Interlúdio

Como nem só de oficina vive o ser humano, aproveitei o domingão (meio nublado, quase chuvoso) para dar um pulo no Distrito de São Francisco Xavier, aqui mesmo em São José dos Campos, para uma exposição de carros antigos que tinha sido anunciada há alguns dias.

A criançada adorou ver aquelas novas velhas máquinas todas expostas. A começar desta criança mais velha que vos escreve… Tirei muitas – MUITAS – fotos, até para servir como referência na reconstrução do meu 79. Aliás, por questões de espaço e largura de banda, as que seguem estão reduzidas, mas caso alguém queira uma cópia em “tamanho natural”, basta me avisar que eu mando.

Essa primeira sequência mostra as várias marcas expostas devidamente perfiladas para o deleite do público:

A seguir temos os mais variados Opalas dos mais variados anos:

Aqui temos uma figura curiosa, quase um “intruso” no meio das antiguidades:

E, por fim, não podia deixar de tirar uma foto desse carrinho aí embaixo. Explico. O sobrenome da Dona Patroa, por parte da família de seu pai, é nada mais nada menos que Miura

Primeiros enxertos

O trabalho é lento, mas – com certeza – persistente! Nem sempre consigo tempo suficiente para sair do trabalho e já ir para casa de meu pai para executar minhas tarefas de auxiliar, mas vou tentando. Trabalho de manhã à noite numa Prefeitura (sim, eu disse “noite”) e a distância é relativamente longa. Mas, como aquele velho filme, “retroceder nunca render-se jamais!”

Esse pedaço tá quase que completo. O fundo já foi dado em todos os pontos de substituição de chapas e de emendas de latas. Continua sendo foda chegar naquele pedacinho de solda atrás da roda…

Eis, pois, o primeiro “enxerto”. Essa ponta de lateral já comprei pronta numa loja de auto peças. Apesar de ter sido vendida como sendo para o ano específico desse Opala (79), deu uma substancial diferença no encaixe das pontas. Como já me disseram que eram as últimas do estoque, nem adiantava voltar à loja para tentar alguma troca. O negócio foi “adaptar”, cortando e moldando partes da peça, ou seja, a boa e velha gambiarra! Mas, como costuma dizer meu pai do alto de sua experiência e sabedoria, fazer uma gambiarra não quer dizer fazer uma porcaria, mas sim adaptar e muitas vezes até melhorar alguma coisa para que funcione direito…

Lembram do “buraco” de uns dias atrás? Então. Eis outro enxerto. Também outra peça que já encontrei pronta e que também precisou (minimamente) ser “adaptada”. Dá para perceber, no fundo, a qualidade da solda que Seu Bento faz. Não tem esse negócio de “dar uns pontinhos”, com ele é a verdadeira fusão das chapas numa só, sem que reste buraquinho nenhum para contar história.

Brincando de colorir

Não, ainda estamos longe – bem longe – da fase de pintura. Apenas um pequeno interlúdio para um desses inúmeros arquivos passíveis de serem encontrados nessa coisa fantástica que é a Internet.

Fiz o upload de uma página que pode ser acessada aí do lado, no painel “Jogado no Assoalho”, que é onde eu venho guardando esse achados. Aliás, essa seção é como o porta-malas de um Opala, pois ainda que ele já seja excepcionalmente grande, no nosso caso temos aqui um verdadeiro porta-malas virtual, cujo tamanho seria limitado apenas pela capacidade em disco… Ou seja, ainda devo colocar muita tranqueirada por aqui!

Mas voltemos à página em questão. Trata-se da Tabela de Cores da Chevrolet. Se você tinha alguma dúvida sobre a codificação original da cor do seu bom e velho Opala, seus problemas acabaram! Basta consultar essa tabela! Mas o que seria realmente interessante é se conseguíssmos reproduzir, do lado de cada código, o tom exato da cor à qual ele se refere… Quem sabe num futuro não muito distante não possamos fazer algo nesse sentido? Ainda não gostei da formatação dessa tabela, portanto devo mexer nisso, mas é como dizem: “o ótimo é inimigo do bom”. É melhor primeiramente compartilhar a informação e depois, aos poucos, vamos lapidando o visual…

Enfim, ainda que eu não tenha certeza de qual será a cor futura do meu Opala, ao menos agora posso categoricamente afirmar qual é sua cor passada: Bege Ipanema, código 122, ano 1979.

Desmantelando cada vez mais

Com a nítida missão de não deixar pedra sobre pedra (ou lata sobre lata), estamos nos esforçando ao máximo para que nenhum cantinho escape à nossa atenção. Se em alguma parte da lataria houver uma região com um tiquinho de estufado, esse pedacinho – por mais ínfimo que seja – será impiedosamente cutucado. Onde houver ferrugem, que eu leve a limpeza… Onde houver massa, que eu leve a solda… Onde houver podreira, que eu leve a substituição…

Credo! Está até parecendo a Oração de São Francisco

Mas deixemos as heresias de lado e voltemos ao trabalho!

