.

Julie entrou na literatura da imaginação via ficção científica. Ele nos conta: “Eu era leitor de romances ‘pulps’, livros de capa mole e papel barato, que traziam contos diversos. Um dia, parei de ler esse tipo de coisa e perguntei a meu amigo Charlie Whelan se ele tinha algo para trocar pelos meus almanaques. Charlie me deu uma revista chamada Amazing Stories. Então, me transformei num verdadeiro fã de ficção científica. Aquelas revistas tinham seções de cartas, coisa que, mais tarde, levei para os gibis. Nessa época, comecei a me corresponder com outros leitores e acabei descobrindo que no Bronx, bairro onde nasci, havia um fã-clube de ficção científica chamado The Scienceers. Eu tinha 16 anos quando me tornei membro do clube. Lá conheci meu eterno amigo Mort Weisinger.”

“Mort e eu lançamos o que é hoje conhecida como a primeira revista para fãs de ficção científica, The Time Traveller. Nós publicávamos fofocas, informações sobre histórias que iam sair e aquele bate-papo em geral. Fiquei conhecido entre os escritores de ficção. Depois de um certo tempo, outros editores me procuravam e diziam coisas do tipo: ‘Ei, adoraria colocar uma aventura com viagens no tempo na minha revista’. Aí eu chamava gente como Edmond Hamilton para escrever a tal história… e era sucesso de venda na certa. Hamilton passou a me mandar seus trabalhos, e eu me tornei seu agente.”

“Edmond foi o primeiro de uma série de grandes clientes na época. Eu não ganhava muito dinheiro como agente, mas consegui o suficiente para ir à Califórnia em 1939 com Mort e Otto Binder, viagem que repetimos em 1940 e 1941 com Ed Hamilton”. Julius lembra a última viagem como um grande acontecimento, tanto para eles quanto para o mundo da ficção científica. “Ed e eu encontramos um lugar para ficar em Los Angeles, perto do Olympic Boulevard. Por uma estranha coincidência, lá estava um vendedor de jornais ambulante, cujo nome era… Ray Bradbury.”

“Na verdade, eu já conhecia Ray desde 1939. Havíamos nos encontrado na primeira convenção mundial de ficção científica, em Nova Iorque. Ele queria saber quem era o agente Julius Schwartz, do qual havia ouvido falar… Ray julgava estar pronto para ser escritor de ficção e procurava o tal de Schwartz para agenciar seu trabalho. Bem, como ele era apenas um adolescente, eu ri, duvidando, mas não o dispensei. Nos meses seguintes, Ray me mandou várias histórias até que, finalmente, vendi uma delas.”

Os contatos de Julius com o mundo da ficção o levaram ao universo dos quadrinhos. Seu amigo Mort Weisinger foi editor da Startling Stories e de outras revistas antes de ser aceito na DC Comics. Mort deu indicações para a publicação das obras de um dos clientes de Julius, Alfred Bester. “Alfie Bester disse-me que havia uma grande expansão na indústria de quadrinhos americanos e que eu poderia entrar para a DC Comics através das pessoas que conhecia. Respondi que isto não era motivo para me candidatar ao emprego. Não me julgava preparado para tal. O engraçado é que, apesar de nunca ter lido uma HQ na vida, eu conhecia todos os autores, pois eram os mesmos que assinavam romances de ficção. Por exemplo, conhecia Manly Wade Wellman, que não era apenas escritor da DC, mas colaborador no Spirit e autor de muitos trabalhos do Capitão Marvel. Conhecia também Otto Binder, que escreveu 500 histórias do Capitão, e muitos outros roteiristas.”

“Certa vez, comprei alguns gibis que li no metrô até chegar à DC. Após uma conversa com o editor-chefe Sheldon Mayer, em 22 de fevereiro de 1944, fui contratado.”

“Editei todos os títulos que estavam sendo lançados na época, incluindo Sensation Comics, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash Comics e All-Flash Comics Cavalcade e, o mais importante, All-Star Comics, que apresentou a Sociedade da Justiça da América.”

