Contando farol – parte 3 de 3

Muito bem, crianças: agora é pra valer: mãos à obra!

Não que antes não fosse…

Mas vamos contextualizar um pouco essa história: depois de limpar e pintar os canecos dos faróis, bem como juntar todas as peças que orbitam para sua montagem (em especial uma caixa com parafusos das mais diversas espécies e todos misturados), lá fui eu pra autoelétrica do japonês – também conhecido como Osvaldo – para montar a bagaça toda.

Mais pela lógica que pelo conhecimento, pouco a pouco fui instalando daqui, conectando dali, montando acolá e quando menos esperava o farol esquerdo já estava montado!

Foi bom para eu perceber alguns “erros” que cometi, bem como para determinar uma ordem certa para montar todo o conjunto. Só que nessa brincadeira arrebentei uma das molas que prende a parte de baixo do caneco (cujo nome correto é “Suporte da Célula Óptica do Farol”).

– Japonês! Dá uma olhada… Você não teria uma destas por aí?

– Iiiich… Isso aí você só vai encontrar lá no Centro!

Merda. Não estava nos meus planos ter que me deslocar pro Centro da cidade. Não que seja longe – uns quinze minutinhos no máximo. Só que o que me enche o pacová é o trânsito chato nas ruas estreitas e a dificuldade de estacionar na região em que estão as casas de parafusos e ferragens. Resolvi dar uma olhada em algumas casas de ferragens próximas de onde moro e, já na primeira, o discurso foi o mesmo: só lá no Centro.

Mas o sujeito pensou bem e acabou me dizendo que ele até tinha uma mola ali, com uma pressão compatível com a que eu queria – só que era bem maior. Ou seja, eu precisaria cortar. Também pensei um pouco e resolvi arriscar. Afinal, o “não” eu já tinha… Ainda assim morri com cincão pela mola cujo tamanho dava umas dez da que eu precisava.

Novamente em casa e com muito jeitinho, prendendo a danada na morsa (ou torno de bancada, se preferirem), usando um alicate de bico fino mais uma faca e depois uma chave de fenda grossa para espaçar a mola e ao final serrando na altura que eu precisava – pois ela era por demais resistente para tentar simplesmente usar um alicate de corte – eis que a “cirurgia” deu certo! E, sim, por ser mais larga que a original ela ficou menorzinha no meio, mas o que realmente importa é o seu comprimento total para dar o encaixe e a pressão correta.

Muito bem! De volta à oficina agora vamos começar com um passo a passo que é para que vocês não possam dizer que eu não sou um cara legal e que não ensinei direitinho como é que se monta o jogo de farol do Opala! Nossa primeira imagem é o buraco onde vai o todo o conjunto, ainda sem nada instalado.

A primeira peça a colocar, caso já não esteja fixada, é essa moldura da lataria – cujo nome correto é “reforço” (nomezinho besta). Vão por mim. Colocar ela por último dá um trabalho do cão, pois você fica sem espaço para manusear os parafusos que a prendem. Experiência própria.

Aliás, para que não se enganem: ela é presa apenas com quatro parafusinhos de rosca soberba e cabeça larga. Dois vão em cima, como dá pra se ver no lado esquerdo já instalado.

E outros dois vão embaixo! Caso os parafusos originais tenham desaparecido recomendo veementemente a utilização de arruelas, ok?

Nessa imagem a seguir reparem bem na parte de baixo, onde existe um quadradinho com um risquinho do lado, pois é ali que a mola vai ser encaixada. Os outros dois furos, ao meio dia e às três da tarde, são por onde fixaremos os reguladores.

Esses reguladores não deixam de ser, na sua essência, um simples parafuso com porca. Será necessário desrosqueá-los, pois, na imagem, a parte da esquerda, que é o parafuso, vai presa no caneco, enquanto que a parte da direita, que é a porca, vai POR TRÁS daqueles furos que vimos ainda agorinha.

Vejamos o caneco. Nele existem dois quadradinhos para encaixar os parafusos dos reguladores, bem como um rasguinho para o encaixe da mola. O negócio é já deixar tudo encaixado e firme – em especial a mola.

