O melhor de amanhã

Não preciso ficar repetindo (ao menos pra quem me conhece) sobre o quanto gosto de quadrinhos. Quer seja por causa do traço, do desenho, da arte, da estória, da história, do drama, do humor – não importa! Gosto e ponto final.

E, dentre esses vários motivos, uma das coisas que usualmente me impressiona são conceitos, ideais e idéias muitas vezes colocadas pelos autores personagens…

Tais como essa:

Sim… Uma das características do Barry Allen (o Flash da Era de Prata dos Quadrinhos) é que, sobretudo, ele sempre foi um otimista, ostentando um costumeiro bom humor insuportável…

Música do Dia

Diazinho chuvoso e eu no volante vindo para o trabalho.

Como de praxe, com o som ligado.

No pendrive, rodando aleatoriamente, uma música que teria tudo a ver com o mênstruo dia que se descortinava lá fora. Six cold feet, com Hugh Laurie (sim, aquele cara do House). Também, como de praxe, a mente começou a divagar sobre o que escrever por aqui sob a batuta dessa música…

Mas então percebi que não precisava ser assim. O dia lá fora não tinha necessariamente que refletir meu estado de espírito. Ou o contrário. Meio MIB II isso… Avancei para a próxima música. Desta vez Um blues, com Bruna Caram. Mesma situação. Vamos pra próxima.

Ah, agora sim! Uma música alegre, pra quebrar essa rotina! Essa em especial nunca consegui ouvir sem pensar no tom quase circense que ela traz. Assim, independentemente da letra (até porque praticamente TODAS as letras desse conjunto seguem a mesma regra romântico-cataclísmica), com vocês Los Hermanos e sua contagiante Descoberta!

(Sim, basta clicar no botãozinho “Play” aí embaixo…)

O maior sedutor

O homem que passa protetor solar nas costas da companheira faz sucesso entre as mulheres.

O homem delira com as possibilidades de um protetor solar. Sonha ser abordado por uma desconhecida na praia. Ela deitava, sozinha e indefesa, com mínimas peças, implorando com voz rouca de telessexo:

– Por favor, não alcanço minhas costas, me ajuda?

Mas o mesmo garanhão não é capaz de atender ao pedido recém-feito pela própria mulher. Não sustenta nenhuma fantasia com quem já dorme. Faz a contragosto, com desleixo e obrigação. Realmente envergonhado da tarefa diante dos amigos. Esfrega ao invés de passar. Como se o creme branco e cheiroso fosse um rosado e pegajoso caladryl.

– Calma, amor, senão me queimo.

– Queimado está meu filme.

Não serão os movimentos imaginados e circulares de esponja, mas gestos econômicos e rudes de lixa. Deseja se livrar da incômoda tarefa o quanto antes.

Macho acredita que seduz somente fora do casamento. Quando se fixa demoradamente numa jovem, quando pisca o olho a uma estranha, quando dá em cima de uma beldade, quando examina a bunda de uma gostosa. Confia que flertar e soltar indiretas são suficientes para garantir seu domínio territorial. Sua tese é parecer disponível, ainda que comprometido.

O conceito masculino é esquisito, feito de verdades parciais. Há sutilezas inacreditáveis em seu raciocínio. Não enxerga problema em pular a cerca desde que não visite a casa. Alega que não tem segundas intenções, mas troca sorrisos abobados com terceiras.

Suas desculpas mudam de acordo com o contexto.

Grande parte dos varões erra na arte da conquista. A falha é reforçar a caricatura, confundir ficha corrida com reputação, cair na cilada de provérbios populares como “fama de rico e comedor não se desmente”.

Carrego, portanto a certeza de que o maior sedutor não é o malandro, não é o esperto, mas o monogâmico. O fiel. O que tem olhos apenas para a sua patroa.

Ele não pescará decotes mais profundos na vizinhança. Deslizará protetor em sua mulher, com calma oriental, comovido, o olfato sinceramente interessado. Acompanhará as mãos com o corpo. No fim, se aproximará dos ouvidos para sussurar uma barbaridade. O arrepio feminino produzirá um maremoto de cangas nas proximidades.

Não precisa de mais nada para chamar atenção; toda a praia estará suspirando por ele. Abrirão uma comunidade no Orkut para homenageá-lo.

Nada mais ostensivo e perigoso do que um homem amando sua esposa.

Ninfetas, trintonas, lobas e septuagenárias vão se derreter por aquele barbado gentil e romântico. Vão concluir que ela é uma felizarda. Vão arrastar as pálpebras e tirar binóculos da bolsa para acompanhar detalhes de perto.

Diferente da piada, a fofoca nunca vem inteira, ocorre em capítulos:

– Meu Deus, ele puxa a cadeira.

– Repara como ele a acompanha nas caminhadas?

– Não desgruda um minuto da mão dela!

– Foi buscar água de coco. Não duvido que sirva café na cama…

A conclusão é que ele alcançou a glória, certo?

