Em algum lugar, alguma vez, lembro de ter lido uma frase que dizia algo como “é o medo que nos define”.
É uma afirmação que sempre achei curiosa, devo confessar…
Mas nunca parei muito para pensar nisso.
Até agora.
Se tomarmos essa premissa como verdadeira, temos uma barreira praticamente intransponível para enfrentar. Entendam que quando falo de “medo”, não estou tratando apenas das famosas fobias, daqueles grandes medos que nos impedem de tomar atitudes, paralisando-nos de maneira tal que corremos até mesmo o risco de perder o discernimento entre o certo e o errado. Quando falo de “medo”, refiro-me a todos os pequeninos temores de nosso dia-a-dia, todos os receios, todas as indefinições que também têm o condão de, senão paralisar-nos, ao menos fazer com que hesitemos.
E, creio eu, é aí que reside a singela verdade da frase lá do início. Na maior parte das vezes é através do medo, do receio, que encontramos um limite natural para nossa valentia…
Sim, confuso, eu sei. Mas vamos tentar melhorar um pouco essa linha de raciocínio tentando definir o que, afinal de contas, esse medo – ou “medos” – podem vir a definir? Nossos atos. Nossas vontades. Até mesmo nosso livre arbítrio, por que não?
– medo de fazer a coisa errada – ou a certa;
– medo de não ser aceito – ou de sê-lo;
– medo de não dar conta de suas responsabilidades – ou de dar;
– medo de não ser bom o suficiente – ou de ser ainda melhor;
– medo de não sobreviver – ou de sobreviver a todos;
– medo de não ter resposta – ou de tê-la;
– medo de não estar à altura – ou de se superar;
– medo de esquecer – ou de lembrar;
– medo do passado – ou do futuro;
– medo de não ser amado – ou de amar…
Enfim, os exemplos são incontáveis. Mas, vejam, de um modo geral, quão pequeninos são! A palavra “receio” talvez realmente seja uma substituta melhor nesse contexto… Mas, ainda assim, é possível perceber que ao darmos ouvidos a esses insignificantes corvos crocitando em nossos ombros, realmente estaremos sendo “definidos” por eles! E esses medos nos acompanham diariamente, passo a passo, momento a momento e quando menos esperamos o coração dá um solavanco de insegurança e nos permitimos ser guiados pelo mero receio que um ou mais desses medos se realizem.
Ainda que nunca venham a acontecer.
Mesmo que a lista acima seja um mero exemplo, tenho absoluta certeza que em algum momento qualquer um de vocês já passou por alguma dessas situações, isoladamente ou não.
Por puro medo.
Deixamos de fazer o que queremos, o que gostaríamos ou mesmo o que desejamos – somente para adequar nossas ações a uma expectativa que talvez jamais se cumpra!
E isso é um fato.
E vejo esse padrão repetir-se não só ao meu redor, por aqueles que me cercam, mas inclusive por aqueles que sequer conheço e até mesmo comigo também…
O que nos leva ao ponto primordial que este texto pedia – porque são eles, os medos, que vêm até mim, ainda que eu não os procure.
Não sei vocês. Mas, por mais que pareça uma bravata, tenho certeza absoluta de que uma atitude concreta é necessária. Ao menos para mim. Uma decisão com a qual convivo e devo conviver. Sempre.
Por mais medo que aparentemente me cause.
E é simplesmente simples:
– Recuso-me a ser definido pelos meus medos!
(E vocês? Como ficam?)