O próximo passo é o pior de todos, pois você tem que primeiramente com uma mão encaixar a mola e, com muito jeitinho, com a outra mão fazer os parafusos dos reguladores passarem pelos buracos, enquanto que com a outra mão você rosqueia esses parafusos na parte de trás de lataria, sem deixar, é claro, de segurar a parte da frente com a outra mão. Não, não, não – não é necessário chamar ninguém, dá pra fazer sozinho, sim. Mas é um inferno enfiar os dedos pelo vãozinho para conseguir encaixar cada coisa no seu lugar, principalmente se tiverem mãos grandes como as minhas. Sugestão? Chame alguém com mãos pequenas para ajudar nessa parte – um adolescente, uma criança, sei lá. Só não chame a Patroa. Elas nunca mais nos deixariam esquecer que SE NÃO FOSSE POR ELAS não teríamos conseguido…

Enfim uma vez que a mola esteja no lugar e os reguladores estejam firmes, essa é a primeira aparência do farol. E, sim, no meu caso ele está meio de esgueio, mas é por conta do caneco alienígena que comprei, que provavelmente deve ser de um modelo de algum outro ano e o encaixe variou de posição. Mas, como já disse antes, o que eu quero é a parte elétrica funcionando, os ajustes eu faço depois.

Pelo outro lado da lataria essa é a aparência que teremos: os dois reguladores segurando o caneco e a mola muito bem encaixadinha ali embaixo.

E enquanto digito este texto acaba de me ocorrer o óbvio: COMO EU SOU CABAÇO!!!

Porra, eu não teria tido tanto trabalho se tivesse montado direto o caneco e DEPOIS colocado o farol, fixando ele com o aro, como tem que ser! Aliás, quando a gente troca o farol não há necessidade nenhuma de mexer com o suporte ou os reguladores ou a mola ou porcaria nenhuma.

PUTA QUE O LAMERDA, QUE RAIVA!!!

Bão, agora já foi. Melhor pra vocês, que não vão cometer o mesmo erro que o idiota aqui…

Arre! Agora vamos colocar a moldura. Aliás a foto anterior é só um detalhe da mola QUE DEU UM TRABALHO DO SENHOR CARALHO PRA COLOCAR, PORQUE EU SOU UMA BESTA!!!

Calma.

Tá passando.

Onde estávamos? Ah, sim: a moldura.

Sabem o reforço que colocamos logo no início? Reparem bem na parte debaixo dele, pois ali tem um sobressalto que vai funcionar como um encaixe para a moldura.

É nele que vai ficar apoiada a parte inferior da moldura, a qual tem um pininho que vai se amoldar bem nesse encaixe.

Agora reparem na parte de cima, onde existem duas abas com dois buracos bem largos: um na própria lataria do veículo e outro no reforço. É ali que vamos fixar a parte de cima da moldura.

Porra, tá difícil de esquecer…

Por que é que eu faço essas coisas, hein? Custava eu ter desmontado tudo antes? Custava PERGUNTAR pra alguém como fazer. Mas não! O bonitão aqui, taurino, teimoso e turrão tinha que se meter a fazer tudo sozinho! Bem feito. Besta quadrada.

Nossa, como eu suei! Como eu ralei os dedos naquele aperto entre o caneco e a lataria!

E NÃO PRECISAVA DE NADA DISSO!!!

Cacete.

Para.

Respira.

Ah, e essa imagem seguinte é o da presilha que vai prender a moldura, tá bom?

Caso alguém tenha dúvida de como usar a presilha, eis uma fotinha tirada antes de acabar de rosqueá-la. E fica a dica: caso a presilha seja novinha em folha (como a que usei) dê uma rosqueada com o parafuso ANTES de colocá-la no lugar, pra alargar um pouquinho a passagem e ficar mais fácil de ajustá-la.

E agora, uma vez que já está tudo firme e no seu devido lugar, a aparência do Titanic já começou a mudar radicalmente!

