Superman – XIII

Entrevista com Julius Schwarz

Quando os fãs de quadrinhos discutem sobre os grandes talentos do ramo, ele é sempre um dos mais citados. E não é pra menos: JULIUS SCHWARTZ ajudou a estruturar o universo de super-heróis da DC, editando quadrinhos desde a década de 40. Nesta entrevista, Julie fala de sua carreira e dos projetos nos quais participou…

Hoje, com 76 anos, Julie é o que se pode chamar de um grande veterano das HQs. Na verdade, ele começou sua carreira antes mesmo do surgimento da indústria quadrinística.

Julie entrou na literatura da imaginação via ficção científica. Ele nos conta: “Eu era leitor de romances ‘pulps’, livros de capa mole e papel barato, que traziam contos diversos. Um dia, parei de ler esse tipo de coisa e perguntei a meu amigo Charlie Whelan se ele tinha algo para trocar pelos meus almanaques. Charlie me deu uma revista chamada Amazing Stories. Então, me transformei num verdadeiro fã de ficção científica. Aquelas revistas tinham seções de cartas, coisa que, mais tarde, levei para os gibis. Nessa época, comecei a me corresponder com outros leitores e acabei descobrindo que no Bronx, bairro onde nasci, havia um fã-clube de ficção científica chamado The Scienceers. Eu tinha 16 anos quando me tornei membro do clube. Lá conheci meu eterno amigo Mort Weisinger.”

“Mort e eu lançamos o que é hoje conhecida como a primeira revista para fãs de ficção científica, The Time Traveller. Nós publicávamos fofocas, informações sobre histórias que iam sair e aquele bate-papo em geral. Fiquei conhecido entre os escritores de ficção. Depois de um certo tempo, outros editores me procuravam e diziam coisas do tipo: ‘Ei, adoraria colocar uma aventura com viagens no tempo na minha revista’. Aí eu chamava gente como Edmond Hamilton para escrever a tal história… e era sucesso de venda na certa. Hamilton passou a me mandar seus trabalhos, e eu me tornei seu agente.”

“Edmond foi o primeiro de uma série de grandes clientes na época. Eu não ganhava muito dinheiro como agente, mas consegui o suficiente para ir à Califórnia em 1939 com Mort e Otto Binder, viagem que repetimos em 1940 e 1941 com Ed Hamilton”. Julius lembra a última viagem como um grande acontecimento, tanto para eles quanto para o mundo da ficção científica. “Ed e eu encontramos um lugar para ficar em Los Angeles, perto do Olympic Boulevard. Por uma estranha coincidência, lá estava um vendedor de jornais ambulante, cujo nome era… Ray Bradbury.”

“Na verdade, eu já conhecia Ray desde 1939. Havíamos nos encontrado na primeira convenção mundial de ficção científica, em Nova Iorque. Ele queria saber quem era o agente Julius Schwartz, do qual havia ouvido falar… Ray julgava estar pronto para ser escritor de ficção e procurava o tal de Schwartz para agenciar seu trabalho. Bem, como ele era apenas um adolescente, eu ri, duvidando, mas não o dispensei. Nos meses seguintes, Ray me mandou várias histórias até que, finalmente, vendi uma delas.”

Os contatos de Julius com o mundo da ficção o levaram ao universo dos quadrinhos. Seu amigo Mort Weisinger foi editor da Startling Stories e de outras revistas antes de ser aceito na DC Comics. Mort deu indicações para a publicação das obras de um dos clientes de Julius, Alfred Bester. “Alfie Bester disse-me que havia uma grande expansão na indústria de quadrinhos americanos e que eu poderia entrar para a DC Comics através das pessoas que conhecia. Respondi que isto não era motivo para me candidatar ao emprego. Não me julgava preparado para tal. O engraçado é que, apesar de nunca ter lido uma HQ na vida, eu conhecia todos os autores, pois eram os mesmos que assinavam romances de ficção. Por exemplo, conhecia Manly Wade Wellman, que não era apenas escritor da DC, mas colaborador no Spirit e autor de muitos trabalhos do Capitão Marvel. Conhecia também Otto Binder, que escreveu 500 histórias do Capitão, e muitos outros roteiristas.”

“Certa vez, comprei alguns gibis que li no metrô até chegar à DC. Após uma conversa com o editor-chefe Sheldon Mayer, em 22 de fevereiro de 1944, fui contratado.”

“Editei todos os títulos que estavam sendo lançados na época, incluindo Sensation Comics, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash Comics e All-Flash Comics Cavalcade e, o mais importante, All-Star Comics, que apresentou a Sociedade da Justiça da América.”

“Como as histórias de heróis começaram a decair no final da década de 40, tivemos de procurar outro tipo de material: histórias no estilo de gângsters e intocáveis, vários westerns e contos de guerra. Então, em 1950, a DC veio com a idéia de produzir uma revista chamada Showcase. Seu princípio era simples: lançávamos novos personagens nessa publicação e, então, esperávamos alguns meses para ver o resultado. O personagem que fosse bem aceito pelos leitores ganhava sua própria revista.”

“Num encontro de editores, foi sugerido que eu trouxesse o Flash de volta na Showcase. Irwin Donenfeld, que era o encarregado na época, achou uma boa idéia e quis saber quem seria o editor. Todos olharam para mim, porque eu fui o editor original do Flash. Decidi manter apenas o nome Flash. Todo o resto sofreria mudanças: a origem, a identidade secreta e tudo mais. É importante lembrar os leitores que, com o surgimento do novo Flash (Barry Allen), se estabeleceu o conceito de Terras Paralelas no multiverso DC. Isso aconteceu quando admitimos que havia dois Flashes (Barry Allen e Jay Garrick) vivendo em dimensões diferentes. A aparição do Flash em Showcase foi um sucesso, e o herói ganhou seu título próprio.”

Os “projetos renascimento” continuaram, sempre com Julius liderando. “Depois do Flash, nós lançamos Lanterna Verde na Showcase, a Liga da Justiça em The Brave and The Bold, recuperamos Gavião Negro e Eléktron… todos grandes sucessos. Em 1960, os super-heróis voltaram com tudo!”

Em 1971, o editor do Super-Homem, Mort Weisinger, deixava a DC para uma vida de free-lancer, e Julius assumiu o cargo. “Eu estava um pouco inseguro com a tarefa, mas implantei novamente o sistema de revitalização. Transformei o repórter do Planeta Diário em apresentador de tevê. Achei que as pessoas que liam quadrinhos não costumavam ler jornais, mas com certeza assistiam a televisão. Isso deu a Clark Kent as chances que ele não teria como repórter de jornal. Também eliminei os robôs que ele usava para encobrir sua verdadeira identidade. Dei a Clark um novo guarda-roupa, tão bem recebido, aliás, que apareceu na revista de moda Gentleman’s Quartely. Fui editor do Homem de Aço por 17 anos, até que desisti dos meus títulos regulares para me dedicar à adaptação de grandes histórias de ficção científica em graphic novels. Infelizmente, o sucesso não foi grande, pois, acho eu, esse tipo de graphic deveria ser vendido em livrarias, não em bancas. Quando esse projeto foi cancelado, abandonei o trabalho de edição e passei a ser consultor da DC. Minha missão é ser o ‘embaixador’ da editora. Viajo atrás de convenções de quadrinhos e ficção científica.”

Alguém disse na apresentação de um programa de rádio sobre quadrinhos que todos as áreas possuem suas lendas… e que a lenda das HQs é Julius Schwartz.


Direct Currents – Boletim Informativo da DC

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  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

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