Não, ainda é uma decisão precipitada. O público feminino não se apaixona pelo homem, mas pela mulher do sujeito. Pretende estar em seu lugar. Ocupar sua posição. Desfrutar de igual admiração. O início do amor é sempre lésbico, depois é que pode ficar heterossexual.

Não custa avisar. Cuide de sua mulher antes que ela se interesse pela vida de outra esposa.

Carpinejar

Do livro “Mulher perdigueira”.

Psicótico Maníaco Compulsivo

Oi.

Bom dia.

Meu nome é Adauto de Andrade, tenho 42 anos e admito.

Sou um psicótico maníaco compulsivo.

Tenho a incontrolável mania de ler.

E, também, a irrefreável compulsão por escrever.

Pronto.

Falei.

É que tenho dentro de mim essa gana por escrever que começa não sei como, vinda não sei de onde e que me leva a querer compartilhar alguma idéia – quer seja própria ou não – algum estilo, alguma frase, figura, imagem, foto,vídeo, seja lá o que for. Normalmente começa pequeno. Uma fagulha, apenas. Daí aquela pequenina centelha vai tomando corpo. Vai crescendo. Me abordando nos lugares mais improváveis. Às vezes me obrigando a pequenas anotações para que não esqueça seu semblante. Vai ficando forte. Maior do que eu. E, quando menos espero, essa gigantesca criatura verde me aborda, me pega pelo pescoço, me arrasta até um teclado e me obriga a um parto literário nem sempre fácil.

E eu sempre entrego essas criações para o mundo.

Compartilho-as e dou adeus.

Às vezes são lindas e perfeitas. Vejo-as com orgulho. Nunca as esqueço verdadeiramente, sempre citando-as ou tentando compelir outras pessoas a lê-las, tal qual pai satisfeito que saca da carteira uma foto de suas crianças para mostrar o quão feliz é por ter sido autor (ou, no caso de filhos, meramente co-autor) de algo que realmente é bom.

Às vezes não. São mais próximas de aberrações. Gostaria até de esquecê-las, trancá-las em algum calabouço, jogar a chave fora e seguir adiante, cercando-me somente daquilo que gerei de belo e encantador aos olhos. Mas não posso negar-lhes a paternidade. São aquelas criações, aqueles textos, que, ainda que bem escritos – pois, no fundo, no fundo, toda criação é linda aos olhos de seu criador (óbvio à mente são as corujas) – contêm alguma essência da qual não me orgulho. Pior, da qual até me envergonho. Apesar da sacada original, do trocadilho surpreendente, de fazer rir, de fazer chorar, de fazer pensar, gostaria de não tê-lo criado. Mas o criei. Faz parte de mim. De minha essência. E deve ir ao mundo, assim como o restante.

Daí a irrefreável compulsão por escrever. Não sei se todo aquele que se propõe a escrever algo é assim. Invariavelmente busco e encontro escritores de todos os tipos: que escrevem pouco, que escrevem muito, que são objetivos, que são vagos, que têm narrativa simples, que são prolixos, que encantam, que desencantam e por aí vai. E chego à inafastável conclusão que o pouco que já fiz às vezes é também tão bom (ou tão ruim) quanto aquilo que já li. E com isso ouso concluir também que posso me considerar um escritor. Aliás, cá entre nós, particularmente, prefiro o simpatícissimo termo escrevinhador

E nessa invariável busca por escritores de todos os tipos é que vem minha incontrolável mania de ler. Leio de tudo. Se estou numa viagem longa de ônibus, leio folhetos, cartazes, placas, o que tiver à mão. Ou à vista. Até bula de remédio, se tiver alguma nos bolsos. Se bem que a visão deste ancião que vos tecla já não tem sido lá a mesma coisa. As letrinhas já pequenas têm ficado cada vez menores e fugidias. Sim, preciso realmente comparecer a um oftalmologista.

Mas divago.

Sobre o que falávamos?

Ah, sim. Mania de ler.

Acho que é impossível não concluir que todo aquele que se aventura na psicótica arte da escrita tem em algum canto uma considerável biblioteca. E, por considerável, não me refiro a quantidade. Mas a uma busca de qualidade. De variações. De tipos. De idéias, estilos, modos de ver peculiares. Na minha opinião todo escritor é, sobretudo, um colecionador. Você vai sempre encontrar livros espalhados pela casa inteira dessas figuras. A maioria já lidos, alguns nunca lidos e uma considerável parte por ler – são do rol daqueles que já começou e (ainda) não terminou. E isso ocorre ainda que a tal figura não tenha plena consciência de que é um escritor. Ainda que não tenha escrito uma linha sequer. Ou, pior, ainda que tenha escrito e guardado suas criações somente para si.

Sei disso porque muito fiz isso.

E muito se perdeu.

