Pra vocês verem como são as coisas… Há algum tempo encontrei o blog da Karina (Meu Japão é assim…) e gostei. Tanto, que o adicionei na minha lista aí do lado. Trocamos duas ou três palavras através de comentários em alguns posts – o que só veio a confirmar o quão simpática e agradável ela é. Mas eu nem sabia o quão famosa ela também o era! Já foi até musa inspiradora para uma das crônicas de Mario Prata! Nas palavras da própria, “apesar do título comprometedor: Minhas Mulheres e Meus Homens”, nesse livro é que foi publicada a crônica.
Quem quiser conhecê-la um pouco melhor, além do próprio site, pode ler também uma entrevista (com foto!) no Plurality, de Paulo Nagoya.
Segue a crônica do Mario Prata:
Karina de Belô
(Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo, de 31/03/99)
Aquelas doidas e maravilhosas adolescentes, que fizeram uma home page minha, com a maior intimidade colocaram lá, no mês passado: o Pratinha faz aniversário este mês. Clique aqui para mandar parabéns para ele.
Vários desocupados e desocupadas clicaram e a Manuela me mandou as mensagens. Respondi a todas, agradecendo o carinho e o etecétera.
Mas foi aí que surgiu a Karina. Me respondeu dizendo que as colegas dela na faculdade de jornalismo não acreditaram que eu tivesse escrito para ela: “Imagine se o Mario Prata ia escrever para você!” Será que as colegas dela acham que eu não sei escrever?
E mais, dizia a Karina: estava fazendo um trabalho sobre cronistas, centrado em mim e queria saber qual a maneira que eu poderia ajudá-la.
Uma entrevista, uma palestra lá?
Respondi que estava havendo um pequeno engano. Meu nome era Mario Prata, mas eu não era o escritor. Era até parente. Sou dentista aposentado, fui logo informando. Mas, para sair do marasmo que era a minha vida, agradecia o convite para palestrar e poderia ir até Belô fazer uma palestra sobre molares aninos (que nascem no ânus). Disse ainda que tinha slides e precisava de uma cadeira de rodas para me pegar no Aeroporto da Pampulha, pois era paraplégico. E mais, informei: era solteirão e virgem, promessa feita no leito de morte da minha mãe, jurando de joelhos juntos que só me casaria com moça mineira, cujo nome começasse com K. Mamãe, em vida, foi apaixonada pelo Kubitschek.
A Karina adorou a idéia da palestra sobre os molares aninos. Achei meio esquisito tal atitude. Foi quando eu parei e achei que estava indo longe demais. E o pior: na última carta, ela pedia para eu parar de chamá-la de menina, porque, o fato de ela estudar jornalismo não significava que era uma jovenzinha.
Muito pelo contrário. E me contou a sua vida. Tinha 67 anos, viúva, filhos criados, resolveu estudar. Fez bem, pensei: escreve certo como gente grande, dominando as vírgulas e as respirações como uma Clarice Lispector. Parei de novo. Percebi que a dona Karina estava se empolgando com o doutor Mario, dentista. Essa coroa vai pegar no meu (dele) pé, pensei. E agora?
Mandei mais uma, que começava assim: “Agora sei por que o meu marido, o Mario, não queria que eu aprendesse computação. Era para não descobrir essas sem vergonhices dele” e, como esposa de mim mesmo, arrasava com a dona Karina.
Ela mandou outra carta para o dentista dizendo estar decepcionada com o fato de eu mentir sobre minha condição de solteiro, virgem e paraplégico. Estava decepcionada comigo. Ela, que estava até pensando em fazer um acróstico do dentista solitário.
Foi a vez de uma das minhas (do dentista) sete filhas, a Magdala, entrar na história e comunicar à mineira que ela era a causa da discórdia, da lascívia e do cabritismo que se instaurara (Magdala estuda Letras na PUC) no nosso lar, desde que ela “a escroque rampeira das Alterosas” havia surgido. Que, pelo amor de Deus, deixasse a nossa família em paz, no aconchego do até então feliz lar.
O bate-boca continuou até que a minha mulher tentou o suicídio e as minhas filhas estavam dispostas a ir até Belo Horizonte matar a dona Karina. Mas parece que a viúva não se tocava e estava mesmo a fim de mim – dentista, paraplégico ou não, virgem ou pai de sete filhas.
E eu – dentista, especialista em molares aninos, devo confessar, comecei a gostar da viúva, futura colega do primo Mario jornalista.
Foi quando ela mandou um último e definitivo e-mail: “Mario (escritor): obrigada por ter me ajudado. Fizemos (eu e você) um trabalho maravilhoso. Ficou bem melhor do que eu poderia imaginar.
Tenho 21 anos e estou mandando uma foto minha.”
Meu Deus! A foto da viúva de 21 anos! Me desejando, num balão de história em quadrinhos, feliz Páscoa.
E eu fico por aqui, completamente apaixonado. Não sei se é o dentista pela viúva ou o escritor pela futura jornalista. Sei que um de nós convidou-a para passar a Páscoa com ele.
É, Karina, quando baixa um dentista aposentado e apaixonado dentro da gente, querendo mostrar slides de molares aninos, deve significar que o cronista anda sozinho, muito sozinho, sentado numa cadeira de rodas, ouvindo Elvis Presley e Arnaldo Antunes na mesma faixa, como se fosse um adolescente com dor de dentes.