E me levou a constatar um outro detalhe. Bem, saibam que mais tarde, quando estiver tudo pronto, eu ainda vou levar o Titanic de volta lá no Seo Zé (não o meu pai, o funileiro) para que ele possa ajustar melhor algumas partes, passar uma tinta aqui ou ali porque riscou, essas coisas. Mas acho que vou aproveitar e pedir para que ele passe, sei lá, um preto fosco em toda a parte interna da frente do carro. Acho que vai ornar mais…

Enfim, apesar dos percalços (e da minha própria idiotice), os faróis estão devidamente instalados. Cada vez mais o Titanic menos parece um carro em reforma e vai voltando à sua aparência original. Agora vamos ver se eu dou um gás no japonês para que possamos terminar logo essa fase. Ao menos enquanto eu ainda tenha uns caraminguás pra poder continuar tocando adiante o nosso Projeto!

Cara… Eu tenho certeza que ainda vou ter pesadelos à noite a cada vez que eu me lembrar da minha cabacice…

Contando farol – parte 2 de 3

Domingo pela manhã, acordo cedo como sempre (maldito relógio biológico!), junto toda aquela minha peçaiada do farol, pois quero “brincar um pouco” com isso antes do compromisso do dia – batizado de meu sobrinho-neto e almoço com a família.

Quando da desmontagem do carro, quem retirou os faróis foi meu pai (na época do início da “funilaria grossa”, Segunda Fase desta nossa aventura), de modo que eu não tenho a menor ideia de como seria montá-los novamente. Como material de referência eu tenho de sobra, fui consultar o Catálogo de Peças e Acessórios da Chevrolet para ter alguma vaga noção de como seria montar essa bagaça.

Fodeu.

Saporra não vai ajudar muita coisa não. Deixa eu dar uma fuçada na Internet pra ver se encontro alguma coisa mais concreta…

É… Já melhorou um bocadinho. Mas ainda não sei a ordem da montagem, nem onde encaixar essa mola e os breguetezinhos que vão encaixados do lado do farol para regulagem. Mas já tá miorando. Vamos fuçar mais um pouquinho.

Hmmm… Agora sim. Algumas partes eu consigo montar aqui, mas o restante vai ser diretamente no carro mesmo.

Bom, mesmo essa “montagem local” precisa de alguns cuidados. O farol do Opala é do tipo selado (Sealead Beam), ou seja, dentro dele já vem o pacote completo: tanto o farol baixo quanto o farol alto. A montagem dele em seu suporte não é difícil nem complicada, uma vez que somente existe UMA posição que dá para encaixá-lo.

Então. Aquelas arestas ali devem estar nestes sulcos aqui:

Uma vez encaixado na posição correta, basta sobrepor o aro e fixar o conjunto com pequenos parafusos de rosca soberba.

Na hora da montagem final temos ainda essa cobertura e mais o reforço que vão fazer parte do conjunto completo.

Ainda não tenho nem ideia de como vai acabar essa montagem do farol. Mas isso fica pra amanhã, pois agora tenho um batizado pra ir!

Contando farol – parte 1 de 3

Já há dias (semanas?) eu havia comprado um conjunto de lixas d’água e uma latinha de spray preto fosco para dar um trato naquele “piniquinho” que abriga o farol. Do par que estava instalado, um deles estava muito detonado, bastante carcomido de ferrugem, de modo que fuçando daqui e dali acabei descobrindo um caboclo que tinha um pra vender – e que, mesmo assim, também já não estava lá 100%. Ainda assim estava melhor que o meu. E morri com quarenta contos.

Mas valeu por conhecer o sujeito, que, inclusive, está restaurando um SS amarelo – 76, se não me engano. Gente finíssima!

Como finalmente encontrei um tempinho pra mim neste último sábado, resolvi que era chegada a hora. O primeiro passo, como sempre, seria limpar, lavar e desobstruir anos de acúmulo de sujeira – tanto enquanto as peças estavam instaladas, como também depois, quando ficaram guardadas. E dá-lhe escova, bucha, muita água e sabão! E depois toca tudo pro sol, que estava de rachar coquinho, que é pra secar bem seco…

Aliás, vamos combinar: o que o poder do Bombril não faz, hein? Pela foto pode até não parecer, mas os aros ficaram brilhando como novos!

