Essa é mais uma do Valtinho.
Sim, aquele excelente fotógrafo lambe-lambe – ele odeia ser chamado assim – que é a uma das pessoas mais fora de série que eu conheço. Definitivamente uma “figura prima”, pois o termo “figura ímpar” é muito pouco para descrevê-lo – já é melhor ir diretamente para os números primos…
Enfim, do nada ele se convenceu que eu tenho que comprar um saxofone.
Aliás, não é qualquer saxofone – tem que ser o saxofone que ele está vendendo…
– Valtinho, mas por que cargas d’água você comprou um sax afinal?
– Ah, sei lá. Nem lembro mais. Sempre achei bonito aquele negócio de sax. É que nem aquele filme que tem um policial que faz uns hominhos com palitinhos!
– “Hominhos com palitinhos”? Do que é que você está falando?
– Um filme do futuro, pô! Que é todo mundo robô e tem um policial que enquanto vai conversando faz, assim, uns hominhos, uns bichinhos – tudo com palitinho – e vai deixando pra trás…
– Robôs? Futuro? Não é o Blade Runner não?
– ISSO!
– Tá. Entendi. Mas não é no filme, é na trilha sonora então. De fato tem umas músicas muito boas lá com sax…
– Então. Mas agora mudei de idéia. Acho que você é que tem que comprar esse meu saxofone.
– EU? Mas o que é que eu vou fazer com isso Valtinho? Eu nem sei tocar esse negócio.
– Ah, sei lá. Passa pros seus filhos então. Já imaginou aqueles japonesinhos tocando sax? Que da hora não ia ficar?
– Não, Valtinho. De jeito nenhum. Não rola.
– Ou então pra você mesmo! Você é uma figuraça, que gosta dessas coisas antigas… Gosta daqueles carrões – como é que é mesmo? Ah é, Passat (ai!). Já imaginou? Você aí… desse jeitão… de chapéu… tocando um sax… Ia ficar igualzinho aquele cara famoso, o Baden Powell (aaaai!)!
– Baden Powell?…
– É, cara!
– Cê tem certeza disso, Valtinho?
– Tô te falando!
– Tá. Entendi. Mas não vou entrar em detalhes com você. Ainda assim, vamos combinar: qual parte do “não rola” você não entendeu? Sinto muito, mas sem chances!
– Pô! Ó o cara…
Enfim, só mesmo o Valtinho para perder tanto tempo querendo que (1) eu gaste um dinheiro que eu não tenho (2) com uma coisa que eu não preciso (3) para fazer algo que eu não quero.
Mas se não fosse assim o Valtinho não era o Valtinho…
Bem, se ele insistir, vc manda um “Valtinho, não enche o sax!”, hehe…
Abs!
AAAIII!!!!
sobre o último parágrafo, tão e somente apenas:
se o valtinho não fosse fotógrafo, bem podia ir fazer propaganda.
ou o que você descreve ali não é em fidelidade o que os *profissionais* do lado negro da força querem que você faça?
(o fato de eu ser um deles é irrelevante.)
Propagandisticamente falando me fez lembrar aquela história acerca da diferença entre homens e mulheres quando saem para comprar algo (palavras de minha amiga Sheila): a justificativa para o homem que entra numa loja para comprar alguma coisa (que quebrou, que gastou, que não tem, etc) é “porque preciso”; já a justificativa para uma mulher que entra numa loja para comprar alguma coisa é “porque eu quero”.
E, no mais, sim. Não tinha percebido o quanto o lado negro está presente nesse nosso dia a dia comercial…
Abraços pseudo-etílicos!