Em mudanças de uma casa para outra, em passagens de uma condição para outra, em limpezas e faxinas em geral. Do corpo e da alma. Em algum indeterminado momento deparei-me com aquelas criações e disse pra mim mesmo: “mim mesmo, por que raios você ainda guarda isso?”. E, naquele instante, pareceu-me algo fugaz e sem importância. E descartei. Pra sempre. Gostaria de ter compartilhado essas criações à época, pois assim poderia hoje vê-las com orgulho. Ainda que aberrações. Mas, sobretudo, melhor se lindas e perfeitas.

Isso porque minha memória nunca foi lá grande coisa. Usualmente tenho o quadro geral em mente, mas minhas lembranças beiram um verdadeiro impressionismo mental. Perco os detalhes. E talvez daí venha toda essa parte da psicose no que diz respeito a ler, guardar e colecionar textos – próprios e alheios. Não quero que os detalhes se percam. Pois sei que vão se perder. Então anoto, arquivo e deixo em algum canto para que algum dia eu os resgate e traga-os ao mundo. São aquelas centelhas de idéias que surgiram e não conseguiram se impor. Então, pai caridoso que sou, deixo-os numa incubadora para que, talvez algum dia, ganhem forças suficientes para prosseguir. Ou não.

E, escrevinhador que sou, neste afã de compartilhar idéias, essa foi a primeira deste ano. Abordou-me logo pela manhã, assim que abri os olhos. Virei-me para um lado tentando continuar algum sonho bom que estava tendo, mas não foi possível. Puxou-me pelo tornozelo, gigantesca que surgiu, levantou-me acima de sua cabeça e, comigo ao contrário, olhou-me bem dentro dos olhos. Percebi que não teria como escapar. Aqui sentei-me e coloquei-me a escrever. Como na maior parte das vezes sendo conduzido, sem saber como terminaria esse texto. Essa criação. Que ficou aqui presente enquanto eu furiosamente digitava. E, agora que olho para o lado percebo-a já se dissolvendo, satisfeita e com um sorriso no canto dos lábios. De partida eis que parida.

E revendo tudo desde o início (com uma pitada de imagem no cabeçalho e, surgindo agora, mais um complemento para o fim – somente para ilustrar) fico feliz.

Me parece bom. Nasceu facilmente, fluiu naturalmente, sem nenhum esforço, de uma só toada.

Gostei.

E assim nasceu mais esta minha pequenina criança literária.

E me vem à mente J. K. Rowling: “a cara do pai e os olhos da mãe”

pirataria

[Papo Cabeça] O que Neil Gaiman pensa sobre a pirataria?

do E-books Grátis de PDL

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O vídeo abaixo não é novo. Ele é parte de uma entrevista dada por Neil Gaiman na Flip de 2008, mas assim como eu não o conhecia, acredito que muita gente também estará vendo pela primeira vez.

Ao ser perguntado sobre sua opinião quanto a seus livros estarem disponíveis de graça na internet, Gaiman disse que isso não o incomoda. Pelo contrário, ele teria medo se as pessoas não pudessem lê-los de forma alguma. “O inimigo não é a idéia de que as pessoas estão lendo livros de graça. Ou lendo na internet de graça. Da minha perspectiva o inimigo é as pessoas não lerem.”

Confesso que ao assistir fiquei surpreso e contente por um escritor de tamanha envergadura apresentar uma opinião tão coerente e sensata. Então o autor do Sandman seria um socialista despreendido? Claro que não. Segundo ele, ninguém conhece um novo autor indo a uma livraria e comprando um livro desconhecido. As pessoas conhecem seus autores primeiro lendo de graça, por indicação de um amigo, pegando na biblioteca, etc. Depois, elas certamente desejarão adquirir o livro impresso.

Certo barões da indústria acreditam que cada download é um exemplar que deixa de ser vendido. Quanta miopia.  Estão há décadas no mercado e ainda não nos conhecem. Não sabem que para nós um livro é mais que um amontoado de letras que pode ser digitalizado e lido sem pagar nada. Não sabem que nossos livros têm valor sentimental e simbólico. Que cada exemplar que conseguimos comprar é como se materializassemos um pedacinho de nós mesmos para colocar na estante. Será que alguém convida os amigos para, orgulhosamente, exibir seus últimos livros baixados da internet? Ou sonha com o momento de ler sua coleção de livros piratas para seus filhos? Ou, ainda, presenteia uma pessoa querida com um livro em PDF e com uma dedicatória escrita no corpo de texto do e-mail?

Assim como Neil Gaiman, penso que se suas condições econômicas permitirem, as pessoas comprarão os livros que amam. E se elas não gostarem, não vão comprar. Afinal, porque não podemos cuspir parte do que sempre nos empurraram goela abaixo?

Acredito que os livros da internet são capazes de estimular a venda de livros impressos, formar novos leitores  e despertar o prazer pela leitura, que é como o prazer do sexo: o virtual até pode quebrar um galho, mas nada substitui o toque, o cheiro, o estar perto. E nada substitui a sensação de possuir.

Texto Por Marcus Vinícius em Cultura Digital