Elpidio Reali Junior

Sei que não é num “bom momento”. Mas simplesmente venero a maneira como esse caboclo sabe trabalhar com as palavras…

A morte de um jornalista
MINO CARTA

Um amigo partiu desta vida, e dizer amigo sem adjetivos basta, são poucos os amigos cuja lealdade não admite dúvidas e cuja lembrança é para sempre. Elpidio Reali Jr., que nunca chamei Elpidio, era o Reali e ponto final, pertencia e pertence a esta categoria. Faz pouco tempo saiu o livro das suas memórias, Às Margens do Sena, longo depoimento recolhido por meu filho, Gianni, e prefaciado pelo acima assinado. E ali eu dizia que quando nos encontrávamos, frequentemente nas cercanias de uma garrafa de bom vinho, podíamos conversar horas a fio sem tropeçar em um único, escasso ponto de discordância. Conhecíamos um ao outro passo a passo no espaço alastrado entre o coração e a alma.

Sim, verdade factual é que já tivemos opiniões diferentes no confronto entre vinhos franceses e italianos, mas também a respeito desta questão crucial acabamos por convergir para uma posição comum. A amizade tinha raízes. Meu pai, Giannino, conhecera em 1947 o pai do Reali, o primeiro Elpidio, então diretor da Interpol, policial culto e competente. Ambos estavam em ação por causa do rapto presumido de um filho de Francisco Matarazzo II, cada qual ao sabor de suas funções, o policial e o jornalista.

Descobriu-se finalmente que o plano do sequestro era da lavra do sequestrado, Eduardo, e contava com a desastrada colaboração de dois empregados italianos das IRFM, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, os engenheiros Malavasi e Comelli dispostos a arcar com o papel de sequestradores. Resgate entregue, tramoia revelada logo após. Eduardo, o filho que pretendia extorquir dinheiro do pai Chiquinho, safou-se incólume, embora cuidasse de levar vida apartada. Os italianos, em compensação, passaram uma esticada temporada na cadeia. O policial e o jornalista lamentaram o desfecho e ficaram amigos.

Quanto a mim, dei com o Reali pela primeira vez no vídeo. Eu acabava de regressar da Itália, onde havia exercido a profissão por três anos e meio, primeira metade de 1960, e o Reali era repórter de campo em jogos de futebol televisados, o repórter Canarinho da Record como o apelidara Silvio Luiz. Acabamos por nos conhecer em Paris, na década de 70, onde ele voluntariamente se exilara com a mulher, sua eterna companheira Amelinha, e filhas, depois de receber o Prêmio Governador do Estado de São Paulo como melhor radialista esportivo. Na hora da entrega, dedicou-o aos colegas presos pelo terror de Estado, infelizmente impossibilitados de concorrer.

Há o indivíduo, o cidadão, o profissional. Entre eles, os elos indissolúveis da coe-rência no respeito dos princípios e dos valores. Leio nos obituários que Reali foi um grande jornalista. Eu diria que, sobretudo, foi raro, jornalistas que honram a profissão há poucos. Pouquíssimos. A maioria vive no terror de perder o emprego, quando não se trata de um daqueles que se aboletaram em posições de comando na qualidade de sabujos do patrão. Pergunto-me se têm consciência da adulação desbragada a que se entregaram, se ao se olharem no espelho percebem o lacaio, ou se são sinceros na submissão porque a carregam no sangue ou se compartilham em harmonia integral das ideias de quem lhes paga o salário e lutam bravamente a favor dos interesses do próprio.

Por exemplo. O que vai pelas entranhas da revista Época, que há duas semanas dedicou uma reportagem de capa ao relatório da PF sobre o famigerado valerioduto para divulgar uma versão manipulada, esconder a personagem principal do enredo, o banqueiro Daniel Dantas, e esquecer a Globo, também envolvida no episódio? Sei tão somente que a mídia nativa reservou estrondoso silêncio ao texto autêntico publicado por CartaCapital, em seus trechos principais na semanal e integralmente pela internet. Não é surpresa, está claro, que Época não peça desculpas aos seus leitores, ou que a mídia nativa não repercuta a verdade factual, a soletrar o que até hoje impávida sustenta, ou seja, a existência do mensalão que o relatório nega. Contra esta caterva de escribas e oradores a soldo do privilégio não há verdade factual que resista.