“Como as histórias de heróis começaram a decair no final da década de 40, tivemos de procurar outro tipo de material: histórias no estilo de gângsters e intocáveis, vários westerns e contos de guerra. Então, em 1950, a DC veio com a idéia de produzir uma revista chamada Showcase. Seu princípio era simples: lançávamos novos personagens nessa publicação e, então, esperávamos alguns meses para ver o resultado. O personagem que fosse bem aceito pelos leitores ganhava sua própria revista.”

“Num encontro de editores, foi sugerido que eu trouxesse o Flash de volta na Showcase. Irwin Donenfeld, que era o encarregado na época, achou uma boa idéia e quis saber quem seria o editor. Todos olharam para mim, porque eu fui o editor original do Flash. Decidi manter apenas o nome Flash. Todo o resto sofreria mudanças: a origem, a identidade secreta e tudo mais. É importante lembrar os leitores que, com o surgimento do novo Flash (Barry Allen), se estabeleceu o conceito de Terras Paralelas no multiverso DC. Isso aconteceu quando admitimos que havia dois Flashes (Barry Allen e Jay Garrick) vivendo em dimensões diferentes. A aparição do Flash em Showcase foi um sucesso, e o herói ganhou seu título próprio.”

Os “projetos renascimento” continuaram, sempre com Julius liderando. “Depois do Flash, nós lançamos Lanterna Verde na Showcase, a Liga da Justiça em The Brave and The Bold, recuperamos Gavião Negro e Eléktron… todos grandes sucessos. Em 1960, os super-heróis voltaram com tudo!”

Em 1971, o editor do Super-Homem, Mort Weisinger, deixava a DC para uma vida de free-lancer, e Julius assumiu o cargo. “Eu estava um pouco inseguro com a tarefa, mas implantei novamente o sistema de revitalização. Transformei o repórter do Planeta Diário em apresentador de tevê. Achei que as pessoas que liam quadrinhos não costumavam ler jornais, mas com certeza assistiam a televisão. Isso deu a Clark Kent as chances que ele não teria como repórter de jornal. Também eliminei os robôs que ele usava para encobrir sua verdadeira identidade. Dei a Clark um novo guarda-roupa, tão bem recebido, aliás, que apareceu na revista de moda Gentleman’s Quartely. Fui editor do Homem de Aço por 17 anos, até que desisti dos meus títulos regulares para me dedicar à adaptação de grandes histórias de ficção científica em graphic novels. Infelizmente, o sucesso não foi grande, pois, acho eu, esse tipo de graphic deveria ser vendido em livrarias, não em bancas. Quando esse projeto foi cancelado, abandonei o trabalho de edição e passei a ser consultor da DC. Minha missão é ser o ‘embaixador’ da editora. Viajo atrás de convenções de quadrinhos e ficção científica.”

Alguém disse na apresentação de um programa de rádio sobre quadrinhos que todos as áreas possuem suas lendas… e que a lenda das HQs é Julius Schwartz.


Direct Currents – Boletim Informativo da DC

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Superman – XII

Como passei minhas superférias de verão

Ali estava eu, em Cleveland, Ohio, numa grande exposição do Super-Homem, em 16 de junho de 1988. Apenas alguns meses antes, eu havia concordado em escrever e desenhar um novo título do Homem de Aço para o editor Mike Carlin. Acho que um dos motivos por eu ter aceito o projeto foi que me senti muito lisonjeado pela proposta. Quando Mike me ofereceu o trabalho, ele não estava pedindo a George Pérez, o artista, mas a George Pérez, o escritor. Considerando que, na época, eu só estava fazendo roteiros há um ano, foi muito gratificante pro meu ego. Talvez Mike estivesse contando com isso. Quando optei por também esboçar a série artisticamente, acho que superei suas expectativas. Presumo que, no fundo, todo quadrinista deseja conseguir pelo menos UMA chance de desenhar o Super-Homem. Agora tudo que Mike tinha a fazer era juntar todos os criadores num só lugar pra fazer a bola rolar. Aliás, esse era o motivo por que estávamos em Cleveland, pra discutir planos para o maior herói da DC e meu envolvimento com o personagem. Que lugar melhor para traçar o futuro do Homem de Aço do que a cidade em que ele nasceu? Que melhor ocasião que a celebração de seu 50º aniversário? Aquela noite decisiva em junho foi como um sonho que se tornou real para mim. Ali estávamos todos nós, no Restaurante Watermark, perto do cais. Sentado ao meu lado, estava um dos meus eternos ídolos do ramo, o homem que muitos consideram como O artista de Super-Homem… Curt Swan.

