Superman – III

As Origens do Super-Homem – Segunda Parte

Na Terra, depois de um pouso forçado, o sobrevivente da pequena astronave enviada de Krypton é encontrado por um casal que passava de carro pelo local. Originalmente não identificados, eles mais tarde se tornariam Jonathan e Martha Kent. Seus nomes, também, variaram no início. Em 1942, George Lowther escreveu um romance do Super-Homem, detalhando sua origem com muito do que estava presente nos quadrinhos, e finalmente deu aos pais adotivos os nomes de Sarah e Eben Kent (com estes nomes eles ficariam conhecidos no seriado de cinema Superman de 1948 e no episódio-piloto do seriado televisivo The Adventures of Superman). O romance de Lowther também foi o primeiro a revelar o sobrenome kryptoniano do Super-Homem por inteiro, soletrando “EL” em vez de “L”, além de alterar o nome da mãe do herói de “Lora” para “Lara”.

Na versão em quadrinhos de 1938, os Kent, ainda sem nome, eram um casal idoso, sem filhos, que levava a criança perdida a um orfanato próximo, voltando depois para adotar o bebê. Numa redefinição, foi revelado que esse retorno era a intenção dos Kent desde o começo. Quando o casal voltou, os funcionários do orfanato ficaram mais do que felizes com a partida do bebê. Já possuindo os fabulosos poderes de um nativo de Krypton, a criança tinha quase demolido o orfanato.

Batizado de Clark Kent, o menino cresceu e tornou-se adulto antes de vestir o conhecido uniforme vermelho, azul e amarelo. Há versões conflitantes de como Clark recebeu esse nome. Nas próprias histórias, foi revelado que era o nome de solteira de sua mãe adotiva. No entanto, ninguém sabe o que Siegel e Shuster tinham em mente ao tomar tal decisão. Uma versão conta que a escolha do nome foi inspirada nos atores Clark Gable e Kent Taylor. Outra versão diz que foi uma homenagem às antigas revistas pulp que tinham alimentado a imaginação dos criadores do Super-Homem: Doc Savage, o heróico “Home de Bronze”, chamava-se Clark Savage Jr. e seu criador foi o autor Lester Dent.

O jovem Clark teve o cuidado de manter seus poderes em segredo. Na primeira edição de Superman, papai Kent o alerta: “Agora preste muita atenção no que vou dizer, Clark! Essa sua enorme força… bem, você tem de escondê-la das pessoas ou elas vão ficar com medo de você!”. Mamãe Kent era menos catastrófica e dizia: “Quando chegar a hora, você deve usar esse poder para ajudar a humanidade”.

Estabelecendo-se em Metrópolis, Clark arrumou emprega no Planeta Diário e assim conheceu o membro mais antigo do elenco de coadjuvantes, Lois Lane. Lois é a única personagem além do Super-Homem que esteve presente desde o começo. Ela entrou na vida de Clark Kent em Action Comics # 1, já como uma ousada repórter do Estrela Diária de Metrópolis (mais tarde, rebatizado de Planeta). Os outros membros mais conhecidos do elenco, Jimmy Olsen e Perry White, vieram depois, ambos gerados nas aventuras do Super-Homem no rádio.

Desenvolvimentos posteriores do personagem acrescentaram Superboy à lenda (em 1945), revelando que não fora como adulto que Clark demonstrara ao mundo suas habilidades kryptonianas, mas ainda jovem em Pequenópolis. Nas revistas Superboy e Adventure Comics, revelou-se a maior parte do que conhecemos sobre os bondosos Kent. Começando como fazendeiro, Jonathan Kent mais tarde compraria uma loja de mantimentos gerais em Pequenópolis. Nesse ambiente aconchegante, Clark viveria muitas aventuras (devido às curiosas confusões de continuidade que afligiram a DC Comics no passado, passaram-se muitos anos até que a existência de Superboy fosse reconhecida dentro dos títulos do Super-Homem).

Em Pequenópolis, nós também conhecemos Lana Lang, uma ruiva muito animada e, por um tempo, namorada do Superboy. Lana ocupou um papel em sua infância e adolescência semelhante ao que seria assumido anos depois por Lois. As narrativas do Superboy tornaram-se tão complexas quanto as do Super-Homem nos trinta e poucos anos de sua publicação. Ninguém parecia se incomodar com as contradições do aparecimento do Superboy como um elemento de peso no passado do Super-Homem. Talvez os leitores fossem menos chatos a respeito da continuidade naqueles dias. É bem provável que simplesmente acolhessem de braços abertos qualquer coisa que lhes apresentasse uma possibilidade de novas aventuras de seu herói favorito.

Das histórias do Superboy, vieram mais detalhes sobre a vida passada de Kal-El em Krypton. Usando a supermemória, o jovem Clark era capaz de relembrar muito dos acontecimentos do dia-a-dia em seu mundo de origem. Mais do que se poderia esperar de um recém-nascido. E, à medida que a crônica do herói progredia, a idade em que o Super-Homem havia deixado Krypton também avançava. Mencionava-se que Kal-El já era uma criança que balbuciava as primeiras palavras, com consciência plena de tudo o que acontecia a seu redor, quando partiu de Krypton. Novamente, as contradições eram ignoradas com muito prazer pelos leitores. Enquanto as histórias fossem empolgantes, ninguém dava muita bola para os detalhes.

A textura mudava, os detalhes se alteravam, até mesmo as personalidades se modificavam. Mas o Homem de Aço permanecia mais ou menos o mesmo, uma rocha ao redor da qual todas as outras coisas orbitavam.

Aos poucos, os próprios kryptonianos sofreram alterações, tornando-se cada vez mais parecidos conosco. Revelou-se que Krypton era um planeta gigantesco, talvez do tamanho de Júpiter, e a força do Super-Homem foi explicada com base nisso, uma vez que os músculos evoluídos para dar conta da esmagadora gravidade de Krypton tornavam-se superpoderosos na Terra.

Daí também se explicaria a origem da capacidade de voar própria do Super-Homem. A gravidade da Terra simplesmente não era suficiente para contê-lo. Sua invulnerabilidade era outro vestígio de seu planeta natal. Todos os kryptonianos, ao que parece, tinham estruturas moleculares superdensas.

Essa safra de alterações na lenda chamou mais atenção para o planeta Krypton em si. Esse mundo fora pouco mencionado durante a primeira década da vida do Super, mas acabaria se tornando uma engrenagem vital no maquinário que compõe o personagem. O interesse alcançou seu momento mais significativo em 1949, quando o Super-Homem, pela primeira vez, encontrou um fragmento reluzente de seu planeta. Colorida de vermelho na estréia nos quadrinhos, a kryptonita, na verdade, tinha sido gerada na série de rádio do Super-Homem e passaria a ser a partir de então a mais perigosa ameaça à existência do herói. A letal kryptonita assumiu a tonalidade verde numa segunda aparição. Mais tarde, uma versão vermelha foi mostrada aos leitores, mas seus efeitos sobre o Super-Homem eram profundamente diferentes. Como veremos.



John Byrne

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  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)