A diferença, no caso de Reali, e a raridade estão no fato de que ele serviu antes de mais nada à sua consciência. E eu aqui estou, saudoso, e de súbito me ocorre a imagem do jovem loiro a correr à margem de um gramado com os cachos ao vento.

Respira pela barriga, o longa metragem que deu origem à série

Este post foi originalmente ao ar em 02/06/2005, no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga”.

Por que “respira pela barriga”?

Porque um dia disseram que a minha vida mudaria e eu seria muito mais

– feliz

– calma

– paciente

– pacata

– cordata

– produtiva

– tranqüila

– equilibrada do ponto de vista energético

– alinhada do ponto de vista dos chacras

– resolvida se aprendesse a respirar pela barriga em momentos cruciais da minha vida.

No começo, ri. Logo eu, a pragmática das pragmáticas, a prática das práticas, a que se arrepia só de ouvir falar em horóscopo, falando em chacras, em equilíbrio energético, respirando pela barriga? Ora, pelamordedeus! Daqui a pouco, vão me pedir para comprar um duende e conversar com ele!

Aí, me pediram para parar só um pouquinho e reparar em como a minha respiração acontecia exclusivamente no peito – é lógico, pensei. É aí que ficam os meus pulmões! – e às vezes até no pescoço. Comecei a perceber que quando ficava tensa, o que é, no mínimo, freqüente para alguém que faz dez coisas ao mesmo tempo, minha respiração “subia” mesmo.

Me ensinaram a deitar, colocar a mão no umbigo e respirar, profundamente, até sentir a barriga ficar inflada de ar. Em seguida, pra dar certo, soltar o ar totalmente e fazer tudo de novo. Com calma, sem pressa (coisa rara na minha rotina), uma meia dúzia de vezes pelo menos. Fiz uma vez e achei bom.

Me disseram que com um mínimo de prática, eu conseguiria fazer isso sem deitar e sem precisar colocar a mão no umbigo. Ótimo, pensei. Imagina eu, voando, estressada, no meio do trânsito, atrasada para uma reunião, falando no celular, trocando o CD da Macy Gray pelo do Castelo Rá Tim Bum, tentando convencer a minha filha de dez anos de que “não, essa blusa não marca a barriga” e o meu filho de três que “com certeza nós veríamos um caminhão-caçamba, ou um caminhão-baú, ou um caminhão-tanque, ou uma betoneira, ou uma motoniveladora até chegarmos ao nosso destino”, tendo que parar o carro, deitar no asfalto, botar a mão no umbigo e respirar pela barriga?

Sugeriram que eu colocasse bilhetinhos para mim mesma em lugares estratégicos como o monitor do computador, o painel do carro, o espelho do banheiro, me lembrando de respirar. Soube até que há cursos que ensinam a gente a respirar…

Comecei a respirar pela barriga sempre que me lembrava e, impressionantemente, acalma mesmo. Ainda não fiquei mais calma, feliz, paciente, tranqüila, equilibrada, pacata, produtiva, alinhada, cordata ou resolvida. Mas juro que tenho tentado, honestamente, respirar cada vez mais pela barriga.

Assim, sem querer parecer zen, ou mística, ou outros babados do gênero, sempre que der vontade de

– quebrar o CD de Sons da Amazônia ou o dos Monges Beneditinos contra o painel do carro;

– esquartejar o motorista do ônibus da frente;

– afogar o filho caçula no Tietê;

– matar a empregada (ou o chefe, ou o estagiário, ou o ex-marido, ou a sogra) no beliscão;

– abrir a machadadas a cabeça do homem super zen que a gente gosta para fazê-lo entender que, sim, você é ansiosa, apressada, vertiginosa, enlouquecida mas o ama, de todo o coração, não se esqueça: RESPIRA PELA BARRIGA que a vida há de melhorar.