Fiquei tão emocionado com sua presença que quase esqueci o motivo de termos nos reunido ali, mas o Poderoso Mike logo me trouxe de volta à Terra. E em volta de nossa grande mesa redonda também estavam Jerry Ordway, Roger Stern, a esposa de Roger, Carmela Merlo, e o desenhista Kerry Gammill. Nós éramos o Supertime, chamados pra tocar a bola que John Byrne tinha nos passado. A missão: continuar a tradição cheia de emoções inicada 50 anos antes por Jerry Siegel e Joe Shuster; começar o segundo meio século do herói com um estouro.

Eu estava apavorado.

Na verdade, eu ainda não estava muito familiarizado com a versão atual do Super-Homem reformulado por John, Jerry e Marv Wolfman. Depois de Mike me mandar todos os números passados dos três títulos do Super, inclusive anuais, mini-séries, edições ainda por sair, argumentos, etc., eu comecei a pensar que talvez tivesse me metido em águas profundas demais. Como eu poderia contribuir com algo novo para as revistas do kryptoniano? O que eu tinha pra oferecer? Em primeiro lugar, Jerry, Mike e Roger deram um panorama da linha narrativa atual do Super e determinaram onde minha estréia no personagem se encaixaria mais logicamente. Em seguida, expus minhas idéias sobre o Homem de Aço. Só que, o mais importante pra mim era determinar como minha revista seria diferente das de Jerry e Roger. E eu tinha pensado muito sobre isso durante as semanas anteriores.

Não queria apenas mais um título do herói, indistinguível dos outros. Nenhum de nós queria isso. Se íamos ter três revistas do Super-Homem, teríamos que encontrar três maneiras diferentes de interpretar o personagem e ainda manter sua consistência apesar da abordagem estilística individual de cada criador. Afinal, o Super-Homem era maior que qualquer um de nós. Tínhamos que jogar em equipe. Eu precisava achar um gancho, uma faceta do novo mito do kryptoniano que ainda não tinha sido completamente explorada. Eu queria sondar um aspecto diferente da personalidade dele que seria exclusiva ao meu título afetando e sendo afetada pelos acontecimento nas demais revistas.

Então, tive um estalo. Era tão claro, tão óbvio. Ele já tinha três personalidades distintas – há anos! Na verdade, quando garotos, todos nós acabamos decorando a narração de abertura de cada episódio do seriado clássico da TV As Aventuras do Super-Homem:

“…estranho visitante de outro planeta que veio à Terra…”

“…repórter tímido de um grande jornal metropolitano…”

“…Verdade, Justiça e o Modo de Vida Americano!”

A auorora chegou. Roger já estava cuidando do Super-Homem como o herói campeão, o combatente pela verdade, justiça e modo de vida americano no título principal. As preferências de Jerry pareciam centralizar-se em torno do lado mais humano do Super, em Clark Kent, repórter tímido, e seu círculo de amigos, muito reminiscente do seriado de TV. Então, pro meu novo e ainda não batizado título, marquei meu território em Kal-El, a herança kryptoniana do personagem, o estranho visitante de outro planeta.

