A Praia

E, para quem me conhece bem, ao ler esta crônica parece ser impossível não lembrar de mim.

Não sei o porquê…

Tá certo que eu amo praias.

Sério!

Podem conferir aqui

Bem, talvez a lembrança tenha sido em função de meu lado <ironia>sempre bem-humorado</ironia> de encarar a vida. Aliás, talvez isso seja genético! Meu irmão, quando trabalhava na Embraer, devido ao seu “bom humor insuportável”, ganhou o carinhoso apelido de “vinagre”. E quando alguns de seus amigos resolviam tratar de minha nobre pessoa a referência ficou sendo – como bom irmão do vinagre – “vinagrão”. Ainda na época que eu mantinha escritório, meus queridos sócios faziam questão dessa referência.

E olha que nem de vinagre eu gosto!

A prova tá aqui

Mas chega de protelar!

Vamos à crônica!

Diga-se de passagem: é atribuída ao Veríssimo – mas, particularmente, duvido…

Chegou o verão!

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.

Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis.

Mas o principal ponto do verão é… A praia!

Ah, como é bela a praia.

Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.

Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.

Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.

Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.

Em menos de cinquenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo.

Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como furar a areia pra fincar o cabo do guarda-sol.

É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar!

Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo.

Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.

A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.

Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!

Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora.

Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.

O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear até desinfetante de privada.

As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.

Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical…

Tóquio está “vazia”, mas não deserta

Notícias diretamente do Japão por intermédio da amiga virtual Karina (aquela, do Mario Prata):

Postado por Karina Almeida em 21/03/2011 – 09h30

Na quinta-feira passada, dia 17, dei uma voltinha em Shinjuku e Shibuya para ver como estavam os bairros mais movimentados de Tóquio, em plena crise nuclear.

Percebi que a cidade estava vazia, mas não deserta. E que as pessoas que usavam máscaras não estavam se protegendo da radiação, mas de uma alergia a pólen, típica da primavera, chamada por aqui de “kafunshoo”. Eu perguntei!

“É a primeira vez que vejo essas ruas tão vazias”, me disse Shinichi Tamura, de 30 anos, que faz panfletagem no centro de Tóquio há sete anos.

Se antes da tragédia ele distribuía facilmente mil panfletos por dia, agora, ele precisa se esforçar muito para atingir a meta de 800.

Aos poucos, a capital japonesa volta ao normal mas continua não parecendo uma das cidades mais populosas do planeta. Na estação de trem de Shinjuku, sempre superlotada, as pessoas andam tranquilamente, sem se esbarrar.

Ônibus e trens circulam, mas em menor quantidade. Em algumas estações, há atrasos de cinco, dez minutos e, alguns painéis nem marcam a hora das partidas – uma situação inédita no país da pontualidade.

Algumas lojas estão fechadas, outras trabalham em horário reduzido. Para poupar energia elétrica, escadas rolantes estão paradas e estabelecimentos comerciais à meia luz. Aliás, pelo que parece, essa calmaria toda se deve mais ao racionamento de energia do que ao medo do vazamento na usina nuclear de Fukushima.

Não há falta de comida, mas as prateleiras dos supermercados continuam escassas.

O cruzamento mais movimentado do mundo, no bairro Shibuya (primeira e segunda fotos), também nunca esteve tão calmo e silencioso. Os famosos telões estão desligados.

Em Shinjuku, um dos poucos que funcionam exibe o noticiário sobre a tragédia em Sendai e as explosões na usina nuclear de Fukushima.

Férias antes da hora, pânico não!

Não vejo evasão em massa, como a mídia brasileira divulgou, mas nas estações de Tóquio, as bilheterias dos trens-balas estão mais movimentadas do que o de costume sim.

Muitos japoneses tiraram folga antes da hora. É o caso de Kuniyuki Fukuda, de 27 anos. O jovem trabalha há dois anos em um restaurante chinês da capital, mas partiu para Quioto, sua terra natal.

“Meus pais e minha irmã estão preocupados com a onda de radiação e pediram para eu voltar”, contou. O dono do restaurante ofereceu duas semanas de férias até que a situação na usina nuclear de Fukushima seja resolvida.

Se até lá a região de Kanto, onde se encontra Tóquio, não estiver fora de perigo, Kuniyuki não sabe se voltará. “Terei de pensar no que vou fazer”.

Kuniyuki me contou também que um amigo alemão fez o mesmo. Pediu duas semanas de folga e embarcou para a Alemanha. “Não tenho medo de terremoto, nem de tsunami, mas temo uma tragédia nuclear”, diz o japonês.

P.S.: peço desculpas pela falta de posts. Com essa loucura toda, tive de ir a Sendai e mesmo de volta a Kanagawa não tive tempo para mais nada. Só para o trabalho. Prometo contar mais detalhes nos posts seguintes ; )