O passo seguinte, com as peças já limpas e devidamente lixadas seria o da pintura. Como já tive alguma experiência com isso – ainda que fosse na minha longínqua adolescência – foi legal matar a saudade. Tudo bem que na época eu desmontava e pintava bicicletas com pistola e compressor, raramente usando de latas de spray. Mas descobri que a gente nunca perde o jeitinho não… Como sei do desastre que sou para sujar as mãos e do desastre maior ainda que é o trabalho para limpá-las, nada como uma boa luva cirúrgica para proteção. O fato de ter deixado as peças no sol também ajudou, pois com elas estando quentes a fixação da tinta se dá de uma maneira mais rápida e melhor.

Enfim, o resultado final, penduradas na escada para secar. A do fundo é a original, que está praticamente intacta; já na que está em primeiro plano é possível perceber os furos de corrosão, mas que ainda assim não afetarão sua instalação.

Bem, como nas instruções do spray (sim, eu sou um dos 7 sujeitos no Estado de São Paulo que realmente lê as instruções dos produtos) estava escrito que levaria 15 minutos para secar, uma hora para poder manusear e 24 horas para de fato fixar, fica pra amanhã a montagem…

Até porque saporra dessas luvas deixaram minhas mãos completamente encharcadas de suor!

Joguei tudo no lixo!

Não, péra! Não é nada com O Projeto não!

Acontece que lá fui eu, todo belo e garboso, para instalar as setas no Titanic. Uma já estava prontinha, limpa e acabada – a do lado esquerdo. Fui, fiz aconteci, coloquei e ficou uma belezinha!

Voltei pra casa.

Retomei os trabalhos com aquela que estava bem mais detonada – inclusive com fita isolante, lembram? Estava lá eu tentando desamassar o máximo possível da moldura de metal da seta, num verdadeiro trabalho de artesanato, quando, numa das inúmeras medidas com a base da seta, reparei duas letrinhas ressaltadas sobre o plástico: “LE”.

Não dei muita bola e voltei aos meus afazeres.

Só que daí a ficha caiu!!!

Peguei novamente a base e, incrédulo, confirmei a inscrição.

– Puta que lamerda!!!

A seta que eu estava recuperando para instalar no lado direito era, na realidade, do lado esquerdo, no qual, por sua vez, já estava com a seta devidamente instalada!

O problema é que dos conjuntos de seta que eu tinha – o original e o que comprei no desmanche – escolhi as duas setas “menos piores” para recuperar. Só que não me toquei que havia escolhido duas do mesmo lado. Ou seja, as piores ainda estavam por ali e precisaria ver acerca da possibilidade de recuperá-las.

Resgatei-as e vi o estado precário em que se encontravam.

Levei-as para o tanque para dar uma bela lavada.

ELAS COMEÇARAM A DISSOLVER!!!

Estavam por mais demais secas, quebradiças, podres, deterioradas, arrebentadas, enfim, muito além da mínima possibilidade de mera tentativa de recuperação…

Joguei a toalha.

E as setas no lixo.

Minha intenção ao refazer a parte elétrica com as peças originais do Titanic era simplesmente deixá-lo funcional, isto é, que tudo estivesse devidamente conectado e funcionando, pronto para trafegar pelas estradas sem nenhum enchimento de saco. Como ainda existe um mercado gigantesco de peças para Opalas, originais ou não, com o tempo eu iria procurando aquelas de melhor qualidade e pouco a pouco iria substituindo: setas, lanternas, faróis, etc.

Mas desse mato não sairia mais nenhum coelho. Nem seta.

Fui até uma lojinha que conheço no centro da cidade e que é famosa por ter peças “alternativas” para carros de todos os anos de todas as marcas e modelos. De início eu iria comprar apenas a seta do lado direito, apesar de não ser um material de qualidade, mas como ele só tinha da cor âmbar (muito mais bonita, diga-se de passagem) e a que eu tinha instalada era branca, resolvi já trocar tudo.

Ao menos convenhamos que essa cor combinou perfeitamente com a pintura, né?