Me ocorreu que o Super é tão intrinsecamente terráqueo, tão caracteristicamente americano, que a maioria dos coadjuvantes em suas revistas tenderia a esquecer, se é que soubessem, que ele não era “um de nós”. Era esse caráter alienígena do herói que eu queria explorar – como é ser o último filho de Krypton e saber que sua raça, sua tradição e história, irão morrer com ele a não ser que se faça algo a respeito. A reinterpretação de John Byrne da História de Krypton tinha sido minha parte favorita do novo Super-Homem. Fazia sentido pra mim. Eu tinha encontrado meu gancho.

Agora, se ao menos pudesse vender essa idéia aos outros… Foi mais fácil do que pensei. As sugestões começaram a voar mais rápidas que uma bala. Todo mundo tinha algo interessante pra contribuir, inclusive Curt, que nos informou que em todas as décadas em que ele desenhou o Super-Homem, essa era a primeira vez que havia sido chamado a participar dos argumentos. Ele parecia muito entusiasmado com isso.

Começamos a expandir a premissa inicial, descartando o que não funcionava, mudando uma cena aqui, um personagem ali, encontrando o melhor caminho a tomar pra chegarmos à conclusão mais dinâmica possível. Demos idéias para as revistas dos outros, tentando fazer tudo se encaixar num mito coerente do Super-Homem. Havíamos entrado com picaretas de imaginação, minerando por uma linha narrativa, e atingimos o veio principal.

E o mais importante: éramos uma equipe.

Agora, ainda havia uma barreira a saltar. Algo estava faltando. Tanto do que discutimos naquela noite seria armado durante os meses antes de meu primeiro número, que era uma vergonha eu não estar envolvido fisicamente naquilo. Jerry e Roger já estavam alterando a estrutura da narrativa “Super-Homem no espaço” para preparar o ângulo do “Filho de Krypton”. Através dos sacrifícios e talentos de meus supercolegas, minha série do Homem de Aço estava se beneficiando de uma grande preparação. Mas minha chegada à nova série ainda estava a um ano inteiro de distância.

Foi então que o Poderoso Mike sugeriu fazer um anual especial do Super-Homem, uma história grande (publicada em SH 84, aqui no Brasil), que agiria como o ponto de virada do herói e seria co-escrita por seus três novos roteiristas para lançar a nova era, por assim dizer.

Devo confessar que a idéia de Mike me causou um pouco de preocupação. Com todo o pampeiro sobre minha chegada à nova série, meu envolvimento não diminuiria o impacto do primeiro número? Mike pensou bastante e por muito tempo, mas concluiu que as características únicas do projeto valiam o risco. Já era óbvio que eu cuidaria do capítulo relacionado à História de Krypton, e pedi que Mike Mignola, que havia feito um trabalho maravilhoso ilustrando o Mundo de Krypton, fosse o artista. Para mim, ele era a escolha óbvia. Mike Carlin disse que iria cuidar disso.

Então, o negócio principal estava acabado, assim como o prato principal, e era hora de liberar nossa garçonete sobrecarregada e voltar ao hotel. Estávamos todos entusiasmados. Realizamos muito naquela noite, mas havia ainda bem mais a fazer. As superférias tinham apenas começado.

Tivemos uma outra reunião meses depois em Nova Iorque. Além de Jerry, Mike, Roger e eu, dessa vez apareceu o arte-finalista Dennis Janke, que deu algumas sugestões e se mostrou contente em ficar sentado pra ouvir os argumentistas loucos jogando mais idéias de um lado pro outro. Tem gente que pede castigo. Bolamos o esqueleto básico do que viria a ser o segundo Action Comics Annual, e tudo o que restava era decidir quem cuidaria do quê. Isso não foi tão fácil quanto parecia. Nós tínhamos nos empolgado um pouco com a história. Nossas linhas narrativas estavam tão entreleçadas que era impossível dividir a revista em capítulos consecutivos.

