No final das contas o negócio dos faróis era beeem mais simples do que eu podia imaginar.
Talvez seja esse o grande problema de não poder “brincar” de desmontar o carro todos os dias… Não dá tempo de aprender (e apreender) todos os pequeninos “segredos” escondidos sob o capô.
Enfim, levei o carro para uma autoelétrica que ficava no caminho para o trabalho. Lugar grande. Espaçoso. Muitos carros – novos e antigos – abertos para conserto. Tive uma boa primeira impressão.
E só.
Depois de uns cinco minutos (não, não estou exagerando, foram cinco minutos mesmo) parado com um discretíssimo Opala bem no meio da oficina e apesar de mecânicos e atendentes indo e vindo ao meu redor (sem sequer me olhar nos olhos), decidi que já era hora de procurar alguém para me atender. Fui até o fundo do salão e encontrei um tiozinho limpando umas peças.
– Será que tem como o senhor dar uma olhada no meu carro?
Como se fosse um aluno convocado pelo professor para uma chamada oral sem ter estudado a matéria, o figura deu uma travada, olhou prum lado, olhou pro outro, coçou a cabeça, se resignou, deixou as peças num canto e, num passinho todo gingado e limpando as mãos com uma estopa, resolveu me acompanhar.
– Então, chefia. Acontece que os faróis não estão funcionando. Assim, de uma hora para outra, parou! Já chequei os fusíveis hoje cedo e com certeza estão todos ok. Como foram os dois de uma vez, acho que dá pra descartar as lâmpadas. O botão de acionamento – ali no pé – é novo, mas talvez seja bom o senhor checar se…
Não deu tempo de eu completar a frase.
– VIIIXE! Ah, esse botão não existe mais não! Se for ele, não vai dar conserto não!
Juro que não foi por maldade, mas naquele momento eu o olhei de uma maneira tal que o caboclo deve ter se sentido o mais insignificante projeto de intenção de pústula de ameba anã que já tenha caminhado sobre a face da Terra.
Fiquei imaginando todas as inúmeras vezes em que eu e meu pai chegamos até mesmo a fabricar peças no fundo do quintal para colocar esta ou aquela máquina em funcionamento. E não, não estou falando de gambiarra, não! Pôxa, basta querer que é possível fazer qualquer coisa – ainda mais numa mecânica simples como é a do Opala.
Fiquei tão puto que acho que nem me despedi. Entrei no carro, engatei a ré e fui embora.
Mais tarde, conversando com um amigo que cuida da manutenção da frota, pedi-lhe que me indicasse alguém na cidade. E ele me indicou exatamente a mesma oficina! Não preciso repetir aqui o “rosário de gentilezas” que lhe disse ao telefone…
– Puta merda, cara! Cê caiu bem com o tiozinho? Aquele véio é foda mesmo! Tá pra nascer outro mais enrolado que ele… Não é à toa que você saiu de lá puto da vida!
Apesar de tudo ele me indicou outro caboclo. Dessa vez uma autoelétrica próxima do trabalho. Fui lá, confesso, com uma certa desconfiança.
Lugarzinho até fuleiro – mas fui atendido por um gordinho bonachão. Estava pronto para deixar o carro para que eles pudessem verificar com calma, mas de imediato ele fuçou daqui, fuçou dali, fez um teste e já deu o diagnóstico.
Acontece que o fio que leva energia aos faróis estava formado mais com fita isolante que cobre propriamente dito. Ou seja, emenda sobre emenda sobre emenda sobre emenda. Bastaria cortar o danado a alguns centímetros de sua ponta, substituir o terminal e conectar novamente. E pronto!
Enquanto explicava já foi pegando um rolo de fio, um alicate, etc, etc, etc. E fez tudo na hora.
– Quanto é?
– Nada não.
– Cumassim?
– Nah! Quando tiver algo mais complicado, daí você traz o carro de novo.
Nem preciso falar que ganhou um cliente!
Acho que mais tarde vou deixar o carro lá para dar uma (nova) geral na seta…