No mais, o japonês continua na lida. Como essa coluna não é a original e foi comprada usada para fins de instalação da direção hidráulica, acabou que descobrimos que o conjunto da chave de seta não estava funcionando. Paciência. O negócio é trocar. Ao menos o botão de farol alto (que é no pé) já está ali no lugarzinho dele.

E mais: ele acha que o alternador está meio que barulhento. Mas nisso, pra mim, não havia novidade, até porque o Seo Waltair já tinha cantado essa bola. Como ele cuidou só da parte mecânica, quando eu retirei o carro lá da oficina dele para trazer cá para o japonês ele já havia me dito que achava que seria necessário fazer uma revisão no alternador. Ou seja, mais um item pra lista…

Enfiando até o talo (os fios)

Como de praxe, as coisas andam meio devagar. Ao menos com o Titanic, porque eu ando ralando pra caramba com meus reassumidos trabalhos advocatícios licitacionais…

A novidade é que o chicote original já está novamente no seu devido lugar – algumas partes tiveram que ser reconstruídas, outras eliminadas e, com certeza, algumas ainda terão que ser criadas. Mas como eu sou um cara que sempre gosta de definições, vejamos uma para o chicote, que roubartilhei daqui:

“Os chicotes elétricos automotivos constituem um conjunto de cabos que transporta a energia aos sensores e aos vários sistemas de um veículo. A principal função dos chicotes elétricos automotivos é conduzir eletricidade. Apesar disso, os chicotes elétricos automotivos não servem apenas para gerenciar o suprimento de energia, como também para transferir informações a fim de integrar todo o sistema. Como os chicotes elétricos automotivos são extremamente complexos, a fabricação deles demanda, inclusive, trabalho manual.”

Como eventualmente dizem que a bateria é o “coração” da parte elétrica dos automóveis, então poderíamos dizer que o chicote é o “sistema nervoso” do veículo…

Enfim, o chicote já está onde deveria estar e, pelo que o japonês me contou, deu um trabalho do cão para levá-lo para parte de trás do Titanic. Provavelmente muitas das “passagens naturais” acabaram sendo obstruídas pelas soldas e reformas que foram feitas sem o chicote instalado…

Mas o que interessa é que a parte elétrica de fato começou a ser reinstalada!

Desde o começo, fazendo ligação com o painel…

… atravessando o “cofre” e ficando no ponto para a conexão com setas, faróis, etc…

… até a parte de trás, já estando prontinho para conexão das lanternas e setas traseiras.

Aliás, acabei esquecendo de registrar por aqui: o outro paralama também já está devidamente instalado…

E o nosso amado Titanic cada vez mais vai voltando a adquirir aquela imponência característica de um legítimo representante da linha dos Opalas!

Disjuntando os pedaços

E eis que ontem à noitinha, depois de um dia pra lá de cansativo – pois fui acompanhar meu pai numa consulta junto ao Pronto Socorro Municipal (levou SÓ seis horas!) -, eis que finalmente consigo chegar em casa… Rotina de sempre: parar o carro em frente ao portão, puxar o freio de mão, descer do carro, entrar pelo portãozinho lateral, acender a luz da garagem (Ué? Não acendeu…), abrir o portão maior, engatar a primeira, entrar com o carro, fechar o portão, etc, etc, etc.

Voltei ao interruptor. Meio bambo, mas sempre foi assim. Esquisito. Acho que deu defeito. Amanhã cedo eu troco.

Foi então que percebi que o carro do meu sogro estava com o capô aberto. O que só poderia significar uma coisa: ele estava tentando fazer algo e (pra variar) não deu certo.

Subi as escadas e já fui ter com os filhotes:

– Então, pai. Nenhuma das tomadas de casa tá funcionando. A gente liga o disjuntor mas desarma…

Fui dar uma conferida no conjunto: temos um par de disjuntores para lâmpadas (10 amperes), outro par para tomadas (um de 25 e outro de 30 amperes, não sei o porquê – um dia desses ainda arrumo essa bagaça) e um terceiro para o chuveiro (50 amperes).

O das tomadas estava desarmado.

Liguei.

Fumaça e desarme imediato!!!