Então, adivinhe qual foi o doido voluntário pra datilografar o esboço básico do argumento? Peguei o trabalho porque todo mundo achava que eu tinha a melhor memória (Marv Wolfman e eu havíamos há muito tempo abandonado argumentos por escrito nos trabalhos para os Novos Titãs – eu desenhava a revista a partir das minhas lembranças de nossas discussões de roteiro). Aprendi porque os soldados costumam recomendar pra nunca sermos voluntários pra nada. Foi uma tremenda empreitada: não apenas a história tinha que ser desenvolvida logicamente, mas cada página deveria ser projetada para um escritor e/ou artista em particular, sem que nenhuma equipe fosse sobrecarregada demais com o grosso do trabalho.

A despeito das dificuldades, eu achei isso estimulante. Talvez fosse porque a história finalmente era mais que um conceito intangível. Talvez por causa da confiança que meus colegas puseram em mim ou porque simplesmente era o Super-Homem. Visões dos atores Kirk Alyn, George Reeves e Christopher Reeve voavam por minha mente enquanto meus dedos corriam pelas teclas do computador. Eu poderia ouvir a voz de Bud Collier nos desenhos animados de Max Fleischer na década de 40. O tema do Homem de Aço tocava em minha cabeça com toda sua ousadia metálica. Eu estava fazendo aquilo! Eu estava mesmo escrevendo o Super-Homem!

Depois de uma semana, o esboço estava pronto pra ir em frente. Pro meu alívio, Mike aceitou. Roger e Jerry pegaram suas páginas e deram corpo às suas partes do argumento. Minhas páginas já estavam prontas para o desenhista, que, para meu enorme prazer, acabou sendo Mike Mignola – e eu ia fazer a arte-final! Com Jerry desenhando seu próprio capítulo com arte-final de John Statema, e a parte de Roger a ser ilustrada por Curt Swan e Brett Breeding, esse anual ia ser algo realmente especial. Brett, a essa hora, já tinha começado seu mandato como meu co-artista na nova série do herói kryptoniano, que, ironicamente, acabou sendo o mais antigo dos três títulos.

Após meses tentando bolar um nome para a nova revista do Super-Homem, eu acabei com a cinquentona Action Comics, que havia voltado a ser um título do Super-Homem. Tudo que é velho está novo mais uma vez.

Este anual me deu outro bônus. Jerry quis fazer a arte-final sobre meu lápis para a capa. Eu não tive ninguém para arte-finalizar minhas capas por quatro anos, mas nem pensar em recusar uma oferta feita por Jerry.

E quando você acha que está tudo acertado, o destino vem sacudir as coisas de novo. Meses após a reunião inicial em Cleveland durante o superverão, depois de todos os preparativos, depois de todo o planejamento, quase ninguém trabalha na mesma revista do Super-Homem que estava naquela época.

Pra falar a verdade, Brett e eu somos os únicos remanescentes dos planos originais.

Mas, sabe, acho que isso só vai aumentar o entusiasmo. Eu, por exemplo, estava querendo trabalhar com Roger desde nossos dias juntos na Marvel. É, acho que isso tudo acabou dando certo. E, conhecendo Mike Carlin, eu não ficaria surpreso em ver uma história ocasional feita por gente como Kerry Gammill, Curt Swan, Keith Giffen e qualquer outro que Mike possa agarrar. Esta equipe do Super-Homem continua crescendo e crescendo.

E é realmente ótimo fazer parte dela.


George Pérez

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Superman – XI

Biografia de Otto O. Binder

Escritor norte-americano de quadrinhos e irmão de Jack Binder, nascido em 26 de agosto de 1911, em Bessemer, Michigan.

Entre os anos de 1932 e 1942, Binder passou a maior parte de seu tempo escrevendo contos, livros, artigos e romances “pulp”, em colaboração com seu irmão Earl e usando o pseudônimo de “Eando” Binder. Sua carreira nos quadrinhos começou em 1939, contratado como argumentista para o estúdio de Harry “A” Chesler. Mais tarde, começou a escrever para o estúdio de seu irmão Jack (1941). Lá, ele entrou em contato com o Capitão Marvel, da Fawcett Comics.

Binder trabalhava muito – o que era claramente demonstrado por sua vasta lista de créditos como argumentista principal da revista Captain Marvel Adventures e várias outras.