Eu sei que essa aí parece a mesma primeira foto do último post (confuso isso…), mas não é. Reparem que a cobertura da tinta de fundo está – bem lentamente – ficando cada vez maior. O difícil é raspar e lixar os cantinhos, por trás da suspensão, onde foi feita a solda elétrica. Mas paciência é uma virtude! Aliás, na realidade, paciência é uma obrigação para quem se mete numa empreitada dessas…

Cantinhos, cantinhos, ah, cantinhos… Têm sido, acho eu, os maiores vilões das ferrugens na lataria desse carro. E, como já disse antes, a coisa é como uma metástase: vai se alastrando impiedosamente para todos os lados. Mas nada que a boa e velha solda do Seu Bento não resolva!

Esse ponto da foto aí de cima, logo na lateral do carro, foi um daqueles que começou pequeno, cutucando um buraquinho, mas que foi crescendo, crescendo, e logo já estávamos cavucando a lata. Quando chegamos à borda sã, foi só identificar um raio de ação, pegar o maçarico e recortar toda a volta. Feito isso, o passo seguinte é aplicar no rombo que ficou uma chapa “saudável” moldada tendo por base suas exatas medidas e proporções. Essa é a “metodologia” que vem sendo utilizada para toda a lataria.

Alguém se lembra que outro dia comentei que esse pedaço da traseira estava como puro papel? Já não está mais. Aliás, já não existe mais. Dá-lhe maçarico! Toda a parte “contaminada” foi devidamente expurgada do veículo!

Difícil reconhecer o que seria isso desse ângulo? Eu ajudo. Onde messs vai o estepe do carro? Seria na caixa que ficaria nesse buraco da direita. Até porque o buraco da esquerda é do tanque de combustível. Mesmo assim, pelo buraco do tanque, ainda podemos ver parte dos restos mortais dessa caixa…

O início do começo

Até então vínhamos arrancando ferrugem, cutucando, furando, cortando e soldando. Mas agora temos um singelo início do começo de um visual que começa a animar um pouco mais este assistente-de-funileiro-de-fim-de-semana que vos escreve…

Os detalhes já vistos anteriormente agora começam a ser moldados – após muita escovação com escova de aço (só podia ser) e muita lixa, comecei a passar a tinta de fundo, visando proteger aquilo que já foi feito. Não se assustem. O serviço é artesanal MESMO, então sou eu e uma lata e um pincel, dando um fundo beeeeem dado, visando deixar tudo pronto para a futura pintura. Nem que seja de outro fundo.

Aqui temos um detalhe maior da parte externa…

… e aqui da parte interna, próximo à base da bateria.

Como eu já havia dito, aqui teríamos MUITA massa para arrancar…

Foi necessário trabalhar a parte interna dos pára-lamas traseiros – outro ponto que sempre tem ferrugem de montão nos Opalas da vida.

Outro detalhe do lado interno (mas da parte externa do carro).

E aqui um detalhe da parte interna (do carro), logo abaixo do banco traseiro.

Após as soldas, marteladas, acertos e nivelamentos, não tem como se escapar de um pouco de massa novamente…

E, por derradeiro, eis aqui Seu Bento, vulgo meu pai, num dos raros momentos em que se deixou fotografar – após um dia inteiro de serviços.

Olha, Deus queira que eu consiga chegar aos setenta anos. Agora, se eu conseguir chegar aos setenta e com o vigor que esse caboclo tem – caramba! Tá paga a vida inteira!

Mais um pouco da frente

Continuando essa nossa “meia volta” pelo carro, voltamos à frente do mesmo. Mas vamos por partes.

Em primeiro lugar temos uma nova visão do assoalho, agora já um pouco mais completo (e nítido). Perceba que optamos por não arrancar simplesmente todo o assoalho, mas sim meramente recuperar ponto a ponto os locais específicos que estavam além de qualquer recuperação. Sei que podem me dizer: “Mas onde estão os furos para os tampões de borracha que vem no original?” Sinceramente? Não existem mais. Ainda que sob risco de ser exacrado pelos puristas, na MINHA opinião esses furos só servem como ponto de entrada d’água e contaminação por ferrugem…

Voltando ao lado de fora do veículo, temos uma imagem parecida com o que já foi visto antes, mas percebam que as soldas agora proliferam para dentro da parte interna das rodas.

Esse tipo de deterioração é muito comum de se encontrar na grande maioria dos Opalas, creio eu que talvez pelo peso do motor, falha de estrutura, de projeto, sei lá. Nesse caso a solda recomendada já não é aquela de oxigênio, mas sim a solda elétrica mesmo.

Também a parte próxima à base da bateria necessitou de alguns cuidados especiais, tanto no lado de cima…

… quanto no lado de baixo.

E, para concluir por hoje, um pedacinho do teto – tá bão, não tava tão “inteiro” assim (pelo menos do lado de fora)…

Passando para a lateral

Pois bem, agora vamos, leeeeentamente, passando para a lateral direita do carro…

Acima temos uma semi-panorâmica…

Eu já não havia falado que essa podridão se alastrava? Percebam o detalhe da espessura da camada de massa que existia.

Essa parte inferior não tem jeito. Puro papel. Já consegui achar as laterais numa loja de auto-peças para soldar no lugar. Infelizmente não têm a qualidade do original, mas tudo bem. Ainda assim irá aguentar firme.

Tem pontos aqui com mais de 1cm de massa!

Mais massas sendo arrancadas e buracos sendo cavucados…

Os complementos do assoalho, do lado do passageiro.

O lado externo do passageiro…

O painel (que painel?) totalmente “pelado”.

Bem, pelo menos o teto está bom!

😀