Bão, não tinha jeito. Ao que parece alguma coisa devia ter “fritado” um dos disjuntores e a melhor saída já seria trocar o par de uma vez…. Ao menos o resto da casa estava funcionando (fora as tomadas da parte antiga – onde também está ligada toda a garagem). Somente no dia seguinte pra comprar isso…

Pausa para os leigos – entenda como funciona o sistema elétrico de sua casa. São dois os conceitos a serem compreendidos: Voltagem (tensão) e Amperagem (corrente). Em termos bem simples, imaginemos que a energia elétrica fosse como o seu encanamento d’água. Não o seu, o da sua casa. A voltagem seria a quantidade de água consumida por cada aparelho, ou seja, numa tubulação com fluxo constante de água, sua televisão, que consome mais (220V), teria que ter uma torneira bem larga à disposição; já para carregar seu celular, que consome menos (5V), bastaria uma torneirinha pequenininha, praticamente um conta-gotas. Como nesse exemplo o fluxo de água é constante, caso precise de mais energia então terá que instalar um cano mais largo. Já a amperagem diria respeito à pressão da água. Isto é, ainda que meu encanamento garanta que consigo encher um balde de 220V, talvez as especificações daquele equipamento, digo, balde, determinem que ele tenha que ser enchido rapidamente, ou seja, com uma pressão d’água maior. O problema todo começa se eu tiver pressão demais (muita amperagem) e o encanamento começar a estourar! Daí me surge a figura do disjuntor (ou, em casos mais antigos, do fusível) que tem a função de cortar toda a água do sistema de encanamento antes que tudo fique ferrado demais e o balde transborde, a televisão queime, a torneira arrebente, o celular exploda, a água se espalhe, a casa fique em chamas… Basicamente é isso. Sei que tá meio confuso, mas sou advogado, não eletricista, então o que é que vocês esperavam?

Cai o pano, fecha a noite, corta para o dia seguinte.

Seizevintecinco da manhã é o horário que, de segunda a sábado, eu saio de casa para levar o filhote do meio para escola. Nem antes, nem depois. Nesse ritual diário, quando ainda sequer amanheceu direito, eu desço para a garagem, acendo a luz (catzo, esqueci que não tá acendendo), abro o portão, entro no carro (melhor acender o farol, já que tá escuro), engato a ré, ponho o carro pra fora e…

PÉRAÊ!!!!

Dei uma olhada no carro do meu sogro e de relance percebi algo que não deveria estar ali. Tinha alguma coisa errada com esse negócio…

Desci e fui conferir de perto, sob os veementes protestos do filhote que achava que a gente ia acabar se atrasando para a escola. Garanti-lhe que não, que era só um minutinho, mas que precisava entender o que eu tinha visto.

Que raio de tomada é essa? Será que ela ainda estava ligada em alguma coisa que estivesse “fechando curto”? Se fosse assim o disjuntor não estaria desarmando porque tinha pifado, mas simplesmente porque ainda estava cumprindo sua função! Bastaria desligar o que quer que essa tomada estivesse alimentando e o disjuntor voltaria a armar normalmente. Mas, vejamos onde esse fio vai dar…

NÃO, NÃO, NÃO! Eu simplesmente não acredito! Isso não pode ser o que estou pensando! Ele não faria isso, não, não faria. Quer dizer, se aquele fio elétrico estava ligado num cargo de transferência de carga (mais conhecido como “cabo chupeta”), TINHA que ter um transformador no meio do caminho; aquilo não poderia estar ligado direto na bateria. Afinal de contas 220V da tomada não é compatível com 12V da bateria do Gol! Seria como abrir uma torneira de jardim no máximo para tentar encher um copinho de café. De plástico. Do vagabundo!

MÈRDE.

Era.

ODESINFELIZDOMEUSOGROFEZDENOVO!!!!!!!

Bastou, literalmente, tirar o plug da tomada e todos os problemas acabaram…

Menos o meu.

Apesar de tudo, tenho ABSOLUTA CERTEZA que vai acabar sobrando pra mim ter que providenciar a carga da desgraçada dessa bateria!

SE der carga… o_O