Certa vez, Jim Steranko estimou que ele havia escrito mais da metade da saga Marvel inteira. E, embora produzir histórias de ritmo rápido e agradável ocupasse a maior parte de seu tempo, binder escreveu 451 das 618 histórias possíveis, de acordo com Steranko. Ele também ajudou a criar algumas das outras séries Marvel, inclusive Mary Marvel, Marvel Family e a série em texto Jon Jarl. Além disso, criou muitos dos ótimos coadjuvantes da família Marvel: Tawky Tawny, um popular tigre falante; o Sr. Mente, a minhoca maligna que quase derrotou a família Marvel várias vezes; e a família Silvana, arquiinimiga da família Marvel. E isso sem mencionar seus argumentos para outros personagens já estabelecidos, como Captain Marvel Jr. e Hoppy, O Coelho Marvel.

Numa carreira nos quadrinhos que se prolongou por 32 anos, Binder escreveu histórias para dezoito grandes editoras e bem mais de duzentas séries, entre elas Falcão Negro (1942-1943), Capitão América (1941-1946), Super-Homem (1953-1969), Spy Smacher, Bulletman e Gavião Negro. Também criou dúzias de outros personagens, inclusive The Young Allies (Timely), Tio Sam (Quality), Captain Battle (New Friday) e outros. Binder mostrou uma tremenda flexibilidade, escrevendo todos os tipos de histórias, de contos de ficção científica e horror para a New Trend, da E.C., passando por histórias de humor, como Campy Chimp e Fatman, a material regular de super-heróis, como Dollman, Steel Sterling, Spy Smasher e Capitão Meia-Noite. “Quadrinhos”, ele disse uma vez, “são como uma droga: viciam”. O argumentista não deixou de escrever quadrinhos ativamente até 1969.

A carreira de Binder como escritor também teve grande sucesso fora da indústria de HQs. Depois de abandonar o pseudônimo “Eando”, Otto começou a escrever material assinando seu próprio nome. Binder tem dúzias de romances de ficção científica em seus créditos, foi um dos editores da revista Space World e escritor para a NASA, entre dúzias de outros projetos de redação.

Binder morreu em 13 de outubro de 1974.


Mário L. C. Barroso

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Superman – X

Biografia de Mort Weisinger

Escritor e editor de revistas em quadrinhos, nascido em 25 de abril de 1915, em Nova Iorque. Após vários anos como escritor de revistas “pulp” (populares e de fácil acesso nos EUA), como editor de revistas e agente literário, Weisinger entrou para a National Comics em 1940. Embora tenha criado várias histórias de super-heróis, como Arqueiro Verde e Airwave (Vendaval), ele é mais conhecido por seu longo período como editor da família de revistas do Super-Homem (1940-1970). Mais que os criadores Siegel e Shuster, foi Weisinger quem elaborou o que, até antes da Crise, era conhecida como a lenda do Super-Homem.

Nos seus primeiros anos, o Super-Homem era artisticamente primário e totalmente sem humor. Mas Weisinger entrou com uma nova direção: tornou o Super-Homem do fim dos anos 40 e 50 um artista superpoderoso do pastelão. Não era estranho para o kryptoniano de Weisinger ser surpreendido por vilões mais bizarros. Ele não iria mais permitir que o Homem de Aço combatesse e derrotasse o segundo homem mais forte do mundo.

Weisinger fez o herói combater demônios e homens ensandecidos. Vilões como o Homem dos Brinquedos, o Galhofeiro (Prankster) e o pentadimensional Sr. Mxyztplk começaram a surgir, lançando ataques de brinquedos, piadas, truques, magia e qualquer coisa, exceto força bruta, na tentativa de derrotar o Super-Homem.