Nota: Post (re)publicado com o consentimento (até agora) da autora…

Tédio criativo

Diretamente das catacumbas de meu computador, eis resgastado um antigo post – lá dos idos de 2006 – do finado blog Respira pela Barriga. Tudo a ver…

Quando inventou o chuchu, Deus devia estar muito sem inspiração. Mesmo. Provavelmente, foi num dia em que acordou com o pé esquerdo, pisou no penico, xingou o Filho, brigou com o Espírito Santo, teve crise de identidade, arrumou encrenca com os apóstolos e, mesmo assim – ah, as obrigações… – teve que trabalhar.

A gente sabe que quando não está a fim de trabalhar, trabalha do mesmo jeito, mas que os resultados são qualquer nota. Por que é que com Deus seria diferente? Em um dia assim, ele fez o chuchu.

O chuchu é a prova definitiva da existência palpável do nada. É um não-alimento incorporável tanto a doces, quanto a salgados, que agrega um sabor de absolutamente nada ao que quer que acompanhe. Que outro elemento dos reinos animal, vegetal ou mineral pode ser colocado junto com carne, ovo, camarão, peixe, carne de porco, suflê, doce de abóbora ou de marrom glacê e não fazer, absolutamente, nenhuma diferença?

Chuchu é o sonho de consumo de todo restaurante por quilo, porque pesa que é uma desgraça e pode ser enfiado em virtualmente todos os pratos do buffet para aumentar a conta do cliente, ao mesmo tempo em que alivia bolso do empresário. Quem conhece, mesmo que remotamente, a dinâmica perversa de um restaurante por quilo, sabe que nada melhor que um ou dois quilos de chuchu para elevar à enésima a rentabilidade de um strogonoff, de uma peixada, de um pavê…

Êta coisa mais sem graça! O chuchu algo que, por princípio, não deveria existir. Meu pai, por exemplo, se gaba de fazer um excelente camarão com chuchu que, por sinal, eu até já provei. De fato, é saboroso mas ficaria ainda melhor sem o chuchu. Por quê? Porque haveria mais camarão por centímetro quadrado de prato, oras! Simples assim.

O chuchu está para os vegetais, como o escargot está para os animais. Misture qualquer coisa com chuchu (ou com escargot), que você terá 100% do gosto da coisa. Até porque, chuchu não tem gosto!

Em suma, eu detesto chuchu. Não que não aprecie o sabor – isso seria uma impossibilidade física. O que não suporto é a sensação de estar enchendo a barriga de limbo. E como se tanto “nada” não fosse o bastante, o maldito ainda é infernalmente chato de descascar! Ninguém merece…

Ministério das Comunicações cria secretaria de Inclusão Digital

Por mais que o Alfarrabista de Plantão odeie esse termo (e, em termos, concordo com ele), ter um setor específico do governo cuidando e pensando em tempo integral acerca do assunto Inclusão Digital (ui!) me parece bastante produtivo…

Recortado-e-colado daqui.

O Ministério das Comunicações anunciou nesta quarta-feira (20) a criação de uma secretaria exclusiva para a inclusão digital. Conforme o comunicado, a nova secretaria ficará responsável por coordenar todos os projetos de inclusão digital do governo da presidente Dilma Rousseff, como os telecentros comunitários, em sintonia com o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).

A secretaria de Inclusão Digital será dividida em dois departamentos: Articulação e Formação e Infraestrutura, que criará um grupo de trabalho específico para traçar um projeto de expansão da internet para a zona rural.

A titular da secretaria será Lygia Pupatto, do PT do Paraná. A nova secretaria foi publicada na edição desta quarta-feira (20) do Diário Oficial da União. Porém, o nome de Lygia como titular ainda não foi publicado.

Emenda à Inicial: Mais do mesmo, ou o “outro lado da coisa”…

Relatório expõe ameaças à liberdade da Internet em 37 países – Brasil está no limite

 
Um relatório publicado pela Freedom House examina as ameaças à liberdade na Internet em 37 países selecionados, e os organiza em um ranking de nível de liberdade na Internet.

As ameaças em questão são divididas em categorias: obstáculos ao acesso, limitações ao conteúdo e violações de direitos de usuários.

No ranking, o Brasil ficou em último entre os países considerados como tendo acesso livre à Internet – é menos livre que a Inglaterra ou a África do Sul, por exemplo.

Mas nosso país está bem à frente de outros da América Latina, incluindo a Venezuela (parcialmente livre) e Cuba (não livre). (via freedomhouse.org)