Weisinger também deve receber crédito por conseguir muitos argumentistas talentosos para narrar as aventuras do personagem. Artisticamente, Weisinger confiava em Wayne Boring, Al Plastino e Curt Swan para desenhar o Super-Homem; em Jim Mooney, para a Supermoça; e em Kurt Schaffenberger, para Lois Lane; mas Jack Burnley, Irwin Hasen e outros de mérito também entravam nessa lista. Para o texto, escritores como Otto Binder, Edmond Hamilton, Al Bester, Bill Finger, Manly Wade Wellman e outros foram usados.

Foi sob a égide de Weisinger que conceitos como o da kryptonita foram desenvolvidos; ele também expandiu consideravelmente a lista de sobreviventes de Krypton. A cidade Argo, a Zona Fantasma e a cidade engarrafada de Kandor também sobreviveram à destruição do planeta, juntamente com personagens concebidos por Weisinger, como Supermoça, Mon-El (embora a origem desse legionário tenha sido reformulada), Krypto e o Super-Robô. Durante os anos 50, Weisinger foi responsável por supervisionar a criação da Fortaleza da Solidão, o mundo de Bizarro, Lex Luthor, Brainiac, a Legião dos Super-Heróis, histórias imaginárias e muitos outros pedacinhos da supermania. Ele escreveu pessoalmente o roteiro do seriado cinematográfico estrelado por Kirk Alyn e atuou como editor de história para o programa de televisão do Super-Homem.

Weisinger deixou o Super-Homem e os quadrinhos em 1970 para dedicar todo o seu tempo a uma carreira ascendente como escritor de livros e revistas.


Mário L. C. Barroso

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Superman – IX

Biografia de Joe Shuster

Joe Shuster é um artista de HQs e tiras nascido no dia 10 de junho de 1914 em Toronto, Canadá. sua família se mudou para Cleveland, Ohio, em 1923, e foi ali que ele conheceu o argumentista Jerry Siegel. Juntos, quando adolescentes, os dois começaram a publicar fanzines de ficção científica. Em uma das edições, fizeram um artigo sobre o romance Gladiator, de Philip Wylie, que foi a base para a maior criação deles, o Super-Homem, concebido em 1933.

Ao mesmo tempo, Shuster estava estudando Arte e cursava o John Huntington Polytechnical Institute e a Cleveland School of Art. Em 1936, Siegel e Shuster entraram no negócio de revistas em quadrinhos através da New Fun Comics, Inc. – que, mais tarde, se tornaria Detective Comics e depois National Periodics -, produzindo histórias convencionais de aventura, como Dr. Occult, Henry Duval, Spy, Federal Men, Radio Squad e Slam Bradley.

Em 1938, porém, a companhia comprou deles a primeira história do Super-Homem por 130 dólares. Fazendo sua primeira aparição na edição inaugural de Action Comics, o Homem de Aço foi um sucesso imediato e, desde então, avançou até se tornar o mais conhecido personagem de aventuras dos quadrinhos.

A arte de Shuster era primitiva, chapada, até mesmo primária, mas lindamente projetada e bem concebida. De certo modo, seu estilo simples tornou-se a receita para os primeiros gibis de aventuras, mas seu trabalho era em geral melhor e mais inspirado do que as imitações que se seguiram. Ele gostava de usar planos distantes, que mostravam o personagem inteiro; sua arte nunca foi pretensiosa ou experimental. Em vez disso, Shuster se contentou com o trabalho narrativo direto, que o crítico e artista James (Jim) Steranko uma vez comparou ao estilo dos cartunistas editoriais.

Embora Siegel e Shuster tenham ganho bastante dinheiro com o Super-Homem – o Saturday Evening Post estimou a renda deles em 75 mil dólares em 1940 – e embora tenham aberto um estúdio para produzir as quantidades sempre ascendentes de material solicitadas pela National, eles nunca tiveram nenhum direito sobre o personagem. Shuster desenhou o kryptoniano até 1947 – para os gibis e para as tiras de jornal do McLure Syndicate – e terminou sem nada.

Após trabalhar um período com o Bell Syndicate na tira Funnyman, escrita por Siegel, o canadense abandonou completamente a indústria quadrinística.


Mário L. C. Barroso

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